Vidroplano
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Impressões que impressionam

10/09/2015 - 15h39

Conheça as atuais tendências na aplicação de técnicas digitais para serigrafia em vidro

Não foram apenas as máquinas para fabricação e processamento de vidro que se modernizaram nos últimos tempos. A impressão digital em nosso material também deu um enorme salto tecnológico, fazendo com que o vocabulário vidreiro fosse enriquecido com termos como alta resolução, nanotecnologia e mícron (micrômetro). Hoje, processadoras nacionais apostam na compra de impressoras com o intuito de oferecer novas soluções para a arquitetura e decoração. Esta reportagem especial de O Vidroplano revela os conceitos por trás dessa tecnologia e as últimas tendências em seu uso — além de comentar outros métodos de serigrafia.

Conceito
Engana-se quem pensa que a impressão digital em vidro é igual a qualquer outro tipo de impressão. A tecnologia teve de ser adaptada para as características do material, muito diferente do papel e tecido, por exemplo, por ser transparente e não absorvente. “Microgotas de tinta são lançadas sobre a placa de vidro por uma cabeça de impressão”, explica Rafael Wingert, técnico da MuchColours do Brasil, representante nacional da Poligraf, fabricante italiana de impressoras. As imagens, então, são gravadas diretamente na superfície do vidro, a partir de arquivos gráficos PDF e InDesign, entre outros, lidos pelos softwares instalados nas impressoras.

Diferentes tintas para diferentes impressões
O processo digital que mais se destaca atualmente é o baseado em tintas vitrificáveis (também conhecidas como cerâmicas). Após a impressão, as placas devem passar pelo forno de têmpera, para fazer com que os pigmentos se fundam ao vidro. “Não sofrem qualquer alteração por conta da chuva ou radiação solar”, comenta Franklin Marques, engenheiro da Brazilglass, companhia que está no ramo de serigrafia há mais de quinze anos.

A nanotecnologia também faz parte desse avanço. Tintas formadas por nanopartículas fornecem mais detalhes às cores e desenhos. “Utilizamos tintas vitrificáveis com partículas de 6 mícrons (0,006 mm). Aquelas para serigrafia tradicional possuem, em média, 20 mícrons (0,02 mm)”, aponta Ricardo Dachtelberg, responsável Criativo, Técnico e de Produção da Glass Printer, empresa nacional instalada no parque fabril da Divinal Vidros, em São Paulo, que trabalha com a tecnologia da israelense Dip-Tech, um dos principais grupos mundiais do ramo. A diferença parece pequena, mas interfere diretamente na qualidade e na nitidez da imagem.

Existe ainda o processo de cura por raios infravermelhos (UV). Nesse, as placas não são levadas à têmpera.

Tendências do mercado
Para Jhennef Cerqueira, técnica responsável pelo setor de impressão da fluminense Saint Germain, a tecnologia digital se faz popular graças “à possibilidade de reproduzir imagens em alta resolução, com até 720 dpi, e de imitar perfeitamente as texturas de outros materiais, como madeira, tecido e mármore”. O vidro, portanto, pode se transformar em qualquer coisa imaginada pelo arquiteto. A Saint Germain possui o modelo GlassJet, da Dip-Tech, em sua linha de produção.

O tamanho das impressoras varia conforme o modelo e a fabricante — o tamanho do forno de têmpera também influencia, pois as medidas de todas as máquinas devem ser correspondentes. É possível imprimir até em peças de dimensões “jumbo”, com 6 m de comprimento.

Eliel Gomes, executivo de Desenvolvimento de Negócios da Nano Digital Solutions, acredita que a nanotecnologia é o caminho a ser seguido pelo setor. “Ela está substituindo as tintas com cura UV pelo fato de possuir melhor fixação”, analisa. Sua empresa desenvolve soluções para impressão, além de distribuir máquinas da italiana Ghelco.

A escolha pelo digital também vai ao encontro dos conceitos de arquitetura sustentável, cada vez mais aplicados na construção civil. “Painéis de vidro impressos suportam diversos requisitos como eficiência energética, reflexão da luz e controle da incidência solar”, explica Alex Kochen, gerente de Vendas para Brasil, Espanha e Portugal da Dip-Tech. “Podem ainda ajudar na obtenção do selo Leed e outras certificações ambientais”, acrescenta.

Outra característica desse tipo de processo é a velocidade: dependendo da tecnologia utilizada, é possível imprimir mais de 70 m² de vidro por hora.

E, apesar do alto nível tecnológico alcançado, as empresas do setor seguem em busca de soluções inovadoras. Já existem tintas extrarresistentes para ambientes externos, como fachadas, e antiderrapantes, indicadas para pisos envidraçados.

Hora de fazer a demanda crescer
Para os profissionais ouvidos pela reportagem, a procura por vidros com impressão digital e serigráfica aumentou nos últimos anos. Porém, alguns admitem que a demanda pode ser maior. “Esperamos aumento, pois as possibilidades de design com vidros serigrafados são infinitas”, recorda Marques, da Brazilglass.

Segundo a Speed Temper, empresa que usa serigrafia tradicional e impressão (tecnologia da Dip-Tech), há perspectiva de crescimento. “Porem”, argumenta o diretor Marcelo Martins, “será um tanto quanto moroso por conta dos custos elevados desse tipo de produto. É preciso divulgar essa tecnologia”.

