Vidroplano
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O que esperar de 2019

25/02/2019 - 08h45

Ano novo, governo novo, preocupação antiga: a economia brasileira voltará a crescer? Após uma recessão sem precedentes, o Brasil dá sinais de querer recuperar o desenvolvimento. Apesar de a expectativa por crescimento ser enorme — já que o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil, maior consumidor de vidros, caiu 28% de 2014 até 2018 —, é necessário estudar o momento com serenidade.

Por isso, O Vidroplano conversou com players de diversos elos de nosso mercado (incluindo usinas, fabricantes de maquinários e de insumos) e entidades setoriais para entender as perspectivas econômicas para 2019.

A indústria e a construção em 2018
Antes de tudo, é necessário olhar para os números do ano passado e decifrá-los. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice acumulado da produção industrial (considerando janeiro a novembro) é positivo: + 1,5%

No mesmo período, a indústria de transformação foi ligeiramente melhor: + 1,6%

No entanto, comparados com 2017, os números de 2018 são menores. No ano retrasado, a indústria em geral cresceu 2,6% e a dos transformados, 2,3%.

Segundo Carlos Eduardo Pedrosa Auricchio, diretor-titular do Departamento da Indústria da Construção (Deconcic) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), houve crescimento de 4% no investimento em obras de janeiro a setembro de 2018 — é o terceiro resultado positivo consecutivo. Por outro lado, o número de trabalhadores na cadeia da construção caiu 2,6% em comparação a esse mesmo período de 2017. Isso equivale a cerca de 170 mil postos de trabalho a menos. Ou seja, há motivos para alegria e também cautela. Com isso em mente, fica mais fácil analisar o que pode acontecer em 2019.

Qual o crescimento da construção?

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Em relação ao PIB específico da construção civil, o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) revelou em entrevista coletiva, no começo de fevereiro, que espera um crescimento de 2%. Apesar de pequeno, esse avanço seria uma aposta otimista, já que o mercado não cresce desde 2013. Se confirmado, o número será fruto do aumento de obras e reformas realizadas por pequenos empreiteiros ou famílias — espera-se que esse nicho possa crescer até 3,5% este ano.

A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) também fez prognósticos, criando cenários distintos para a construção nos próximos quatro anos. No melhor deles:

– O PIB nacional cresce 3% ao ano;
– A construção, 2%;
– O varejo de materiais, 3%;
– E a indústria de materiais, 2,5%.

Para Rodrigo Navarro, presidente da associação, “a retomada de obras de infraestrutura e a agenda de reformas terão parte importante no desempenho da indústria de materiais. A expectativa se mantém para o fechamento do ano com crescimento de 2% no faturamento em relação a 2018”.

A Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) olha para o setor vidreiro com otimismo. “2018 foi um período de muitas incertezas, com ambiente difícil para os negócios e problemas como a greve dos caminhoneiros, que teve grande impacto em nossa indústria, e aumento de custos com barrilha, energia e gás natural”, comenta o superintendente da entidade, Lucien Belmonte. “A expectativa é de um 2019 com balanço positivo e retomada do crescimento.”

Para ele, o maior desafio será garantir aos clientes a competitividade e qualidade dos produtos: “Devemos investir em melhora no relacionamento com o mercado e na defesa de nossa cadeia industrial.”

O perigo chamado dólar
A cotação do dólar influencia diretamente nosso setor, afinal a moeda americana é usada para definir preços de matérias-primas, insumos e maquinários estrangeiros. Segundo o banco de investimentos BTG Pactual, o valor dela pode variar de R$ 3,40 a até R$ 5 em 2019, dependendo do andamento da economia e das decisões tomadas pelo governo federal. Diversos elementos podem contribuir para isso, sejam eles internos ou externos, incluindo:

– Risco-país (o grau de “perigo” para investidores internacionais);
– Aprovação de medidas que irão impactar o desenvolvimento econômico nacional, como a reforma da Previdência;
– Taxas de juros dos Estados Unidos, definida pelo Federal Reserve, o banco central americano;
– Valorização do preço das commodities no mercado internacional.

Burocracia impede o crescimento
Segundo a versão 2019 do relatório Doing Business, publicado pelo Banco Mundial, o Brasil ocupa a 109ª posição (em um total de 190) no ranking geral de “facilidade de se fazer negócios em um país”. Estamos atrás de nações minúsculas em população e território, como Vanuatu ou Fiji, ambos na Oceania. O estudo leva em consideração indicadores como “começando um negócio” (as dificuldades para se iniciar um empreendimento), “pagamento de impostos” (o impacto da carga tributária) e “negócios transfronteiriços” (as dificuldades em relação ao comércio exterior). Ou seja: estamos em um país cheio de burocracia e que segura o desenvolvimento das empresas.

