Vidroplano
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Conheça as causas das trincas em laminados

20/08/2020 - 10h16

Alguma vez sua vidraçaria já recebeu a ligação de um cliente queixando-se de que uma peça laminada que sua equipe instalou estava trincada? Embora esse problema pareça ter aparecido “do nada”, há uma série de fatores que podem levar a ele, seja por erros na instalação, seja por falhas cometidas muito antes de os vidros chegarem à obra.

A boa notícia é que é possível identificar essas causas bem cedo e, assim, evitar o uso de vidros comprometidos. Especialistas de diferentes áreas do nosso setor explicam a seguir as principais falhas que levam ao surgimento de trincas em laminados comuns (isto é, feitos com vidros recozidos — float ou impressos) na especificação, beneficiamento ou aplicação final.

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Na fase do projeto
O ponto mais frágil dos vidros é sempre a borda — e os laminados não são exceção. Segundo o engenheiro civil Crescêncio Petrucci Júnior, diretor técnico da Crescêncio Petrucci Consultoria, um pequeno impacto nessa região pode ocasionar danos, como trincas e lascas, o que acaba potencializando a possibilidade de quebra — mesmo que não ocorra imediatamente. “É sempre muito importante ter conhecimento de tudo que pode interferir no vidro na hora de desenvolver o projeto, desde a fabricação até logística envolvida no transporte, armazenagem e, principalmente, na instalação”, explica.

Tatiana Domingues, sócia-proprietária da Paulo Duarte Consultores, acrescenta que a especificação deve levar em consideração o tipo de sistema em que o laminado será aplicado e as cargas atuantes a que ele estará sujeito. “Muitas vezes a falha começa aí, porque nem sempre a equipe que especifica o material é a mesma responsável pela compra. O caixilho e o vidro são trabalhados com medidas pouco flexíveis, as quais exigem precisão milimétrica”, diz ela. “Então, se a especificação pede uma peça de 12 mm, por exemplo, um comprador leigo pode adquirir uma de 10, crendo que essa diferença de 2 mm parece insignificante, mas os materiais necessitam dessa precisão para que tenham o desempenho correto.” Leandro Gonçalves Pedroso, gerente de Projetos da Divinal Vidros, concorda: “O mau dimensionamento dos vidros irá comprometer a performance do produto. A correta especificação de dimensões e espessura depende de ampla análise e gestão de riscos intrínsecos ao projeto”.

Há casos especiais, como o de vidros de grande dimensão, que precisam de cuidados e equipamentos especiais para o transporte e instalação. Crescêncio ressalta que, ainda durante o desenvolvimento do projeto, é preciso evitar levar essas chapas a locais de difícil acesso e circulação. Segundo ele, é muito comum, durante a fase de obras, montar uma estrutura complexa para viabilizar o uso desse tipo de vidro. “Porém, como depois poderá ser necessária alguma manutenção, ou até mesmo a substituição da peça, essa operação se tornará impossível.”

Ana De Lion, gerente de Desenvolvimento de Mercado da AGC Brasil, recomenda que a especificação sempre seja acompanhada por um profissional técnico, arquiteto ou engenheiro. “Além disso, esse trabalho deve levar em consideração a atenção à construção do edifício e orientação solar, assim como detalhes dos caixilhos, cores e materiais dos perfis das esquadrias, o tamanho da área envidraçada e a existência ou não de sombras estáticas, entre outros fatores”, acrescenta.

Vidro cortado no canteiro de obras com serra circular, processo que resulta na formação de microtrincas: corte e lapidação das peças devem ser feitos somente na processadora.

Vidro cortado no canteiro de obras com serra circular, processo que resulta na formação de microtrincas: corte e lapidação das peças devem ser feitos somente na processadora.

 

Preciso na lapidação
Uma etapa essencial no beneficiamento dos laminados é o tratamento de suas bordas por meio da lapidação. Durante o corte do material, são geradas tensões inerentes ao processo, principalmente na etapa de destaque, as quais provocam o surgimento de microtrincas e fissuras nessas bordas. “O correto processamento elimina as irregularidades que podem se transformar em trincas”, explica Wender Cotrim, gerente-industrial da Vitral Vidros Planos.

