Vidroplano
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As contribuições do vidro para a saúde das pessoas

23/04/2020 - 10h04

O mundo está passando por uma das pandemias mais graves desde a da gripe espanhola, no final da década de 1910, e esta edição de O Vidroplano comenta bastante a situação.

Mas, além da relevância de entender o impacto disso tudo no setor vidreiro, vale citar que nosso material tem ajudado pessoas a interagir umas com as outras neste período de quarentena e distanciamento social. Prova disso é uma foto que viralizou pela Internet recentemente, com mais de 700 mil curtidas, mostrando um pai segurando seu bebê, enquanto o avô da criança via o neto recém-nascido através de uma janela envidraçada.

Por isso mesmo, é inevitável pensar a respeito de como o principal assunto da revista, o vidro, pode atuar a favor de nossa saúde. A seguir, conheça alguns tipos de vidro com essa função, além dos vários benefícios que ele traz para nossa vida – e que podem estar presentes não apenas em hospitais, mas também em sua casa ou ambiente de trabalho.

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Em busca da privacidade
Assim como vimos no exemplo do avô e seu neto, em várias situações envolvendo ambientes hospitalares, como cirurgias ou nascimentos, interagir com familiares que estão nesses espaços é importante – mas só até certo ponto. Para permitir interação com privacidade, existe o vidro privativo. “Sua produção é feita por meio de um processo de laminação de vidros com um filme de cristal líquido”, explica Andréia Santana, da PKO, fabricante do Privacy Glass. “Quando aplicada uma voltagem à peça, os polímeros dispersos no filme se organizam para uma direção específica, permitindo a passagem de luz e tornando a chapa incolor. Ao ser desligada, ficam estáticos e voltam à condição original, na cor branca translúcida. Assim, não se vê o que há do outro lado.”

Esse material pode ser empregado em divisórias de UTI, centros cirúrgicos e obstétricos, quartos de isolamento, berçários, biombos de consultórios médicos e centros de diagnóstico, sem falar de espaços que precisam de privacidade controlada.

Iluminação natural
Além de permitir a interação entre ambientes, nosso material também garante a entrada de luz solar – e a falta dela pode gerar sérias consequências à saúde. Um estudo feito há alguns anos pela neurologista americana Phyllis Zee provou que indivíduos que trabalham em espaços com janelas apresentam hábitos de sono mais saudáveis em comparação àqueles que passam o dia em ambientes fechados.

A explicação está no fato de a luz regular o ritmo circadiano, o ciclo biológico do corpo humano. Ela afeta:

– O humor e o estado de alerta;

– O metabolismo, podendo levar à redução da pressão arterial e à probabilidade de se desenvolver doenças cardiovasculares;

– O bem-estar mental, pois aumenta a produção de serotonina, hormônio que regula diversos aspectos como o sono e o apetite. Com isso, diminui a chance de a pessoa ter depressão e outras doenças de cunho psicológico, como o estresse e a ansiedade.

O engenheiro Fernando Simon Westphal, coordenador do programa de pós-graduação em arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é especialista em analisar o desempenho e características de fachadas envidraçadas. “A iluminação natural contribui ainda com o aumento do nível de concentração e melhora da memória de curto prazo”, comenta. “E não é só a luz que faz bem: o desempenho de trabalhadores que têm contato visual com o ambiente externo é maior. Um estudo americano identificou que, em lugares com esse tipo de interação, as pessoas concentram mais esforços na sua atividade primária, distraindo-se menos.”

Controle solar
Aproveitar toda essa luz natural não significa sofrer com o calor gerado por ela. É aí que entram os vidros de controle solar, que protegem contra a radiação do Sol. “Em um país predominantemente quente como o Brasil, não há como prever um projeto sem eles”, explica Westphal. “Lamentavelmente, esse produto ainda é pouco utilizado em residências, sendo mais comum em prédios comerciais.” O material faz com que se use menos ar-condicionado – e a consequência disso é a queda de doenças respiratórias, como asma e rinite, e sintomas como tosse, espirros e dor de cabeça.

Portanto, arquitetos e engenheiros não precisam ter receio de projetar grandes peles de vidro, como reforça o engenheiro. “Com toda essa tecnologia, é possível ampliar a área das janelas e, consequentemente, a área de contato visual com o exterior, sem aumento no consumo de energia para resfriamento do interior das edificações.”