Ações do governo
É consenso entre especialistas a necessidade de reformas estruturais no País, incluindo a reforma da Previdência. O presidente do Sinduscon-SP, Odair Serra, e o vice-presidente de Economia da entidade, Eduardo Zaidan, alertam para a necessidade de o governo atuar também em outros aspectos que oferecerão mais confiança ao mercado:

– Continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida, permitindo maior atividade da construção;
– Acesso facilitado aos financiamentos bancários;
– Queda dos juros do crédito imobiliário.

Em resumo, 2019 será um bom ano?
Como pudemos ver, são muitas as variáveis que irão determinar o desempenho econômico do País — e também de nosso setor. Não dá para cravar respostas, mas o momento é de otimismo. No entanto, dá para traçar alguns caminhos:

– As escolhas a serem feitas pelo governo federal serão decisivas para determinar o tamanho do crescimento;
– Com o aquecimento da construção, nosso mercado também irá se aquecer;
– Outros mercados consumidores do produto preveem boas taxas de crescimento;
– Agregar valor ao nosso material continua sendo uma aposta fundamental.

 

Como está a confiança do mercado?
O Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mede o Índice de Confiança Empresarial (ICE), que mostra a segurança da indústria, setor de serviços, comércio e construção nacionais em relação ao momento econômico vivido. Em janeiro, o ICE mostrou bem o atual sentimento desses mercados:

98 pontos (numa escala de zero a 200)
4º mês de alta consecutiva
– Maior nível desde janeiro de 2014

O Índice de Expectativas, que mede a confiança dos empresários nos próximos três a seis meses, também segue crescendo:

104,5 pontos (numa escala de zero a 200)
7º mês de alta consecutiva
3º mês acima dos 100 pontos
– Maior nível desde dezembro de 2012

 

Como ficará o PIB?
O último Boletim Focus publicado antes do fechamento desta edição de O Vidroplano, divulgado pelo Banco Central no dia 18 de fevereiro, prevê que o PIB nacional em 2019 aumentará 2,48%. O número segue maior que o projetado para o de 2018 (a ser divulgado pelo IBGE no final deste mês). A expectativa é de que o crescimento do ano passado não passe de 1,25%.

 

Cenários para outros setores
Três mercados consumidores de vidro também revelaram suas expectativas:

Automotivo: A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) espera crescimento de 11,4% na venda de veículos em relação a 2018. Caso a projeção se confirme, será o terceiro ano seguido de alta.

Energia solar: O Brasil deve ter um aumento de 44% na capacidade instalada de energia solar, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Isso faria o País chegar à marca de 3,3 GW em operação.

Linha branca: Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), acredita-se que seja possível fechar o ano com crescimento de 10% a 15% comparado a 2018.

 

Mapa para o futuro
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) produziu, em setembro do ano passado, o documento Indústria e o Brasil do Futuro, com o objetivo de discutir os rumos a serem tomados pelo País em relação à industrialização e desenvolvimento de infraestrutura. Cinco linhas de ação são sugeridas:

INVESTIR NA INDÚSTRIA 4.0, criando condições para absorver as tecnologias emergentes e também assegurar certo protagonismo no desenvolvimento dessas inovações;

POTENCIALIZAÇÃO DA INOVAÇÃO, para fortalecer a educação básica e tecnológica, promover sua articulação com o setor produtivo e desenhar políticas orientadas a missões;

MODERNIZAÇÃO DO PARQUE INDUSTRIAL, para alavancar a produtividade e competitividade da indústria;

AUMENTO DA EXPORTAÇÃO DE MANUFATURADOS, em especial de produtos mais complexos em tecnologia;

AGREGAR VALOR A ATIVIDADES EM QUE O BRASIL APRESENTA VANTAGEM COMPARATIVA, como a agropecuária.

 

O que os vidreiros esperam de 2019?

construction site close to pavement under sunshine

Forno novo e estabilidade no fornecimento de vidros
“2019 desponta como um ano de grandes possibilidades, uma vez que acenderemos nosso novo forno. Inicialmente, o principal desafio é o restabelecimento da estabilidade no setor após um período em que houve desbalanceamento entre oferta e procura de vidro plano. Em questões do cenário macroeconômico, o importante é acompanhar de perto os principais índices e as reações do mercado a uma possível série de novas medidas. Medidas para diminuição do desemprego e estímulo ao consumo, tais como o crédito imobiliário, são fundamentais para gerar impactos positivos.”
Franco Faldini, diretor de Vendas e Marketing da AGC

