Vidroplano
Vidroplano

Produzindo mais… e gastando menos

18/02/2016 - 18h54

Este texto foi originalmente publicado na edição 518 (fevereiro de 2016) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista clicando aqui

Seja pela crise econômica no País ou pela redução expressiva do nível de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas, o Brasil enfrentou um grande encarecimento na área de energia em 2015. O setor industrial foi um dos mais impactados pelos preços da energia elétrica. O Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Deinfra-Fiesp) observa que a queda no consumo de eletricidade pela indústria acompanha diretamente o aumento da conta de luz — ou seja, a produção foi reduzida ao longo do ano. O segmento vidreiro não escapou desse impacto: fabricantes, processadores e até empresas de maquinários foram afetados.

Embora o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estime que o aumento das chuvas nos últimos meses possa estabilizar o fornecimento de energia do Brasil, esse ainda é um cenário incerto. Assim, cabe ao nosso setor buscar soluções para reduzir seus custos nessa área. Algumas iniciativas são apresentadas por O Vidroplano nas próximas páginas, bem como curiosidades sobre o fornecimento e consumo de energia no Brasil.

Quanto representam os gastos com energia nas empresas?
O Deinfra-Fiesp aponta que é difícil precisar a porcentagem dos custos com energia na indústria. Dependendo do tamanho e área de atuação da planta, eles podem representar menos de 10% ou mais de 50% no orçamento geral.

Impactos das altas das tarifas energéticas…

…nas fábricas
Além da eletricidade, as plantas de fabricação de vidro plano utilizam o gás natural para o aquecimento de seus fornos. Ele também ficou mais caro em 2015, após ser destinado às usinas termelétricas, acionadas para compensar a redução do nível de água nos reservatórios das hidrelétricas.

Vale destacar que a fabricação de vidro envolve um consumo expressivo de energia, afetado pelo encarecimento tanto da eletricidade como do gás natural.

…nas processadoras
A alta nas tarifas de energia teve um impacto profundo nas processadoras de vidro. “Quando houve a redução do custo da energia elétrica, o setor de vidros processados no Brasil baixou seus preços de venda e, quando fomos surpreendidos com essa alta, o mercado não conseguiu recuperar a redução nem repassar para o produto final o custo real enfrentado”, explica José Antonio Passi, diretor da processadora Divinal Vidros.

…nas empresas de maquinários
O impacto sofrido por subsidiárias de multinacionais não foi tão grande. Luiz Garcia da Silva Júnior, diretor-executivo da Lisec Sudamerica, afirma que como a empresa não fabrica suas máquinas no Brasil, ela tem poucos gastos com energia. Não é o caso de empresas que produzem os seus maquinários em território nacional: “As altas na tarifa de eletricidade aumentaram nosso custo de produção, sem possibilidade de repasse ao cliente final”, afirma Jailson Brol, engenheiro elétrico da SGlass.

 

Eficiência energética: soluções para sua empresa
A eficiência energética é o maior aproveitamento possível da energia com o menor consumo possível desta. Veja, com base em ações de companhias de nosso setor, algumas maneiras de alcançá-la em sua empresa, independente de sua área de atuação:

Ajuda especializada: serviços de consultoria para eficiência energética estão disponíveis no mercado — caso do Glaston Economy, da Glaston, que ajuda a eliminar desperdícios. As consultorias também podem ajudar o cliente na migração para o Mercado Livre de Energia (saiba mais no quadro “Mercado Livre: entenda como funciona”);

Controle das perdas no motor: dispositivos podem ajudar a reduzir desperdícios nos motores. Um deles é o soft-starter — instalado pela processadora GlassecViracon nos motores de suas autoclaves, compressores de ar e ventiladores do forno de têmpera —, que controla a tensão e corrente de partida de um motor, permitindo minimizar as perdas de potência. A processadora também instalou inversores, os quais controlam a frequência da rede que alimenta o motor e ajustam sua rotação conforme a necessidade;

Educação: conscientize seus funcionários sobre a importância da economia de energia e oriente-os para que adotem ações práticas que reduzam o consumo. Segundo Sérgio Lemos, gerente-industrial da Saint-Gobain Glass, a fabricante desenvolveu um programa de conscientização para os seus colaboradores e a estratégia tem dado certo.

