Vidroplano
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Mercado de energia solar traz oportunidade para setor vidreiro

21/10/2020 - 10h12

Se alguns dos principais clientes de nosso segmento, como a construção civil, ainda sofrem as graves consequências do coronavírus na economia (veja como se comporta o setor automotivo clicando aqui), um deles não tem do que reclamar: o ramo de energia solar fotovoltaica cresce a olhos vistos há anos no Brasil – e números recentemente divulgados mostram que a pandemia não o freou. Por isso, as empresas vidreiras precisam ficar ligadas: a demanda por vidros para painéis fotovoltaicos pode ajudar nosso setor na retomada das atividades.

Dados impressionantes
Levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) divulgado em setembro mostra que o País ultrapassou a marca de 300 mil conexões de geração distribuída – esse é o tipo de energia gerada no próprio local de consumo ou próximo a ele. Nos últimos 12 meses, foram adicionados cerca de 162 mil novos sistemas como esse, o que representa um crescimento de mais de 130% em relação ao mesmo período anterior. Ou seja, nem a pandemia conseguiu frear a busca por essa tecnologia.

Outros dados relevantes:

Mais de 370 mil unidades consumidoras utilizam os 300 mil sistemas conectados à rede;

– São 6,4 GW de capacidade instalada no território nacional;

– Os consumidores residenciais são os líderes do número de sistemas: representam 72,5% do total. Na sequência, vêm as empresas dos setores de comércio e serviços (17,7%) e consumidores rurais (6,8%);

– Já no quesito potência instalada, os setores de comércio e serviços ficam na frente, com 39,1% do total. Em seguida estão os consumidores residenciais (38,0%) e rurais (12,7%);

– A tecnologia solar fotovoltaica está presente em mais de 5 mil municípios e em todos os Estados brasileiros;

Os cinco Estados com mais potência instalada: Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Mato Grosso.

 

vp_mercado2O Centro de Pesquisas e Eficiência Energética do Grupo Caoa, localizado no Distrito Agroindustrial de Anápolis (GO), tem, instalada pela Sunew, uma das maiores aplicações de OPV do mundo em um prédio. A fachada conta com mil m² de laminados com esse filme – e, em uma parte da estrutura, os fotovoltaicos ajudam a formar a logomarca da empresa.

 

Matéria-prima nacional
O vidro aplicado nos painéis fotovoltaicos deve ser o de baixo teor de ferro, conhecido como extra clear. Atualmente, apenas a Cebrace fabrica o produto no País – as demais usinas o importam. Segundo um estudo da Greener, consultoria do setor energético, os módulos nacionais representam apenas 4,4% do mercado. “Infelizmente, as tributações sobre a indústria os deixam, em média, 20% mais caros do que os importados. Praticamente todas as instalações este ano utilizaram produtos estrangeiros”, revela Luís Augusto Knorst, diretor da DVM Solar, divisão da processadora DVM Vidros.

Esses números têm explicação: ainda não existe a fabricação integral dos módulos no Brasil. “Somos um grande importador de painéis, mas, ao longo dos anos, conseguimos fortalecer cada vez mais a cadeia produtiva”, reflete Bárbara Rubim, vice-presidente de Geração Distribuída da Absolar. Hoje, é possível encontrar várias empresas que montam esses equipamentos no território nacional.

Para incentivar o segmento, em agosto, o governo federal decidiu zerar a alíquota de importação de diversos equipamentos de energia solar – a decisão é válida até o fim de 2021. Segundo reportagem do site da revista Veja, publicada no início deste mês, algumas empresas receberam a notícia de forma positiva, pois a mudança deverá provocar redução de custos. Porém, os críticos afirmam que os produtos beneficiados são voltados para projetos de geração centralizada, como as fazendas solares de grande porte, o que vai gerar pouco benefício aos pequenos consumidores.

