Vidroplano
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Veja as expectativas para o setor vidreiro em 2020

20/02/2020 - 14h29

Começo de ano sempre é assim: as discussões em torno do desempenho da economia prendem a atenção de especialistas, empreendedores e até do cidadão comum. Na edição de janeiro de O Vidroplano, trouxemos uma reportagem com diversos indicadores econômicos, cujo objetivo era tentar entender se já superamos a recessão dos últimos tempos.

Este mês, voltamos ao assunto para perguntar ao setor vidreiro: finalmente voltaremos aos anos de grande crescimento, tanto na produção como no faturamento? A equipe da revista conversou com empresas fornecedoras dos processadores (usinas, fabricantes de maquinários, insumos, acessórios e ferramentas) para saber a opinião de cada uma delas a respeito das expectativas para 2020. Mas, antes, vale analisar mais alguns dados relevantes para a indústria e construção civil nacionais.

 

Aquecimento da construção civil?
Números indicam que o setor da construção civil estará mais movimentado do que nos últimos tempos — o que faz total diferença para o nosso mercado, já que, com mais obras sendo feitas, maior o consumo de vidro. Segundo a Associação Brasileira de Indústrias de Materiais de Construção (Abramat), o setor de materiais de construção fechou 2019 com alta de 2% no faturamento. A projeção para 2020 é de crescimento de 4%. Para efeito de comparação, esse mercado teve queda de 23,8% de 2015 a 2017. “Ainda que sujeito a muitas externalidades, o sentimento neste momento é de otimismo moderado, com um cenário de manutenção de um varejo forte, conjuntura econômica positiva e novas medidas de financiamento para o setor imobiliário”, afirmou o presidente da associação, Rodrigo Navarro, em matéria para o site do jornal Estado de Minas.

A entidade produz também o Termômetro da Indústria de Materiais de Construção, pesquisa que envolve empresas associadas. Na última edição, 65% das companhias ouvidas disseram que janeiro foi “regular” em relação ao faturamento. Fevereiro, no entanto, deverá ser bem melhor: 48% consideram que o mês será “bom”. Isso reflete o viés de otimismo dessa cadeia.

 

Alta ou baixa no setor automotivo?
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou dados a respeito dos resultados do setor automotivo nacional em janeiro. Apesar de a produção ter subido 12,2% em relação a dezembro, as vendas caíram incríveis 26,3%. No entanto, segundo a entidade, esses números são sazonais: historicamente, janeiro tem mais carros sendo produzidos e menos sendo vendidos.

As exportações também tiveram queda considerável (20%) na comparação com janeiro de 2019 — aliás, janeiro do ano passado foi melhor que o deste ano tanto na produção como nas vendas. Ao mesmo tempo, a fabricação de caminhões aumentou 20% em relação a dezembro e 5,3% em relação a janeiro de 2019. Reflexos de como a indústria nacional ainda tenta se ajeitar após a recessão.

 

Indústria otimista?
A última edição da Sondagem Indústria da Construção, estudo desenvolvido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), referente a dezembro de 2019, revela enfraquecimento das atividades do segmento, algo comum nessa época do ano.

Índice de intenção de investimento
Índice de difusão (0 a 100 pontos)*

indice-de-intenção-de-investimento• Os índices de nível de atividade e de número de empregados (abaixo) recuaram em dezembro na comparação com novembro. Porém, seguem em patamar superior na comparação anual com 2018;

• A Utilização da Capacidade Operacional (UCO) também caiu: marcou 59% em dezembro, três pontos percentuais a menos que em novembro. No entanto, o indicador está 2% acima do número medido em dezembro de 2018.
Apesar dos números negativos, a propensão a investir (acima) do empresário desse setor aumentou significativamente. O índice de intenção de investimento registrou 44,4 pontos em janeiro, o maior valor desde setembro de 2014, e mais de dez pontos acima da média histórica (34,1).