Uma aproximação maior com especificadores talvez seja a solução para o problema, como afirma Dachtelberg, da Glass Printer: “Estamos profundamente empenhados na divulgação para todos os mercados em que possamos atuar: construção civil, arquitetura, design de interiores e design de produtos”. A ideia é compartilhada por Gomes, da Nano Digital. “O trabalho deve ser feito com engenheiros e também na indústria automobilística, com o objetivo de mostrar as vantagens de se agregar valor aos vidros”, comenta.

Eduardo Aureliano, supervisor-comercial da Farben, fabricante de tintas para vidro do tipo poliuretano bicomponente (usadas com pistola), considera que “a indústria de tintas tem um papel fundamental para isso, desenvolvendo cada vez mais cores e tecnologias para o segmento”.

 

Serigrafia, impressão, pintura: qual o termo correto?
Serigrafia é um método específico utilizado para a pintura em vidros ou em qualquer outro material (veja mais detalhes no quadro ‘Outros tipos de serigrafia’). No entanto, a palavra ganhou um sentido mais amplo para o setor vidreiro. “Qualquer processo que acrescente cor e imagens ao vidro pode ser chamado de serigrafia, até mesmo a impressão”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor-técnico da Especialização Técnica Abravidro. Por isso, cuidado para não confundir os dois significados.

 

Outros tipos de serigrafia

SERIGRAFIA TRADICIONAL
A tinta é aplicada no vidro através de uma tela de impressão, feita de tecido sintético. Pode ser manual, em que um operador espalha a tinta por cima da tela com a ajuda de uma espécie de rodo, ou automática, com a tarefa sendo realizada por máquinas. Indicada para criar formas e desenhos com mais de uma cor.

ROLO
O nome se dá por conta do sistema automático de cilindros usado para espalhar a tinta de forma contínua sobre uma das faces do vidro. Indicado para aplicações chapadas e monocromáticas.

PISTOLA
Nesse processo manual, é utilizada uma pistola com compressor de ar. O usuário deve mover a pistola sempre no mesmo sentido a cada demão, para deixar a pintura homogênea e equilibrada. Indicado para aplicações chapadas e monocromáticas.

 

Evolução da serigrafia em vidro ao longo dos tempos

Início do século 20
Serigrafia tradicional é uma técnica milenar. No entanto, começou a ser aplicada industrialmente ao vidro na primeira década do século 20.

Década de 1930
Companhia britânica Johnson Matthey desenvolve a patente de tecnologia que envolve a transferência de imagens para o vidro por meio de decalques em papel.

1980/1990
Quase sessenta anos depois, surgem as tintas curáveis por raios UV, permitindo a impressão de imagens multicoloridas e complexas.

Década de 2000
Impressão digital com tintas vitrificáveis surge como nova ferramenta. Primeira aplicação em larga escala: fachada do Eiserfeld Municipal Bank, Alemanha.

Dias atuais
Tecnologia pode trabalhar em peças “jumbo”, reproduzindo imagens em alta resolução, com até 720 dpi, e texturas de outros materiais.

 

Aplicações de vidros com impressão digital e serigrafia

  • Fachadas
  • Coberturas
  • Revestimentos em interiores
  • Vitrais
  • Boxes
  • Portas e divisórias
  • Pisos e degraus de escadas
  • Janelas
  • Mobiliários de linha branca
  • Automotivos

 

Quente ou frio?
Os processos de serigrafia podem ser divididos em dois grandes grupos, definidos pelo tipo de secagem da tinta.

  • Quente
    O nome vem da necessidade de fazer o vidro pintado passar por estufa (a uma temperatura de 120 a 180 graus) e forno de têmpera (600 graus). Assim, a tinta se funde ao vidro, fazendo com que seja impossível remover a pintura.
  • Frio
    Dispensa a necessidade de realizar a cura em uma estufa e tampouco passar pelo processo de têmpera. A tinta seca em temperatura ambiente. Isso permite pintar qualquer tipo de vidro já processado, incluindo os temperados.

 

Cardboard Cathedral (Nova Zelândia)
A fachada-vitral da igreja localizada na cidade de Christchurch foi produzida pela empresa Metro Performance Glass, em 2013. A estrutura possui 12 m de altura. As imagens nos vidros fazem referência ao vitral original, destruído anos atrás em uma série de terremotos.

Ryerson University (Canadá)
Projetada pelos escritórios Zeidler Partnership Architects e Snøhetta, a universidade localizada em Toronto possui fachada envidraçada (insulados triplos low-e) com estampa de padrões geométricos impressa em tinta vitrificável.

 

Fale com eles!
Brazilglass — www.brazilglass.com.br
Dip-Tech — www.dip-tech.com
Divinal — www.divinalvidros.com.br
Farben — www.farben.com.br
Ghelco — www.ghelco.it
Glass Printer — www.glassprinter.com.br
Johnson Matthey — www.matthey.com
MuchColours — www.muchcolours.com
Nano Digital Solutions — www.nanodigitalsolutions.com
Saint Germain — www.saintgermainvidros.com.br
Speed Temper – www.speedtemper.com.br



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