Vidroplano
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Saiba como tratar a água da maneira correta

19/07/2024 - 12h08

É possível afirmar que, sem água, não existe vidro processado. Apesar de não ser uma matéria-prima de nosso material, ela é fundamental em diversas etapas no beneficiamento. No entanto, não é qualquer água que pode ser utilizada; do contrário, os processos podem ser seriamente comprometidos.

Por isso mesmo, O Vidroplano traz uma análise sobre o tratamento correto desse insumo tão importante. Com o intuito de detalhar os passos a serem seguidos, conversamos com empresas que produzem e representam fabricantes de equipamentos para a tarefa.

Insumo essencial
No processamento, a água se transforma em elemento durante a:

  • Lapidação, servindo para refrigerar o processo;
  • Furação e recorte, com esse mesmo objetivo;
  • Lavagem, para retirar as impurezas presentes na superfície das peças oriundas das etapas anteriores

“A qualidade da água pode impactar diretamente a eficiência desses processos e a qualidade do produto final. A presença de minerais, impurezas e outros contaminantes pode causar defeitos no vidro e até aumentar o desperdício de materiais”, explica Jaqueline Batista, gerente-geral da Support Glass, empresa que representa no Brasil a italiana Idrotecnica, especialista em sistemas de tratamento. “Além do risco relacionado ao produto final, a má qualidade da água no sistema pode ocasionar corrosão e entupimentos dos maquinários, resultando em tempo de inatividade e custos elevados de manutenção.”

Como reforça Genilson Muniz do Nascimento, diretor da Muniz Representações, distribuidora exclusiva dos produtos da também italiana IMMMES em nosso país, a cultura de sustentabilidade ambiental e as regulamentações legais sobre o assunto exigem cada vez mais que as empresas consumidoras de água adotem sistemas adequados para garantir a reutilização de águas residuais. “Isso passa necessariamente por um sistema de filtragem que garanta, ao mesmo tempo, a extração do pó de vidro presente e o retorno de uma água de boa qualidade para as máquinas – ainda mais se forem de alta tecnologia, como os CNC, que, pela delicadeza de seus circuitos de refrigeração, exigem água extremamente limpa”, afirma.

Uma processadora que tenha um bom sistema de filtragem irá gerar redução de custos por vários outros motivos, incluindo trabalhar em circuito fechado, não utilizando água nova a todo momento, e economizar nas ferramentas diamantadas, as quais podem ter a vida útil aumentada em até 20% quando em contato com água limpa.

 

A qualidade da água impacta diretamente os processos e a qualidade do vidro: a presença de minerais, impurezas e contaminantes pode causar defeitos nos maquinários e nas peças do material (foto: Thiago Borges)

A qualidade da água impacta diretamente os processos e a qualidade do vidro: a presença de minerais, impurezas e contaminantes pode causar defeitos nos maquinários e nas peças do material (foto: Thiago Borges)

 

Qualidade líquida
Quais seriam os critérios para se medir a qualidade da água? Como aponta Uember Arantes, sócio-administrador da Metalúrgica Amaral, o pH da água é elemento-chave: “O vidro tem em sua composição o hidróxido de sódio, também chamado simplesmente de soda. Por esse motivo, os efluentes da indústria vidreira ficam alcalinos, com pH alto. Então, sempre será necessário fazer a correção desse pH, deixando a água neutralizada”.

Como os sistemas funcionam
Cada fabricante de sistemas de tratamento conta com padrões próprios de tecnologia. O processo consiste em várias etapas destinadas a garantir a pureza e a qualidade da água, e pode incluir diversos estágios, conforme indica Jaqueline Batista, da Support Glass.

