Vidroplano
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A importância de cumprir a norma para guarda-corpos

16/10/2019 - 17h55

Os guarda-corpos são frequentemente abordados nas páginas de O Vidroplano — e há uma boa razão para isso: trata-se de um item de extrema importância nas edificações, responsável pela proteção tanto das pessoas que se encontram em sua proximidade, contra o risco de queda acidental, como de quem está no patamar abaixo de onde eles estão fixados. Por isso mesmo, todo cuidado é pouco em sua especificação e colocação.

Quando o vidraceiro instala esse produto, a responsabilidade pela segurança oferecida pelo sistema está em suas mãos: qualquer falha pode pôr em risco a vida dos usuários. Assim, é importante que esse profissional conheça e siga todas as orientações da norma NBR 14718 — Esquadrias – Guarda-corpos para edificação – Requisitos, procedimentos e métodos de ensaio, cuja revisão foi publicada recentemente pela ABNT.

A seguir, especialistas e profissionais do setor falam sobre as determinações e os ensaios e enfatizam a importância de todo esse conhecimento para o vidraceiro.

Sobre a NBR 14718

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A revisão foi publicada em 30 de agosto, após mais de três anos de trabalho da Comissão de Estudos de Esquadrias (ABNT/CEE-191), além de ficar em consulta nacional por sessenta dias. O novo texto ampliou a abrangência da norma, especificando requisitos e métodos de ensaio para os sistemas usados em edificações, externos ou internos, para uso privativo ou coletivo de médio ou alto tráfego, instalados em edifícios habitacionais, comerciais, industriais, esportivos, culturais, de saúde e de terminais de passageiros. “Dessa forma, fica claro que o escopo se aplica também às estruturas presentes em aeroportos, estádios e hotéis, entre outros locais de grande circulação”, explica Fabíola Rago Beltrame, coordenadora da CEE-191 e diretora do Instituto Beltrame da Qualidade, Pesquisa e Certificação (Ibelq).

Um aspecto interessante do documento é que ele não aponta tipos de ferragem ou modos de instalação específicos. “Isso acontece porque as normas não podem limitar as opções de projeto. O papel delas é avaliar o desempenho do sistema projetado para cada situação e edificação”, aponta a coordenadora da comissão. Dessa forma, o setor pode desenvolver novas soluções, desde que elas sejam ensaiadas e aprovadas.

Levando a informação adiante

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“A norma é um compilado de informações e orientações que precisam ser espalhadas e divulgadas dentro do setor até virar costume”, avalia Gabriel Batista, diretor do Grupo Setor Vidreiro. Nesse sentido, para auxiliar o vidraceiro sobre as determinações das normas técnicas para o uso do nosso material, a Abravidro está à disposição para esclarecer dúvidas e fornecer as informações corretas. Também disponibiliza materiais de apoio, como as reportagens publicadas mensalmente em O Vidroplano nas seções “Para sua vidraçaria” e “Por dentro das normas”, além de vídeos informativos, a tabela Que vidro usar? e a cartilha Aplicação do vidro na construção civil, da campanha #TamoJuntoVidraceiro.

“O profissional também pode se inteirar sobre o que mudou consultando diretamente a norma ou realizando treinamentos de capacitação para atualizar seus conhecimentos”, sugere Sérgio Reino Júnior, professor do Curso de Vidraceiro do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) em São Paulo, que realizará um curso do tipo em novembro.

Em relação à NBR 14718, vale destacar que a Abravidro já enviou a nova versão da norma para todos os seus associados.

Onde aplicá-los
Segundo a norma, os guarda-corpos devem ser instalados em qualquer local de acesso livre a pessoas que tenha um desnível maior que 1 m entre o piso e o patamar abaixo. Esse desnível pode ser tanto vertical como inclinado. No segundo caso, a estrutura é necessária se a rampa entre os dois patamares tiver ângulo de inclinação acima de 30 graus.

Que vidro usar

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A NBR 14718 determina a consulta à NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações. Essa, por sua vez, define que os vidros corretos para a aplicação são o laminado, aramado ou insulado composto desses vidros.

