Manancial de conhecimento técnico
03/09/2015 - 16h41
Maior congresso vidreiro do mundo, GPD Finlândia 2015 está mais interativo e com público renovado
De 24 a 26 de junho, os olhos do setor vidreiro estavam voltados para Tampere. A cidade finlandesa recebeu mais uma vez o Glass Performance Days (GPD), o maiorcongresso técnico sobre vidro do mundo. Ao todo, mais de quinhentos profissionais das mais variadas regiões do planeta participaram da 15ª edição do evento, o qual teve a Abravidro como apoiadora oficial e cobertura exclusiva de O Vidroplano.
Busca pelo conhecimento
Neste ano, a maioria dos inscritos participou pela primeira vez do GPD, resultado do trabalho dos organizadores em atualizar o evento. O perfil do público também era bastante diversificado, formado por pesquisadores, especificadores e profissionais de elos distintos da cadeia vidreira. O grupo de brasileiros, por exemplo, tinha representantes das áreas técnica, de processamento, de maquinários de engenharia e de vidraçaria — veja seus depoimentos sobre o congresso na página 41. Junto deles estava Celina Araújo, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano — mais uma vez, fomos o único veículo de imprensa da América do Sul a fazer a cobertura jornalística do GPD na Finlândia.
Na abertura, as tendências
Jorma Vitkala, chairman do comitê organizador do GPD, conduziu as atividades da cerimônia de abertura, no dia 24. Falaram também a prefeita de Tampere, Anna-Kaisa Ikonen; o CEO e presidente da Glaston, Arto Metsänen; o arquiteto Kai-Uwe Bergmann; e o membro da empresa de engenharia Aecom, Dale Sands. Naquele momento, foram apresentadas algumas das tendências a serem adotadas pelo mercado no futuro próximo.
Interatividade
A característica principal do GPD se manteve: um volume enorme de conteúdo técnico — foram 120 palestras divididas em 12 sessões nos dias 25 e 26. A principal novidade desta edição eram as ações interativas por meio de serviços digitais durante as apresentações, como reuniões agendadas previamente no site do evento e votações em tempo real. Somadas às já tradicionais oportunidades de networking entre os congressistas, essas iniciativas ofereceram aos par ticipantes uma nova forma de se criar contatos durante o congresso.
Conteúdo técnico
Em uma das palestras, definiram-se os participantes do GPD como sendo os “nerds do vidro”. O fato é que ali se tem a chance de trocar experiências sobre assuntos muito específicos e seus especialistas, algo raríssimo de acontecer.
E, por falar em raridade, dessa vez o Brasil foi inserido no contexto mundial do vidro, tendo sido mencionado em uma apresentação sobre o panorama de fabricação de float no planeta. Chamaram a atenção do palestrante as diversas inaugurações de plantas em pouco tempo e as medidas antidumping adotadas pelo governo brasileiro para as importações do produto. “Passou o tempo em que éramos incluídos como o ´resto do mundo´ nas estatísticas do setor. Tenho muito orgulho em acompanhar de perto essa evolução,” relata Celina, participante do congresso pela quinta vez.
Abravidro na Finlândia
Desde 1999, a Abravidro está presente no GPD. Em 2001, o então presidente Gilberto Ribeiro ministrou palestra em nome da associação. Este ano, ela foi uma das apoiadoras oficiais do congresso, tendo seu logotipo presente nos materiais oficiais do evento. A revista O Vidroplano marcou presença mais uma vez, com seus exemplares expostos e distribuídos aos participantes durante o coffee break.
O futuro já chegou
Como já é tradição, a cerimônia de abertura do GPD reuniu nomes de peso para apresentar suas visões sobre as tendências atuais e futuras do uso do vidro. Arto Metsänen, da Glaston, retomou um tema destacado durante a feira alemã Glasstec, em 2014: o crescimento na aplicação dos vidros finos, os quais proporcionam maior flexibilidade e, com os devidos tratamentos, maior resistência.
O arquiteto Kai-Uwe Bergmann preferiu abordar a aplicação do vidro na construção civil moderna. Para isso, mostrou estudos de caso de diversos projetos ao redor do mundo, incluindo resorts para esqui na Suíça e prédios residenciais em Miami. Ele acredita que o vidro deve ampliar seu uso como elemento estrutural e também em formatos curvos.
Sustentabilidade foi o tema de Dale Sands, da Aecom. Ele reforçou a necessidade de se construir prédios mais resistentes e “verdes”, mudando padrões da indústria e permitindo a criação de cidades menos poluídas.
Na sequência, houve uma mesa redonda com representantes das patrocinadoras (Kuraray, Dow Corning, Glaston e Waagner-Biro). Ali, debateram-se os caminhos para o desenvolvimento do mercado. Vale registrar a visão de Jean-Paul Hautekeer, diretor de Marketing da Dow Corning, para quem a interferência digital no modo de trabalhar das indústrias é um caminho sem volta. Ele mencionou o aplicativo Uber, que tem mudado as referências sobre o serviço de táxi ao redor do mundo, e acredita que novas plataformas serão criadas em breve, causando revoluções também em outros mercados. Portanto, sua sugestão é que as empresas vidreiras deixem de ser “estáticas” e passem a adotar ações que as aproximem cada vez mais de seus clientes.
