Vidroplano
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Conheça mais sobre o mercado de vidros automotivos

21/10/2020 - 10h20

O setor automotivo é um dos que mais sofreram com a pandemia em todo o mundo. No Brasil, não é diferente. Por isso mesmo, vale entender como esse mercado funciona, de olho em uma retomada num futuro próximo. Saiba quais são as características dos vidros usados em veículos, as diferenças entre eles e os da construção civil, como são feitos os projetos com montadoras e as tecnologias que podem se tornar padrão em breve.

Composição do mercado
No Brasil, duas usinas fabricam vidros automotivos: AGC e Cebrace. Abaixo delas, está uma rede de processadoras que atuam em parceria com montadoras para a produção das peças a serem instaladas nos veículos. A demanda por esses produtos está dividida em dois braços do segmento — o de OEM (Original Equipment Manufacturer, formado pelas montadoras) e o de reposição.

Em 2019, a produção total desse setor chegou a 2,9 milhões de carros, caminhões e ônibus – um crescimento de 2,3% em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Somado ao fato de que a área envidraçada total nos automóveis aumentou cerca de 14% nas últimas décadas, podemos considerar que o mercado vive um bom momento? Não, afinal, tinha uma pandemia na estrada.

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Queda vertiginosa
O segmento vinha aumentando a velocidade de melhora nos últimos anos. “O mercado de autos no Brasil passou por uma queda substancial de 2013 a 2016, da ordem de 46%”, revela Flávio Alves Vanderlei, gerente-comercial da Cebrace. “Vínhamos, a partir daí, em uma recuperação de, aproximadamente, 10% ao ano.” A demanda de exportações também tinha sido duramente afetada, principalmente pela crise na Argentina, mercado esse bastante representativo para o setor de carros nacional.

João Paulo Ribeiro, diretor-comercial automotivo da Pilkington, fala do impacto devastador do coronavírus nos negócios, principalmente no segundo trimestre: “No primeiro mês após o início da quarentena, o faturamento foi praticamente zero, atingindo o pior resultado desde o estabelecimento da indústria automotiva no Brasil, no final da década de 1950”. Nos meses de maio e junho, a atividade continuou em níveis extremamente baixos – a retomada só aconteceu com maior força a partir de julho.

Além da impossibilidade de trabalhar e das vendas quase inexistentes nesses meses, outros fatores se tornaram problemas, como as perdas de matéria-prima, devido ao período em que ficou parada em estoques, o aumento de custos dos insumos utilizados na produção e a alta do dólar, que chegou a mais de 45% desde o início de 2020.

Segundo a Anfavea, agosto registrou os melhores números desde o início da pandemia.

Previsões
Mas nem tudo é notícia ruim. Na comparação com os dados de julho, a produção de veículos do mês de agosto marcou crescimento de 23,6%, de acordo com a Anfavea. Já setembro viu um aumento de 4,4% nesse mesmo quesito em relação a agosto. A recuperação ainda é longe da ideal, mas mostra que o pior da crise ficou limitado ao segundo trimestre. Mesmo assim, o número consolidado deste ano não será bom. “As informações apontam que a produção de veículos deve apresentar queda de 35% em comparação à de 2019, fechando pouco abaixo da metade do volume produzido em 2013”, explica Wiltson Varnier, diretor-geral para a América do Sul da Saint-Gobain Sekurit.

Por outro lado, o mercado de reposição deve se recuperar mais rapidamente, já que a tendência é de as vendas de carros novos aumentarem de forma lenta. O segmento também teve impactos positivos nos últimos tempos, com a chegada dos aplicativos de mobilidade e compartilhamento de veículos. Para a processadora gaúcha Vidroforte esse mercado tem sido promissor. “Tivemos crescimento progressivo e positivo nos últimos três anos, sendo o ápice o ano de 2020, em plena pandemia”, afirma Carlos Heinen Filho, gerente de Novos Negócios da companhia. Para ele, a maior dificuldade durante a quarentena foi exatamente a falta de materiais por parte dos fornecedores.

Tipos de vidro
O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) define, na Resolução Nº 784/94, que:

– É obrigatório o uso de laminados no para-brisa de todos os veículos que circulam em vias públicas do território nacional;

Temperados devem ser aplicados nas demais partes envidraçadas.

Os laminados nas laterais são pouco utilizados, pois aumentam o custo do projeto e também podem dificultar a fuga dos passageiros em caso de incêndio ou de mergulho em um rio, por exemplo, já que são mais difíceis de ser arrombados.