  • Pré-filtração com Filtro de Carvão Ativado (FCA): tem a função de remover cloro, matéria orgânica e outros contaminantes;
  • Tratamento químico: inclusão de produtos químicos para ajustar o pH da água e prevenir corrosão e incrustações. Nesse momento, é usado um fluido refrigerante, que serve para diminuir o atrito das ferramentas de perfuração ou desbastes com o vidro;
  • Osmose reversa: tecnologia para desmineralizar a água, removendo sais e outras impurezas dissolvidas nela;
  • Desinfecção UV: esteriliza a água tratada usando luz ultravioleta, eliminando bactérias e vírus residuais;
  • Desmineralização por troca iônica: por meio de resinas de troca iônica, remove íons de cálcio e magnésio, além de impurezas não removidas pela osmose reversa.

Além disso, outros equipamentos podem fazer parte do sistema: bombas, tanques de armazenamento, filtros e descalcificadores, entre outros.

Mantendo tudo em perfeito estado
Nascimento, da Muniz Representações, explica que esses sistemas são verdadeiras joias tecnológicas, concebidos para realizar as fases de trabalho da forma mais autônoma possível. “No entanto, para manter tais equipamentos eficientes, é necessário seguir um programa de manutenções e verificações. Todas as operações são simples, ao alcance dos responsáveis pela manutenção da fábrica, e bem suportadas por serviços de controle remoto.”

O processo de manutenção inclui:

  • Monitoramento: inspeções regulares dos componentes do sistema para identificar desgastes, vazamentos ou outros problemas;
  • Substituição de filtros: troca periódica dos filtros de areia, carvão ativado e outros elementos filtrantes, conforme a necessidade e o nível de contaminação da água (de acordo com o manual dos equipamentos);
  • Limpeza de membranas: procedimentos de limpeza para as membranas de osmose reversa para remover incrustações e biofilmes, garantindo sua eficiência;
  • Controle químico: verificação e ajuste dos níveis de produtos químicos adicionados à água para manter o pH adequado, prevenindo corrosão e incrustações;
  • Calibração de equipamentos: regulagem frequente dos sensores e instrumentos de medição para garantir a precisão dos dados de operação.

 

Além de sistemas de tratamento para a água usada no beneficiamento, é importante cuidar de todo o consumo desse insumo na fábrica (foto: Thiago Borges)

Além de sistemas de tratamento para a água usada no beneficiamento, é importante cuidar de todo o consumo desse insumo na fábrica (foto: Thiago Borges)

 

Poupando o insumo (e dinheiro também)
Uma processadora não gasta água apenas durante o beneficiamento: existe a limpeza e manutenção da fábrica, sanitários e outros usos que podem, e devem, ser olhados com atenção.

1 – Identifique vazamentos
Um pequeno furo de apenas 2 mm de diâmetro num encanamento desperdiça até 3.200 litros de água em um dia. Para observar a existência de vazamentos, siga estes passos:

  • Feche bem todas as torneiras, desligue os aparelhos que usam água e não use os sanitários;
  • Anote o número que aparece no hidrômetro ou marque a posição do ponteiro do equipamento;
  • Após uma hora, verifique se o número mudou ou o ponteiro se movimentou;
  • Em caso positivo, existe vazamento na sua empresa. Nesse caso, procure uma empresa especializada para consertá-lo.

2 – Adote equipamentos econômicos
Na hora de comprar maquinários, verifique o consumo de água necessário para o funcionamento de cada um. Hoje, a maioria das fabricantes conta com soluções econômicas. Não se esqueça ainda de mudanças em pequena escala, como a instalação de torneiras automáticas – elas permitem uma redução de até 20% no consumo de água em relação à torneira convencional.

3 – Reaproveite a água sempre que possível
Embora seja imprópria para consumo, a água de reúso pode ser utilizada em diversas aplicações, como lavagem de pátios.

4 – Não se esqueça das medidas básicas
Desligue todos os dispositivos como mangueiras e torneiras quando não estão sendo usados. Já no caso de limpeza, analise se é realmente necessário usar água ou se o trabalho pode ser feito com vassoura ou balde e pano.

Este texto foi originalmente publicado na edição 619 (julho de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte



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