Vidroplano
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Adequando o vidro ao sistema construtivo

19/07/2017 - 12h40

Conhecer bem o vidro é fundamental para qualquer vidraceiro, mas não é só dele, ou com ele, que vivem esses profissionais. Para garantir instalação segura e de qualidade, é preciso avaliar o sistema construtivo em que ela será feita. Cada material tem suas próprias características e elas precisam ser levadas em conta tanto no projeto como na instalação propriamente dita.

Infelizmente, ainda há quem se preocupe apenas com as medidas das peças e com os modelos dos perfis e ferragens, sem considerar o material em que os vidros serão instalados, e isso pode comprometer a integridade da estrutura. Para evitar esse problema nos trabalhos da sua vidraçaria, conheça um pouco mais sobre os principais sistemas construtivos para a instalação do vidro e os cuidados que cada um exige para o nosso material.

Preparando-se para cada caso
Primeiro, é fundamental conhecer o material em que o vidro será aplicado, ensina o engenheiro civil Wellington Castro. “Durante a fixação”, justifica o profissional, “podemos encontrar materiais ocos, maciços ou porosos, e isso influencia diretamente na escolha dos elementos responsáveis pela instalação”. É com base nessas informações que o profissional consegue especificar a fixação ideal, definindo os tipos de parafuso e bucha para uma ancoragem mecânica ou observando se o melhor é usar a ancoragem química (que leva silicone).

“O profissional vidreiro”, alerta o engenheiro e consultor Wagner Gerone, “deve estar sempre em contato com o responsável da obra para obter todos os dados necessários para que a instalação seja feita dentro das normas”.

Duas características a que é preciso estar atento:

Dilatação — É a expansão do material em resposta ao aumento de temperatura;

Umidade — Pode causar oxidação em metais, “inchaços” na madeira ou danos no reboco de uma alvenaria.

Seja qual for o sistema construtivo, a necessidade de calços entre o vidro e o substrato precisa ser sempre lembrada, com a colocação de algum elemento elástico nas bordas de cada peça em contato com o sistema. “A temperatura, o tipo de substrato em que o vidro será instalado e a qualidade dos itens usados na obra também podem interferir na instalação a médio e longo prazos”, acrescenta a engenheira de materiais Jordana Barros, gerente de Negócios da Adespec. Outro ponto importante é o uso de folgas. “Os riscos mais comuns podem ocorrer por não usar a folga recomendada de 2 mm”, afirma Thaís Barreto, consultora-técnica da Cebrace. “Assim, ao dilatar, o material acaba trincando ou quebrando.”

Em caso de dúvidas, vale procurar algum serviço de consultoria técnica, como o realizado pela Saint-Gobain Glass. “Assim, evitam-se transtornos futuros como acidentes e retrabalhos durante a obra ou após a entrega para o cliente”, explica Gabriel Zanatta, coordenador de Marketing da empresa.

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Alvenaria: atenção às dilatações
Considere a cura do cimento e concreto — A princípio, não existe nenhuma restrição em relação ao uso do vidro em alvenaria. Porém, Eduardo Bellini Ferreira, da EESC-USP, observa: “Além da dilatação térmica, alvenarias também expandem durante a cura de cimentos e concretos, o que pode agir por meses ou anos, em intensidade que depende do tipo de argamassa e da forma como esses materiais são preparados e arranjados geometricamente”.

Direto na estrutura, não! — Ferreira considera problemático o engastamento do vidro em estrutura de alvenaria (ou seja, sua soldagem direto na estrutura). Segundo ele, a instalação deve sempre considerar a possibilidade de amortecimento das dilatações por meio do uso de ferragens, vedações e calços.

vp_vidraçaria-açoPor dentro do aço (e de outros metais)
É aço ou não é? — De acordo com Wellington Castro, antes de realizar a instalação é fundamental verificar se o material em que o vidro será colocado é realmente aço ou de outro tipo de metal. “Há casos em que a aplicação é de ferro fundido ou de outras ligas metálicas, como o metalon, cada qual com seu próprio coeficiente de dilatação”, acrescenta. Um exemplo importante é o do alumínio, metal bastante usado na fabricação de caixilhos, mas com coeficiente de dilatação duas vezes maior do que o do aço. Com isso, quando esses caixilhos são usados em coberturas expostas à alta temperatura causada pelo Sol, a quebra dos vidros acaba sendo comum.

Para evitar vibrações — Seja o sistema construtivo de aço ou outro metal, Castro também ressalta que a espessura do vidro e o calço devem ser avaliados para impedir que a vibração do metal seja transferida ao vidro.

Atenção ao silicone — “Ele deve ser neutro, pois, durante o processo de cura, o silicone acético libera ao ambiente o ácido acético, o qual consegue corroer metais e pode comprometer a estrutura”, completa.

conservatoryMadeira: pouco recomendável para vidros parafusados
Umidade é um fator complicador — “Vãos de madeira exigem um estudo preliminar mais apurado, pois existem muitos tipos de madeira e, em geral, ela é um material que absorve umidade”, explica Wagner Gerone. “Assim, com o tempo, a madeira pode ‘inchar’, e isso compromete toda a instalação.”