Apesar dos números negativos, a propensão a investir (acima) do empresário desse setor aumentou significativamente. O índice de intenção de investimento registrou 44,4 pontos em janeiro, o maior valor desde setembro de 2014, e mais de dez pontos acima da média histórica (34,1).
Índice de evolução do nível de atividade e do número de empregados
Índice de difusão (0 a 100 pontos)*

gráfico-indice-de-evolução-da-atividade

 

Indústria 4.0:
segredo para crescimento?
Como visto na opinião das empresas do setor vidreiro, a produtividade é uma questão de grande importância para nosso setor — e para a indústria brasileira em geral. Uma solução seria o emprego de tecnologias da Indústria 4.0, como forma de automatizar processos e diminuir gastos.

O Brasil ainda engatinha nesse quesito, mas a situação tem melhorado. Em 2016, uma pesquisa realizada com mais de 2 mil empresas industriais de portes variados indicou que apenas 48% das companhias participantes utilizavam pelo menos uma das dez tecnologias digitais consideradas no levantamento. Em 2018, o percentual de grandes empresas que utilizam pelo menos uma das tecnologias digitais consideradas nessas pesquisas era de 73%.

A implementação dessas tecnologias, por exemplo, pode aumentar a produtividade de nossas empresas, tornando-as mais competitivas num cenário nacional e também estrangeiro. Por isso, é importar ficar de olho no 4.0 desde já.

 

Com a palavra, as usinas
As fábricas de vidro nacionais* comentam como foram os negócios em 2019 e o que esperam do setor vidreiro para 2020.

“Em aspectos comerciais, 2019 foi de uma dinâmica surpreendente, com um primeiro semestre insatisfatório e, a partir de agosto, evidências efetivas de retomada do crescimento, com o mercado vidreiro sendo impactado positivamente. No âmbito interno, foi um período muito bom para a AGC, com o acendimento do novo forno. Se nos últimos anos as palavras-chave eram desafio e otimismo, este ano estão acompanhadas de convicção e confiança muito maiores.

Acreditamos que a crise está sendo superada, dando lugar a um panorama econômico promissor. Em um momento em que temos possibilidades reais de crescimento, é importante que todos os elos da cadeia se preparem para esse novo cenário, com as usinas atentas ao balanceamento de oferta e procura, acompanhando as tendências do mercado.
Para a indústria de transformação, acreditamos na retomada dos investimentos de nossos clientes, para análise e entendimento de novas tecnologias e demandas do consumidor, assim como para a aposta na oferta de produtos de valor agregado. O foco principal da indústria deve ser a busca do crescimento sustentável. Para isso, temos grandes desafios, como o preço do gás, dificuldades logísticas e de transporte em um País de dimensões continentais e infraestrutura deficitária. Além disso, a preocupação com a sonegação é algo que as associações têm trabalhado de forma intensa para solucionar.”
Franco Faldini, diretor de  Vendas e Marketing da AGC

 

“Houve um encerramento positivo em 2019, com boas previsões para a construção civil, o que vem se confirmando no início de 2020. A maior produção de vidro no País é positiva, sendo reflexo do crescimento do mercado e da demanda pelo material. Nossa estratégia permanece a de abastecer o setor vidreiro com produtos pensados para o clima e antecipar as necessidades dos profissionais brasileiros. Se 2019 foi o ano dos “estandes de vendas”, este será o dos “canteiros de obras” e, nesse sentido, maior ocupação da mão-de-obra faz a “roda girar”, trazendo crescimento econômico. Os lançamentos da construção civil estão aquecendo a demanda por vidro, com novas obras e projetos que estão em andamento — de olho nessa consolidação do mercado de forma positiva, temos novidades a caminho.

A Cebrace também trabalha junto às associações do setor no desenvolvimento de ações e capacitação de vidraceiros e de profissionais do ramo de arquitetura. Isso faz com que as informações sobre os produtos, recomendações de especificação e a respeito do entendimento dos vidros de valor agregado sejam cada vez mais difundidas em todo o País.

Os juros baixos e a inflação controlada ajudaram a construção civil a buscar a retomada. A expectativa é de que o governo enxergue o segmento com cautela na reforma tributária, a fim de evitar o aumento da carga de tributos, o que seria um forte impacto negativo para todo o setor.”
Leopoldo Castiella e Reinaldo Valu, diretores-executivos da Cebrace

 

“A realidade macroeconômica ficou abaixo das expectativas que tínhamos para o ano passado, o que impactou o mercado e nos obrigou a sermos criativos para finalizar o período próximos de nossas previsões. Acreditamos que 2020 será um ano de retomada do crescimento do setor, em especial no segundo semestre. Essa expansão já pode ser observada em outros materiais da construção civil.

