Vidroplano
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Conheça um pouco mais sobre o BIM

27/09/2021 - 10h16

Quem participa de congressos e workshops nas áreas de arquitetura e engenharia certamente já ouviu muitas vezes palestrantes abordarem a ferramenta BIM. A sigla significa Building Information Modeling (em português, Modelagem da Informação da Construção) e se refere a um modelo virtual de uma obra, contendo todas as características físicas e funcionais dela, assim como as informações pertinentes a seu ciclo de vida.

O BIM, como é conhecido pelos profissionais que o utilizam, pode ser extremamente útil na especificação dos vidros a serem aplicados nessas obras. A seguir, conheça mais sobre essa metodologia, os benefícios que ela oferece e a forma como deve ser utilizada.

Para que serve?
Segundo a arquiteta Miriam Addor, sócia-diretora do escritório Addor & Associados, o principal objetivo do BIM é garantir que toda a informação confiável sobre um projeto esteja concentrada em um só local. “Esse processo começa quando se compra o terreno e se encerra, por exemplo, quando a obra é demolida ou reformada e suas partes são reaproveitadas. Em outras palavras, os dados coletados por essa tecnologia compreendem todo o ciclo de vida de uma edificação, o que pode durar mais de 70 ou 100 anos”, explica.

Isso explica a criação de uma construção virtual da obra, feita de forma integrada e colaborativa entre os diversos profissionais envolvidos nela. Rodrigo Navarro e Laura Marcellini, respectivamente presidente e diretora técnica da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), observam que a utilização do BIM possibilita melhores análises e maior controle ao longo de todas as etapas da construção, do projeto à obra, permitindo cumprir cronogramas e orçamentos com maior facilidade.

Segundo o engenheiro civil Márcio Zapelini Orofino, sócio-fundador e diretor-executivo da ENE Consultores e diretor-executivo da Canteiro AEC (empresa que atua na implementação e uso estratégico da BIM na construção civil), essa metodologia está sempre relacionada a dois aspectos principais: “O primeiro é o dos dados de informação, que se tornam conhecimento e estratégia para tomadas de decisão. O segundo é a representação geométrica, que permite a visualização em um ambiente virtual do que será materializado na prática”.

O vidro no BIM
O uso da ferramenta tem a mesma importância para qualquer elemento construtivo — e o vidro não é exceção. De acordo com Pedro Martins e Fernando Oliveira, respectivamente diretor técnico e gerente de BIM da P. Martins Engenharia, o mercado já tem solicitado atualmente o uso dessa tecnologia para determinar diferentes aspectos do nosso material. Isso inclui:

– Tipologia

– Composição

– Cor

– Acabamento

– Propriedades térmicas e lumínicas

– Quantidade de peças e perfis, tanto para esquadrias entre vãos como para fachadas.

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Orofino, da ENE Consultores e Canteiro AEC, concorda: “Com o aumento das opções de vidros com diferentes propriedades, o modelo BIM é bastante útil ao permitir agregar num único lugar as informações técnicas desses produtos, bem como seus dados dimensionais”.

Tecnologia
Embora o BIM seja bastante vantajoso, Pedro Martins e Fernando Oliveira ressaltam que é necessário forte investimento na aquisição dos softwares para sua implementação – e também para o treinamento e qualificação dos profissionais envolvidos. Porém, Navarro e Laura, da Abramat, ressaltam que, embora a aplicação da ferramenta possa ser trabalhosa e custosa em um primeiro momento, o ganho de escala a partir de seu uso é enorme.

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A arquiteta Miriam Addor destaca que há mais de 200 softwares BIM que trabalham em sistema aberto de colaboração. “Em relação ao uso para a fase de projeto, há algumas ofertas no Brasil voltadas para o desenvolvimento de projetos de arquitetura, estrutura e instalações.”

Ela aponta alguns softwares BIM disponíveis no mercado:

Revit (Autodesk)
Archicad (Graphisoft)
Allplan Architecture (Nemetschek)
AECOsim Building Designer (Bentley)
Edificius (ACCA)

“Já quando se fala em coordenação e compatibilização 3D, podemos citar o Solibri, da Nemetshchek, e o Navisworks, da Autodesk.” Para Miriam, o mais importante ao se adotar o processo BIM é definir o uso que se vai fazer do modelo – assim, pode-se determinar o melhor programa.

