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Aprenda a diminuir as perdas de matéria-prima

05/03/2024 - 15h39

Na maioria das vezes, processar nosso material é uma batalha para diminuir a perda de matéria-prima ao longo das etapas do beneficiamento. Quanto mais padronizados os processos, seguindo parâmetros de qualidade, menos desperdício – o que representa maior lucro no fim do mês.

Para mostrar possíveis soluções para a questão, O Vidroplano falou com players do setor e com um dos maiores especialistas em transformação de vidros do País. Confira nas páginas a seguir dicas preciosas para garantir maior eficácia para sua empresa.

 

Lição 1 — Conhecimento
O elemento mais importante na produção é o conhecimento: saber os parâmetros corretos de cada etapa permite maior controle da produção, resultando na redução dos custos operacionais e das quebras. “Tudo em vidraria é calculado, você não chuta. Como regular as máquinas? Por meio de cálculo”, explica Cláudio Lucio da Silva, instrutor técnico da Abravidro. “E você calcula em função do custo operacional de sua empresa. Então, não é receita de bolo, nem tentativa e erro: é técnica.”

Saber cada aspecto das tecnologias aplicadas na empresa dá mais poder à gerência da processadora para conduzir o negócio. “Conheço empresa que não precisa lixar o rolo do forno de têmpera há quatro anos. Ou seja, já aprendeu tudo isso e coloca o conhecimento em prática, com a chefia atuando todo dia para esse padrão de excelência se manter”, comenta Cláudio.

Para o instrutor da Abravidro, é importante que as processadoras consolidem seus parâmetros em um documento que descreva, passo a passo, os processos – assim, qualquer funcionário, mesmo um recém-contratado, poderá replicá-los. “Fazer um documento desse tipo, cujo nome oficial é Procedimento Operacional Padrão, garante a reprodutibilidade. E que seja algo com imagens, de consulta fácil e de aplicação simples. Aí você consegue monitorar isso dentro do sistema de gestão profissional, fazendo correções ao longo do tempo.”

 

Processo de corte e destaque, geralmente, gera pouca perda de matérias-primas. Por isso mesmo, é preciso ter atenção ao processo (Foto: kyrychukvitaliy/stock.adobe.com)

Processo de corte e destaque, geralmente, gera pouca perda de matérias-primas. Por isso mesmo, é preciso ter atenção ao processo (Foto: kyrychukvitaliy/stock.adobe.com)

 

Lição 2 — Impacto na saúde financeira
“Hoje, sem dúvida alguma, o maior impacto no resultado da empresa está relacionado aos desperdícios dentro da área fabril”, opina Jones Hahn, fundador e CEO da Nex, empresa que atua no mercado de tecnologias inteligentes para processos fabris de nosso setor. Fica fácil visualizar isso: uma única peça de vidro que sofre quebra no forno de têmpera já gerou um custo operacional que dificilmente será recuperado, pois passou por todas as etapas, consumindo eletricidade, desperdiçando tempo de mão de obra etc. Imagine, então, isso multiplicado por várias ocorrências no dia a dia da produção.

Diminuir perdas significa não apenas parar de jogar dinheiro fora, mas, também, faturar mais. “No momento atual, muitas empresas brigam por participação no mercado. Porém, sem buscar desenvolver novos produtos, novas soluções. Consequentemente, o mercado se baliza por preço”, analisa Pedro Lucas Fornel, diretor da beneficiadora Casa Fornel. Com uma margem de lucro menor por conta dos desperdícios na fabricação, o processador acaba baixando seus preços – o que não resolve sua falta de eficiência como também prejudica o mercado como um todo.

 

Lição 3 — Os processos mais complexos
Todos os estágios do beneficiamento podem gerar perdas. Porém, existem alguns que normalmente mais carecem de conhecimento para evitar essa situação. São eles:

  • Lapidação
  • Furação/recorte
  • Têmpera

 

“No corte até se desperdiça vidro, mas não tanto. As etapas mais técnicas são as que geram mais quebras”, afirma Cláudio Lucio. Pedro Fornel aponta a têmpera como o momento mais delicado – e que, portanto, pode gerar reais prejuízos, “pois o maior percentual de energia elétrica da empresa é consumido pelo forno, onde se dá o encerramento da produção”.

No entanto, na maioria das vezes, a quebra na têmpera é ocasionada por um processo anterior malfeito. “A falta de acabamento nas bordas ou na furação são vilões, descobertos somente após entrarem no forno, ocasionando quebras”, explica Jones Hahn, da Nex. Ele aponta ainda que, em relação aos laminados, grande parte dos desperdícios pode ser ocasionada pela calandra ou prensagem antes da autoclave. “Já nos insulados, isso ocorre na dobra de perfis, aplicação de selante butyl e montagem do quadro.”

