Vidroplano
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Existe ‘layout’ ideal?

21/11/2017 - 18h27

Sozinhos, os melhores maquinários do mercado não garantem maior produtividade para as processadoras. É preciso que a empresa tenha não só tecnologia, mas também um layout correto — ou seja, a disposição desses equipamentos e processos pela fábrica — para evitar perdas, otimizar o trabalho e entregar pedidos no prazo. Como saber, então, o que é o mais adequado?

O instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva, um dos maiores especialistas em transformação de vidros no País, explica nas próximas páginas como se ter um layout eficiente e quais hábitos devem ser deixados para trás em relação a esse assunto.

Uma pequena introdução ao tema
Um layout nunca deve ser aleatório — ou seja, não se deve simplesmente colocar as máquinas em qualquer lugar sem análise —, pois irá influenciar diretamente o modo como a empresa funciona. “Elemento fundamental, ele contribui para o fortalecimento das operações e atuação da processadora”, revela Cláudio.

É preciso sempre levar em conta:
– A disponibilidade de espaço;
– As demandas dos mercados alvo;
– Os mercados que se deseja atender;
– As estratégias identificadas e adotadas pela empresa para o atendimento desse mercado.

Segundo Cláudio Lúcio, um dos mitos do mercado vidreiro é acreditar que existem receitas prontas, bastando apenas aplicá-las para tudo dar certo. Por isso, cada empresa terá um layout diferente de acordo com suas características — e o que funciona em uma não funcionará, necessariamente, na outra.

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Divisão básica dos ‘layouts’
É possível dividir o sistema produtivo em dois tipos, dependendo da demanda que a processadora possui:

Com foco no processo
– Característica principal é a flexibilidade produtiva. Ou seja, pode atender duas demandas diferentes: para especificações básicas (produção sob encomenda) ou de acordo com as especificações dos clientes (engenharia sob encomenda);
– Mais adequado para clientes da construção civil, arquitetura, decoração e blindagem.

Com foco no produto
– Características principais são a alta produtividade e a taxa de produção. Ou seja, trabalha em grandes volumes de produtos padronizados;
– Mais adequado para clientes do setor automobilístico, de linha branca, refrigeração industrial e movelaria.

5 passos para se alcançar um ‘layout’ ideal
Definir o layout envolve não apenas escolher onde as máquinas serão colocadas, mas também analisar o processo industrial como um todo. Por isso, Cláudio Lúcio indica soluções que estão ligadas diretamente a esse tema e podem influenciar positivamente na produtividade de sua processadora:

1- Antes de pensar em automatização, faça um planejamento sobre seu sistema produtivo para saber quais setores realmente precisam disso. Muitas empresas investem de forma pesada na obtenção de tecnologias que não são necessárias para seu negócio — a aquisição não ajuda a reduzir custos, nem a aumentar produtividade ou receitas. Em vários casos, métodos semiautomáticos ou manuais garantem menos perdas e maior velocidade média da produção, com consequente redução dos prazos de entrega.

2- As etapas de beneficiamento devem estar próximas umas das outras.

3- Máquinas e equipamentos precisam contar com setup (processo de inicialização) menor que dez minutos. Um período maior irá comprometer a produtividade, aumentar o custo industrial e diminuir a obtenção de receita — principalmente para etapas do tipo “gargalo” (com menor capacidade de produção). O setup não é somente o tempo de parada da máquina, mas, também, o tempo total de parada da produção contínua de peças vendáveis.

4- Use sistemas de gestão de pedido, tendo como estratégia de movimentação dos estoques a técnica PEPS, ou “Primeiro produto a Entrar é o Primeiro produto a Sair”. Isso garante um fluxo lógico e sistemático em estoques de matéria-prima, insumos, ferramentas, componentes e peças de vidro (em beneficiamento ou já prontas). Serve como uma “vacina” contra as recorrentes “peças desaparecidas” e “pedidos incompletos”.

5- Para atender a necessidade de se possuir flexibilidade operacional, ou seja, prazos curtos e confiáveis de entregas para qualquer tipo de demanda, podem-se utilizar soluções para a movimentação da matéria-prima, como classificadores automatizados, associados a sistemas de otimização dinâmica do plano de corte.

