Oportunismo e insensibilidade
19/06/2017 - 20h07
Confesso que gostaria de abordar outro assunto neste primeiro editorial. No entanto, mal a nova diretoria da Abravidro assumiu e já temos pela frente um velho e conhecido problema. Inesperadamente, fomos surpreendidos pelo anúncio de um novo reajuste de preços de nossa matéria-prima, teoricamente vigente a partir do início de julho. Dessa vez, a justificativa foi o aumento do gás natural, o que não explica muita coisa, pois, ano passado, esse valor caiu e não obtivemos redução de valores.
A novidade revoltou a classe vidreira, por uma série de razões. A principal delas é bastante óbvia: o mercado está absurdamente retraído, com sobreoferta de produtos, ociosidade e grande competitividade, num ambiente refratário à absorção desse reajuste pela ponta final. Estamos cientes de que todos — usinas de base, processadores e varejistas — estão trabalhando com margens muito achatadas e precisam recompor seus custos. No entanto, há alguns anos estamos sofrendo com o sobe e desce dos preços da matéria-prima, obtendo um resultado já conhecido: muita turbulência e prejuízo, principalmente porque somos obrigados a investir pesado em estoque no período pré-aumento e tudo retrocede semanas depois.
Somado a tudo isso, as usinas de base concentram o fornecimento de grandes volumes de matéria-prima em clientes intitulados distribuidores que, ao atuar como meros atravessadores, estimulam a informalidade e muitas outras distorções — no final, a conta do aumento do preço do vidro ficará no bolso dos processadores.
Não precisamos ser profundos conhecedores de nosso setor para concluir que o cenário favorece a quebra de muitas indústrias transformadoras no Brasil. Com o objetivo de melhorar seus resultados no curtíssimo prazo, as usinas esqueceram de avaliar o que vem depois, numa atitude que classifico como oportunista e insensível, pois pode custar a perenidade de empreendedores que estão batalhando muito para se manter vivos. Só posso garantir uma coisa: a Abravidro não vai ficar de braços cruzados.
José Domingos Seixas, presidente da Abravidro
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