Vidroplano
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Empresas vidreiras contam suas expectativas para 2021

28/01/2021 - 11h14

De quedas históricas na produção e faturamento ao aquecimento das atividades no segundo semestre, passando ainda pela apreensão de alguma dificuldade na oferta de vidros planos e outros insumos usados pela cadeia. 2020 foi um teste duro para a economia global e para o nosso mercado não foi diferente. O próximo passo é planejar 2021 com base nas lições aprendidas. Para saber qual a expectativa das empresas vidreiras para este ano, O Vidroplano conversou com diversos segmentos do setor, incluindo usinas, fabricantes de maquinários e de acessórios. Veja também alguns dos principais indicadores da indústria e construção civil e o que eles podem revelar para o futuro próximo.

 

Confiança em alta…
Medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Índice de Confiança do Empresário Industrial vem em alta há alguns meses, mostrando que esse setor superou as principais dificuldades encontradas no início da pandemia: houve forte queda em abril, chegando a 34,5 pontos, o menor patamar da série histórica. De junho a setembro, no entanto, apresentou significativa recuperação, ficando estável em outubro. Já em dezembro, marcou 63,1 pontos, crescimento de 0,2 ponto em relação a novembro – valores acima de 50 indicam confiança do empresariado.

 

…produção também
Segundo a CNI, a indústria, de forma geral, já ultrapassou os níveis de produção pré-pandemia e deve retomar a trajetória anterior de crescimento, com aumentos graduais da produção, investimento e emprego. Outro indicador medido pela entidade, a Utilização da Capacidade Instalada permaneceu elevada, chegando a 73% em novembro, reforçando esse aquecimento.

Na comparação com outubro, o número representa baixa de 1%, mas essa foi a primeira queda após seis meses seguidos de alta – e, apesar disso, é superior a todos os novembros desde 2014. Vale levar em conta ainda que esse mês costuma ter atividade industrial reduzida. Por isso mesmo, o número alcançado pode ser comemorado.

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Construção civil
Mais uma vez de acordo com a CNI, a Utilização da Capacidade Operacional desse setor cresceu em novembro: de 61% para 63%, comparando-se com os dados de outubro. O valor é o maior desde dezembro de 2014 e indica que as construtoras estão trabalhando acima do normal para concluir obras paradas desde o início da pandemia – e esse é um bom sinal também para o mercado vidreiro, já que o nosso material entra apenas na fase final das construções.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial da Indústria da Construção também segue em alta, tendo saltado 1,2 ponto em dezembro, alcançado o total de 60,1 pontos (novamente, um número acima de 50 significa que as empresas estão confiantes para fazer negócios).

O economista Fernando Garcia, fundador da Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, foi entrevistado para a edição especial do VidroCast, o podcast da Abravidro. Em sua análise, a construção civil foi um dos poucos segmentos, ao lado da agropecuária e da extração mineral, a ter reação positiva, principalmente por ser incluída entre as atividades essenciais que não precisaram parar durante o período de quarentena. “O setor já vinha numa recuperação importante da crise de 2015 e estava sendo beneficiado pela redução das taxas de juro, o que favoreceu o investimento imobiliário”, comenta.

E o que ocorrerá em 2021? “Acredito que será marcado por um crescimento muito focado na área residencial”, analisa Garcia. Sua justificativa: “Como as pessoas não estão viajando e não estão comprando automóveis, isso as faz terem mais recursos para investir em imóveis”. Por outro lado, edificações comerciais tendem a ficar paradas, “principalmente pelo fato de o comércio varejista ter sofrido perdas gigantescas de faturamento”. Para o economista, os shopping centers se esvaziaram levando à falência de lojas e, por isso, esse setor vai demorar uns dois ou três anos para voltar ao patamar bom de 2019. A construção de prédios de escritórios também deverá diminuir, já que a tendência é as empresas investirem em um modelo híbrido, com espaços menores e envolvendo o home office.

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Setor automotivo
O ano passado reservou pouca coisa boa para o mercado de veículos. O destaque está em dezembro, pico de vendas dos últimos 12 meses, atingindo volume maior que o previsto pelas montadoras, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em relação a novembro, até então o melhor mês do ano, teve alta de 8,4%.

No entanto, 2020 representou a maior queda do setor nos últimos cinco anos. Foram 2,06 milhões de unidades vendidas de carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus, uma baixa de 26,2% ao se levar em conta os números de 2019. A produção também caiu bastante: 31,6% na comparação anual.

