Vidroplano
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Fachadas de vidro: beleza somente com segurança

21/01/2016 - 19h23

Este texto foi originalmente publicado na edição 517 (janeiro de 2016) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista clicando aqui

 

As grandes cidades brasileiras estão mais transparentes. Hoje, é difícil encontrar um edifício comercial que não tenha revestimento de vidro em alguma parte de sua estrutura externa. Cresce também o uso do material em fachadas de residências, como forma de integração entre os ambientes internos e externos. A tecnologia do vidro, que oferece conforto térmico e acústico, assim como seu apelo estético, conquistou de vez os arquitetos.

Com obras desse tipo surgindo em todos os lugares, tem-se a necessidade de se conhecer os detalhes sobre os procedimentos de instalação e manutenção das fachadas envidraçadas. Por isso, conversamos com especialistas no assunto. Veja nas próximas páginas por que uma fachada começa a ser projetada antes dos canteiros de obras e algumas das técnicas utilizadas para a manutenção e limpeza dos vidros.

 

Uma boa fachada = um bom projeto
A instalação da fachada começa no escritório. Diversos problemas que podem ser encontrados no momento da construção e manutenção se resolvem no início do projeto, momento de escolher o vidro e a estrutura corretos. “É muito comum encontrar especificações de alta tecnologia desnecessárias às necessidades do cliente”, analisa o arquiteto e diretor-operacional da Avec Design, Felipe Aceto.

Para evitar situações como essa, veja o checklist abaixo com os pontos que devem ser discutidos ainda nas primeiras fases da obra.

SISTEMAS CONSTRUTIVOS COMPATÍVEIS
Todos os elementos do projeto precisam falar a mesma língua: não se pode conceber uma fachada de alta tecnologia para ser instalada sobre uma base de baixa precisão (como uma estrutura de concreto moldado). “As obras cada vez mais precisam acontecer em prazos menores e, para isso, é comum iniciar a fabricação de componentes antes da conclusão dos edifícios”, comenta Aceto.

ESPECIFICAÇÃO DO VIDRO
Adequar o vidro em termos de tamanho, espessura, cor e desempenho, de acordo com as necessidades do projeto. Como lembra Lamartiny Gomes, gerente de Produtos da Guardian: “Em algumas regiões, o uso de vidro de controle solar para empreendimentos comerciais já é quase obrigatório”. O dimensionamento errado dos vidros pode até mesmo encarecer o valor final do projeto, pois as peças não estarão adequadas às dimensões produzidas pelas fabricantes. Para evitar isso, empresas como Cebrace e Guardian oferecem consultoria com equipes técnicas especializadas.

ESCOLHA DO SISTEMA ESTRUTURAL
Fator a ser levado em consideração no dimensionamento estrutural do edifício como um todo, por conta do peso do vidro. “Deve-se avaliar como será a fixação do material e, eventualmente, de complementos como frisos e brises”, revela o arquiteto da Farkasvölgyi Arquitetura, Glauco Lúcio. Uma laje de concreto protendido (tipo de concreto armado), por exemplo, não pode receber parafusos e ancoragens dos perfis por possuir cabos.

ACONDICIONAMENTO DOS VIDROS
A construtora e a empresa que fará a instalação dos vidros precisam definir áreas do canteiro de obras para se acondicionar as peças e também checar quais os tipos de equipamentos necessários para a tarefa (como balancins, cremalheiras ou gruas). “No caso da escolha por vidros de grande dimensão”, aponta Remy Dufrayer, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Cebrace, “não se esqueça de avaliar as limitações construtivas presentes no canteiro de obra para movimentação e instalação”.

 

Por uma instalação benfeita
Vários erros encontrados em fachadas são evitáveis. A seguir, são comentados os mais comuns, que podem surgir tanto na hora de especificar como na instalação da estrutura.

PERFIS
“Por serem responsáveis pela estrutura da fachada, devem resistir à pressão do vento e não podem apresentar deflexões permanentes ao receberem as instalações de vidros, silicones, gaxetas e outros elementos”, explica o engenheiro e consultor-técnico da Ci & Lab, Luiz Barbosa.

SELANTES
Durante a colagem do vidro, é recomendável seguir as instruções do fabricante de silicone referentes à quantidade e controle de partículas atmosféricas do ambiente no qual se dará a aplicação. Isso evitará o descolamento e destacamento das peças. Atenção também deve ser dada aos espaços adequados entre vidros e estrutura metálica, para que o material possa se dilatar e se contrair (influenciado pelas diferenças de temperatura entre o ambiente interno e externo).

