Vidroplano
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Conheça os cuidados para a troca de vidros em fachadas

21/07/2020 - 11h51

A troca de vidros em fachadas ainda é um trabalho pouco explorado por vidraçarias. Trata-se de uma atividade delicada, exigindo profissionais capacitados em sua realização, planejamento prévio adequado e equipamentos que permitam a remoção da peça a ser substituída e a colocação de uma nova.

Nas páginas a seguir, O Vidroplano apresenta para os vidraceiros que desejam se especializar nesse serviço quais os cuidados e procedimentos a serem tomados, a forma como a colagem dos vidros deve ser feita e as orientações específicas para determinadas peças.

Sempre capacitada
Embora a tarefa seja complexa, nada impede que uma vidraçaria possa realizá-lo, seja ela grande ou pequena. “A substituição pode ser feita por qualquer empresa, desde que tenha conhecimento e muita técnica”, afirma a arquiteta Audrey Dias, consultora de Esquadrias e Vidros do Grupo Aluparts. Segundo ela, muitas empresas não estão capacitadas por não terem engenharia adequada para tais serviços.

Assim, é imprescindível que a vidraçaria disponha de uma equipe de projetos para entendimento e planejamento da execução, bem como equipamentos necessários, como balancins, ventosas, cordas e cintos de segurança, e operadores experientes nesses procedimentos. Para isso, Audrey afirma que os instaladores devem passar por cursos para realização de trabalho em altura, conforme determina a Norma Regulamentadora Nº 35 — Trabalho em altura (NR-35), manuseio de equipamentos e aplicação de fixações químicas. “Recomenda-se também o treinamento periódico para procedimentos de aplicação e colagem com silicone estrutural e fita dupla face estrutural junto aos próprios fornecedores dos produtos”, acrescenta.

A importância do planejamento
Os cuidados na troca dos vidros começam ainda no planejamento — todo cuidado nessa etapa é crucial para garantir a qualidade do serviço e a segurança dos instaladores.

“Normalmente, as substituições das peças são feitas em edifícios mais antigos que estão passando por algum tipo de reforma”, observa Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix. Nesse caso, ele enfatiza que é importante avaliar se as chapas existentes atendem as normas técnicas, principalmente a NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações, em relação à tipologia dos vidros, à segurança por eles oferecida e às áreas nas quais devem ser aplicados, a fim de reduzir os riscos de acidentes. Barbosa ressalta que, ainda que os vidros antigos estejam instalados em desacordo com essas publicações da ABNT, é responsabilidade da empresa contratada que a nova especificação atenda os requisitos delas.

Por falar em normas, Fábio Reis, gerente técnico da Guardian, lembra que há outras além da NBR 7199 cujas determinações precisam ser seguidas nesse trabalho: trata-se da NBR 15575 — Edificações habitacionais – Desempenho, e das específicas para colagem estrutural com o produto a ser utilizado:

Em caso de silicone estrutural, deve-se consultar a NBR 15737 — Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial – Colagem de vidros com selante estrutural;

Em caso de fixação com fita dupla face estrutural, a NBR 15919 — Perfis de alumínio e suas ligas com acabamento superficial – Colagem de vidros com fita dupla face estrutural de espuma acrílica para construção civil, atualmente em processo de revisão.

Além de um bom conhecimento dos textos técnicos, o vidraceiro deve ter em mãos a especificação técnica de todos os componentes do sistema: vidro, perfis, vedações, parafusos etc. “É a partir dessa informação que o profissional terá condições de orçar e entregar um produto final de acordo com as premissas que foram consideradas no projeto”, explica Nilson Viana, coordenador da Consultoria Técnica da Cebrace. Infelizmente, segundo ele, é muito comum perder essas informações com o passar dos anos. Por isso, quando precisam realizar alguma troca, os responsáveis pelo serviço encontram bastante dificuldade em identificar o produto correto.

Também há casos em que a troca das peças faz parte de um projeto de retrofit, ou seja, uma atualização na edificação. “Além de objetivar a renovação estética da edificação, deve priorizar os critérios de segurança, como a utilização de laminados”, afirma Ana De Lion, gerente de Desenvolvimento de Mercado da AGC. Outra recomendação importante: sempre que possível, o retrofit pode ser aproveitado para a aplicação de peças com mais tecnologia, como as de controle solar, que auxiliam na melhoria do conforto térmico da edificação e redução de custos de energia.

Passo a passo da troca dos vidros
Audrey Dias, do Grupo Aluparts, lista as etapas desse trabalho:

1- Identificar a especificação correta tanto do vidro como do sistema construtivo das esquadrias (stick ou unitizado)

2- Conferir as dimensões da peça a ser trocada

3- Remover o vidro existente

4- Preparar a superfície que receberá o novo vidro com boa limpeza técnica

5- Aplicar o novo vidro

“Em fachadas com sistema de fixação mecânica, por meio de ferragens, revisamos as vedações e o serviço se encerra. Já nas com fixação química, por meio de silicone estrutural ou fita dupla face, temos de aplicar presilhas de pressão para garantir a cura ou adesão corretas”, explica Audrey. Após o tempo indicado pelos fornecedores dos produtos, as presilhas são removidas e a vedação do sistema é então revisada.

