Vidroplano
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Revestido de tecnologia

20/09/2017 - 11h28

Segundo o Cambridge Dictionary, um dos principais dicionários da língua inglesa, coating significa “camada de determinada substância que cobre uma superfície”. E essa é mesmo a melhor expressão para se entender o que são os vidros com coating, também chamados de revestidos: o float recebe um revestimento metálico, invisível a olho nu, aplicado a uma de suas faces. Assim, passa a fornecer benefícios como conforto térmico e propriedades como autolimpante e antirreflexo, entre outras.

Com as usinas nacionais oferecendo esse vidro por aqui, é hora de conhecer mais sobre eles. Confira a seguir como são fabricados e quais os tipos disponíveis no mercado nacional, além de dicas sobre sua instalação.

Como funciona?
Para a produção desse vidro, são utilizadas placas de float. “Elas devem ser peças de excelente qualidade em termos ópticos, de tensão e planicidade”, ensina Mônica Gomes, gerente de Produção da AGC. Se o material usado não estiver de acordo com esses padrões de qualidade, o desempenho do produto final será prejudicado. O revestimento que a chapa recebe é composto por metais e óxidos metálicos em partículas minúsculas, com o diâmetro de 1 milésimo de um fio de cabelo. Pedro Matta, gerente de Marketing da Cebrace, explica: “O tipo de metal aplicado e suas combinações estão totalmente relacionados ao produto que se vai fabricar, pois cada um possui uma ‘receita’”.

Essa camada se torna a responsável por transformar o vidro, fazendo com que ele tenha novas características. No de controle solar, por exemplo, ela atua como um filtro à radiação solar, permitindo maior passagem de luz do que de calor.

Os principais tipos de vidro revestidos são:
Controle solar
Low-e (de baixa emissividade, também possui características de controle solar)
Autolimpante
Refletivo
Antirreflexo

 

edifício

Edifício Projesul, em Taubaté (SP), com Stopray da AGC: durante instalação do produto, revestimento nunca pode ficar voltado ao ambiente externo

 

Modos de fabricação
Existem dois modelos usados pela indústria:

Online

– Também conhecido como processo pirolítico;
– Realizado na própria linha de produção do float;

'Coater' da Cebrace, em Jacareí (SP): equipamento é instalado após a linha de produção do 'float'

‘Coater’ da Cebrace, em Jacareí (SP): equipamento é instalado após a linha de produção do ‘float’

– Revestimento é aplicado com o vidro ainda quente (a uma temperatura de cerca de 650 ºC) por barras de deposição;
– Garante uma superfície de revestimento resistente e durável;
– Porém, há limitação nas possibilidades de cores e tipos de revestimento possíveis de serem produzidos.

Offline

– Também chamado de processo magnetrônico ou sputtering;
– Realizado após a produção do float, em uma linha independente;
– Revestimento é aplicado com o vidro em temperatura ambiente a partir de um sistema a vácuo (coater). Com isso, as moléculas são depositadas igualmente por toda a superfície;
– Garante maior gama de cores e tipos de revestimento possíveis de serem produzidos.

Onde os vidros revestidos podem ser instalados?
Hoje em dia, os vidros de controle solar são aplicados em larga escala em prédios comerciais, ajudando a reduzir o ganho de calor e o consumo de energia elétrica. Porém, o lançamento de linhas residenciais do produto por parte das usinas nacionais, além do aumento das áreas envidraçadas em projetos arquitetônicos urbanos, propiciou o uso em outros empreendimentos.

“Edifícios com alto desempenho ambiental, com certificação Leed para construções sustentáveis, por exemplo, são todos compostos por eles em suas fachadas”, afirma o engenheiro Fernando Westphal. Professor da Universidade Federal de Santa Catarina e sócio-fundador da ENE Consultores, Westphal complementa: “A escolha do tipo adequado a cada clima geralmente é feita por softwares que simulam as condições a que a obra será submetida, avaliando questões como o balanço entre passagem de luz e calor”.

Os vidros revestidos, sejam eles também autolimpantes ou antirreflexos, podem ser aplicados em locais como:
FACHADAS
COBERTURAS E CLARABOIAS
ESTRUTURAS EXTERNAS EM GERAL

 

shopping

Contra o calor: cool Lite SPN 114, da Cebrace, em cobertura do Shopping Boulevard de Camaçari (BA)

 

Cuidados durante a instalação
A principal dica de todas: o revestimento nunca pode ficar voltado ao ambiente externo. Por ser composto por metais, pode sofrer oxidação. A face revestida deve estar virada para a câmara de ar, no caso de insulados, ou colocada contra o PVB, no caso de laminados. Dessa forma, o revestimento ficará protegido contra o contato direto com o ar.