O motivo é que esses tipos de vidro garantem a segurança dos guarda-corpos mesmo em caso de quebra, pois os fragmentos ficam presos ao interlayer (no caso do laminado) ou à malha de metal (no caso do aramado), mantendo o vão fechado. Isso impede a queda de corpos e objetos enquanto a peça quebrada não é reposta. Vera Andrade, coordenadora técnica da Abravidro, acrescenta: “Em aplicações nas quais a fixação é feita por meio de botões, spiders, torres e suportes, o laminado não pode ser composto de um vidro comum, pois ele não tem a resistência mecânica necessária para suportar o aperto de algum tipo de ferragem”. Nesses casos, deve-se aplicar o laminado temperado. E com a utilização de interlayer estrutural, o laminado não só mantém o vão fechado como também permanece na mesma posição após a quebra, mesmo em sistemas em que o vidro tenha três bordas expostas.

Atenção!
– A nova versão da norma determina que o laminado atenda a Classe 1 de Segurança, que é a de maior grau de resistência a impacto previsto na norma NBR 14697 — Vidro laminado.

– Vários fatores influenciam diretamente a definição da espessura das chapas: dimensão, quantidade de apoios, cargas aplicáveis e modelo de sistema, entre outros. Independentemente da espessura do vidro aplicado, o sistema precisa ser aprovado nos ensaios previstos na NBR 14718.

– Quando o vidro for fixado por colagem estrutural, deve-se atender os requisitos das normas NBR 15737 — Colagem de vidros com selante estrutural ou NBR 15919 — Colagem de vidros com fita dupla-face estrutural de espuma acrílica para construção civil.

– A empresa contratada para o fornecimento dos guarda-corpos deve disponibilizar para o cliente a documentação de responsabilidade técnica do projeto e execução dos guarda-corpos, devidamente registrada por órgão competente ou profissional habilitado por este órgão.

Na altura certa
Outro ponto ao qual é preciso estar atento é a altura dos guarda-corpos: o novo texto da NBR 14718 aponta que a altura mínima em relação à zona de estacionamento normal (ZEN) deve ser de, no mínimo, 1,10 m.

Mas, atenção: nesse caso, não basta conhecer apenas a norma. “O vidraceiro deve consultar também a legislação do Corpo de Bombeiros de seu Estado, porque em determinadas aplicações a corporação exige uma altura mínima maior do que a da ABNT”, explica Vera, da Abravidro.

Ensaios: não instale sem eles!

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Um ponto fundamental no trabalho com guarda-corpos é que, antes de sua instalação, um protótipo do sistema completo — incluindo o vidro que será usado nele — precisa ser aprovado em todos os ensaios previstos na norma, que é bastante clara já em sua introdução: “Os guarda-corpos ensaiados em laboratório ou em local estabelecido pelo contratante representam a situação mais crítica em relação à dimensão dos vãos e fixação”.

Essa exigência tem motivo, conforme explica a engenheira Michele Gleice da Silva, diretora técnica do Instituto Tecnológico da Construção Civil (Itec). “A realização dos ensaios antes da instalação é essencial, pois, caso os resultados obtidos não atendam os requisitos normativos, é possível avaliar e efetuar modificações no projeto, para posteriormente repetir os testes.” Assim, eles não só atestam a segurança do sistema, como também evitam retrabalho e custos com a troca de toda a estrutura caso já estivesse aplicada na obra.

Segundo Michele, o processo para a realização dos ensaios tem início com o envio do projeto para que o laboratório credenciado oriente o contratante em relação ao protótipo. Em seguida, é feito o agendamento dos testes: na data prevista, a montagem do sistema deve ser realizada pelo solicitante. “Nossa orientação é que seja exatamente a mesma equipe que fará a instalação na obra, pois esse processo pode interferir diretamente nos resultados das avaliações”, acrescenta Michele.