Principais equívocos em ‘layouts’
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ERRO: não obedecer à ordem das operações do beneficiamento: corte, lapidações, lavagem e têmpera;
CONSEQUÊNCIA: provoca um vaivém de materiais. Algumas vezes, o vidro faz o caminho oposto ao correto, em contrafluxo à lógica de processamento. Isso faz o pedido demorar mais pra ser feito, afetando o prazo de entrega.

ERRO: grandes distâncias entre as etapas ou entre máquinas;
CONSEQUÊNCIA: obriga o uso indiscriminado de equipamentos como carrinhos, cavaletes e cavaletes fixos. O resultado do empilhamento nesses equipamentos é a perda do sequenciamento dos pedidos, assim como o incentivo a manuseios perigosos para se chegar a peças de difícil acesso. Assim, pode surgir um item estranho dentro da gestão profissional de pedidos: a famosa “peça perdida”, que ninguém sabe aonde foi parar. Ou, então, peças que não estão prontas na data solicitada pelo cliente. Outro resultado negativo: mais tempo para o carregamento dos caminhões.

ERRO: adotar fórmulas usadas com frequência por outras empresas;
CONSEQUÊNCIA: o paradigma de imitar a forma de atuação da maioria das outras processadoras é velho, limitado e danoso. Afinal, se todos estão com as mesmas dificuldades, muito mais lógico seguir outro caminho — um que seja adequado para as necessidades da sua empresa dentro das realidades atuais.

ERRO: não possuir um plano de negócios para a empresa;
CONSEQUÊNCIA: pode não parecer, mas existe relação entre layout e fluxo de caixa: com a disposição inadequada, a processadora estará mais suscetível a prejuízos referentes a lacunas na produção, causadas por lentidão nas tarefas, atrasos e retrabalho. Dessa forma, terá de abrir mão de conquistas econômicas e financeiras para suprir obrigações que não estavam previstas.

Como mudar o ‘layout’ da minha empresa? Nosso especialista explica!
- O ideal é ter como pressuposto um plano de negócio, um estudo detalhado antes mesmo do início das operações, para se estabelecer o layout adequado às estratégias identificadas para a atuação da empresa;
– Esse estudo deve incluir ainda um planejamento, preferencialmente, para um horizonte futuro de até cinco anos;
– Se isso não for possível, estude e verifique as opções disponíveis, os melhores retornos e o nível de investimento. Importante: planeje o fluxo de caixa do projeto;
– Na sequência, priorize a implementação para se chegar aos resultados esperados. Devem-se planejar ações de mudança que ocasionem mínimo impacto no sistema produtivo e rápido restabelecimento das receitas. Fazer diferente pode significar suicídio empresarial, gerando uma condição de risco desnecessária para o empreendimento.

PCP: fundamental para arrumar a casa
O conceito de Planejamento e Controle da Produção (PCP) é um sistema de gerenciamento dos recursos operacionais da empresa. O objetivo é obter o máximo aproveitamento do fluxo produtivo. E o layout da planta também entra nessa nos fatores analisados pelo PCP. Por isso, uma boa dica para os interessados em passar o pente-fino em seus processos industriais é o módulo de Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoques (PPCPE), parte da Especialização Técnica Abravidro. Cláudio Lúcio, instrutor da especialização confirma: “O curso auxilia gestores na tomada de decisões mais assertivas frente às limitações e contextos de mercado que os tempos atuais exigem.”

E o ‘layout’ de vidraçarias?
As vidraçarias não atuam como indústrias, mas basicamente como empresas de prestação de serviços. Porém, também devem dar atenção a questões como planejamento e controle de produção. Para Cláudio Lúcio, elas “precisam ter uma forte atuação em PCP, que é um elemento de condução da eficácia para o atendimento ao cliente final, sempre dentro do menor custo, com maior eficácia e eficiência”. Um bom layout e planejamento garantem estoques ajustados, maior fluidez na preparação e separação dos itens do pedido. “Isso é um diferencial competitivo para quem atua como instalador, pois significa tempo reduzido na obra”, alerta o especialista. “A permanência além do necessário não só atrapalha e incomoda o cliente, como reduz a capacidade de atendimento a novas receitas.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 539 (novembro de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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