Novos mercados e vidros de valor agregado
“Há uma evolução perceptível da aplicação do vidro em mercados não tradicionais, como o de energia. Se explorarmos a versatilidade do material e pensarmos em soluções completas, como os vidros de controle solar, autolimpantes e antirreflexo, haverá mais benefícios para consumidores e rentabilidade para empresas. Em caso de crescimento, é necessário balancear o aumento de demanda e de capacidade de processamento e de base para assim equilibrar o abastecimento. Outro grande desafio é em relação aos incrementos nos insumos básicos para a indústria, como gás e eletricidade.”
Flavio Alves Vanderlei, gerente-comercial da Cebrace

Aumento do consumo e escritório central
“Um grande desafio é aumentar o consumo per capita de vidro no Brasil, que gira em torno de apenas 8 kg por ano. Isso acontecerá com o maior uso de vidros de valor agregado, como os de controle solar, que correspondem a 3% de nosso consumo e tem potencial de expansão. Para dar mais corpo a esse movimento, inauguraremos um escritório central, em Campinas (SP). O local abrigará colaboradores antes distribuídos por São Paulo, Tatuí (SP) e Porto Real (RJ), em um esforço para aumentar a eficiência da operação e compartilhar conhecimento.”
Renato Sivieri, diretor de Marketing da Guardian

Crescimento e organização da indústria
“A expectativa é a de que o mercado volte a aquecer e a se expandir, retomando projetos que ficaram em stand by e gerando novas oportunidades para a cadeia vidreira. No entanto, para que o setor de fato acelere, é necessário que as indústrias estejam preparadas para atender a demanda, seja em termos de produtos, como também em soluções logísticas e técnicas. A indústria precisa se organizar para acompanhar o crescimento da demanda, tendo a estrutura necessária para o pleno fornecimento aos clientes.”
Gabriel Zanatta, coordenador de Marketing da Saint-Gobain Glass

Mais fortes e com desafios
“A cadeia vidreira sairá desta crise bem mais fortalecida, visto que todos certamente implementaram melhorias significativas na gestão de processos. Os principais desafios serão promover iniciativas que visem de forma ampla e permanente à qualificação da cadeia, enfrentar com serenidade a volatilidade do mercado, criar mecanismos eficientes de demonstração dos benefícios e versatilidade de aplicações do produto e, por fim, contribuir para a elaboração de uma legislação responsável e eficiente para o uso do vidro plano.”
Henrique Lisboa, diretor-comercial e de Marketing da Vivix

Consumo de vidros de grandes dimensões
“No mercado arquitetônico, a demanda para vidros em tamanho maior está aumentando, seguindo a tendência que é realidade em mercados mais maduros, como a Europa. Acompanhando o fato de que estamos com expectativas positivas para o mercado, é fundamental que os fabricantes e fornecedores de matérias-primas, aqueles no começo da cadeia, tenham flexibilidade local e tempo de resposta adequado para a demanda.”
Daniel Pazzini Domingos, gerente de Contas de Arquitetura para a América Latina da Eastman

Estruturação, treinamento e educação
“Penso que 2019 é um ano de preparação para o crescimento. Estruturação, treinamento e educação serão os temas centrais para a retomada que virá forte em 2020. Esperamos a retomada do mercado arquitetônico e um impulso no vidro em aplicações solares. A competitividade será relevante para uma indústria sustentável. Quando falamos de competitividade, podemos chamá-la de reindustrialização, algo que o País precisa muito. O segundo desafio está em ajudar os clientes a retomar o caminho do conceito de valor agregado, que foi perdido um pouco com a crise.”
Moreno Magon, vice-presidente de Vendas e Serviços da Glaston para a América do Sul

Reformas, automação e produtividade
“A realização das tão esperadas reformas, aliada a um coeso e sustentável programa de combate à corrupção, fará com que o Brasil seja visto com outros olhos pela comunidade internacional, e isso inexoravelmente trará novos e importantes investimentos ao nosso país. Com a liberação de crédito para novos investimentos, em um cenário mais expansivo que o atual, nossos desafios como fabricantes de máquinas serão grandes. O mercado tem necessidade de soluções do mais alto grau de automação e de alta produtividade, com menos dependência da interação humana.”
Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamerica

Aumento dos negócios
“2018 foi um período de recuperação, no qual pudemos perceber que o País estava saindo da recessão econômica. Nossa expectativa, em 2019, é um crescimento dos negócios por volta de 25% em comparação com o que fizemos no ano passado. Entre os desafios estão melhorar a produtividade, diminuir custos, aumentar a qualidade e oferecer melhores serviços aos clientes.”
Sandro Eduardo Henriques, diretor da Sglass

Este texto foi originalmente publicado na edição 554 (fevereiro de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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