Vidroplano
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Fique por dentro da serigrafia dos vidros!

16/10/2019 - 16h24

Dando sequência à série de reportagens especiais sobre as diferentes fases do beneficiamento de vidro, chegamos à serigrafia, nome dado às técnicas de pintura e impressão de imagens ou padrões em vidros. Usadas em diversos setores, as peças serigrafadas ganham espaço graças às tecnologias modernas para a realização dessa atividade.

A seguir, especialistas, processadores e fabricantes de maquinários exploram o tema.

Quais os tipos existentes?

Segundo Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, existem diversas formas de serigrafia. As mais conhecidas são:

- Tradicional: a tinta é aplicada por meio de uma tela de impressão, feita de tecido sintético. Pode ser manual — o operador espalha a tinta por cima da tela com a ajuda de uma espécie de rodo —, ou automática, realizada por máquinas. Cria formas e desenhos com mais de uma cor;

- Digital: microgotas de tinta são lançadas sobre a placa de vidro por uma cabeça de impressão. As imagens são gravadas diretamente na superfície da peça, a partir de arquivos fechados como PDF, entre outros, lidos pelos softwares das impressoras. É possível trabalhar com imagens em alta resolução e reproduzir texturas com fidelidade;

- Sistema de pistolas: o operador move a pistola, ligada a um compressor de ar, sempre no mesmo sentido a cada demão, para deixar a pintura homogênea e equilibrada. Indicado para aplicações chapadas e monocromáticas;

- Pintura com rolo: conta com sistema automático de cilindros para espalhar a tinta de forma contínua sobre uma das faces do vidro. Também indicada para aplicações chapadas e monocromáticas.

Outras técnicas, usadas para aplicações específicas, incluem:

- Aplicação por cortina: o vidro passa por esteiras e o esmalte é aplicado a partir de calhas superiores tipo coifa, que regulam a espessura da tinta aplicada. Processo geralmente utilizado em espelhos;

- Decalcomania: reproduz imagens Buarquepor meio de um decalque;

- Tampografia: utiliza clichês em baixo relevo com o desenho a ser gravado.

Os cuidados na serigrafia tradicional

serigrafia

A serigrafia é uma atividade aparentemente simples, mas existem variáveis que, se alteradas, mudam completamente o resultado final, explica Cláudio Lúcio. “Conhecer bem a técnica, utilizar máquinas adequadas e produtos de qualidade e ter organização, limpeza e padronização nos procedimentos são as melhores garantias para o sucesso.” Veja a seguir algumas dicas do instrutor técnico da Abravidro:

– É essencial que os maquinários sejam mantidos originais, limpos, organizados e com manutenção preventiva feita regularmente;

– O processo deve ser feito em ambiente limpo;

– Utilize somente produtos de limpeza recomendados pelos fabricantes e tecido de limpeza técnica descartável;

– Use creme protetor e luva nitrílica, além de EPIs como avental, máscara e óculos;

– Dê preferência para o uso de produtos com base aquosa;

– Limpe as peças de vidro com álcool isopropílico;

– Descarte todo material contaminado em tambores, nunca em efluentes, para posterior destinação conforme legislação ambiental vigente.

As tecnologias de impressão atuais

impressora
As impressoras são a parte mais avançada dos equipamentos para serigrafia. Atualmente, é possível imprimir no vidro qualquer imagem ou reproduzir texturas complexas, como as de pedra ou madeira, com qualidade extrema: alguns modelos conseguem trabalhar com até 1.440 dpi de resolução — mais de quatro vezes a resolução de fotos em livros e revistas, por exemplo.

Alex Kochen, gerente de Negócios Digitais para Europa Ocidental e América Latina da israelense Dip-Tech (do grupo norte-americano Ferro), explica que a empresa foi pioneira na evolução desse processo, desenvolvendo há cerca de quinze anos impressoras que trabalhavam apenas com a cor preta. “Antes, podia-se apenas utilizar tintas orgânicas a frio, o que não permitia a durabilidade do trabalho, pois as peças não iam ao forno.”

O mercado atual deu um salto. Oferece maquinários bem versáteis, com tecnologias variadas, incluindo canais individuais de tinta, para produção mais veloz; diferentes tamanhos de gotas, que variam conforme o trabalho a ser feito; e sistemas de circulação de tinta que não deixam resíduos nos cabeçotes. Isso sem contar a disponibilidade de catálogos de cores, imagens e padrões gráficos por parte dos fabricantes de impressoras. Entre as empresas líderes desse ramo no mundo, estão a já citada Dip-Tech e a espanhola Tecglass, do grupo italiano Fenzi. A italiana Keraglass também produz esses maquinários.

E o que nos reserva o futuro? “Os vidros serão impressos com a tecnologia single pass, em uma linha de produção contínua desde a lavadora, com as chapas sempre em movimento”, explica Alex Kochen. “Tudo isso conectado à Indústria 4.0, com os diversos equipamentos comunicando-se e coletando dados como consumo de tinta e velocidade dos arquivos de desenho em tempo real.”