 

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Os vidros da claraboia central do Morumbi Shopping, em São Paulo, ganharam adesivação do produto Sunew Flex, indicado para obras com vidro já existentes. Além de produzir energia, a solução melhora a gestão da luminosidade e proporciona maior conforto térmico ao interior do ambiente

 

Demanda a ser explorada
Apesar do crescimento expressivo, ainda é uma parcela minúscula da sociedade que utiliza energia solar: apenas 0,4% dos 84,4 milhões de brasileiros consumidores de eletricidade. Para Filipe Ivo, diretor de Novos Negócios da Sunew, fabricante de tecnologia fotovoltaica orgânica (OPV, saiba mais a seguir), a expansão em massa desse número passa pela conscientização das vantagens ambientais e econômicas da solução. “Estamos presentes em eventos e nos canais digitais com grande foco na educação do público, divulgando dados de relevância como grandes marcos do mercado, sua história e detalhes do funcionamento”, explica o diretor enfatizando a importância do diálogo direto com o consumidor.

Por ser uma tecnologia competitiva, garante a produção de energia a preços menores do que de outras matrizes energéticas, como a hidrelétrica. Prova disso está nos planos para a instalação desses sistemas nas residências do programa Casa Verde e Amarela, anunciado pelo governo federal para substituir o Minha Casa, Minha Vida.

No entanto, antes de a conta de luz diminuir, é necessário investir no sistema fotovoltaico a ser instalado em sua casa ou empresa. Mesmo assim, é algo mais simples do que parece. “Nos dias atuais, o acesso a linhas de crédito com taxas atrativas e prazos alongados é fundamental para o aumento do número de usuários”, afirma Luís Knorst, da DVM Solar. “Nós montamos uma equipe que auxilia o cliente na escolha da linha que melhor se adequa à necessidade dele, ajudando com a documentação requisitada pela instituição bancária e até mesmo entrando em contato com ela para atualizar o processo”, comenta. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, criou o Finame – Energia Renovável, financiamento voltado tanto para pessoas jurídicas como físicas. E vale reforçar a queda de preço dos módulos: nos últimos dez anos, caiu cerca de 80%.

 

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Mobiliários urbanos também podem gerar energia fotovoltaica, basta ver exemplos como as “árvores solares” (foto), instaladas ao redor do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, e em pontos de ônibus. A energia produzida é usada na iluminação e também habilita o carregamento de smartphones por meio de entradas USB

 

Por que investir?
A Absolar aposta que o setor fotovoltaico será importante na retomada econômica nacional. “A energia solar terá função cada vez mais estratégica para atingirmos as metas de desenvolvimento, sobretudo neste momento, já que se trata da fonte renovável que mais gera empregos no mundo”, analisa Bárbara Rubim, da Absolar. De fato, o Brasil está bem nesse quesito: segundo ranking da Agência Internacional de Energia Renovável (Irena), terminamos 2019 como o 8º país que mais gerou empregos no setor de energia solar fotovoltaica, à frente de líderes históricos desse mercado, como Alemanha e Reino Unido.

A arquitetura moderna também se beneficia de seu uso, comenta Ivo, da Sunew.

“Quando se fala em planejamento urbano, é impossível evitar o tema da verticalização. A tendência mundial de construção de arranha-céus tem a vantagem de abrigar mais pessoas, mas pode levar à formação de ilhas de calor”, reflete. “O OPV é uma forma de minimizar esses efeitos, visto que pode ser aplicado em fachadas de vidro e outras superfícies em que as tecnologias fotovoltaicas tradicionais são incapazes de alcançar.” O OPV é a terceira geração de células solares: um filme flexível e semitransparente, que pode ser laminado entre vidros, permitindo diversas aplicações envolvendo nosso material.

Um estudo de caso que revela como o negócio pode trazer grande retorno às empresas vidreiras é o da DVM. Sua divisão de energia começou a operar em 2016, na matriz da processadora, em Imperatriz (MA). Hoje, conta com três filiais – em Balsas e São Luís, ambas no Maranhão, e Teresina, no Piauí – e mais de 200 projetos instalados em funcionamento nos Estados do Maranhão, Pará, Tocantins e Piauí. “Nossa gestão foca principalmente no atendimento ao cliente e no pós-venda, pois vimos certa deficiência em relação a esse tipo de suporte”, afirma Knorst. “Prevíamos um aumento considerável da demanda, porém nossas expectativas foram superadas. As novas possibilidades de financiamento possibilitaram que uma gama maior de clientes tivesse acesso à tecnologia, deixando de ser restrito a um grupo seleto com dinheiro guardado.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 574 (outubro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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