Vidroplano
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Brises podem ser aliados do vidro

21/07/2020 - 12h02

Muito se discute sobre a interferência dos brises nas fachadas de vidro. Bastante utilizada pelos profissionais da chamada Arquitetura Moderna — aqui nos referimos a Le Corbusier, Oscar Niemeyer, dentre outros —, em uma época de vidros sem tanto valor agregado, essa estrutura tem sua utilidade questionada em tempos em que versões de controle solar do nosso material podem ser encontradas no mercado. O Vidroplano conversou com especialistas para conhecer um pouco mais sobre os quebra-sóis e como eles podem contribuir — ou não — para fachadas de vidro, dependendo de como o projeto é conduzido pelo arquiteto.

O que são brises?
Os brises são elementos arquitetônicos cuja função primordial é bloquear a incidência da insolação direta nas aberturas das obras. “Dessa forma, servem para diminuir o ganho de calor e o excesso de luz proveniente do Sol e do céu. Eles podem ser usados principalmente para uma dessas funções ou para as duas em conjunto”, explica o engenheiro civil Fernando Simon Westphal, professor, pesquisador e coordenador do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O formato mais comum dessas estruturas é o de aletas, lâminas colocadas do lado de fora de janelas ou edificações. Eles podem ser de vários materiais diferentes, como aço, alumínio, madeira, PVC e até mesmo o vidro (veja uma obra com sua aplicação no final da reportagem).

“A manutenção dos brises deve ser sempre observada, uma vez que se trata de elementos externos na obra, sujeitos às intempéries”, aponta o engenheiro civil Raimundo Calixto de Melo Neto, diretor da RCM Engenharia de Estruturas. Por isso, a escolha do produto deve considerar não só sua estética e valor inicial, mas também sua durabilidade, custo de manutenção e resistência mecânica.

Papel frente à evolução do vidro
Hoje, com a existência tanto de vidros de controle solar como de esquadrias de alto desempenho, tornou-se mais fácil garantir o conforto térmico e luminoso dentro dos ambientes. Com isso, cabe perguntar: os brises não se tornaram desnecessários para as obras?

Westphal, que também é consultor técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), responde: “Isso não deveria ocorrer. A solução para uma boa fachada deveria considerar de forma conjunta a especificação do vidro e outros elementos de sombreamento, como os brises. Um elemento não pode excluir o outro”.

Calixto concorda: “Pelo que observo, o vidro de controle solar traz obviamente grandes benefícios no envelope de uma edificação, mas ele, de forma isolada, nem sempre atende de forma plena os requisitos exigidos pela edificação, principalmente em regiões com condições climáticas mais severas”. Para o diretor da RCM, uma boa composição de peças de controle solar com outros elementos arquitetônicos permite um ganho muito maior, especialmente no que diz respeito à entrada de luz no ambiente.

Sobre a combinação de elementos, Westphal ressalta que mesmo o uso de brises e vidros de controle solar não elimina a necessidade de cortinas ou persianas internas em algumas horas do dia e do ano.

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Terminal Marítimo de Fortaleza, projeto arquitetônico do escritório Architectus S/S, projeto estrutural da RCM Engenharia de Estruturas

 

Conciliando elementos sem desvalorizar o vidro
Embora os brises possam ser aliados das fachadas de vidro, o mercado ainda tende a enxergá-los como concorrentes. Muito disso tem a ver com a forma como cada elemento é incorporado no projeto. “Essa é uma questão que envolve um olhar mais arquitetônico: às vezes, pode parecer que o brise seja um excesso e o vidro fica escondido por ele, escondendo assim sua beleza”, argumenta Calixto.

Segundo Westphal, a melhor forma de conciliar ambos é pensar os brises ainda no momento da concepção da fachada de maneira que eles façam parte da solução arquitetônica, em vez de adicioná-los a ela posteriormente. “Alguns projetos trazem brises de vidro à sua composição, mantendo ainda a leveza na fachada. Essa é uma solução interessante, que pode garantir um bom nível de contato visual com o exterior”, acrescenta o professor.

Como se vê, cabe ao arquiteto e ao engenheiro avaliar cada projeto e considerar as estruturas e componentes arquitetônicos que trarão o melhor resultado para a edificação como um todo. “Vejo em congressos de que participo pelo mundo casos apresentados com grande foco na questão de sustentabilidade e arquitetura bioclimática. Então, é essencial fazer um estudo de eficiência energética num determinado projeto com e sem brise”, sugere Calixto.

Divulgação RCM Engenharia de Estruturas

Divulgação RCM Engenharia de Estruturas

 

Nas fachadas… e nos brises também!
Uma opção bastante interessante para quem considera necessário o uso de brises em seu projeto mas não quer perder o aspecto estético do vidro é o uso de aletas feitas de vidro. Obras com esse tipo de estrutura existem dentro e fora do Brasil. Um exemplo é a sede da empresa de cosméticos Natura, na cidade de São Paulo: suas fachadas têm brises de temperados laminados de 20 mm, com serigrafia quadriculada. As peças foram beneficiadas pela GlassecViracon e instaladas pela ArqGlass.

Vale destacar que, na edição 2017 do Glass Performance Days (GPD), principal fórum vidreiro do mundo, uma das palestras abordou o assunto. Marcin Brzezicki, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Wroclaw, da Polônia, abordou as tendências atuais no design de fachadas transparentes — incluindo a adoção de quebra-sóis de vidro.

Divulgação ArqGlass

Divulgação ArqGlass

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 571 (julho de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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