INFILTRAÇÃO DE ÁGUA
Entre suas causas, estão projetos malfeitos e/ou mal-executados e utilização de material de baixa qualidade, como borrachas e gaxetas inapropriadas.

DIFERENÇA DE TONALIDADE DO VIDRO
“Deve-se identificar corretamente cada peça de vidro, bem como a face que ficará orientada para a parte externa do edifício”, comenta Barbosa. “Em caso de inversão da face, será comprometida não só a homogeneidade de cor, mas também o desempenho energético”.

MANCHAS
São inúmeras as causas. Porém, na maioria dos casos, têm origem no canteiro de obras: acondicionamento incorreto, exposição a produtos químicos ou utilização de produtos indevidos para limpeza (solventes, por exemplo).

FRATURAS
Quebras podem se iniciar por trincas ou fissuras nas bordas das peças, geralmente causadas no transporte, acondicionamento incorreto ou durante o manuseio. A absorção de calor pelo vidro é outro fator que pode gerar quebras — usa-se o termo “estresse térmico” para esses casos. Isso ocorre pela variação da temperatura na peça. Vidros coloridos e refletivos absorvem mais calor e estão mais propensos ao efeito. Para evitá-lo, voltamos aos ensinamentos já vistos na reportagem sobre a especificação do vidro: esse tipo de situação deve ser prevista e evitada. “Vidros que absorvem menos de 60% de calor não sofrem tanto risco, mas também depende da região do País em que serão instalados”, alerta a coordenadora-técnica da Abravidro, Vera Andrade.

DISTORÇÃO ÓPTICA
Segundo Luiz Barbosa, “toda fachada envidraçada apresenta naturalmente algum grau de distorção óptica”. Contudo, dois fatores podem deixá-la mais perceptível: a falta de prumo e a falta de alinhamento das estruturas (colunas e travessas, dependendo do tipo de sistema de escolhido). Vale ressaltar que isso também pode causar a quebra do vidro.

 

O que as normas falam?
“Não existe um documento próprio para a instalação de fachadas. Porém, várias normas podem ser consultadas sobre o tema”, explica a consultora-técnica da Abravidro, Clélia Bassetto. Veja a seguir algumas delas:

ABNT NBR 7199 — Projeto, execução e aplicações de vidros na construção civil – Mais importante do setor, fala sobre os elementos construtivos de fixação, o cálculo da espessura das placas e ainda determina o tipo de vidro adequado para as aplicações;

ABNT NBR 10821 — Esquadrias externas para edificações – Aborda as diferentes tipologias de esquadrias;

ABNT NBR 15737 — Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial – Colagem de vidros com selante estrutural – Traz requisitos para a colagem de vidro com selante estrutural;

ABNT NBR 15919 — Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial – Colagem de vidros com fita dupla-face estrutural de espuma acrílica para construção civil – Como o próprio nome diz, fala sobre a colagem de vidros com fita dupla-face estrutural de espuma acrílica.

Importante lembrar que não são apenas essas normas a serem consultadas: tudo vai depender do tipo do projeto.

“Seguir as normas vigentes para a concepção do projeto é obrigatório e reduzirá a probabilidade de problemas futuros por conta de aplicações inadequadas ou quebras por esforços não previstos”, reforça Remy Dufrayer, da Cebrace.

O cumprimento das normas é fundamental para evitar aplicações inadequadas que poderão comprometer a segurança dos usuários do edifício e transeuntes.

O Artigo 39 do Código de Proteção e Defesa do Consumidor diz claramente que toda a cadeia é responsável caso as normas técnicas não sejam seguidas.
Artigo 39 — “Das práticas abusivas”
É vedada ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:
VIII – Colocar no mercado de consumo qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Conmetro.

 

A manutenção: dicas para não comprometer o vidro
Em qualquer tipo de projeto, o ideal é inserir pontos de fixação nas coberturas para a utilização de balancins ou fixação de cordas para profissionais praticando rapel. “Nos casos em que isso não é possível, existe a alternativa de se criar aberturas nas fachadas para acesso de manutenção”, afirma Glauco Lúcio, da Farkasvölgyi Arquitetura.

