Vidroplano
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Envidraçamento de sacada passa por evolução constante

19/03/2021 - 10h38

Uma das estruturas com vidro mais instaladas no País, o envidraçamento de sacadas é cada vez mais tendência em edifícios residenciais. Entre os fatores do crescimento dessa popularidade destaca-se, sem dúvida, sua própria evolução. O conjunto como um todo, incluindo o vidro e demais componentes, está mais seguro e tecnológico.

Para analisar os motivos que têm levado a aprimoramento constante, O Vidroplano conversou com fabricantes dos sistemas e instaladores. Confira a seguir as principais mudanças ocorridas ao longo das últimas décadas na forma de especificar e instalar o produto, quais os tipos mais procurados pelos consumidores atualmente e a importância da norma sobre o assunto para o salto na qualidade dos materiais.

 

Além de proteger o ambiente contra sujeira, barulho e chuva, o envidraçamento de sacadas permite a integração com o exterior

Além de proteger o ambiente contra sujeira, barulho e chuva, o envidraçamento de sacadas permite a integração com o exterior

 

NBR 16259, um paradigma do mercado
A publicação pela ABNT da NBR 16259 — Sistemas de envidraçamento de sacadas – Requisitos e métodos de ensaio, em fevereiro de 2014, é o maior marco desse segmento. Desenvolvida ao longo de quase seis anos, a norma indica os tipos de vidro permitidos (apenas temperados ou laminados), as formas de fixação das chapas, os ensaios e os padrões gerais de qualidade da estrutura.

Antes desse documento, não existiam parâmetros de fabricação ou instalação das sacadas. “Com a ausência de uma métrica rígida, havia uma variedade de práticas ruins”, conta Gabriel Zanatta, gerente de Produto da Tec-Vidro. É consenso entre as fontes desta reportagem a existência de diferentes “verdades” nesse trabalho anos atrás. As empresas atuavam conforme seu conhecimento, adaptando os sistemas de acordo com a necessidade do projeto. “Hoje está fácil comprovar uma tese técnica diante do cliente; as especificações passaram a ser as corretas para cada aplicação”, afirma Claudio Mansur, diretor-comercial da Divisão América Latina da Casa Mansur.

 

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É possível afirmar ainda que a norma ajudou a aumentar a qualidade do produto em si, já que, por exemplo, os perfis comercializados se tornaram mais robustos com o passar do tempo. “Todos foram obrigados a se adaptar a uma nova realidade e a buscar melhorias na produção e também na execução das obras”, relata Alberto Ferrari Pinto, sócio-diretor da Sacada Brasil. “Agora, podemos garantir um padrão de alto nível devidamente testado em institutos homologados.”

 

 

Mudanças
O fechamento de sacada surgiu a partir da necessidade de proteger um espaço exposto da residência – basta lembrar como nos arredores do Elevado Presidente João Goulart, o famoso Minhocão, em São Paulo, boa parte dos edifícios na altura do viaduto tem varandas fechadas, nem sempre com vidro. Nosso material não só garante a proteção do ambiente contra sujeira, barulho e chuva, mas também permite a interação com o exterior.

 

Pouca interferência visual: os sistemas garantem fidelidade ao design original dos edifícios, já que se caracterizam pela neutralidade

Pouca interferência visual: os sistemas garantem fidelidade ao design original dos edifícios, já que se caracterizam pela neutralidade

 

Um momento definidor dessa solução foi a chegada ao Brasil do chamado “sistema europeu”, método de instalação em que as chapas de vidros ficam sobre trilhos de correr e podem ser totalmente abertas e fechadas de acordo com a preferência do morador. Esse sistema, por causar pouca interferência visual, ofereceu aos condomínios mais neutralidade nas fachadas, garantindo fidelidade ao design original dos edifícios.

As mudanças em diversos elementos do sistema ocorreriam por vários fatores: expansão do mercado, aumento do volume de obras e, principalmente, maior exigência do consumidor. “Inicialmente, utilizavam-se apenas temperados, e nem todos os componentes eram de aço inox”, recorda Alberto Pinto, da Sacada Brasil. “Depois, laminados começaram a ser aplicados, assim como películas de retenção térmica, antes da chegada dos vidros de controle solar.” As peças que compõem os perfis deixaram a simplicidade de lado, como analisa Rodrigo Belarmino, diretor da Solid Systems. “Elas agora são injetadas, com a tecnologia de tornos automáticos, melhorando muito seu acabamento.”

Guias e roldanas: componentes dos sistemas de sacada ficaram mais fortes e robustos ao longo dos anos, principalmente após a publicação da norma NBR 16259

Guias e roldanas: componentes dos sistemas de sacada ficaram mais fortes e robustos ao longo dos anos, principalmente após a publicação da norma NBR 16259

 

Enquanto alguns componentes ficaram mais fortes, como certos tipos de roldanas, próprias para receber chapas de maior dimensão, outros deixaram de ser usados. “Havia uma capa no “U” de regulagem externo que obrigava os instaladores a trabalhar do lado de fora do sistema, a grandes alturas”, explica Zanatta, da Tec-Vidro. “Isso em determinado momento foi eliminado, reduzindo o risco de acidentes com os profissionais.”

