Pedro Doria palestra sobre Inteligência Artificial no 16º Simpovidro
02/11/2024 - 14h59
A grade de palestras do 16º Simpovidro foi encerrada pelo jornalista, escritor e palestrante Pedro Doria. O colunista da rádio CBN e do jornal O Globo, e fundador da startup de jornalismo Meio, fez uma apresentação sobre o tema A Inteligência Artificial muda tudo.
“Nunca estive tão entusiasmado com tecnologia desde a nova onda de IA a partir de 2022”, afirmou Doria na introdução de sua palestra. Em seguida, ele trouxe histórias para exemplificar o impacto da Inteligência Artificial (IA) no mundo, como a de um agasalho vendido pela Amazon, em 2019: uma peça de roupa simples, feita por uma marca chinesa genérica chamada Orolay, se tornou febre a ponto de passar a ser usado por famosos – e o custo da blusa era de apenas 75 dólares.
Por que isso entrou na moda? Ele explicou que a empresa em questão pagou para a Amazon pra aparecer na capa do site. Por coincidência, duas mulheres de Nova York, quase vizinhas, compraram. O algoritmo da Amazon entendeu então que o item seria popular na região e passou a divulgar ainda mais, gerando uma bola de neve de publicidade. “Pronto: uma moda se estabeleceu, uma moda inventada pelo algoritmo”, relatou o palestrante.
Homogeneização da cultura
Outro exemplo trazido por Doria diz respeito aos cafés espalhados por grandes cidades, que passaram a adotar uma estética específica nos últimos tempos: parede de tijolo, luz quente, máquinas de café reluzentes, fachada em geral toda preta, preços escritos em lousas a giz. “Por que em toda cidade do mundo existe isso? Você ia pra Paris, que é diferente de São Paulo, de Xangai… O Instagram e o Pinterest são o que fazem isso acontecer”, explicou, referindo-se a duas plataformas digitais voltadas para a postagem de imagens. Segundo o fundador da Meio, a situação pode ser explicada pelo termo “filterworld”, criado pelo pesquisador Kyle Chayka – ou seja, o mundo criado por filtros artificiais.
O resultado é a homogeneização da cultura, o que se reflete em todos os seus aspectos – pela primeira vez todo o mundo tem as mesmas referências visuais sobre política, esportes, vídeos de gatinhos etc. Com isso, são essas plataformas que passam a ditar a moda, e o que é moda em um canto do mundo passa a ser também em outro; para Doria, isso não é uma celebração da diversidade, mas sim o contrário.
Gerações da IA
Em seguida, o palestrante fez um resumo sobre as diferentes gerações de Inteligência Artificial e as características que marcam cada uma delas.
- Primeira geração: machine learning (aprendizado da máquina)
Nela, o algoritmo percebe padrões que se repetem dentro de um banco de dados. Segundo Doria, essa IA precisa de máquinas potentes e muito espaço de armazenamento. Ela hoje está por toda a parte, de plataformas de streaming a redes sociais: “No fim das contas esse troço é uma baita arma de publicidade, que pode ser usado a favor e contra nós”, avaliou o jornalista.
- Segunda geração: rede neural
A ascensão dela ocorre com a popularização dos smartphones e tem como ponto de início a criação do Google Photos. Essa inteligência é marcada pela capacidade de emular os sentidos humanos, como fala, audição e visão, e pode ser encontrada em carros automáticos e em assistentes virtuais, como a Alexa.
- Terceira geração: Inteligência Artificial Generativa
O algoritmo dessa ferramenta utiliza uma quantidade muito grande de texto para fazer o computador “aprender” — está disponível, por exemplo, em programas de criação de imagens que emulam fotografias, como o Midjourney. Nasce com o artigo Transformer model, criado em 2017, com objetivo de aperfeiçoar o Google Tradutor, o qual se tornou o artigo científico mais baixado da história, tendo sido usado como base para o ChatGPT, da Open AI. Doria comentou que a versão 2.0 do ChatGPT passou no Teste de Turing, criado para definir quando uma tecnologia se torna “independente”. “Essa é a primeira tecnologia criativa que a humanidade jamais criou”, afirmou. Além do ChatGPT, também entram nessa geração o Gemini (do Google), ClaudeAI, Llama (da Meta), e Grok.
- Quarta geração: as próximas versões das ferramentas da terceira geração
Estima-se que serão lançadas em 2025 ou 2026. “Essa próxima geração custou 10 bilhões para ser treinada. A próxima custará 100 bilhões. Nunca se gastou tanto dinheiro para se gerar tecnologia”, apontou Doria.
Aliada ou ameaça?
Diversas obras de ficção cientifica indicam que a IA pode acabar com a humanidade. Contudo, segundo Doria, as tecnologias podem ser encaradas como calculadoras probabilísticas. Em outras palavras, esses modelos não são sencientes – ou seja, não são dotados de capacidade de perceber a própria existência por meio do pensamento.
No entanto, ele ressaltou que a máquina pode ser muito persuasiva: não estamos preparados para algo que age e atua como ser humano. Se hoje temos sociedades divididas por algoritmos, e culturas que se tornam homogeneizadas por conta da primeira geração de IA, o que pode acontecer daqui a dez anos? O palestrante mostrou que existe um app chamado Replika, que “cria” personalidades para conversa via chat – e pessoas estão começando a se apaixonar por elas.
No futuro próximo, essas tecnologias abrem inúmeras possibilidades:
- Línguas intraduzíveis, mortas há tempos, podem vir a ser traduzidas;
- O DNA humano poderá ser lido;
- Veremos um boom na medicina farmacêutica, com remédios específicos para um indivíduo feitos com base em seu código genético;
- Na educação, tutores artificiais auxiliarão professores para saber o que as crianças estão aprendendo, quem não acompanha a turma etc.;
- A música artificial estará cada vez mais presente na cultura.
E na indústria do vidro? A tendência é que vejamos softwares para otimização de corte e gestão de inventário cada vez mais independentes, bem como ferramentas proporcionando uma melhor análise de padrões de venda.
E qual será o fim disso tudo?
Pedro Doria encerrou sua palestra citando os três possíveis diferentes cenários esperados por especialistas no assunto:
- Cenário 1: em algum momento daqui cinco e vinte anos, esses modelos se tornarão tão ou mais inteligentes que o ser humano, a ponto de nos eliminar;
- Cenário 2: em algum momento daqui cinco e vinte anos, esses modelos se tornarão tão ou mais inteligentes que o ser humano, mas sempre estaremos no controle;
- Cenário 3: segundo neurocientistas, a possibilidade de essa tecnologia ficar mais inteligente que nós é zero; os modelos não serão capazes de pensar como o cérebro humano.
“O debate sobre o que acontecerá com a IA no futuro está posto. O que todo mundo sabe, no entanto, é que essa tecnologia vai pegar nosso mundo e virar de cabeça para baixo”, concluiu.
Foto: Marcos Santos e Andreia Naomi
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