Vale enfatizar que há bibliotecas BIM com informações técnicas sobre vidros disponibilizadas por empresas de nosso setor. A Guardian, por exemplo, criou a ferramenta de cálculo Glass Analytics para baixar arquivos BIM de seus produtos nas tipologias mais usuais. Já o site da Cebrace conta com uma aba específica para download dos objetos BIM da empresa – em ambos os casos, é necessário fazer um cadastro para ter acesso aos materiais. A AGC informa que a ferramenta BIM presente na sua divisão europeia está em processo de viabilização para utilização na América do Sul.

Como já mencionado, não basta ter esses sistemas se os profissionais da empresa não souberem utilizá-los. Segundo Márcio Orofino, já existem hoje diversos cursos de qualificação oferecidos, tanto na forma de programas acadêmicos, desenvolvidos dentro de linhas de pesquisa, como na de formação complementar nas próprias universidades. Também é possível encontrar consultores qualificados para treinar uma equipe no uso avançado dessas ferramentas.

BIM no Brasil
“O uso do BIM vem crescendo no Brasil nos últimos cinco anos por parte dos contratantes privados e também do governo”, informa a arquiteta Miriam Addor. Um dos motivos, segundo ela, é a publicação do Decreto Federal Nº 10.306, de 2 de abril de 2020, o qual estabelece a utilização do Building Information Modeling na execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizada pelos órgãos e pelas entidades da administração pública federal. De acordo com o decreto, a partir de 1º de janeiro deste ano todas as licitações de projetos novos ou de reforma de edifícios públicos devem incluir o uso do BIM.

Por outro lado, Navarro e Laura Marcellini, da Abramat, afirmam que ainda há um longo caminho a ser percorrido. “De acordo com pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas em 2018, apenas 9,2% das empresas do setor da construção já haviam implementado o BIM na rotina de trabalho. De lá para cá, houve avanços. Porém, ainda há muitas barreiras”, observa Navarro. Entre as principais dificuldades estão as financeiras (em relação aos softwares, equipamentos e treinamentos necessários), as organizacionais (que dizem respeito à estrutura de colaboradores das empresas) e a demora de adoção e valorização do BIM por todos os agentes envolvidos (projetistas e construtoras, entre outros) para que haja efetivo emprego nos empreendimentos.

Mesmo assim, existem obras em que o BIM foi uma peça chave para sua realização. Um dos projetos de referência elaborado com essa ferramenta é o prédio Birmann 32, em São Paulo, mostrado na edição de janeiro deste ano de O Vidroplano. Trata-se do primeiro empreendimento corporativo com os projetos desenvolvidos inteiramente em BIM. Segundo Márcio Orofino, diversos escritórios de arquitetura estiveram envolvidos na obra – e, em função disso, optou-se por utilizar um misto de modelos desenvolvidos por equipes externas, responsáveis principalmente pelo dimensionamento e pela concepção. Esses modelos foram então passados a uma equipe interna para os manipular e gerar a documentação executiva para a construção.

Outro caso é o do Edifício Grande Ufficiale Evaristo Comolatti, da incorporadora Stan Desenvolvimento Imobiliário, também construído em São Paulo, em que a P. Martins Engenharia utilizou o BIM para especificar todos os parâmetros técnicos importantes do projeto para a etapa de orçamento, contratação, fabricação e instalação das esquadrias e vidros.

Trabalhos como esses mostram todo o potencial que esse sistema oferece. “Entender a finalidade do modelo BIM em cada projeto é de suma importância, pois fará com que as informações nele contidas possam ser compartilhadas de forma correta e legítima por todos aqueles que participam do ciclo de vida da edificação, sejam engenheiros, arquitetos, construtores, planejadores, mantenedores, operadores ou fabricantes”, aponta Miriam Addor.

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Este texto foi originalmente publicado na edição 585 (setembro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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