Luiz Cláudio Rezende, consultor técnico da Viminas, indica os principais cuidados que o processador deve tomar:

Trinca partindo da extremidade do vidro instalado: bordas precisam ser verificadas antes da fixação, para garantir que não tenham lascas ou fissuras.

Trinca partindo da extremidade do vidro instalado: bordas precisam ser verificadas antes da fixação, para garantir que não tenham lascas ou fissuras.

 

No corte
> Eliminar áreas de tensão e destaque das peças;
> Verificar o sobrematerial indicado para cada espessura;
> Prestar atenção ao dimensionamento final, evitando, principalmente, a distorção na diagonal.
Na lapidação
> Identificar tipo, granulometria e qualidade do rebolo de corte;
> Manter uma boa refrigeração, com água ou líquido refrigerante;
> Verificar a velocidade periférica dos rebolos na lapidadora;
> Observar a pressão de desbaste, velocidade de avanço e desgaste do rebolo;
> Identificar a hora de retificar o perfil ou efetuar a troca do rebolo.

O corte e a lapidação são complementares e muito importantes para evitar trincas posteriores, afirma Rezende. Para ele, é essencial que os processadores passem por um treinamento adequado antes de começar a realizar essas atividades.

Deve-se também tomar cuidado no armazenamento, transporte e estocagem no local de instalação: “99% das quebras ocorridas após a instalação, quando processado adequadamente, são de origem mecânica, causadas por batidas de bordas no manuseio do material”, frisa Renato Santana, responsável pelos Processos de Qualidade e Lean Manufacturing da GlassecViracon.

Fixação
Segundo Fábio Persio, supervisor de Vendas & Obras da PKO do Brasil, há duas maneiras mais frequentemente usadas para a fixação:
Encaixilhados: nesse caso, os vidros são presos dentro de um quadro de alumínio apoiado por borrachas (gaxetas) em todo o perímetro do caixilho;
Colados: os laminados são aplicados diretamente na estrutura com uso de adesivo estrutural (silicone ou fita dupla face), devidamente dimensionados para a espessura e peso de cada painel.

Seja qual for o método escolhido, como reforça Tatiana Domingues, da Paulo Duarte Consultores, as folgas do sistema precisam ser bem dimensionadas para que, quando o vidro encaixilhado estiver exposto ao calor e ao frio, ele possa fazer o movimento de dilatação e de retração sem ter contato direto com outra chapa ou com o caixilho. Também se deve verificar todas as bordas antes do encaixilhamento ou da colagem. “Com frequência, uma lasquinha milimétrica na borda é ignorada na hora de encaixilhar. O profissional pensa que ela vai ficar dentro do caixilho e ninguém vai vê-la. Acontece que, com a dilatação térmica, aquela lasca corre pela placa e leva à formação de trincas”, observa.

Renato Santana, da GlassecViracon, ressalta: “Não se recomenda a fixação de laminados comuns em aplicações estruturais com furos e recortes. Nesse caso, o vidro deve ser laminado feito de temperados”.

Hora da instalação
Essa é a etapa da jornada do vidro em que o vidraceiro está diretamente envolvido. A atenção começa já na chegada das peças. “Durante o recebimento dos laminados, suas bordas devem ser inspecionadas e, caso seja verificada a presença de microtrincas e fissuras, os vidros devem ser rejeitados e devolvidos à processadora”, orienta Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix. “Em hipótese alguma o produto deve ser instalado nessas condições.”

Trinca causada pelo contato direto do vidro com o parafuso: calços e guarnições devem ser especificados e aplicados para garantir a proteção do laminado.

Trinca causada pelo contato direto do vidro com o parafuso: calços e guarnições devem ser especificados e aplicados para garantir a proteção do laminado.