Dilatação térmica — Outro obstáculo na instalação do vidro em madeira é a dilatação térmica. José Guilherme Aceto, diretor da Avec Design, salienta que isso torna pouco recomendável o uso de vidros parafusados nela: “Como o coeficiente de dilatação da madeira é maior do que o do vidro, há o perigo de a estrutura crescer e aumentar a tensão sobre os furos, principalmente nas instalações expostas ao Sol”.

Silicone é o caminho — Para amenizar os efeitos da dilatação, Aceto indica a colagem do vidro com silicone como solução ideal para esse sistema construtivo, pois as ligações mais elásticas impedem que nosso material sofra todas as tensões da estrutura. Mesmo assim, a preparação da superfície da madeira é recomendável antes da aplicação das peças.

Sem estresse: não submeta o vidro a tensões!
Print“Temos de lembrar que o vidro nunca deve ser sujeitado a tensões de tração. Se elas forem altas o suficiente, ele vai quebrar e precisar ser reposto, podendo ainda causar acidentes e ferimentos”, avisa Eduardo Bellini Ferreira, professor do Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo (EESC-USP). Ele lembra ainda que, mesmo que inicialmente nosso material não esteja sofrendo qualquer tensão aparente, ela pode acontecer por várias razões, como, por exemplo:

– Pela deformação da estrutura e do próprio vidro devido ao seu peso;
– Por variações de temperatura;
– Por vibrações causadas pela ação do vento ou de tráfego nos arredores;
– Por seu uso repetido (como na abertura e fechamento de janelas);
– Por choques mecânicos (como o contato direto com seus usuários) ou térmicos (como o contato com líquidos muito quentes ou muito frios).

“A especificação de vidros, bem como o sistema de esquadria, dependem de onde e como serão aplicados, ou seja, cada projeto deverá ser avaliado de forma individualizada”, reforça Leonardo Arantes, gerente de Produtos da Guardian. É nessa etapa que também são analisados os recursos que podem ser usados para evitar as tensões sobre o vidro: “A NBR 7199 aponta que, no caso do vidro laminado, por exemplo, as gaxetas, calços e silicone devem ser neutros em relação à camada intermediária do vidro laminado, enquanto a instalação de vidro temperado com ferragens deve trazer um material isolante entre ambos, que não escoe com o tempo”, explica Wellington Castro.

O que é coeficiente de dilatação linear?
Trata-se de um valor constante da variação do comprimento de um corpo — ou seja, do quanto ele “cresce” — quando aquecido. Cada material tem seu próprio coeficiente: submetidos a uma mesma variação de temperatura, materiais diferentes têm dilatações ou “crescimentos” diferentes. Aceto, da Avec Design, apresenta abaixo alguns desses valores:

PrintVidro: 0,9 x 10-6
Aço: 1,2 x 10-6
Alvenaria: 1,2 x 10-6
Alumínio: 2,4 x 10-6
Madeira (valor médio): 3 x 10-6

Conhecer o coeficiente de dilatação linear de cada material é muito importante: se a diferença entre os coeficientes do substrato e do vidro for grande, a tensão que ele causará sobre o nosso material será maior, havendo assim o risco de sua quebra.

De olho nas normas
NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações: “Essa norma dá os parâmetros de avaliação do projeto e da instalação do vidro, como os cálculos para a espessura da peça e o tipo correto de vidro a ser instalado em cada caso”, explica Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro. Segundo ela, a NBR 7199 também reforça a importância da vedação correta e determina que as peças de vidro devem ser colocadas de tal forma que não sofram esforços oriundos de dilatação, contração, torção, vibração ou deformação da estrutura.

NBR 10821 — Esquadrias para edificações: esse texto técnico é importante para se conhecer o desempenho adequado que as esquadrias (já com os vidros) devem apresentar no sistema construtivo, como a estanqueidade e a resistência à pressão do vento.

NBR 15575 — Edificações habitacionais — Desempenho: a norma indica os requisitos para a edificação como um todo e inclui diversos aspectos que precisam ser levados em conta quando o vidro é instalado no substrato, como os desempenhos térmico e acústico.

Fale com eles!
Abravidro — www.abravidro.org.br
Adespec — www.adespec.com.br
Avec Design — www.avec.com.br
Cebrace — www.cebrace.com.br
Guardian — www.guardianbrasil.com.br
EESC-USP — www.eesc.usp.br
Saint-Gobain Glass — br.saint-gobain-glass.com
Wagner Gerone — (11) 99481-1016
Wellington Castro — wellcastro@hotmail.com

Este texto foi originalmente publicado na edição 535 (julho de 2017) da revista O Vidroplano.




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