Vidroplano
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Produtividade nas processadoras é importante

23/08/2021 - 10h14

Como bem mostrou a edição 2021 do Panorama Abravidro, único estudo econômico do setor vidreiro nacional, o nível de produtividade das processadoras brasileiras cresceu 8,7% em 2020, alcançando o segundo melhor nível da série histórica desse índice. Mesmo com a pandemia, o segmento trabalhou de forma mais eficiente, principalmente por conta do aquecimento da construção civil no segundo semestre do ano passado. Porém, a situação desse indicador na cadeia de processamento está longe de ser a ideal. Como comentou Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, em reportagem de O Vidroplano de junho, ainda falta uma ação consciente para a melhoria da gestão do sistema produtivo de forma que esse crescimento atinja o mercado inteiro.

Por ser um tema tão relevante na indústria brasileira, ainda abalada pelos impactos da pandemia, a revista volta a falar sobre o assunto. A seguir, confira a importância de as empresas do vidro estarem atentas à questão e saiba como ferramentas digitais podem ajudar a tornar a produção mais efetiva.

Conceitos e comparações
Primeiro, vale analisar o assunto de forma mais ampla. O conceito não se limita a afirmar se uma empresa faz mais com menos recursos. Para o economista norte-americano Paul Krugman, é um indicador essencial no longo prazo para as economias, pois “a capacidade de um país elevar a qualidade de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente da sua capacidade de aumentar a sua produção por trabalhador”.

Infelizmente, o Brasil não está nem perto dos líderes mundiais nesse quesito. De acordo com dados de 2019 da The Conference Board, entidade internacional de estudos econômicos, nosso nível de produtividade ocupa apenas o 78º lugar no ranking global – e o crescimento desse nível, desde a década de 1980, foi de somente 0,2% ao ano. Na média, quatro trabalhadores brasileiros produzem o mesmo valor que um trabalhador americano.

Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a questão passa pelo aumento da eficiência dos pequenos negócios, já que esses constituem mais de 90% das empresas nacionais. E como o mercado vidreiro é formado, em sua maioria, por companhias justamente desse porte, o assunto se torna ainda mais relevante.

Cálculo e desafios
Para o nosso setor, o indicador é medido de forma simples: divide-se o volume da produção em m² ao longo de um determinado período (dia, semana, mês, ano etc.) pelo número de colaboradores da empresa. Voltando ao Panorama, vê-se que, no ano passado, o número chegou a 174,6 m² por mês/funcionário, um aumento de quase 15 m² em relação a 2019 – o que foi na contramão do movimento geral da indústria de transformação brasileira como um todo, que apresentou queda durante a pandemia.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que esse índice recuou 0,6% na comparação de 2020 com 2019. E 2021 também não começou com boas notícias: o estudo Produtividade na indústria revela que o primeiro trimestre registrou queda de 2,5% na comparação com o último trimestre do ano passado. Além disso, as empresas tiveram mais horas trabalhadas (aumento de 1,9%) para produzir menos. Entre os fatores que contribuíram para esse mau resultado estão a elevada incerteza gerada pela economia, os estoques ainda baixos, a alta dos custos e o aumento da escassez de insumos e matérias-primas. “São dificuldades que afetam a capacidade de planejamento das empresas de estabelecer o ritmo de produção”, afirma o documento da entidade.

No Blog do desenvolvimento, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o artigo “Produtividade em questão: reflexões para a economia brasileira” comenta dois fatores que influenciam negativamente essa questão no País. O primeiro é a falta de abertura de nossa economia, fato que limita a possibilidade de obter novas técnicas e insumos de melhor qualidade do exterior. Na sequência, vem a falta da capacidade, por parte da maioria das empresas brasileiras, de realizar investimentos para permitir a implementação de novas técnicas e processos. A consequência disso é uma economia pouco dinâmica na qual as companhias mais produtivas têm dificuldade em se expandir.

Na prática
E o que muda no dia a dia da processadora vidreira quando se mede a produtividade? Para Cláudio Lúcio, o conhecimento certo sobre a produção permite a aplicação de adequadas ações de correção, resultando em:

– Forte redução dos custos;

– Capacidade de determinar a competitividade da empresa;

– Aumento da entrega de valor ao cliente;

– Capacidade de correlacionar vários indicadores gerenciais para a melhora de processos.

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“Uma empresa pode ocupar toda a sua disponibilidade de tempo e recursos humanos e materiais e, mesmo assim, ter uma eficiência ruim”, explica o instrutor técnico da Abravidro. Por isso, é importante esclarecer que produtividade é diferente de ociosidade – esta última diz respeito somente aos recursos não empregados. “Pode parecer óbvio, mas é pouco provável que uma empresa com baixa produtividade esteja bem. Por outro lado, é muito provável que uma com alta produtividade esteja em uma boa situação.”