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No início de janeiro, a Anfavea apresentou as expectativas para 2021: aumento de 25% na produção e de 15% no licenciamento de veículos. Apesar de números bons, não serão suficientes para se igualar aos patamares de antes de pandemia – estes devem ser atingidos somente em 2023. E o cenário fica mais incerto com o fechamento de fábricas brasileiras de empresas multinacionais, como a Ford e a Mercedes-Benz. “Nunca foi tão difícil projetar os resultados de um ano”, explica o presidente da associação, Luiz Carlos Moraes. “Está chegando a segunda onda da Covid-19 e sabemos que a imunização pela vacina será um processo demorado. Somem-se a isso a pressão de custos, a necessidade de reformas e as surpresas desagradáveis como o aumento do ICMS paulista. Temos diante de nós um quadro que ainda inspira cautela nas previsões.”

 

Setor moveleiro
A produção de móveis em outubro (último dado disponível até o fechamento desta edição) foi 6,1% superior à de setembro. No total, foram fabricados 45,8 milhões de peças naquele mês. A indústria de transformação desse setor também pôde comemorar: aumento de 2,6% na produção em outubro.

Outro número positivo é o consumo aparente de móveis prontos: cresceu 5,8% sobre o de setembro. Claro, nem tudo é notícia boa: os acumulados do ano seguem negativos (6,5% na produção e 9,9% no consumo aparente), causados principalmente no período de início da pandemia. No entanto, o segmento demonstrou clara recuperação na reta final de 2020.

 

E o vidro?
A seguir, veja a opinião das usinas vidreiras que atuam no País. Na sequência, tem-se a análise de fabricantes de maquinários, acessórios e insumos.

 

agcO maior impacto foi no setor automotivo, com queda de 30% no volume. Construção e indústria (ramo moveleiro e de linha branca) tiveram retomadas acima do esperado, fechando o ano em volume dentro do planejado. O saldo é negativo e, por isso, lamentamos todas as dificuldades e perdas provocadas pelo cenário pandêmico. De positivo, tivemos a velocidade de reação e adaptação e o comprometimento de nossos colaboradores.
A expectativa é um 2021 aquecido no primeiro semestre, com tendência ao equilíbrio entre demanda e oferta no segundo. Para isso, serão necessários uma taxa Selic baixa, investimentos em imóveis maiores, reformas com o uso da poupança que a classe média acumulou e a manutenção da taxa de câmbio, dificultando importações.
A oferta de vidros planos aumentou significativamente no segundo semestre, devido a todos os fornos estarem em plena produção. Infelizmente, não acompanhou a alta demanda impulsionada por dois fatores: a recuperação dos volumes represados por conta da quarentena e a recomposição dos estoques de toda a cadeia, reduzidos para preservação de caixa. Esperamos melhor equilíbrio no segundo semestre, após a recuperação desses estoques, e uma demanda mais regular.
O nosso crescimento virá junto com a manutenção do crescimento da construção e da retomada da indústria automotiva. O setor vidreiro pode contribuir para o desenvolvimento do País, seja por meio do apoio ao novo marco regulatório do gás natural, melhorando a competitividade, ou com o combate à sonegação e investimentos em tecnologia, inovação e eficiência.”
Isidoro Lopes, diretor-geral da divisão de Vidros para Construção Civil e Indústria para América do Sul da AGC

cebrace

 

“O primeiro semestre foi sem precedentes na história, enquanto o segundo apontou uma retomada alinhada com o crescimento do segmento residencial. Fomos obrigados a mudar o jeito de trabalhar e de produzir, e o resultado foi a aceleração da transformação digital na Cebrace e no nosso segmento. Foi preciso resiliência e união para encontrar caminhos e soluções junto a associações, clientes e parceiros.
Com as mudanças que geraram realocação da demanda e o benefício do auxílio emergencial, os setores com maior desempenho foram realmente os ligados à construção residencial, principalmente os de reforma e decoração. Nossa expectativa é de que o mercado este ano coloque o setor em um patamar similar ao de 2019 e que haja a regularização natural do fornecimento de vidro ao longo deste ano. Foi uma situação atípica, devido ao baixo nível de estoque em consequência dos impactos da Covid-19.
Com as perspectivas de alta do PIB da construção civil, esperamos um crescimento de 5% para 2021. Mas um ano de sucesso depende de fatores que precisam ser acompanhados, como a ocupação da força de trabalho e o equilíbrio do déficit das contas públicas. Para que tenhamos níveis de crescimento semelhantes aos da década passada, os fatores macroeconômicos fazem a diferença. Alinhado a isso, é de suma importância o trabalho das normalizações e também a existência de uma reforma tributária focada na construção civil.
Confirmamos ainda a manutenção do C2 para o segundo semestre deste ano. Trata-se de uma reforma a frio, com previsão de parada de três meses. Temos acompanhado as tendências do mercado para tomar decisões de forma a antecipar as necessidades dos clientes e não impactar a produção e o fornecimento ao mercado interno. Quanto à construção do forno C6 e à continuidade da nova planta da Vasa, na Argentina, o avanço dos projetos depende do crescimento do mercado e do controle da pandemia.”
Leopoldo Castiella e Reinaldo Valu, diretores-executivos da Cebrace