Vale lembrar: assim como para qualquer outro processo de beneficiamento, a escolha dessas máquinas deve estar adequada à capacidade produtiva das processadoras e às demandas de seus clientes.

O mercado de vidros serigrafados

linha branca
Para entender melhor como funciona esse nicho, O Vidroplano ouviu algumas processadoras. Os serigrafados são usados em diversos setores:

- Construção civil: aplicações diversas em fachadas, divisórias etc.;

- Linha branca: cooktops, fornos, refrigeradores, micro-ondas etc.;

- Moveleiro e decoração: tampos de mesa, revestimentos de paredes etc.;

- Automotivo: marcação de retículas e banda negra etc.

Segundo Antônio Moreno Neto, responsável pelo setor de Marketing da Vipel, a demanda é impulsionada em conjunto com os especificadores. “O reflexo da produção vem do conhecimento dessas soluções por parte de arquitetos e demais parceiros, os responsáveis diretos pela procura do produto.” Disseminar informações sobre a tecnologia vidreira, portanto, é essencial para esses profissionais saberem das possibilidades de nosso material.

Para Thais Afonso, arquiteta da Speed Temper, a demanda é crescente. “Há a necessidade de produtos diferentes e, mesmo sendo algo consolidado, o mercado enxerga na serigrafia uma oportunidade de agregar valor.” A opinião é compartilhada por Flávia Possamai, gerente-comercial da Rohden: “Atualmente, aposta-se em vidros esteticamente modernos, o que amplia a aplicação dos serigrafados em diversos segmentos. Nos últimos anos, o uso desse produto cresce em larga escala”.

Isso se reflete nos investimentos feitos pelas empresas. Cada vez mais, beneficiadoras buscam máquinas e impressoras para entrar nesse mercado (e tornar a produção mais eficiente), como é o caso do Grupo Tecnovidro. “Visando a aumentar nossa capacidade e também a oferta de itens aos clientes, adquirimos uma impressora digital para entrar em operação no final deste ano”, revela Fabrício Flach, gerente-comercial da companhia. “Isso ampliará ainda mais nossos horizontes.”

 

Como se seca a tinta?
Depende do tipo de serigrafia. É possível dividir a operação em dois grandes grupos:

A quente
Pode ser utilizada tanto na serigrafia tradicional como na digital, por exemplo: o vidro deve passar pela têmpera para que a tinta se funda à peça. Há ainda o processo de cura por raios infravermelhos (UV).

A frio
Dispensa a necessidade de estufas ou têmpera — a tinta seca em temperatura ambiente. Isso permite pintar vidros beneficiados, incluindo temperados. No entanto, por não passar por forno, a tinta não se funde ao vidro.

 

Diferentes tintas para diferentes usos
A impressão digital utiliza tintas vitrificáveis, também chamadas de cerâmicas. Elas passam pela têmpera para que seus pigmentos se fundam ao vidro. As mais avançadas são formadas por nanopartículas, as quais proporcionam mais detalhes às cores e aos desenhos — comparadas com as usadas na serigrafia tradicional, possuem muito mais dessas partículas, e é justamente daí que surge a alta qualidade das imagens impressas. Existem ainda tintas com características variadas, como antiderrapantes, com cores metalizadas e até mesmo próprias para o processo de curvação de vidros.

 

Atenção: alguns procedimentos podem borrar o processo!
Confira alguns conselhos preciosos do instrutor técnico Cláudio Lúcio para que isso não aconteça:

- Planejamento do negócio: é preciso ajustar a empresa às demandas e necessidades do setor;

- Sistema de gestão operacional profissional: sem isso, as atividades da empresa não serão acompanhadas, podendo gerar produtos com qualidade abaixo do nível esperado, atrasos em entregas de pedido etc.;

- Organização, limpeza e disciplina: dessa forma, o processo será feito com fluidez, sem paradas inesperadas;

- Manutenção eficaz: não adianta ter equipamentos de última geração se não é feita a manutenção deles;

- Treinamento e capacitação: só tecnologia não faz com que os processos sejam bem realizados.

A serigrafia é um processo em que pequenos detalhes fazem a diferença na qualidade do produto final. Para quem quer dominar esses detalhes, a Abravidro oferece um módulo sobre o tema em seu programa de Especialização Técnica. Para mais informações sobre o curso, entre em contato pelo e-mail abravidro@abravidro.org.br ou telefone (11) 3873-9908.

 

Atenção para a serigrafia em vidros de controle solar!
A NBR 16673 — Vidros revestidos para controle solar – Requisitos de processamento e manuseio possui um item sobre a serigrafia feita nesse tipo de vidro. Confira as principais recomendações:

– Consulte o fabricante para verificar se as peças podem passar pelo processo;

– No caso de laminação do vidro de controle solar com serigrafia, os fabricantes do interlayer e do esmalte também devem ser consultados;

– O esmalte cerâmico deverá ser aplicado sobre a superfície com o revestimento de controle solar, já que ambos não podem estar em contato com os roletes do forno de têmpera.

Este texto foi originalmente publicado na edição 562 (outubro de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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