 

Barbosa lista alguns dos erros mais comuns de instalação que levam ao surgimento de trincas:
Ajuste das dimensões das peças do vidro no canteiro de obras: às vezes, por diversos fatores (erros de projeto, erros de medições etc.), as peças de vidro apresentam dimensões maiores do que o necessário, impossibilitando a sua instalação. É muito comum, nesses casos, que o instalador decida cortar a peça de vidro com serras e depois lixar as bordas — porém, esse processo resulta na formação de muitas microtrincas e fissuras nelas, as quais não são totalmente retiradas apenas lixando-as;
Instalação das peças de vidro em caixilhos sem a presença de calços de bordas ou com calços de bordas inapropriados: a norma NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações determina que o vidro não pode ter contato direto com materiais mais duros do que ele e descreve como os calços de borda devem ser especificados, a fim de garantir que as bordas da peça jamais entrem em contato com o caixilho ou com elementos que o integrem. Também devem ser aplicadas guarnições (elementos de vedação que são colocados sob pressão, lateralmente, entre os vidros e os caixilhos) para evitar o contato da peça de vidro com as laterais dos caixilhos;
Peças de vidro muito justas nos caixilhos: ainda por erros de projetos e de medições, o vidro pode estar maior do que deveria para os caixilhos, ficando muito apertado nas esquadrias — com isso, quando o sistema tem dilatação térmica, as bordas ficam sujeitas a tensões que podem trincar o painel;
Espessura do vidro em desacordo com as tensões às quais ele será submetido: um vidro mais fino do que o necessário, por exemplo, apresenta baixa resistência mecânica para as pressões de vento às quais ele será submetido, o que pode levar a trincas e até a quebras;
Choque mecânico após a instalação: mesmo já aplicada no sistema, a placa pode sofrer alguma batida ou impacto que inicia uma trinca que evolui com o tempo.

A arquiteta Audrey Dias, consultora de Esquadrias e Vidros do Grupo Aluparts, chama atenção também para o risco do contato dos laminados com outros componentes do sistema. “Situações em que a quebra do vidro foi originada principalmente pelo contato direto com os parafusos responsáveis pelas fixações dos perfis de alumínio, em razão de calços deficientes ou até mesmo inexistentes, infelizmente, são frequentes”, comenta.

Parafusos salientes devem ser evitados, recomenta Audrey. Por sua vez, os calços devem ser de materiais como polietileno ou PVC; já os de madeira, segundo a arquiteta, não devem ser utilizados, pois apodrecem.

Estresse térmico
O estresse térmico ocorre quando, em uma folha de vidro, a variação de temperatura é alta. “Com o aumento da temperatura em uma seção específica, o vidro se expande, e a tensão de tração resultante dessa expansão na borda ocasiona sua quebra”, explica Jonas Sales, coordenador da Engenharia de Aplicação da Cebrace.

Para evitar esse problema, Sales considera ser importante avaliar:
O ambiente externo em torno da obra: sombras estáticas, temperatura média ao longo do dia, radiação e emissão de raios ultravioleta etc.;
O projeto e a aplicação pretendida do vidro: posicionamento na fachada, cor da esquadria e da persiana, climatização interna (ar-condicionado e aquecedores), entre outros fatores;
As características do produto escolhido: absorção energética, coeficiente de sombreamento, emissividade etc.

Para Fábio Reis, gerente técnico comercial da Guardian, o ideal é sempre consultar um técnico que fará as recomendações adequadas para o tratamento térmico do vidro caso seja necessário, podendo ser temperado ou termoendurecido. “A análise e o gerenciamento do estresse térmico devem ser feitos ainda durante a fase de especificação, pois, caso ele seja apontado no resultado do estudo, será preciso realizar o tratamento térmico do vidro.”

Normas recomendadas para evitar trincas nos laminados
Há uma série de textos técnicos com orientações para a especificação, produção e instalação dos laminados de forma a atender os requisitos de desempenho na obra. Consultar esses documentos é essencial para evitar erros que podem levar ao surgimento de trincas:
NBR 6123 — Forças devidas ao vento em edificações
NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações
NBR 10821 — Esquadrias para edificações
NBR 14697 — Vidro laminado
NBR 14718 — Guarda-corpos para edificação
NBR 16259 – Sistemas de envidraçamento de sacadas

Este texto foi originalmente publicado na edição 572 (agosto de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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