 

guardian“2020 foi um ano de aprendizado. Toda a nossa equipe se reinventou para continuar atendendo os clientes, mesmo que a distância, sendo que a tecnologia e os canais digitais foram muito importantes nesse processo. E justamente esse isolamento domiciliar, somado à rápida retomada das atividades no segundo semestre, trouxe um desequilíbrio no fornecimento de insumos. Nossa expectativa é de que o reabastecimento seja normalizado ao longo de 2021.
Um dos setores com bom desempenho foi o de vidros para decoração de interiores. Com o home office, muitas pessoas passam mais tempo em suas residências e querem deixar a casa mais aconchegante. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostram que a construção civil deverá ter, este ano, o maior crescimento em oito anos. O PIB desse segmento deve avançar 4%, depois de recuar 2,8% em 2020. Caso a estimativa se confirme, será a maior expansão desde 2013, o que impactará positivamente o setor vidreiro.
Um dos grandes desafios à frente é o trabalho para aumentar o consumo per capita de vidro no Brasil – gira em torno de 8 kg por ano. Esse volume é pequeno quando comparado com Europa (18 kg) e Estados Unidos (15 kg). Entendemos que isso passará pelo maior uso dos vidros de valor agregado, como os de controle solar, que correspondem a uma pequena fração do consumo total do material por aqui, mas tem grande potencial de expansão.
Em relação a novidades para 2021, anunciamos o DecoCristal Off White, novo vidro pintado na cor off white. Em fevereiro, lançaremos um novo vidro de controle solar, com desempenho e estética diferenciados.”
Renato Sivieri, diretor de Marketing da Guardian

 

saint-gobain“A pandemia nos levou a cenários nunca vivenciados e fomos obrigados a nos reinventar algumas vezes ao longo do ano, tanto no lado pessoal como no profissional. Acho que o saldo, do ponto de vista dos negócios, é positivo: nos momentos críticos, realizamos as ações necessárias para proteger nossas equipes e preservar a operação.
Na retomada vivenciada, ainda que sob o efeito da pandemia, maximizamos a produção para abastecer da melhor forma possível o mercado interno. O destaque do ano, sobretudo por conta do home office e do auxílio governamental, está nos segmentos ligados ao residencial, notadamente o de esquadrias, moveleiro e de decoração.
A expectativa para 2021 é boa, pois acreditamos na manutenção do ritmo do segundo semestre. Porém, olhamos com cautela os impactos do atual crescimento dos números da Covid-19 no solo nacional. A estabilidade do cenário macroeconômico, a redução na taxa de desemprego e, obviamente, o controle da pandemia são os fatores que irão determinar o ritmo de nosso segmento neste ano.
Dentre os grandes desafios a serem enfrentados para o crescimento contínuo, podemos indicar o aumento do consumo per capita de vidro, aliado à maior participação de produtos de valor agregado e à maior presença em aplicações nas quais o vidro ainda não é considerado, sendo substituído por outros materiais.
Por isso, o objetivo deve ser aumentar a utilização do nosso produto pelo consumidor final. Todo o setor vidreiro precisa trabalhar nesse sentido, propondo novas aplicações para os clientes e não somente competindo com o que já conhecemos.”
Pedro Matta, gerente-comercial e de Marketing da Saint-Gobain Glass

