Vidroplano
Vidroplano

Inove sempre! Mas dentro das normas

17/03/2017 - 18h54

É comum que especificadores, processadores e vidraceiros enxerguem diferentes soluções para um mesmo projeto envolvendo o vidro temperado. Mas, para decidir qual delas tomar, é necessário não só que todos esses profissionais tenham uma comunicação clara e direta entre si, mas que também conheçam as características e limitações do produto — afinal, a segurança é fundamental.

Caso haja algum erro na hora de especificar, beneficiar ou instalar o vidro temperado, o resultado do produto final pode ficar comprometido. Fique atento: “Havendo algum problema no produto, mesmo que o fabricante firme uma cláusula de exclusão de responsabilidade com seu cliente em relação ao cumprimento das normas técnicas, ela não terá qualquer validade”, explica o advogado Fabrício Luquetti, consultor jurídico da Abravidro. “Assim, a cadeia de consumo — seja o processador, a vidraçaria, etc. — terá que responder pelos danos causados ao consumidor.”

A equipe da Abravidro identificou alguns dos problemas envolvendo o trabalho com vidros temperados e reuniu as informações presentes nas normas da ABNT para ajudar os profissionais a abandonar essas práticas. Confira nossas dicas.

Quinas vivas
quinavivaOnde começa: ao tirar as medidas para um projeto, o vidraceiro observa que determinado espaço precisará de uma peça com ângulo abaixo de 30º.
O problema: quem tira as medidas do vão não avalia de que forma poderia reduzir a quina da peça — como o arredondamento dela ou a divisão do vidro em duas ou mais peças. O processador, por sua vez, nem sempre questiona as medidas informadas, resultando em vidros com ângulo menor que 30º em sua quina, o que pode causar sua quebra.
O que as normas dizem: a NBR 7199 — Vidros na construção civil — Projeto, execução e aplicações determina que o ângulo da peça deve ser sempre maior ou igual a 30º. Para ângulo igual a 30º, a quina da peça deve ser arredondada com um raio igual à metade da espessura do vidro (raio da quina = e ÷ 2).

Furações
Onde começa: o especificador projeta as furações a serem feitas no vidro para seu encaixe a uma ferragem.
O problema: por não conhecer as normas vidreiras, ele escolhe ferragens inadequadas para vidro temperado, sem considerar suas limitações. Isso leva ao desgaste do vidro devido a um dos seguintes casos:

caso1- Caso 1: os furos ficam muito próximos entre si ou da borda, aumentando o esforço em uma área pequena do vidro.
O que as normas dizem: a NBR 7199 aponta que, para furos com diâmetro de até 80 mm, a distância do início do furo até a borda da peça, e entre furos, deve ser maior ou igual a duas vezes a espessura do vidro.

 

caso2- Caso 2: um furo de canto é feito muito próximo da quina do vidro.
O que as normas dizem: ainda segundo a NBR 7199, a distância mínima da quina da peça até a borda do furo, na diagonal, deve ser maior ou igual a seis vezes a espessura do vidro.

 

caso3- Caso 3: os furos feitos no vidro têm diâmetro menor que sua espessura.
O que as normas dizem: de acordo com a NBR 7199, para furos com diâmetro de até 80 mm, o diâmetro do furo deve ser maior ou igual à espessura do vidro.

 

recorteRecorte
Onde começa: o projetista elabora o recorte do vidro para sua aplicação em determinada obra.
O problema: na hora de definir as medidas e a localização da área a ser recortada na peça, são ignoradas as determinações das normas, comprometendo a segurança.
O que as normas dizem: a NBR 7199 aponta que recortes retangulares ou quadrados devem estar inscritos em um círculo, respeitando as proporções mostradas no desenho ao lado. Além disso, o raio mínimo dos cantos do recorte é de 20 mm.

vp_temp-formatoNOVAFormatos não convencionais
Onde começa: o cliente de um vidraceiro pede uma peça temperada com formato especial (isto é, não retangular). Ele, então, encaminha um molde com as medidas exatas para o processador.
O problema: muitas vezes, o vidraceiro ignora os limites de tolerância para as medidas. O processador, por sua vez, não informa quais são os limites com que trabalha. Por conta da falha na comunicação, depois de pronto o vidro tem grandes chances de não servir para o cliente.
O que as normas dizem: conforme informado na NBR 14698 — Vidro temperado, para a produção de peças com formatos especiais, deve ser estabelecido um acordo prévio com o cliente sobre as características das tolerâncias do projeto. Vale lembrar que quem garante medidas exatas para um projeto, sem considerar as tolerâncias do seu processo produtivo, assume um risco maior.