Surgiram também os sistemas sem rolamento, nos quais os vidros correm apoiados diretamente nos perfis – e esse foi outro fator que permitiu o uso de chapas maiores, aumentando ainda mais a transparência da estrutura. Esses modelos, além de não utilizarem chapas-guia para a abertura, têm como característica a praticidade na montagem. Atualmente, é possível encontrar ainda envidraçamentos automáticos, acionados por controle remoto, aplicativos em celular ou até comando de voz.

 

Sacadas automáticas, acionadas por controle remoto ou de voz, mostram a evolução tecnológica desse segmento

Sacadas automáticas, acionadas por controle remoto ou de voz, mostram a
evolução tecnológica desse segmento

 

Apesar do desenvolvimento acelerado, as fabricantes desses produtos devem se manter atentas em relação aos padrões de qualidade. “Têm surgido mais empresas tentando inovar para se diferenciar e gerar mais oferta”, alerta Gisele Muniz, proprietária e CEO da Everart. “Mas elas precisam colocar no mercado itens que de fato entreguem funcionalidade. Muitas coisas ainda podem ser melhoradas”, complementa.

 

Situação do mercado
Segundo Sandro Herique Rensi, diretor da Steinglass, o segmento de envidraçamento de sacadas consegue se sair bem independentemente da situação da construção civil. “O produto tem grande saída, sejam quais forem os fatores econômicos do momento, pois supre a necessidade do morador, não depende de reformas ou ampliações e sempre apresenta novidades aos consumidores”, define o empresário. A otimização dos apartamentos, cada vez menores, de forma a transformar varandas em áreas gourmet é um dos motivos para a alta demanda. E já que o cuidado com as residências aumentou graças ao maior tempo passado nelas durante a pandemia, vivemos um período interessante para se fazer negócios.

As empresas consultadas para esta matéria indicam uma tendência de migração para sistemas sem rolamento, devido à menor necessidade de manutenção e rapidez na instalação. “Sem dúvida, sistemas que permitam abertura total do vão, bem como maior facilidade de limpeza do vidro nas duas faces, também são bem aceitos”, indica Fernando Baumann, diretor da BBa, fabricante da marca Reiki no Sul do Brasil. Para ele, as recentes alterações climáticas, envolvendo maior intensidade de chuvas e ventos, fizeram o setor evoluir e levaram o consumidor a buscar mais soluções do tipo.

Apesar disso, os sistemas com roldanas seguem com espaço. “Em nossa experiência de mais de oito anos no setor, esse produto apresenta ótimo desempenho e durabilidade, principalmente as linhas de alumínio de maior qualidade, mais robustas”, comenta Gisele Muniz, da Everart. O mercado de manutenção desses modelos tem crescido ultimamente por conta do cuidado maior dos usuários com instalações antigas, o que aumentou a busca por acessórios de reposição.

 

A chegada ao Brasil do chamado “sistema europeu” ajudou a popularizar o produto: nele, as chapas de vidros ficam sobre trilhos de correr e podem ser totalmente abertas e fechadas

A chegada ao Brasil do chamado “sistema europeu” ajudou a popularizar o produto: nele, as chapas de vidros ficam sobre trilhos de correr e podem ser totalmente abertas e fechadas

 

Valor agregado
O uso de vidros de controle solar pode ser um aliado das sacadas envidraçadas: por diminuir a incidência do calor solar, resulta em menor uso do ar-condicionado, além de filtrar os raios UV, o que aumenta a conservação de móveis e outros objetos colocados nas varandas. Como O Vidroplano mostrou em reportagem da edição de fevereiro, os vidros de valor agregado estão ganhando espaço no mercado, mas há muito para crescer. “O preço ainda é o primeiro fator mencionado pelo cliente. Mas devemos falar mais sobre controle térmico e também acústico”, destaca Baumann, da BBa.

Rensi, da Steinglass, aposta em levar a informação aos envolvidos. Diz ele: “Quando participamos de assembleias de condomínios para apresentar soluções, sempre batemos nessa tecla, mas é difícil mudar o coletivo. Já se a instalação é individual, em casas, normalmente conseguimos convencer a utilizar outros materiais”.

A questão sobre os condomínios é relevante. Esses espaços se preocupam com a continuidade dos serviços a longo prazo, afinal nem todos os apartamentos podem envidraçar suas sacadas ao mesmo tempo. “Por isso, precisam sentir o benefício na pele. Impulsionar cada vez mais guarda-corpos com vidros desse tipo é uma saída, pois a chance de manter o mesmo material nas sacadas aumenta”, destaca Claudio Mansur.

E o valor agregado não deve ficar restrito ao vidro. “Os sistemas também podem ser mais sofisticados, com soluções completas em estanqueidade e acústica”, afirma Belarmino, da Solid Systems, apontando outras tecnologias já existentes e que podem ser exploradas, como travas magnéticas, trincos nos painéis e calhas de bloqueio para proteção contra chuvas. Com toda a evolução já vivida pelo setor de envidraçamento de sacadas, o futuro parece promissor para essa solução.

Este texto foi originalmente publicado na edição 579 (março de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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