Os ensaios a serem feitos:
1. Esforço estático horizontal: são aplicados esforços nos guarda-corpos, que os puxam e os empurram em ambas as faces;

2. Esforço estático vertical: esforços são aplicados na parte superior da estrutura, pressionando-a para baixo;

3. Resistência a impactos: o sistema é submetido ao impacto de um recipiente de couro contendo 40 kg de esferas de vidro maciço solto a uma altura de 1.500 mm em relação ao centro geométrico do painel.

Em todos os ensaios (que devem ser realizados na ordem acima), o sistema não pode sofrer ruptura. Além disso, nos de esforço estático, não deve ocorrer afrouxamento dos seus componentes ou dos elementos de fixação. O teste de resistência a impacto tolera afrouxamentos e a ruptura do vidro, desde que a peça permaneça fixa e não permita a passagem de um gabarito prismático de 0,255 × 0,115 × 0,115 m. De acordo com Michele, do Itec, todas as avaliações são realizadas em um dia útil.

Posso fazer os ensaios diretamente na obra?
Sim. Porém, a norma ressalta que os ensaios são destrutivos. Por isso, o local escolhido para os testes deve garantir a instalação de todos os equipamentos necessários para eles e permitir acesso no piso para os lados interno e externo do protótipo. “Os ensaios são exatamente os mesmos. A diferença é que, no laboratório, temos toda a estrutura preparada para a aplicação das cargas e realização do impacto. Quando são realizados em outro local, é necessário que o contratante faça o preparo prévio”, explica Michele.

A diretora técnica do Itec alerta que, no laboratório ou na obra, os ensaios devem ser feitos em protótipo (ou seja, num trecho do guarda-corpos instalado especificamente para as avaliações e removido após sua conclusão), não no produto final: “Primeiro, porque é essa a determinação da norma; segundo, porque os ensaios podem causar danos nas fixações, que não são visíveis num primeiro momento, mas que poderão se manifestar quando a edificação estiver em uso, podendo causar algum acidente”.

Dentro das normas e com a consciência tranquila
“Lamentavelmente, vidros inadequados ainda são aplicados em guarda-corpos, como o temperado, ou tipos que até estão na norma, mas que não se aplicam a um determinado sistema, como laminados de vidros comuns em sistemas em que a fixação das peças exige recortes e fixação mecânica”, observa Gabriel, do Setor Vidreiro. Há casos, por exemplo, em que o cliente tenta convencer o vidraceiro a dar um “jeitinho” para colocar um vidro mais barato, seja argumentando que uma residência não exige as mesmas condições de segurança de um espaço público com grande movimentação, dizendo que assume a responsabilidade em caso de acidente ou afirmando que, se o vidraceiro não aceitar, irá procurar outro fornecedor.

Não caia nessa cilada! As normas não fazem diferenciação entre os ambientes. E, caso o consumidor se proponha a assinar um “termo de responsabilidade” para que a vidraçaria forneça o sistema fora de norma, Fabíola Rago Beltrame, do Ibelq, alerta que isso não tem qualquer validade jurídica: em outras palavras, o vidraceiro estará sujeito a acionamento jurídico por aplicação de produto fora de norma.

Dessa forma, cabe ao bom vidraceiro reforçar ao consumidor a necessidade do cumprimento da NBR 14718 para a própria segurança. “É essencial levar em consideração a segurança antes, durante e depois da instalação e sempre estar amparado por laudos e acompanhado por um corpo técnico de fornecedores, consultores e engenheiros”, recomenda Gabriel. Se mesmo assim o comprador insistir no erro, vale mais a pena não fechar negócio do que correr o risco de ser responsabilizado em caso de acidente. Uma venda não vale o ato de colocar vidas em risco, nem a reputação da sua empresa.

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Como saber mais sobre as normas vidreiras?
A Abravidro sedia o Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37) e está à disposição para esclarecer dúvidas e fornecer as informações corretas sobre as determinações das normas técnicas para o uso do nosso material:
- Telefone: (11) 3873-9908
- E-mail: cb37@abnt.org.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 562 (outubro de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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