Lidia Cunha, coordenadora de Produtos da Vivix, reforça algumas boas práticas: “Os vidros produzidos online podem ser manuseados, armazenados, processados e aplicados como o float, devido à alta resistência mecânica e química das camadas depositadas”. No entanto, segundo ela, os fabricados de forma offline exigem cuidados adicionais, visto que suas camadas são mais sensíveis e vulneráveis.

Algumas ações para serem levadas em conta:
Limpeza correta: não usar produtos químicos e abrasivos para limpar o vidro, em especial a face revestida. Água e sabão neutro bastam;
Sem interferências: não se podem aplicar plásticos ou filmes de proteção sobre o coating, nem fazer qualquer marcação com caneta ou etiqueta;
Armazenamento: manter as chapas sem contato direto com o Sol e em ambientes ventilados.

Atenção, vidraceiro!
Você também pode instalar esse tipo de vidro, basta seguir os cuidados básicos citados acima em relação ao revestimento.

De olho nas normas!

Edifício Vitra, projeto do arquiteto polonês Daniel Libesking em São Paulo: 'low-e' de controle solar, da Guardian, reduz em 64% a transmissão do calor

Edifício Vitra, projeto do arquiteto polonês Daniel Libesking em São Paulo: ‘low-e’ de controle solar, da Guardian, reduz em 64% a transmissão do calor

Para a correta especificação e utilização desses produtos, a norma técnica a ser seguida é a NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações. Seu texto mostra exatamente como o material deve ser instalado, dependendo do projeto.

Outro documento importante para os revestidos será a norma sobre processamento dos vidros de controle solar. Porém, ela ainda está sendo elaborada pela Comissão de Estudos do ABNT/CB-37, sediado na Abravidro, sem previsão de conclusão.

Em relação aos vidros de controle solar, a NBR 16023 — Vidros revestidos para controle solar – Requisitos, classificação e métodos de ensaio define como deve ser feita sua fabricação.

Vidros revestidos encontrados no Brasil

AGC
Stopray (controle solar)
Stopsol (refletivo)
Sunergy (controle solar)
Sunlux (refletivo)
Todos são importados mediante demanda

Cebrace
Bioclean (autolimpante)
Habitat (controle solar para residências)
Linhas S, K e SK (controle solar)
Optiview (antirreflexo)
Reflecta Float (controle solar)
Todas as linhas de controle solar e Optiview são produzidas na planta de Jacareí (SP)

Guardian
SunGuard (controle solar)
Residence (controle solar)
Ambas as linhas são produzidas na planta de Porto Real (RJ)

Vivix
A empresa vai lançar, em outubro deste ano, os primeiros vidros de sua linha de controle solar. Os produtos serão fabricados na planta de Goiana (PE) e distribuídos para todo o País

Como anda o mercado?
Para Pedro Matta, da Cebrace, uma oportunidade para o crescimento da demanda está no mercado residencial. “A melhor forma para garantir o consumo é divulgar a informação para o consumidor em relação ao aumento de conforto que os produtos com revestimento apresentam.” Leonardo Arantes, gerente de Produtos do Segmento de Arquitetura da Guardian, concorda: “Ainda existem muitas pessoas que desconhecem a existência desses produtos”. Ele também comenta que as normas técnicas nacionais precisam estimular o crescimento da eficiência energética, da mesma forma que acontece em países como os Estados Unidos e da Europa. Com isso, o mercado passará a desenvolver produtos mais robustos, oferecendo mais opções aos consumidores.

Como alerta o engenheiro Westphal, o setor vidreiro precisa se mexer: “É muito importante aumentar a divulgação técnica sobre as propriedades desses vidros e seus indicadores de desempenho, aplicados a cada tipo de clima e edificação”. Cursos e palestras voltados para especificadores podem ser uma solução para o problema.

Fale com eles!
AGC — www.agcbrasil.com
Cebrace — www.cebrace.com.br
ENE Consultores — www.eneconsultores.com.br
Guardian — www.guardianbrasil.com.br
Vivix — www.vivix.com.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 537 (setembro de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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