Horários de funcionamento: o horário de pico (das 17 às 20 horas) é aquele em que o custo (e consumo) da energia é mais alto. Assim, utilize equipamentos como o forno de têmpera em outros horários, mais cedo ou durante a noite, como vem sendo feito pela processadora paulistana Vitron;

Iluminação: embora essa não costume ser a principal fonte de gastos numa empresa vidreira, é possível reduzir ainda mais seus custos — seja adotando o uso de lâmpadas de LED (mais eficientes que as fluorescentes), como na unidade de Caçapava (SP) da Cebrace, seja ampliando o aproveitamento da luz natural, como vem sendo feito pela União Brasileira de Vidros (UBV);

Manutenção periódica: verificar o estado de circuitos, componentes elétricos, cabos e conexões é fundamental para evitar perdas de energia. A SGlass já realiza essas manutenções em suas instalações, enquanto o plano de ações da Guardian inclui a revisão regular de compressores (equipamentos para geração de ar comprimido, para transmissão de energia às máquinas);

Renovação de equipamentos: muitas vezes, vale a pena substituir mecanismos antigos pelos mais novos, desenvolvidos para trabalhar com menos eletricidade. Empresas como a Guardian já trocaram seus motores elétricos por modelos mais eficientes, enquanto a Cebrace vem substituindo seus equipamentos de ar condicionado por opções de menor consumo de energia;

Trabalho eficiente: como destaca a Divinal Vidros, reduzir o tempo entre a retirada de uma carga e a colocação de outra na plataforma do forno de têmpera, na linha de laminação e em demais equipamentos é uma boa forma de diminuir o desperdício que ocorre quando os maquinários estão ligados mas o vidro ainda não foi colocado neles. Osvaldo Fukunaga, gerente-industrial da processadora PKO do Brasil, acrescenta que isso também aumenta a produtividade da empresa.

 

Energia solar: possibilidade de geração autossuficiente
Hoje também é possível a empresa gerar sua própria energia, por meio da instalação de sistemas solares fotovoltaicos.

Número de conexões para geração fotovoltaica distribuída no Brasil: 1.675, segundo dados da Aneel;

Critérios a serem observados para a instalação:

  • Consumo de energia pretendido;
  • Área sem sombreamento disponível para instalação do sistema;
  • Capacidade de geração de energia nessa área.

Investimento inicial: considerável — a instalação de um sistema com potência de 50 kWp, por exemplo, pode custar R$ 400 mil;

‘Payback’ (tempo de retorno do investimento): cinco a oito anos;

Vida útil dos sistemas fotovoltaicos: 25 anos;

Vantagens:

  • Segundo Nelson Colaferro, sócio-diretor da Blue Sol (desenvolvedora de projetos de engenharia nessa área), o sistema permite que a empresa gere sua própria energia durante o dia;
  • Caso o consumo nesse período seja inferior à energia gerada, aquilo que não for utilizado se torna um crédito válido por até cinco anos junto à distribuidora — ou seja, é possível consumir energia mesmo durante a noite sem precisar pagar por ela.

 

Mercado Livre: entenda como funciona
Normalmente, a eletricidade é recebida por meio do Mercado Cativo de Energia ou Ambiente de Contratação Regulada (ACR). Nele, uma distribuidora fornece a energia ao consumidor, o qual está sujeito a reajustes e bandeiras tarifárias.

Hoje, porém, é possível migrar para o Ambiente de Contratação Livre (ACL), ou Mercado Livre de Energia. Nele, o consumidor pode pesquisar geradores e comerciantes, escolher aquele que oferece o preço e as condições mais atrativas e negociar os detalhes do fornecimento.

Algumas empresas do setor, como a UBV, já fizeram essa migração.

Vantagens
Leonardo Granada Midea, sócio-diretor da Prime Energy (consultora e comercializadora de energia para o ACL), aponta como principais atrativos do Mercado Livre:

  • Preços até quatro vezes menores que os repassados pelas distribuidoras no Mercado Cativo;
  • Ausência de bandeiras tarifárias (nunca há cobrança extra sobre o preço);
  • O consumidor pode escolher de quem comprar a energia e negociar o volume a ser consumido e seu preço diretamente com o fornecedor;
  • O custo de compra de energia é o mesmo nas 24 horas do dia, sem horário de pico — é possível manter os fornos de têmpera operando sem interrupções, por exemplo.

Como passar para o Mercado Livre?
Segundo o engenheiro Douglas Ludwig, diretor-executivo da consultoria Ludfor Energia, a empresa interessada em migrar para o ACL precisa:

  • Ter demanda contratada de, no mínimo, 500 kW;
  • Encaminhar os documentos necessários para a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE);
  • Adequar seu sistema de medição e faturamento (SMF), cujo custo pode variar de R$ 20.000 a R$ 41.000;
  • Permanecer no Mercado Livre, após a migração, por pelo menos cinco anos.