Com base em nossos estudos, estimamos um crescimento do consumo de vidros planos na ordem de 5% para este ano. Para que haja uma retomada mais contundente, são necessários esforços contínuos no conhecimento e na qualificação da cadeia produtiva, melhorando o nível de serviço dos profissionais em contato direto com o consumidor final, tornando consequentes a valorização e a utilização dos produtos de maior valor agregado. Continuaremos a evoluir de portfólio, ampliando o mix ofertado com lançamentos de produtos desse tipo, e ampliaremos nossos esforços para comunicar seus benefícios à cadeia produtiva e ao público. O vidro é um material nobre e precisa retomar essa posição. Para isso, o desafio é estimular ainda mais formas de aplicação diferenciadas. Entre as ações a que o governo federal pode se dedicar para a retomada da construção civil estão desburocratizar as regras de concessões de financiamento e criar um ambiente para a redução das taxas de juros dos empréstimos para aquisição de casas próprias.”
Henrique Lisboa, presidente da Vivix Vidros Planos

 

O que esperar de 2020
A opinião de empresas de maquinários, insumos, acessórios e ferramentas sobre a economia nacional e o nosso segmento.

“Em 2019, tivemos um grande avanço no mercado externo, o qual busca rebolos de qualidade e confiabilidade. O mercado interno ainda está em processo de maturidade na plena capacitação técnica. A esperança para 2020 é de crescimento, ainda mais no ano em que a Abrasipa completa sessenta anos. O consumo é o primeiro termômetro que indica essa melhora e, como um sinal positivo, o que deve aumentar inicialmente é o faturamento das empresas mais estruturadas. Aparentemente, a construção civil está retomando o crescimento e há boa perspectiva para o setor vidreiro. Para isso, temos de construir um ambiente mais ético, técnico e profissional. Todos nós, que fazemos parte dessa cadeia, temos a obrigação de investir em vendas mais técnicas e criar um crescimento sustentável, sem abalar os seus valores.”
Gabriel Leicand, diretor da Abrasipa

 

“Ano passado foi um período de superação e de resultados que foram além das expectativas. Esperamos um crescimento importante em 2020, mas gradativo em relação ao consumo de ferramentas. O setor caminha para uma melhora progressiva dos negócios. Porém, cada setor tem o seu momento — e acreditamos que o crescimento substancial para o setor vidreiro esteja mais adiante. Vemos a informalidade como grande problema para a retomada do setor e temos também a situação das importações de vidro, do antidumping, como ponto importante a ser definido. No geral, entendemos que nosso mercado precisa progredir no que diz respeito à gestão das empresas, levando em conta o planejamento estratégico, custos, definição de margens e consideração de resultados com perspectivas de investimentos.”
José Pedro Ruiz, diretor-comercial da Diamanfer

 

“O resultado do ano passado fechou dentro de nossa expectativa. Os primeiros indícios da recuperação do mercado da construção civil ajudaram a melhorar a curva no segundo semestre, e isso indica um bom potencial para 2020. Para o setor de interlayers, o esperado é que esse bom momento se mantenha e possa confirmar, de maneira efetiva, a recuperação da construção civil. O principal desafio será acompanhar a confirmação dessa retomada, que não depende apenas de um único segmento. Nesses últimos anos, o setor vidreiro, como um todo, adaptou-se a essa nova realidade e aguarda ansioso que os projetos (novos ou de retrofit) passem a sair do papel. Claro, ainda leva tempo para ser confirmado se esse crescimento será mantido. Entretanto, posso afirmar que a Eastman está preparada para responder a essas demandas à medida que forem acontecendo.”
Daniel Domingos, gerente de Contas para América Latina da Eastman

 

“Os negócios ao longo de 2019 foram dentro de nossa expectativa. Na realidade, houve diferenças entre as regiões em que atuamos, mas no final tudo se compensou. Nós esperamos um crescimento do setor vidreiro no Brasil em 2020 maior que o resultado tímido de 2019. Acreditamos que, sim, nosso mercado está trilhando uma retomada. Contudo vários fatores externos (política econômica, cenário internacional, reformas internas etc.) necessitam ocorrer para que o crescimento sustentável se torne realidade. Os principais desafios a serem enfrentados são o aumento da produtividade e a consequente diminuição dos custos de produção. Para isso, a nossa contribuição ao mercado são equipamentos de alto grau de automação e também de alto grau de confiabilidade, associado a alta produtividade.”
Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamerica

