Restarão apenas mortos e feridos?
18/11/2016 - 15h12
A sabedoria popular diz que, quanto mais alto é o voo, maior é o tombo. Por isso, digo que estamos no pior momento do mercado vidreiro no Brasil: após atingir um patamar elevado, consequência de um longo período de forte crescimento, observamos uma queda importante em nosso nível de atividade.
Nesse cenário, instaurou-se um clima de “salve-se quem puder”. As usinas de base se digladiam e não estão sendo capazes de sustentar uma política comercial estável, iniciando um ciclo predador que se repete nos demais elos da cadeia produtiva — tanto na indústria de transformação, como no varejo. Para piorar, tornando essa batalha mais sangrenta, essas mesmas fabricantes de matéria-prima concentram grandes volumes de produção em alguns poucos canais de distribuição, operações que desorganizam totalmente o mercado.
Ciente de sua responsabilidade, há mais de dezoito meses a Abravidro tem organizado incansáveis rodadas de discussão junto às usinas, defendendo os interesses da classe e argumentando em torno das consequências e dos sérios riscos dessas práticas. Uma boa solução ainda não foi adotada, mas acredito que, sem as ações de nossa entidade, a deterioração atual poderia estar num patamar ainda maior.
Hoje, fazendo um balanço, chego a duas conclusões importantes. A primeira me remete à teoria da seleção natural de Charles Darwin, segundo a qual os organismos mais bem-adaptados ao meio têm maiores chances de sobrevivência. A crise no Brasil deve provocar uma seleção natural em todos os setores produtivos, quando só os mais adaptados à nova realidade chegarão ao momento seguinte, mais bem-desenvolvidos. Portanto, nunca foi tão importante revermos posturas e efetivarmos mudanças drásticas em nossas empresas.
A outra conclusão é que talvez centralizamos esforços nas consequências ao invés de nos atermos às causas. Enquanto verificamos grandes quedas nos segmentos atrelados ao vidro, a oferta de nossa matéria-prima no mercado interno não foi reduzida na mesma proporção, apesar de todos os esforços, como o aumento das exportações e a redução de carga em alguns fornos. O ajuste da sobreoferta de matéria-prima à demanda deprimida é fundamental, sob pena de restarem apenas os mortos e os gravemente feridos.
Este texto foi originalmente publicado na edição 527 (novembro de 2016) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista clicando aqui
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