Leonardo Midea, da Prime Energy, lembra que os gastos da passagem para o Mercado Livre são compensados pela economia nos custos de energia já no primeiro mês. Também aconselha que esse processo seja acompanhado por uma empresa de consultoria especializada, para orientar os consumidores a respeito da forma mais recomendável e segura de se trabalhar no ACL.

 

Maquinários eficientes no mercado
O uso de equipamentos eficientes é fundamental para garantir maior produtividade com menor custo de energia. Saiba o que algumas empresas que atenderam a nossa reportagem oferecem para esse objetivo:

Pré-processamento: as lapidadoras da série VE, da Glaston, podem vir com a função opcional Grind & Stop (lapida e para). Ela coloca automaticamente a esteira, o mecanismo pneumático, os mandris e as bombas de água em modo de espera por um intervalo de tempo predeterminado a partir da última peça lapidada, reduzindo assim o consumo de energia.

Laminação: nesse segmento, a Lisec destaca sua autoclave de baixa pressão. Segundo a empresa, a máquina trabalha com pressão de apenas 1 bar, garantindo economia de cerca de 40% de energia em comparação com as autoclaves tradicionais que operam com 12 ou 13 bar.

Têmpera: os fornos de têmpera da SGlass, disponíveis nos modelos Standard e Evolution, consomem pouca energia por m² de vidro temperado, por meio de seu sistema de resistências com alta eficiência. Eles possuem ainda controle automático de aquecimento e consumo via controlador lógico programável (CLP) e sistema de isolamento de fibra cerâmica, o qual evita desperdício de calor.

Por sua vez, os fornos FC500 e FC1000, da Glaston, usam um sistema para circulação de ar forçada dentro do forno, proporcionando aquecimento uniforme e veloz, além de minimizar o consumo de energia em até 30%.

Outros: a Projepack comercializa a linha Modular Glass de máquinas para embalagem do vidro. Um de seus diferenciais é a versatilidade na alimentação: ela pode funcionar tanto na eletricidade como a gás liquefeito de petróleo (GLP). Com isso, é possível alternar a fonte de energia de acordo com as necessidades da empresa e evitar o uso de eletricidade nos horários de pico.

 

Você sabe como funciona o sistema de bandeiras tarifárias?
Ele entrou em vigor em 2015 e consiste na aplicação de uma cobrança extra nas contas de eletricidade quando os custos para geração de energia estão mais altos. Desde fevereiro de 2016, os seguintes preços são considerados:

  • Bandeira verde: sem valor extra
  • Bandeira amarela: cobrança extra de R$ 1,50 para cada 100 kWh
  • Bandeira vermelha (patamar 1): cobrança extra de R$ 3,00 para cada 100 kWh
  • Bandeira vermelha (patamar 2): aplicável se o custo de geração for igual ou superior a R$ 610 para cada MWh, tem cobrança extra de R$ 4,50 para cada 100 kWh

Portanto, fique atento!
Em tempos de bandeira vermelha, economize ainda mais!

 

A alta da energia no Brasil

  • As contas de luz chegaram a um aumento médio de 50% ao longo do ano passado;
  • Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), até novembro de 2015 o consumo de energia elétrica pela indústria apresentou queda de 5,1% em relação aos doze meses anteriores;
  • No mesmo período, a tarifa energética para o setor aumentou 48,6% (sem considerar o custo adicional da aplicação da bandeira vermelha).

 

Os que mais consomem na indústria vidreira
Segundo as processadoras consultadas para essa reportagem, os fornos de têmpera e linhas de laminação estão entre os equipamentos que mais consomem energia, podendo representar mais de 50% de seus gastos nessa área.

Fale com eles!
Aneel — www.aneel.gov.br
Blue Sol — www.blue-sol.com
Cebrace — www.cebrace.com.br
Deinfra-Fiesp — www.fiesp.com.br/sobre-a-fiesp/departamentos/departamento-deinfraestrutura-deinfra
Divinal Vidros — www.divinalvidros.com.br
EPE — www.epe.gov.br
GlassecViracon — www.glassecviracon.com.br
Glaston — br.glaston.net
Guardian — www.guardianbrasil.com.br
Lisec — www.lisec.com
Ludfor Energia — www.ludfor.com.br
MME — www.mme.gov.br
PKO do Brasil — www.pkodobrasil.com.br
Prime Energy — www.primeenergy.com.br
Projepack — www.projepack.com.br
Saint-Gobain Glass — br.saint-gobain-glass.com
SGlass — www.sglass.com.br
UBV — www.vidrosubv.com.br
Vitron — www.vitronglass.com.br



Newsletter

Cadastre-se aqui para receber nossas newsletters