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Atenuação acústica
Além do calor, existe outro mal invisível: o barulho. O nível de som de uma conversa normal (cerca de 60 dB) já é o suficiente para agredir nosso organismo. A partir de 85 dB, é possível sofrer perdas auditivas irrecuperáveis, além de outros efeitos negativos, incluindo cansaço, estresse, insônia, falta de concentração e até doenças cardíacas e diminuição da resistência imunológica.

“Não tem acordo com ruído, ele faz mal mesmo”, enfatiza Edison Claro de Moraes, proprietário da Atenua Som e vice-presidente de Relações com o Mercado da ProAcústica. “O grande desafio é a capacidade que o corpo humano tem de se acomodar. É muito comum pessoas falarem que se adaptaram a um barulho. Porém, mais cedo ou mais tarde, vão pagar um preço alto por isso.”

O vidro, até por sua estrutura, é um grande aliado da diminuição sonora. A física explica: segundo a “lei de massa”, quanto maior a massa de um item, melhor será seu desempenho nesse quesito. Uma chapa de maior espessura vai proporcionar maior isolamento. No entanto, não basta instalar peças grossas em qualquer projeto, pois o material vibra ao receber frequências específicas de som, o que diminui sua capacidade como isolante. O ideal, então, é estudar e combinar espessuras: vidros espessos são excelentes para barulhos pesados; já os finos atuam melhor contra sons agudos.

“Infelizmente, grande parte dos profissionais da construção não se atenta à importância do conforto acústico na especificação das obras”, lamenta Moraes. “Identificamos bares, restaurantes, salas de eventos, feiras etc. sem o mínimo tratamento nesse sentido.” Por isso mesmo, quando falamos de saúde em relação aos nossos ouvidos, não podemos considerar apenas aplicações em quartos de hospitais, por exemplo, mas também em residências e em empreendimentos comerciais.

Contra a radiação
Por outro lado, existem vidros feitos especialmente para aplicações nesse tipo de ambiente. O plumbífero é um deles: tem alta capacidade de proteção contra radiação e pode ser utilizado em salas de radiografia, mamografia, tomografia e de aplicações médicas, como quimioterapia, ou em laboratórios de pesquisa. Instalado em portas e janelas, impede que a radiação passe para outros ambientes, protegendo pacientes, profissionais de saúde e cientistas.

“A fabricação desse vidro se dá por um processo de estiramento vertical e adição de chumbo e bário em sua massa”, revela Andréia Santana, vendedora técnica da PKO. “É por isso que o produto é mais amarelado, mas essa coloração não altera sua transparência.”

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Contra as bactérias
Quem poderia imaginar, décadas atrás, que nosso material poderia até “combater” bactérias? Há alguns anos, a AGC desenvolveu e patenteou o vidro antibacteriano, produzido a partir da difusão de íons de prata em sua superfície – esses íons são os responsáveis pela interação com as bactérias, desativando o metabolismo delas e interrompendo sua divisão mecânica. O produto consegue eliminar até 99% de todos os organismos que se fixam em sua superfície, além de evitar a aparição de fungos. É ideal para salas de cirurgia, consultórios médicos, banheiros e até outros ambientes, como cozinhas de restaurantes, por exemplo.

No momento, a atual versão dessa linha não está sendo comercializada em nenhum lugar do mundo: a AGC trabalha em uma nova geração desse vidro, com maior eficácia ainda. Não existe previsão de lançamento.

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Cidades mais saudáveis
Durante o 14º Simpovidro, realizado pela Abravidro no ano passado em Porto de Galinhas, a arquiteta mexicana Sol Camacho, uma das palestrantes, citou um estudo que fez em parceria com o Hospital Albert Einstein (São Paulo) e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), mostrando a relação direta entre vidro e saúde.

O projeto consistiu no mapeamento da favela de Paraisópolis, uma das maiores de São Paulo, com o intuito de facilitar a chegada de serviços públicos no local. As conclusões são reveladoras: as condições de vida ali estão ligadas a problemas respiratórios, causados pela falta de ventilação e luz natural – benefícios que o vidro pode oferecer a uma residência.

Outro dado interessante: segundo estudo do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) de 2017, 85% das cidades brasileiras são construídas sem a participação de arquitetos ou engenheiros. Isso significa que a tipologia das edificações nacionais é pautada pelas características da população, ao invés das dos terrenos, o que seria o recomendado. Isso tudo mostra que o vidro pode ser muito mais bem aplicado em nossos espaços urbanos.

Este texto foi originalmente publicado na edição 568 (abril de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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