Vidroplano
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Conheça mais sobre a vitrocerâmica

08/05/2023 - 10h46

“Vitrocerâmica”: você certamente já leu essa palavra ao acompanhar as coberturas feitas por O Vidroplano em eventos como a Expo Revestir (veja como foi a edição deste ano clicando aqui), a Feicon e até mesmo a Casa Cor São Paulo – mas você sabe que material é esse? E, apesar do nome, ele tem realmente ligação com o segmento vidreiro? A seguir, algumas empresas que trabalham com esse produto respondem essas e outras perguntas.

A vitrocerâmica é um vidro?
Não há um consenso em relação à resposta à pergunta. De acordo com a Schott, fabricante desse produto, a resposta seria “sim”. “Trata-se de um vidro com funções e técnicas especiais. Ele é resistente a alta temperatura [de acordo com a empresa, é capaz de suportar até 760 °C] e choque térmico, mas exige os mesmos cuidados de manuseio de qualquer outro vidro, como o temperado, principalmente em relação às bordas, que são os pontos de impacto mais frágeis”, explica Fernanda Roveri, gerente de Vendas da empresa no Brasil.

Mas, segundo Edgar Dutra Zanotto, professor-titular-sênior da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a vitrocerâmica não se classifica como tal: “Ela é obtida por meio da cristalização controlada de um vidro, deixando de sê-lo e tornando-se um material policristalino”.

Segundo a Schott, os vitrocerâmicos têm um processo de fabricação característico e um conjunto único de propriedades, combinando os melhores aspectos do vidro e da cerâmica.

Como é fabricada?
A primeira parte do processo é a mistura das matérias-primas em um processo de fusão a 1.600 °C. Vale destacar que não há uma “receita” única para essa etapa. “Diferentemente dos vidros sodo-cálcicos, há centenas de vitrocerâmicas diferentes, cada uma com suas próprias matérias-primas”, explica o professor Zanotto.

“Depois, a massa aquecida é processada a quente em rolos na espessura desejada [semelhante à forma como a espessura é definida na fabricação de vidros texturizados, sem passar pelo banho de estanho como o float]”, destaca Fernanda Roveri. “A etapa seguinte é o resfriamento gradual de 900 °C para 100 °C e a retirada de tensão residual.” Depois, o material é cortado em chapas, as bordas são preparadas com acabamento tipo C, e pode ser feito também o trabalho de decoração de acordo com os projetos específicos de cada cliente, com tinta cerâmica resistente a altas temperaturas – a gerente de Vendas da Schott no Brasil observa que, no caso de vitrocerâmicas incolores, essa pintura não é aplicada nas superfícies mas a decoração pode ser feita nas bordas por meio de outro processo.

A segunda fase da fabricação da vitrocerâmica é a ceramização: nela, o material é novamente aquecido e, então, a tinta usada na decoração se funde à sua massa, não sendo mais possível removê-la, dando ao produto sua cor escura característica. Segundo Fernanda, o processo é diferente do da serigrafia em vidros por envolver temperaturas muito mais altas. Além disso, como as vitrocerâmicas não são temperadas nesse processo, ela aponta que é possível cortá-las após a ceramização.

Se a fabricação desse produto se diferencia em muitos momentos em relação à do float, o beneficiamento de ambos mostra algumas semelhanças. “O processamento da vitrocerâmica é feito em várias etapas — corte, lapidação, usinagem e furação, entre outros processos —, dependendo da aplicação e precisão necessárias para atender o projeto para o qual ela será destinada”, aponta Ricardo Sales, diretor-operacional da Vidrak, empresa que atua no Brasil como processadora e distribuidora das vitrocerâmicas da Schott.

Principais usos no mercado
Há uma ampla gama de aplicações para peças vitrocerâmicas, desde cooktops e lareiras até visores, vidros resistentes ao fogo para construção civil e aplicações para uso espacial como, por exemplo, em telescópios.

“Nossos principais produtos são as vitrocerâmicas incolores, para aplicação em sistemas de aquecimento como lareiras e calefatores, e a vitrocerâmica preta, para instalação em chapas de fogões a lenha e chapas aquecedoras, também conhecidas como bifeteiras”, lista Sales, da Vidrak.