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Particularidades
Saindo das informações sobre o funcionamento do mercado, entramos no vidro automotivo em si. É o mesmo usado na construção civil? De acordo com as empresas consultadas para esta reportagem, o float utilizado em automóveis é fabricado seguindo um processo similar ao do material destinado a edificações, com algumas diferenças:

Melhor qualidade óptica: para se chegar a isso, são executados processos de identificação de defeitos pontuais com tolerâncias mais rigorosas;

Melhor desempenho térmico: tecnologias especiais usadas em alguns veículos diminuem a transmissão direta de energia solar para seu interior, diminuindo também o aquecimento do veículo quando estacionado sob o Sol;

Melhor desempenho acústico: nos casos de uso de PVBs especiais que ajudam na redução do nível de ruído no interior;

Componentes específicos para veículos: como antenas integradas, que oferecem maior qualidade no sinal captado.

Segredos do processamento
Da mesma forma, o processamento do vidro conta com particularidades, pois requer um nível de controle superior para atender os requisitos das montadoras – afinal, cada modelo de automóvel precisa de peças próprias e customizadas. Como explica Heinen Filho, da Vidroforte, os processos são semelhantes até certo ponto da produção. “Ambos possuem o corte de chapas, recorte e/ou furação, lapidação e serigrafia. Porém, no final, são levados aos fornos — e aí está a grande diferença: em para-brisas, por exemplo, é necessária a utilização de matrizes de conformação, para deixar a peça no formato desejado.”

Também existem procedimentos especiais no manuseio, com uma série de controles em relação à umidade, temperatura e armazenamento, para garantir a integridade dos produtos.

Cada veículo com seu vidro
O desenvolvimento de peças para um determinado veículo é um processo longo e envolve muito trabalho. “Isso é feito em conjunto com as montadoras e se inicia, em geral, alguns anos antes do lançamento do carro”, esclarece João Paulo Ribeiro, da Pilkington. “O trabalho se dá, inclusive, junto a empresas na definição das especificações técnicas mais adequadas, assim como na execução dos desenhos finais de engenharia.” Antes da introdução dos vidros no mercado, são realizados estudos de viabilidade técnica, além de rígidos testes de homologação e na linha de produção.

Toda essa complexidade tem um custo: a produção dos vidros requer grandes investimentos, principalmente nas ferramentas específicas para cada cliente e para cada veículo. “Todos os projetos do mercado de OEM são desenvolvidos com o cliente, esse é o processo normal na indústria. E vale reforçar: cada veículo tem um tamanho, uma curvatura, uma tecnologia, exigindo que os projetos sejam sempre customizados”, comenta Varnier, da Saint-Gobain Sekurit.

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Futuro tecnológico
A evolução dos automóveis passará pelo uso de vidros modernos, com tecnologias criadas para melhorar a experiência ao volante. A realidade aumentada será uma delas: sua promessa é colocar informações relevantes no para-brisa, projetadas na linha de visão do motorista. Isso fará a direção ser mais segura, já que o condutor não precisará tirar os olhos da estrada para conferir velocidade, nível de combustível ou o caminho indicado pelo GPS.

Segundo reportagem da revista americana Forbes, essas soluções existem atualmente, porém em menor escala. Modelos de luxo de fabricantes como BMW, Chevrolet, Jaguar, Lexus, Mazda, Mercedes-Benz, Mini, Toyota e Volvo já contam com sistemas básicos de heads-up display (HUD, elementos gráficos para transmitir informações) nos vidros.

Uma aposta que deve se tornar realidade, o “retrovisor do futuro” poderá detectar pontos cegos e mostrar imagens em vídeo deles, de forma a alertar quem dirige sobre possíveis perigos. Outra tecnologia também estudada pelas montadoras é um retrovisor com visão híbrida, o qual combinará imagens (em tempo real) da traseira e das laterais do veículo, criando uma vista panorâmica de tudo que estiver nos arredores.

Normas e regulamentações
A norma que define os requisitos de qualidade dos vidros automotivos é a NBR 9491 — Vidros de segurança para veículos rodoviários – Requisitos. Além dela, existem outras 11 tratando dos ensaios a serem realizados nas peças, incluindo os de distorção óptica, transmissão luminosa e resistência à umidade e abrasão, entre outros. São tão relevantes que o Regulamento Técnico do Inmetro a respeito desses produtos é baseado em todas elas. Para os mercados de exportação, devem ser seguidos ainda os requisitos próprios dos órgãos reguladores locais dos países para os quais os vidros serão vendidos.

Marcação
O Contran, por meio da Resolução Nº 254/07, também estabelece os critérios para a aplicação de pictogramas – ou seja, marcações nas peças contendo informações como índice de transmitância luminosa, marca do fabricante e o símbolo de conformidade do Inmetro. A Saint-Gobain Sekurit, por exemplo, usa pictogramas para demonstrar as tecnologias de seus produtos. Segundo a Pilkington, a decisão final sobre a aplicação dessas marcações cabe às montadoras, responsáveis por especificar exatamente o que deve ser impresso.

Este texto foi originalmente publicado na edição 574 (outubro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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