 

A “vilã” do desperdício: a têmpera é o momento mais delicado do beneficiamento. Porém, na maioria das vezes, a quebra no forno ocorre por um processo anterior malfeito (Foto: Aleksei/stock.adobe.com)

A “vilã” do desperdício: a têmpera é o momento mais delicado do beneficiamento. Porém, na maioria das vezes, a quebra no forno ocorre por um processo anterior malfeito (Foto: Aleksei/stock.adobe.com)

 

Lição 4 — Índice aceitável
Para o instrutor da Abravidro, o índice ideal de perda seria zero. Como somente um nível de excelência altíssimo poderia alcançar esse resultado, vale a máxima: quanto menos perdas, melhor. “Se você está atuando para reduzi-las, e está conseguindo, ótimo. Um dia você chegará ao nível de não mais medi-las em partes por cem (ppc), mas sim em partes por milhão (ppm)”, analisa. “O importante é identificar o que está errado e buscar soluções de forma contínua – e sempre reduzindo esse nível a cada período, mesmo que seja um pouquinho. Dessa forma, daqui a um tempo, você vai ver que entrou em um regime extremamente salutar para a empresa.”

Processadoras treinadas pelo instrutor nos módulos da Especialização Técnica Abravidro alcançam perdas de 0,11% a 0,17% na têmpera, enquanto a média está entre 1% e 3%, chegando a 5%, dependendo da empresa (veja mais sobre o treinamento no final desta reportagem).

 

Lição 5 — Como medir
A Casa Fornel gera relatórios por setor, para identificar os custos de cada tarefa. “Usamos como indicadores a produtividade/custo do m², o aproveitamento de fornada e o índice gerador de estorno e quebra”, afirma Pedro Fornel.

De acordo com a Nex, cada vez mais a automação ajudará no controle e na medição das perdas em processos industriais. “Com isso, os processadores poderão fugir da ação da mão humana, tendo uma resposta maior, com a possibilidade de monitorar a fábrica em tempo real, e isso de dentro da gestão. Hoje, sem dúvida alguma, esse é o melhor caminho para os processadores diminuírem o custo fabril, aumentando a rentabilidade e a fatia de mercado no segmento em que atua”, esclarece Jones Hahn.

 

Foto: Marcos Santos

Foto: Marcos Santos

 

O que fazer com as sucatas?
Qualquer peça de vidro imprópria para o processamento é considerada sucata. Elas podem ser:

  • Retalhos do processo de corte que não têm tamanho adequado para aproveitamento;
  • Quebras durante a lapidação, furação/recorte ou têmpera, sejam por defeitos de fabricação e manuseio errado ou beneficiamento malfeito;
  • Baixa qualidade da matéria-prima, que pode ser comprovada pela presença de bolhas na chapa, por exemplo.

 

Peças enviadas aos clientes, como vidraceiros, em desacordo com o pedido realizado, também podem gerar perda e sucata. Todos os cacos podem ser reciclados por empresas especializadas, fazendo, muitas vezes, com que esse material retorne à cadeia para algum processo de fusão.

Existe também outro elemento gerado durante a produção: pó de vidro, oriundo da lapidação e da furação/recorte. Por estar misturado à água, a empresa precisa ter uma central de tratamento. “Esse é um dos gargalos de logística reversa, pois ainda não existe um descarte regulamentado de pó”, afirma Pedro Fornel. “Por isso, mandamos para beneficiadoras desse material que fazem os descartes da melhor forma.”

 

Quer saber mais como evitar perdas? A Especialização Técnica lhe ajuda!
Criado em 2011, o programa Especialização Técnica Abravidro forma e aperfeiçoa a mão de obra nas indústrias processadoras de vidro, ensinando não só a forma correta do processamento, mas também aumentando a eficiência e produtividade da empresa, com redução de perdas.

Ministrada por Cláudio Lúcio, conta com cinco módulos independentes:

  • Corte
  • Lapidação
  • Serigrafia
  • Têmpera
  • Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoques (PPCPE) – este já tem nova turma agendada para os dias 16 e 17 de maio, em São Paulo.

 

Para mais informações, entre em contato com a área de Atendimento da Abravidro pelo e-mail abravidro@abravidro.org.br ou telefone (11) 3873-9908.

Este texto foi originalmente publicado na edição 614 (fevereiro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Alpar/stock.adobe.com



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