Divulgação Adere

Divulgação Adere

 

Fixação
Conforme já comentado, o sistema construtivo da fachada faz toda a diferença na hora de planejar a troca dos vidros:

– O modelo stick permite a retirada do quadro de alumínio da fachada. “Nesse tipo, a reposição é simples, com a substituição do vidro podendo ser feita numa bancada com o procedimento normal de colagem. Antes da remoção do quadro, deve-se analisar se será possível reaproveitá-lo. Caso não seja, é necessário produzir outro, com o mesmo tipo de perfil já utilizado”, orienta Roberto Almeida, supervisor-comercial da Adere;

– Já no sistema unitizado, a remoção do quadro não é possível. “Sempre recomendamos que fixações mecânicas sejam colocadas temporariamente, como presilhas, até que o produto usado para a fixação atinja as resistências mecânicas necessárias para suportar o peso da peça e os esforços do projeto”, recomenda André Cunha, gerente técnico da Sika. Almeida, da Adere, alerta que, nesse tipo de sistema, a solução deve ser tratada caso a caso com todos os envolvidos no projeto.

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Independentemente do sistema da obra e do produto usado para fixar os vidros, é preciso dar atenção à limpeza. “Como estamos falando de uma aplicação que envolve adesão, é primordial limpar os substratos”, alerta Emir Debastiani, especialista técnico da Dow. Além disso, quando se usa selante de silicone estrutural, Debastiani explica que é importante ter cuidado com a temperatura das superfícies no momento da aplicação, seguindo as recomendações do fabricante do selante. Assim, a temperatura de aplicação estará dentro dos limites estabelecidos — níveis de calor muito elevados podem ocasionar problemas no silicone, como a formação de bolhas.

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A temperatura também é um quesito a ser avaliado caso a fixação das peças seja feita por meio de fita dupla face estrutural. De acordo com Victor Hugo Busato, engenheiro especialista de Aplicação da 3M do Brasil, ela não pode ser aplicada quando a temperatura ambiente e da superfície dos substratos forem menores que 10 °C. “A recolagem do vidro diretamente na esquadria também exige o uso de equipamentos adequados que consigam gerar uma pressão mínima”, recomenda Busato. “E todos os vidros substituídos nesse processo devem ser verificados e registrados para garantir que o processo de troca tenha sido efetivo, garantindo total segurança.”

Vale destacar que as fabricantes de produtos para fixação disponibilizam manuais e oferecem suporte técnico e, em alguns casos, até mesmo treinamento.

Uniformidade e desempenho
A uniformidade estética da fachada é um dos maiores desafios na troca de vidros. A sugestão é que sejam usados os mesmos produtos aplicados no projeto original. Se não for possível, o ideal é consultar a equipe técnica da fabricante do material para realizar a especificação mais adequada à necessidade da obra, indica Fábio Reis, da Guardian. Ao se aplicar um produto diferente, recomenda-se ainda fazer avaliações estéticas por meio de protótipos em tamanho real.

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Luiz Barbosa, da Vivix, comenta a respeito de outro elemento importante a ser considerado: “A substituição de qualquer elemento das fachadas deve ser de forma que os novos elementos não alterem as características arquitetônicas originais”. Segundo Nilson Viana, da Cebrace, vidros de controle solar merecem atenção especial nesse tipo de serviço. “Qualquer alteração na sua composição pode ocasionar mudança na coloração e, consequentemente, causar um efeito de heterogeneidade na estética do edifício”, analisa. Além da cor, possíveis mudanças na composição podem resultar na perda de desempenho térmico, gerando desconforto para os habitantes da edificação. É importante seguir criteriosamente as informações técnicas contidas nos projetos de arquitetura, assim como nos de consultoria de fachadas.

Por fim, para saber as dificuldades que encontrará, é recomendável que o vidraceiro avalie a arquitetura das fachadas antes de aceitar o trabalho. “Nós nos deparamos muitas vezes com fachadas inclinadas, recortadas e de difícil acesso e edificações sem pontos de ancoragem para fixação adequada do equipamento”, revela Audrey Dias, do Grupo Aluparts. “Obras com vidros em tamanhos especiais e torres com geometria diferenciada também podem tornar o trabalho mais complexo.” Para superar esses desafios é preciso contar com uma equipe técnica especializada em projetos, operadores treinados e atualizados com os novos sistemas de fachada, além, é claro, de equipamentos de qualidade.

Este texto foi originalmente publicado na edição 571 (julho de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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