Vidroplano
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Proteção contra fogo? O vidro também oferece!

19/06/2017 - 19h58

Fogo versus vidro: quem vence essa batalha? O mito antigo de que o vidro é frágil contra o fogo acabou faz tempo: a tecnologia da indústria permite que nosso material funcione como uma barreira segura contra chamas. Isso quer dizer que contra incêndios ele é um ótimo remédio. Por isso, O Vidroplano mostra as principais características dos vidros resistentes ao fogo e os diferentes tipos existentes no mercado. Veja ainda quais são as fabricantes que oferecem o produto no Brasil e como ele deve ser usado em projetos na construção civil.

O que é?
Os vidros resistentes ao fogo, conhecidos pela sigla VRF, têm como objetivo bloquear o curso de chamas, gases e fumaça em casos de incêndio. Assim, permitem a evacuação segura do local. Esse material, dependendo de sua composição, pode resistir de 15 a 120 minutos e sua aplicação varia de acordo com a necessidade do ambiente. Para efeito de comparação, um vidro float comum normalmente resiste somente de 3 a 5 minutos nas mesmas condições.

Como o vidro não combate o fogo, mas, sim, retarda sua ação, os bombeiros devem sempre ser chamados em situações de incêndios.

 

Quais os tipos?
Os vidros são identificados pelas normas de acordo com seu desempenho. Cada um é indicado para diferentes tipos de uso. Ao todo, são três classificações:

Classe E
– Também chamado de para-chamas;
– Principal característica: integridade;
– Impede a progressão das chamas, fumaças e gases tóxicos;
– Não bloqueia a radiação do calor, por isso é restrito a locais em que não haverá fluxo de pessoas, nem próximo a materiais combustíveis;
– Modo de fabricação semelhante ao do float, passando em seguida pelo processo de têmpera;
– Composição química com coeficiente de expansão térmica bem inferior ao do float. Isso garante que a peça não se quebre quando exposta a elevados diferenciais de temperatura.

Classe EW
– Também chamado de para-chamas redutor de radiação térmica;
– Principais características: integridade e controle de radiação;
– Impede a progressão das chamas, fumaças e gases tóxicos;
– Reduz a radiação de calor no lado protegido, garantindo uma temperatura confortável ao ser humano e impedindo a ignição de materiais combustíveis a uma distância de 1,5 m do vidro;
– Modo de fabricação depende do modelo: pode ser tanto semelhante ao do float, passando em seguida pelo processo de têmpera, como do laminado ou insulado;

Classe EI
– Também chamado de corta-fogo;
– Principais características: integridade e isolamento;
– Impede a progressão das chamas, fumaças e gases tóxicos;
– Bloqueia a radiação de calor;
– Opção com maior desempenho;
– Modo de fabricação, dependendo do fabricante, é parecido ao do laminado;
– É feito com temperados intercalados com gel intumescente, cuja característica é reagir e se expandir em contato com altas temperaturas. Ele é o responsável por isolar o ambiente do calor.

 

Qual tipo de projeto pode usar esses vidros?
escada internaEm qualquer projeto que necessite de compartimentação (divisão de um espaço sem separá-los por completo) para efeito de incêndio, seja comercial ou corporativo. “É uma excelente opção para não se perder os efeitos visuais de amplitude e iluminação promovidos pela transparência do produto, se comparado com as alternativas opacas”, explica Paulo de Moraes, gerente-técnico e comercial para América do Sul da Vetrotech Saint-Gobain.

Confira algumas sugestões de uso:

Porta corta-fogo: aplicação frequente, mas normalmente oferecida ao mercado na versão metálica, que não proporciona possibilidades arquitetônicas. Quando feita de vidro, oferece valor agregado, além de alto desempenho, beleza e segurança. Essas portas podem ser inteiramente feitas com nosso material ou ter apenas visores envidraçados — as normas indicam o tamanho permitido para os visores (confira detalhes no final da reportagem);

Fachadas: nessas estruturas, os vidros evitam que as chamas atinjam andares superiores, por exemplo. Para a utilização do vidro corta-fogo em fachadas, a peça precisa ter uma camada adicional de laminação, evitando assim reações químicas influenciadas pela radiação solar;

Saídas de emergência: corredores para evacuação rápida de pessoas também podem levar os vidros, de forma a isolar o ambiente não só do fogo, mas também de fumaça e gases tóxicos;

Proteção de itens frágeis: outra aplicação importante é na proteção de peças que não podem correr o risco de serem destruídas — ou que não resistiriam aos efeitos de proteções ativas como os sprinklers (sistemas instalados em tetos que descarregam água) —, incluindo obras de arte, documentos, livros e servidores;

Outras soluções diversas: telhados, janelas, fechamento de átrios, portas deslizantes, hall de elevadores etc.

Mas e as lareiras?
Lareiras estão na moda em residências de luxo, servindo também como elemento de decoração. Por isso, o vidro é um material constantemente aplicado nessas estruturas. Assim, basta usar um para-chamas ou corta-fogo e está tudo certo, correto? Errado.
O vidro próprio para esse tipo de aplicação é o cerâmico, também chamado de vitrocerâmico. Por ter coeficiente de expansão térmica praticamente nulo, ele irradia o calor gerado pelo fogo, auxiliando no processo de combustão. O mesmo vale para churrasqueiras, estruturas que também precisam de irradiação.
Portanto, já sabe: nada de para-chamas ou corta-fogo em lareiras.