vp_temp-lapidaçãoNOVALapidação
Onde começa: uma peça de vidro temperado foi produzida fora das medidas pedidas pelo cliente do vidraceiro. Apesar disso, o fornecedor não quer perder o vidro.
O problema: tentando “consertar” esse vidro, há profissionais que decidem lapidar suas bordas — algo infelizmente comum em tempos de crise. Não precisamos dizer que as chances desse vidro quebrar são grandes.
O que as normas dizem: a NBR 14698 é bem clara: o vidro não pode ter sua borda trabalhada após passar pelo processo de têmpera.

vp_temp-capacidadeNOVACapacidades do processador
Onde começa: cada beneficiadora de vidro tem suas próprias máquinas para cada atividade em seu galpão, e trabalhará com limites mínimo e máximo próprios de medidas para os seus produtos, diferentes daqueles de outras empresas.
O problema: algumas vezes, o processador arrisca trabalhar com vidros de tamanhos que ultrapassam a capacidade de seus maquinários. É uma decisão perigosa: caso o vidro seja maior que o limite de uma lapidadora, por exemplo, ele pode trepidar e cair, danificando não só a peça mas a própria máquina e também comprometendo a segurança dos operadores.
O que as normas dizem: cabe ao vidraceiro consultar as medidas máximas e mínimas com o seu fabricante de vidro temperado, segundo a NBR 14698. Por sua vez, o beneficiador precisa conhecer os limites com os quais pode trabalhar conforme a determinação de capacidade de cada equipamento.

Photo of blank glass plate with copy spaceCadê a marca?
Onde começa: Há empresas que comercializam temperados sem a marca do fabricante. Algumas vezes, a intenção é usar vidros de fornecedores diferentes em uma mesma obra. Em outras, atendem a pedidos de clientes.
O problema: se o vidro tiver problemas causados por seu processamento, não é possível rastrear sua origem. Com isso, o vidraceiro terá que arcar com o prejuízo. Sem marca também é difícil diferenciar o vidro temperado de um comum.
O que as normas dizem: a NBR 14698 determina que o vidro temperado deve ser marcado de forma duradoura com a marca do seu fabricante. E o Artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor lembra que é proibido colocar no mercado qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas.

vp_temp-transporteNOVATransporte
- Clientes
Onde começa: algumas empresas permitem que o cliente retire os vidros com veículos inadequados para seu transporte, empilhando-os na horizontal ou não usando intercalário entre elas.
O problema: isso expõe os produtos a danos e compromete suas qualidades técnicas.
O que as normas dizem: segundo a NBR 7199, vidros devem ser transportados em pilhas, apoiados em material que não danifique as bordas (como borracha ou madeira), com inclinação de 4 a 6 graus em relação à vertical. Além disso, devem ser separados por intercalários que protejam suas superfícies.

- Fornecedores
Onde começa: o próprio fornecedor transporta o vidro de forma incorreta, em caminhões abertos e sem lona, ou misturando peças sem considerar o tamanho e o tipo de cada uma.
O problema: além dos riscos, esses caminhões ainda podem ser multados.
O que as normas dizem: de acordo com a NBR 7199, quando as peças de vidro tiverem tamanhos diferentes, as suas superfícies e bordas devem ser protegidas para evitar o contato entre elas.

vp_temp-instalaçãoInstalação
Onde começa: todos os problemas anteriores foram evitados. Resta apenas instalar os vidros.
O problema: há casos em que o instalador deixa o vidro em contato com perfis, parafusos ou outras estruturas, ou com o uso de calços feitos de materiais que apodrecem ou absorvem água. Algumas vezes, as folgas são ignoradas. Com isso, ele é submetido a esforços que podem causar sua quebra.
O que as normas dizem: a NBR 7199 enfatiza que os vidros não devem sofrer esforços causados pela dilatação, contração, torção, vibração ou deformação do sistema. Para isso, o contato das bordas delas não é permitido com peças metálicas ou qualquer material de dureza superior ao vidro.

Fale com eles!
Abravidro — www.abravidro.org.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 531 (março de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



Newsletter

Cadastre-se aqui para receber nossas newsletters