 

“2019 foi bom, superou nossas expectativas. Para 2020, esperamos um acréscimo nas vendas em torno de 20%, reflexo da retomada do crescimento e também da Glass South America. Já tivemos várias experiências que mostram que as vendas crescem no ano da feira. Podemos observar os movimentos de clientes preocupados em melhorar sua qualidade e também em reduzir custos. Sabemos que o consumo de vidro depende do ritmo da economia. Porém, devemos buscar incentivar a substituição do uso de outros materiais por vidro. O setor vidreiro terá como desafio para este ano aumentar sua produtividade. E, mesmo com o aquecimento da economia, ainda enfrentaremos um problema de falta de mão-de-obra. Por isso, teremos de investir em automatizar as produções, desde o setor de vendas até a expedição.”
Sandro Eduardo Henriques, diretor da Sglass

 

A economia brasileira, segundo um especialista
O Vidroplano conversou com o consultor da GPM Consultoria Econômica, Sergio Goldbaum. Professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), Goldbaum é o responsável por consolidar os dados do Panorama Abravidro. A seguir, ele explica se o otimismo para este ano pode se concretizar.

 

A indústria e a construção civil ainda estão computando os últimos resultados de 2019. Com os números já divulgados, é possível considerar que o ano passado representou um passo na direção da retomada do crescimento econômico desses dois setores?
No tocante à indústria, o indicador de produção mensal do IBGE praticamente andou de lado ou até caiu, na média, em relação a 2018. Conforme os dados publicados, a fabricação de vidro caiu 2%, enquanto a de vidro plano e de segurança diminuiu 11%. Automóveis e a indústria moveleira ficaram, na média do ano, estagnados em relação a 2018. A fabricação de eletrodomésticos, em compensação, aumentou 10,6%. Já em relação à construção civil, a taxa de crescimento desse setor no índice de formação bruta de capital fixo (isto é, de investimento) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aumentou 2,1% em 2019. Também segundo a CNI, o índice de evolução do nível de atividade da construção civil aumentou 2% na média, em comparação com a média de 2018.

 

Levando isso tudo em consideração, é possível que o Brasil consiga bons resultados em 2020, deixando finalmente para trás a recessão dos últimos anos? Quais seriam os fatores para isso ocorrer?
Assim como de 2017 para 2018 e de 2018 para 2019, a passagem do ano passado para este foi marcada por otimismo crescente. O boletim de dezembro da Sondagem da Indústria da Construção, da CNI, destacou que o aumento do investimento mantém tendência favorável para a construção. O índice de intenção de investimento registrou em janeiro de 2020 o maior valor desde setembro de 2014.
Há motivos para otimismo: a reforma da previdência — tida como grande responsável pela crise fiscal do Estado brasileiro — foi aprovada, a taxa básica de juros (Selic) está na sua mínima histórica e a inflação está sob controle.
Mas, claro, é necessário cautela. Analistas advertem que a situação fiscal não está consolidada. A baixa histórica da taxa de juros não parece conseguir estimular a atividade econômica, colocando em dúvida a eficácia da política monetária. O desemprego ainda é enorme. O principal canal de financiamento público de investimentos, o BNDES, está sob revisão. Sem contar, é claro, as instabilidades no cenário externo: a disputa entre Estados Unidos e China, as eleições americanas, a saída do Reino Unido da União Europeia, e mesmo os impactos da epidemia de coronavírus, ainda que sejam temporários.
As previsões de mercado para o crescimento do PIB este ano expressam essa cautela: o Relatório Focus do Banco Central prevê crescimento moderado, de 2,3%.

 

Em relação ao setor vidreiro, como o senhor enxerga as possibilidades de crescimento para as empresas?
O setor vidreiro deve acompanhar a tendência geral de crescimento moderado, seguindo também as expectativas diferenciadas reveladas na Sondagem da Indústria da Construção.

Este texto foi originalmente publicado na edição 566 (fevereiro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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