 

Como deve ser feita a instalação?
Vidraceiro, fique ligado: a instalação desses sistemas deve obedecer a regras. Quando for solicitado para instalações assim, consulte caixilheiros especializados nessas soluções. Geralmente, trata-se de projetos de grande porte, no qual arquitetos ou engenheiros estão envolvidos diretamente.

Os fabricantes de perfis exigem conhecimento técnico específico para o trabalho com esse tipo de solução. Essas empresas podem oferecer treinamentos para permitir que o profissional vidreiro esteja apto a realizá-lo. Carlos Montibeller, coordenador de Vendas de Produtos Especiais da Pilkington, alerta: “O produto precisa ser instalado como solução completa, sempre acompanhado da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) e certificado do vidro em conformidade com as normas”. A ART é um documento que define, para efeitos legais, os responsáveis-técnicos pela execução de serviços e obras registrados no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea).

 

Produtos encontrados no Brasil
De acordo com as empresas consultadas, todos os produtos são fabricados fora do País e importados conforme demanda dos clientes.

AGC: Pyropane (para-chamas) e Pyrobel-Pyrobelite (corta-fogo).

Pilkington: Pyroclear (para-chamas) e Pyrostop (corta-fogo).

Schott: Schott Pyran (para-chamas) e Schott Pyranova (corta-fogo).

Vetrotech Saint-Gobain: Pyroswiss, Keralite, Vetroflam e Contraflam Lite (para-chamas) e Contraflam (corta-fogo).

 

Atenção aos acessórios e esquadrias!
bancoNão é somente o vidro que precisa ter características especiais, mas também todos os elementos usados no conjunto. “As paredes, caixilhos, materiais de isolamento e demais componentes precisam ser adequados para terem o mesmo tempo de resistência ao fogo”, revela Fernanda Roveri, engenheira de Vendas da Schott. A certificação de ensaio deve, inclusive, conter a descrição completa de cada componente utilizado, com dimensões e material de fabricação.

Perfis devem ser feitos de aço carbono, aço 1010, 1020, inox, alumínio ou até madeira: tudo vai depender do tipo de sistema instalado e da quantidade de tempo necessária para a resistência ao fogo. É a velha máxima: cada projeto precisa de uma solução específica. Os perfis também precisam ser tubulares, com os canais preenchidos com fibra cerâmica.

Acessórios usados
– caixilhos;
– fitas cerâmicas;
– vedadores entumecentes;
– parafusos de fixação;
– silicones, entre outros.

Os bombeiros precisam aprovar projetos com esse vidro?
“Como todo produto que oferece proteção ativa ou passiva contra incêndio”, explica Paulo de Moraes, da Vetrotech Saint-Gobain, “sua aplicação depende da análise e aprovação do Corpo de Bombeiros do Estado em que se dará a aplicação.” Os oficiais da corporação analisam se a classificação e o tempo de resistência da solução apresentada são adequados aos requerimentos do espaço. Após a aprovação do projeto em si, são verificadas as certificações dos produtos a serem instalados. Com isso, garante-se que o desempenho do sistema seja comprovado por ensaios, estando em conformidade com as normas técnicas.

 

O que as normas dizem?
teste“O elemento construtivo como um todo deve ser avaliado quando a questão diz respeito à resistência ao fogo. A norma brasileira, que trata desse assunto, destaca essa abordagem”, explica Antônio Fernando Berto, do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Portanto, o vidro sozinho não é analisado, mas, sim, o conjunto completo — no caso de uma porta, por exemplo, todos os seus componentes, incluindo esquadrias, parafusos, entre outros, são ensaiados. “Não se deve lidar de forma isolada com um tema tão sensível, uma vez que, no caso de um incêndio, o sistema inteiro será colocado à prova, não somente o vidro”, opina Franco Faldini, diretor de Vendas e Marketing da AGC na América do Sul.

Portanto, devem ser exigidos certificados do sistema inteiro, inclusive das dimensões ensaiadas, nunca certificados isolados de cada componente.

A NBR 11742 — Porta corta-fogo para saída de emergência passou por recente revisão e em breve entrará em consulta nacional. A nova versão do documento agora possui requisitos específicos sobre o emprego de VRF nas portas corta-fogo, sendo dividido em duas categorias:

Visores, cuja área de vidro está limitada a 0,10 m² da porta;
Área de vidro não limitada, com dimensões condicionadas pelas características e limitações construtivas do vidro.

Outra norma sendo revisada é a NBR 14925 — Unidades envidraçadas resistentes ao fogo para uso em edificações (essa trata somente do uso de vidros). O trabalho visa a deixar os requisitos nacionais de acordo com os presentes em normas estrangeiras, definindo questões como composição das instalações e respectivas classificações de resistência ao fogo.

 

Fale com eles!
AGC — www.agcbrasil.com
IPT — www.ipt.br
Pilkington — www.pilkington.com/pt-br/br
Schott — www.schott.com
Vetrotech Saint-Gobain — www.vetrotech.com

Este texto foi originalmente publicado na edição 534 (junho de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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