 

vivix“A sociedade foi estimulada a se reinventar e adaptar o ambiente de trabalho. Esses pontos alteraram os hábitos do consumidor final, inclusive na cadeia do vidro plano, o que trouxe uma mudança positiva. Terminamos o ano com resultados melhores do que imaginávamos para uma época de pandemia.
Com essa alteração no estilo de vida, houve uma intensa busca por melhoria dos ambientes residenciais — e isso deverá permanecer pós-pandemia. Em algumas cidades do País, também registrou-se aumento de demanda para vidros para fachadas. Além disso, a baixa taxa de juros foi um dos fatores que ajudaram a movimentar o setor imobiliário no segundo semestre.
Estamos otimistas em relação a 2021. Esperamos um início de ano ainda de forte demanda, seguido de uma acomodação natural do mercado no decorrer dos meses, porém com bom desempenho anual. Em relação ao fornecimento, acreditamos que ficará mais estável ao longo do ano, visto que, no ano passado, todas as empresas do segmento passaram por períodos longos de paradas de produção.
O grande desafio continua sendo a valorização de nosso produto e suas aplicações. Um material nobre como o vidro não deve ser tratado como commodity. De forma geral, o mercado vidreiro precisa evoluir na qualificação da cadeia como um todo, especialmente daqueles que têm o contato direto com o consumidor final.
A Vivix está finalizando os projetos e orçamentos para a construção de sua segunda planta, decisão tomada no ano passado. Em muito breve, teremos orgulho em anunciar a todo o mercado os detalhes sobre local e a data de início da obra.”
Henrique Lisboa, presidente da Vivix

 

abrasipa“Sem contar o início da pandemia, o ano foi excelente. O segundo semestre mostrou-se muito aquecido, e não só na construção civil, mas no consumo de ferramentas abrasivas em geral. Notamos urgência nas solicitações e estávamos a postos para atender de forma rápida. A expectativa para 2021 é de grande crescimento: o avanço das obras aliado à baixa taxa de juros compõe o principal cenário desse entusiasmo.”
Gabriel Leicand, diretor da Abrasipa

 

 

gusmão“Em meio àquele cenário de ‘final dos tempos’, a partir do fim de abril o mercado reagiu e começamos a trabalhar. Estávamos com o estoque abastecido para as vendas pós-carnaval e tivemos uma boa retomada. Acredito no crescimento e na continuidade da construção civil, mas temos de estar muito atentos aos movimentos que podem acontecer, apesar da positividade.”
Yveraldo Gusmão, diretor-presidente da Gusmão-GR

 

 

diamanfer“2020 foi um ano de evolução. Apesar de todos os obstáculos (pandemia, desaceleração, câmbio, falta de matéria-prima etc.), tivemos resultados satisfatórios. Normalmente já temos um aquecimento no segundo semestre, mas fomos surpreendidos a ponto de termos de contratar mão de obra e iniciar outros turnos de trabalho. Estamos com projetos de melhoria produtiva, os quais devemos concluir no primeiro semestre.”
José Pedro Ruiz, diretor-comercial da Diamanfer

 

 

kuraray“Depois do primeiro semestre desafiador, a Kuraray obteve notável recuperação, empurrada pelo crescimento do mercado de construção civil. Um dos marcos nesse período foi o envidraçamento estrutural da plataforma de vidro Skywalk, em Canela (RS). A expectativa para 2021 é aumentar nossa presença com esse tipo de instalação. Esperamos que as vacinas contra a Covid-19 contribuam para retornar à normalidade até o final deste ano.”
Otávio Akinaga, coordenador de Vendas Técnicas da Kuraray

 

 

eastman“Em 2020, a Eastman completou 100 anos de existência. A construção civil apresentou uma retomada muito forte, mas, mesmo assim, conseguimos operar nossas plantas em âmbito global, minimizando os impactos para nossos clientes. Ainda há incerteza global sobre o avanço das economias, porém, estimamos que o Brasil, pelo menos nos próximos meses, tende a manter o forte ritmo apresentado ultimamente.”
Daniel Domingos, gerente-comercial para a América Latina da Eastman

 

 

lisec“Agimos com rapidez no início da pandemia e minimizamos os impactos. Aprendemos a trabalhar de forma diferente e terminamos o ano acima da expectativa prevista no primeiro semestre. Os negócios foram bons em máquinas novas e revisadas, e também sentimos grande demanda em peças de reposição e projetos de atualização de sistemas operacionais. As perspectivas para 2021 são boas e a concretização delas dependerá da velocidade imprimida pelo governo ao plano nacional de imunização.”
Luiz Garcia, diretor da Lisec

 

 

sglass“Apesar do susto de seu primeiro impacto, com o início das paralisações por conta da pandemia, o ano de 2020 foi muito bom comparado ao anterior. Realmente, o segundo semestre nos surpreendeu e nossas vendas foram alavancadas de forma extraordinária. As expectativas para este ano são muito positivas: esperamos que haja aumento em torno de 10% a 15% em relação aos negócios do ano passado.”
Marcelo Peri Lamezon, gerente-comercial da Sglass

Este texto foi originalmente publicado na edição 577 (janeiro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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