O caminho mais adequado para que a empresa seja mais eficiente passa por entender a própria atuação. Assim, é preciso definir três situações:

O que produzir: para isso, deve-se realizar um planejamento estratégico, visando a conhecer as características dos mercados aos quais se atende. Uma ferramenta a ser usada nesse momento é o Key Performance Indicator (KPI), ou indicador-chave de performance, uma maneira de medir se um conjunto de iniciativas permitirá que a organização alcance os objetivos propostos;

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Quanto produzir: analisar e definir o portfólio de produtos adequado às demandas do mercado. Precisam ser levados em conta tópicos como mix de vendas, responsável pela proporção de cada produto vendido em relação ao faturamento total; budget, um orçamento estático relacionado às despesas da empresa; e forecast, um orçamento ajustado que acompanha as variações dos negócios;

Como produzir: envolve definições a respeito dos diferentes aspectos do processo produtivo, incluindo: layout de equipamentos; tecnologias e maquinários que estejam adequados ao tipo de produção da empresa; sistema de gestão profissional que integre todas as dimensões do negócio; tempo de atendimento ao cliente; e capacitação de toda a mão de obra – afinal, quem irá operacionalizar todos os itens citados serão pessoas — e elas precisam saber efetivamente o que estão fazendo.

Números para levar em conta
Como aponta Cláudio Lúcio, a produtividade ideal – que revela uma empresa saudável em relação à própria demanda e capacidade de produzir – varia de acordo com o tipo de cliente de cada companhia. Ao longo de sua carreira atuando em empresas vidreiras e como consultor, chegou a números que considera boas referências para o mercado.

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- O que seria uma boa produtividade?
Para empresas que atendem o mercado de engenharia e arquitetura, um bom indicador seria igual a ou acima de 310 m²/colaborador. Caso também tenham linha de fabricação de laminados, o nível deve ser igual a ou acima de 410 m², somadas as duas especialidades.

- O que seria uma má produtividade?
Para empresas que atendem o mercado de engenharia e arquitetura, o indicador igual a ou abaixo de 200 m²/colaborador pode indicar grande potencial de melhoria. Caso também tenham linha de fabricação de laminados, o nível seria igual a ou abaixo de 310 m², somadas as duas especialidades.

Como se vê, os 174,6 m²/colaborador que o Panorama Abravidro indicou como sendo o nível da indústria de transformação vidreira em 2020 mostram que, apesar de o índice estar em alta, ainda há muito a ser feito para subirmos no ranking internacional mencionado anteriormente.

O papel dos softwares
A melhor forma de medir o indicador é usando as informações geradas pelos sistemas de gestão informatizados e integrados – os chamados ERPs. “Como as processadoras lidam com muitas demandas específicas a cada pedido, de forma a atender a construção civil, indústria automotiva, linha branca ou moveleira, é praticamente impossível ter uma boa gestão sem um bom software”, comenta Carlos Santos, sócio-diretor da SF Informática, criadora do sistema Glasscontrol. “Seu uso permitirá identificar quando for alcançada a capacidade máxima em algum processo, além de oferecer a oportunidade de a gestão da empresa tomar decisões assertivas na hora certa para realizar novos investimentos”.

Como detalha Alexandre Gomes Nascimento, gerente-comercial da Softsystem, desenvolvedora do sistema Pegasus Corporate, os dados de produção são coletados nos diferentes pontos da fábrica e o custo de cada um deles é distribuído pela contabilidade. “Com o cruzamento dessas informações, é possível saber quanto do valor do material acabado é mão de obra, quanto é matéria-prima e quanto cada peça produzida absorveu de custo em cada etapa produtiva.” Assim, a processadora poderá identificar gastos excessivos e realizar melhorias nos processos, gastando cada vez menos recursos para produzir mais.

E vale a dica deixada por Cláudio Lúcio: os sistemas precisam integrar todos os setores da processadora. “Caso seja necessário utilizar um ERP paralelamente a um controle simples, por planilhas de Excel, para administrar seu negócio, a empresa não terá os benefícios de uma gestão eficaz e eficiente.”

A função dos maquinários
A eficiência produtiva está diretamente ligada às condições das máquinas usadas. Como reforça Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamérica, não se deve pensar apenas na velocidade de processamento: “Devemos tratar de um conceito mais amplo, cuidando de todas as variáveis que impactam essa questão. Por exemplo, a confiabilidade do equipamento, ou seja, sua condição para trabalhar sem apresentar problemas, evitando indesejáveis e intermináveis paradas para manutenção”, analisa. “A qualidade da peça produzida também conta, pois, quanto mais alta, menos irá gerar retrabalhos ou mesmo descartes. Em resumo, deve-se pensar sempre no tripé: velocidade, confiabilidade e qualidade.”

No artigo “Como o maquinário afeta a produtividade”, publicado no blog da Metso Outotec, empresa especializada em tecnologias sustentáveis para indústrias, é apontado que o grande vilão industrial é a baixa capacidade de entrega de resultados das máquinas. “Um equipamento muito antigo, desgastado ou que não passa pela manutenção preditiva e preventiva corretamente pode encontrar dificuldades de funcionamento. (…) O problema também pode ser fruto da tecnologia ultrapassada e inadequada aos parâmetros. Nessas situações, a substituição completa costuma ser a opção mais viável.”

Caminho para o crescimento
A melhora da produtividade vidreira é a rota ideal para o aumento da competitividade de nossas empresas, inclusive frente àquelas de outros países. O caminho é a profissionalização, com as companhias se capacitando para desenvolver uma gestão adequada e mais assertiva do sistema de entrega de valor. “Com empresas preparadas, é possível crescer exponencialmente em momentos como os em que vivemos”, opina Cláudio Lúcio. Por isso mesmo, o monitoramento desse indicador deve ser constante – isso irá ajudar as companhias a entender movimentos de mercado, sazonalidades e a própria capacidade de atender demandas.

Este texto foi originalmente publicado na edição 584 (agosto de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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