Outra empresa que faz uso desse material no Brasil é a Tramontina. “Essas peças são direcionadas à produção dos nossos cooktops por indução – tanto nos modelos de embutir como nos portáteis – e dos cooktops por resistência elétrica”, informa Felipe Lazzari, diretor da empresa.

Vantagens do vitrocerâmico
Lazzari considera que a principal vantagem desse material está ligada à sua alta resistência a choques térmicos e impactos. “Além disso, por ter uma superfície lisa, facilita a limpeza se comparado a outros materiais; também tem boa resistência contra agentes de limpeza e é compatível com alimentos. E há ainda o fator estético, oferecendo design minimalista aos produtos Tramontina.”

Por sua vez, Sales, da Vidrak, destaca o coeficiente de expansão do produto: “Entre as propriedades únicas do vitrocerâmico estão sua expansão quase zero em uma ampla faixa de temperaturas de aplicação, além da excelente irradiação térmica”.

A Schott alinha outros diferenciais aos vitrocerâmicos:

  • Alta resistência química a ácidos, bases e outras influências químicas;
  • Podem ser usados em condições extremas, sendo capazes de resistir a ambientes adversos, seja na Terra ou no espaço, em condições secas ou úmidas, sob pressão ou no vácuo;
  • Alta homogeneidade;
  • Propriedades ópticas sob medida (transparência, translucidez, opacidade);
  • Possibilidades de design.

Mercado: avanços e obstáculos
Ricardo Sales, da Vidrak, observa que, mesmo que a vitrocerâmica tenha uma ampla gama de aplicações, seu consumo ainda é limitado devido ao seu alto custo, sendo utilizados de fato nos casos em que é necessário utilizar um material especial. “Mesmo assim, é possível notar que o consumo de vitrocerâmicos tem crescido nos últimos anos devido ao aumento dos produtos que estão optando pelo seu uso de olho nos seus benefícios: entre os principais, podemos citar a aplicação em chapas para fogões a lenha, substituindo o uso das chapas metálicas; em portas de calefatores a lenha ou pellet; e na produção de cooktops.”

Cooktops, aliás, podem ser as soluções capazes de impulsionar o segmento de vitrocerâmica. “O mercado para cooktops por indução e radiantes ainda é pequeno se comparado ao convencional produto a gás, mas nota-se um crescimento considerável na procura desses cooktops; em 2022, tivemos um crescimento de 25% em comparação a 2021”, relata Lazzari, da Tramontina. “Para as demais aplicações, não sabemos estimar o crescimento, mas notam-se cada vez mais marcas do segmento de eletrodomésticos oferecendo soluções com vitrocerâmicos.”

Sales chama a atenção para o atual cenário global, em que o planeta ainda não se recuperou totalmente da severa pandemia da Covid-19 e encontra-se em meio a uma guerra na Europa que acaba afetando a cadeia de suprimentos mundiais como um todo. “Frente a essa situação, podemos dizer que o desempenho do mercado em 2022 foi de recuperação, retomada de desenvolvimento de novos projetos e leve aquecimento da indústria consumidora de vitrocerâmica.”

Crédito: denisik11/stock.adobe.com

Crédito: denisik11/stock.adobe.com

 

Perspectivas para o futuro do material
Considerando o cenário observado em 2022, entre crescimentos vividos e dificuldades enfrentadas, como deve ser o mercado de vitrocerâmicos em 2023 e nos próximos anos? Em linhas gerais, as empresas consultadas mostram-se cautelosas mas otimistas.

“Temos boas expectativas de crescimento para esse segmento, pois, além da estética, os vitrocerâmicos são produtos que promovem o desenvolvimento sustentável”, avalia Fernanda Roveri, da Schott. A perspectiva é compartilhada por Felipe Lazzari, da Tramontina, em relação ao consumo de cooktops: “Acreditamos que o mercado continuará crescendo, principalmente para os modelos por indução, que são mais eficientes e que oferecem maior segurança ao usuário; os cooktops radiantes continuam sendo procurados, mas estão sendo substituídos gradualmente pelos produtos com funcionamento por indução”.

“Sabemos que 2023 é um ano desafiador, devido às situações já citadas e ao cenário político no qual sentimos que o mercado está segurando investimentos nesse momento”, comenta Sales, da Vidrak. “Mas temos a expectativa de que, no segundo trimestre, nosso mercado engrene novamente e consigamos atingir níveis de anos anteriores.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 604 (abril de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: lunamarina/stock.adobe.com



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