“Em se tratando de manutenção estrutural, que exige a verificação do comprometimento de componentes, tais como cabos, conectores de painéis, entre outros”, explica o engenheiro e diretor da RCM Estruturas Metálicas, Raimundo Calixto, “a empresa instaladora deve ser a indicada para o serviço”. Para Calixto, “a ausência de manutenção e limpeza, ou mesmo sua execução equivocada, certamente trará prejuízos à obra”.

A limpeza das fachadas também é uma forma de manutenção. Deixar o vidro sujo influi negativamente em seu desempenho, seja na capacidade de controlar o calor que entra no ambiente ou na incidência de luz natural. “É muito importante conversar com o instalador para saber a origem do vidro”, explica Aldo Pierrobon Júnior, diretor-proprietário da Alqleen, empresa especializada em limpeza de fachadas. “Diante dessa orientação, saberemos usar o produto correto”.

ÁGUA, SABÃO OU DETERGENTE?
Durante o processo de limpeza, é proibido agredir o vidro com produtos abrasivos ou que possam causar corrosão. E não é só o nosso material a ser danificado: tratamentos superficiais das esquadrias (como pintura eletrostática e anodização) também podem sofrer.

Simplicidade, essa é a chave do processo. Sabão neutro e água retiram grande parte das sujeiras. Diversos produtos para limpeza estão disponíveis no mercado, mas deve-se ficar atento às informações presentes nos rótulos das embalagens. Algumas empresas usam, por exemplo, água desmineralizada, de forma a potencializar a ação da tarefa. “Existem ainda itens à base de silicone e teflon que formam uma ‘camada’ invisível, tampando os poros do vidro”, revela Pierrobon Júnior, da Alqleen.

Para evitar ou diminuir o número de limpezas periódicas, uma solução é a instalação de vidros autolimpantes. A Cebrace, por exemplo, produz o Bioclean, que possui uma camada fotocatalítica e hidrofílica na superfície.

PERIODICIDADE
A quantidade de vezes que a fachada terá de ser limpa depende da localização do edifício. Se o prédio está próximo de locais como os citados abaixo, a limpeza poderá ser realizada mensalmente.

  • Trânsito: ruas movimentadas fazem com que o vidro se impregne de fuligem, culpa da fumaça com poluentes emitida pelos carros;
  • Parques e regiões costeiras: as fachadas podem sofrer corrosão por conta da maresia e ainda ficar cobertas de limo;
  • Chuva: quando a água da chuva possui alto teor de minerais, como cálcio e magnésio, podem-se formar manchas difíceis de serem retiradas.

TÉCNICAS PARA SUBIR PELAS PAREDES: COMO LIMPAR?

  • Prédios baixos ou residências: é possível realizar o trabalho a partir do chão, com a ajuda de escovas e rodos equipados com hastes de longo alcance. Deve-se evitar a utilização de máquinas que geram jatos d’água: a estanquidade das estruturas pode ser comprometida por conta da pressão pontual dos jatos;
  • Edifícios altos: aqui, a primeira regra é se preocupar com a segurança, tanto de quem irá limpar, como dos pedestres e do patrimônio em si. A Norma Regulamentadora 35 (NR35), do Ministério do Trabalho e Emprego, estabelece as medidas de proteção para o trabalho em altura — toda atividade executada acima de 2 m do nível inferior. Nesses casos, a limpeza deverá ser feita por meio de balancim ou corda (rapel).

 

Cuidados com as esquadrias
Assim como os vidros, as esquadrias também necessitam de atenção. A Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal) desenvolveu o Manual de Uso e Conservação, publicação com diversas recomendações para a manutenção dessas estruturas. O documento indica que a limpeza deve ser feita usando-se uma solução de água e detergente neutro, com auxílio de esponja ou pano macio. “A Afeal trabalha em comissões de estudo com cada área de atuação que envolve o desenvolvimento de esquadrias de alumínio”, revela Luis Claudio Viesti, coordenador-técnico da entidade. “Assim, verificamos e atualizamos os períodos de manutenção do produto, já que a NBR 15575 indica que o prazo de vida útil das esquadrias será de até quarenta anos”.

 

Fale com eles!
Afeal — www.afeal.com.br
Alqleen — www.alqleenlimpezadefachadas.com.br
Avec Design — www.avec.com.br
Cebrace — www.cebrace.com.br
Ci & Lab — www.cielab.com.br
Farkasvölgyi Arquitetura — www.fkvg.com.br
Guardian — www.guardianbrasil.com.br
RCM Estruturas Metálicas — www.rcmproj.com.br



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