Vidroplano
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Saiba como os vidros podem suportar grandes cargas de vento

20/08/2020 - 10h13

No final de junho e começo de julho, um ciclone bomba atingiu em cheio o Sul do Brasil, especialmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ventos chegaram a 100 km por hora, causando estragos em imóveis, queda de árvores e até mesmo mortes. O fenômeno deixou uma pergunta no ar: esquadrias, guarda-corpos e fechamentos de sacada com nosso material conseguem suportar uma carga desse porte? Sim, desde que se sigam os requisitos das normas técnicas e boas práticas de especificação, instalação, manuseio e manutenção. Confira mais detalhes.

Explosivo
Os ciclones se formam a partir da movimentação do ar em uma área de baixa pressão atmosférica (ou seja, uma área com pressão menor que nos arredores). Existem ciclones tropicais, subtropicais e extratropicais — estes últimos são causados pelo choque entre duas massas de ar com temperaturas distintas (uma frente fria e uma quente), podendo se originar tanto na superfície terrestre como no mar. E existe ainda um tipo especial, o ciclone bomba — aquele no qual a queda de pressão é muito mais rápida que o comum.

Devemos ficar preocupados com esse fenômeno? Segundo o professor Acir Loredo-Souza, PhD em Engenharia do Vento e diretor do Laboratório de Aerodinâmica das Construções da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o ciclone bomba não tem nada de raro. “Em uma pesquisa desenvolvida por um grupo de Santa Catarina, são examinados 144 eventos desse tipo no período de janeiro de 1957 a dezembro de 2010”, esclarece o professor. “Ou seja, há algo em torno de duas a três ocorrências por ano. Portanto, são menos frequentes dos que os convencionais, mas devem voltar a ocorrer diversas vezes.” Por conta da localização, as regiões Sul e Sudeste são as mais propensas a recebê-los.

Para evitar a quebra de vidros como a vista em algumas edificações no Sul do País durante a passagem do ciclone bomba (acima), a obra precisa seguir os requisitos das normas técnicas e boas práticas de manuseio e instalação.

Para evitar a quebra de vidros como a vista em algumas edificações no Sul do País durante a passagem do ciclone bomba (acima), a obra precisa seguir os requisitos das
normas técnicas e boas práticas de manuseio e instalação.

 

Ventos controlados
Uma norma técnica da ABNT, atualmente em revisão, trata desse tema. É a NBR 6123 — Forças devidas ao vento em edificações. “As velocidades máximas dos ventos usualmente gerados por esses fenômenos estão contempladas no documento, tanto na versão atual como na futura versão”, afirma Loredo-Souza, coordenador da comissão que o revisa. “Claro que sempre é possível a ocorrência de velocidades superiores, mas, na imensa maioria dos casos, elas estão consideradas.”

Um dos principais pontos levantados pela norma é a velocidade básica do vento especificada para o local da obra — isso pode ser consultado no mapa existente no texto ou obtido por meio de estudos especiais, ajustados pelos parâmetros de correção indicados. Outros fatores fundamentais somados — coeficientes de pressão externa e interna para a edificação — permitirão se chegar às pressões finais que irão incidir sobre a obra.

O que considerar no projeto
Os vidros podem suportar grandes cargas de vento — mas, para isso, precisam estar dentro das normas. O diretor técnico da Crescêncio Petrucci Consultoria, Crescêncio Petrucci Júnior, aponta o que cada parte envolvida em um projeto precisa levar em conta quando falamos em ventos:

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- Projetistas, engenheiros e arquitetos
Em primeiro lugar, claro, vem o respeito às normas. “É sempre importante considerar todas as condições que podem amplificar o efeito das pressões de vento, tais como os efeitos de vizinhança. Para isso, deve-se estudar com muito critério o entorno, considerando a inclinação do terreno, a altura dos obstáculos naturais e artificiais, bem como os prédios ao redor”. Além disso, é preciso atenção especial ao dimensionamento correto do vidro, no caso de estruturas com o material, de forma a sempre considerar as condições às quais ele estará submetido;

- Fornecedores de sistemas (esquadrias, guarda-corpos e envidraçamento de sacadas, entre outros)
Segundo Petrucci, essas empresas precisam sempre indicar de forma clara as limitações de aplicação do produto, assim como as condições ideais para sua instalação. “Sem essas informações, é possível que ocorram problemas e risco à segurança das pessoas devido a um possível uso inadequado”;

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- Instaladores
As orientações de montagem dos sistemas têm de ser seguidas à risca. É importante ainda que esses serviços sejam executados por profissionais treinados, com conhecimento do que estão fazendo e conscientes das consequências em caso de as recomendações não serem cumpridas;

- Usuários finais
Para esses, não há segredo: respeitar as orientações de uso e de manutenção das esquadrias para evitar desgaste prematuro ou possíveis danos que possam comprometer o desempenho e a segurança dos produtos. “Nunca devem fazer adaptações, complementos ou retirar partes dos sistemas sem a orientação e acompanhamento de um profissional capacitado e experiente”, orienta Petrucci.

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Tema em discussão
No dia 21 de julho, a Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal) reuniu especialistas em uma transmissão online para debater as causas e consequências dos acidentes causados pelo ciclone bomba. O professor Acir Loredo-Souza era um dos participantes. O evento contou ainda com o presidente da entidade, Alberto Cordeiro, o consultor em esquadrias Antônio B. Cardoso, a engenheira civil Maria Angélica Covelo e o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luís Antônio França.

“O papel dos arquitetos é muito importante nesse contexto”, explicou Loredo-Souza na ocasião. “Edifícios são apanhadores de vento. Existem mecanismos complexos na aerodinâmica das edificações que interagem. Pressões e torções possibilitam arrancamentos e danos que podem prejudicar a saúde das pessoas”, explicou.

Este texto foi originalmente publicado na edição 572 (agosto de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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