Números relevantes
Uma sala pequena do Tampere Hall, onde é realizado o GPD Finlândia, acomodou uma das palestras mais polêmicas do GPD 2015. O consultor independente Bernard Savaëte, da BJS Différences, ofereceu um panorama global sobre o mercado vidreiro com o tema Dois anos (2013 e 2014) na indústria mundial de vidroplano — fatos e análises. Foi mostrado um levantamento completo sobre o número de plantas de float inauguradas no período e a variação do preço do produto. Segundo Savaëte, o valor do vidro está caindo em todo o planeta, fator motivado pela discrepância entre a alta capacidade produtiva e a demanda menor. A China, o maior produtor mundial, é obrigada a exportar grande parte da produção,o que muitas vezes desestabiliza o mercado de outros países.
O Brasil foi citado por conta do início da produção das fábricas da AGC e Vivix e da implementação, por parte do governo federal, do direito antidumping contra importações ilegais.
Palestras: vidro na arquitetura
No dia 25, o Fórum de arquitetos contou com a presença de um conhecido dos brasileiros: o engenheiro inglês James O’Callaghan, do escritório Eckersley O’Callaghan, palestrante das edições 2012 e 2014 do GPD South America, em São Paulo. O profissional relembrou alguns temas abordados durante as visitas ao Brasil, descreveu obras de sua autoria, como as lojas envidraçadas da Apple existentes em diversas cidades do planeta, e revelou conceitos de processamento inovadores, incluindo o desenvolvimento de fornos de têmpera gigantes e a laminação de ferragens dentro do vidro.
O arquiteto Christoph Timm, da SOM Architects, mostrou os detalhes do One World Trade Center, erguido no lugar do antigo World Trade Center em Nova York, Estados Unidos. O prédio ganhou revestimento de vidro e também uma espécie de brise na parte mais baixa da fachada. Essa estrutura pode ser regulada de acordo com a condição climática: permite mais entrada de luz natural no interior durante dias claros, por exemplo.
Outra obra citada com destaque: o museu Guggenheim Helsinki, a ser construído na capital finlandesa Helsinque. Rainer Mahlamaki, do escritório Lahdelma & Mahlamaki, explicou como se deu o concurso que escolheu o projeto arquitetônico do espaço em que serão aplicados vidros nas fachadas para integrar os ambientes.
Congresso tecnológico
Interatividade foi a palavra-chave do GPD 2015. Afinal, segundo a organização, a tecnologia se transformará na principal ferramenta para a criação de novos negócios.
A presença de serviços digitais permitiu maior proximidade entre os congressistas. Foi possível agendar reuniões com outros profissionais e participar de votações em enquetes destinadas ao público — sistema semelhante ao usado pela Abravidro no Simpovidro 2011.
Havia ainda o “muro de mensagens”, um telão localizado no auditório principal e no espaço do coffee break. Nele, exibiam-se fotos e mensagens com a hashtag oficial do evento (#gpd15) compartilhadas em redes sociais por pessoas dos mais diversos países. Os posts feitos pela equipe de O Vidroplano apareceram por lá (e eram os únicos que não estavam em inglês).
Contatos com todo o mundo
Como complemento às palestras técnicas, os participantes tinham muitos momentos destinados ao networking e à troca de conhecimentos entre os congressistas. A festa Get Together Party, por exemplo, celebrou a abertura do evento ao som de música típica finlandesa tocada com instrumentos locais, como o kantele, uma mistura de harpa com corpo de piano. Na quinta-feira, a organização realizou o jantar de gala Conference Dinner. Por fim, no último dia, a Farewell Party reuniu os participantes em clima mais descontraído, num castelo à beira de um lago
Programação inclui visita a fabricante de maquinários
Os participantes também tiveram a oportunidade de visitar a fábrica da Glaston, localizada nas proximidades do pavilhão de exposições do GPD. Ali foram apresentadas ao público algumas novidades, como o forno de têmpera GlastonAir especial para vidros finos, com 2 mm de espessura. Outro forno mostrado em funcionamento, o FC1000 possui o scanner iLook, que envia informações em tempo real sobre a qualidade da têmpera ao operador.
Veja a opinião dos brasileiros presentes no GPD 2015
Os depoimentos completos você acessa em www.abravidro.org.br
“Fui ao GPD pela primeira vez e fiquei bastante impressionado com a diversificação dos temas das palestras. Não imaginava a quantidade e qualidade dos estudos feitos ao redor do mundo envolvendo situações banais do cotidiano do profissional do vidro.”
Claudio Bremm
Diretor da Glax Vidros, Guarapuava (PR)
“Ir a Tampere permite acesso a estudos técnicos e tendências que indicarão o rumo do vidro nos próximos anos. Entre os destaques de conteúdo, está o vidro estrutural. Outra tendência é a digitalização das informações produtivas da indústria de processamento de vidro.”
Daniel Scarpato
Diretor-industrial da GlassecViracon, Nazaré Paulista (SP)
“Os temas das palestras trouxeram teorias possíveis de se colocar em prática na empresa. Vejo como diferencial dessa edição a idade dos participantes: muitas pessoas jovens trouxeram inovação para o mercado do vidro.”
Eloi Bottura
Gerente-geral de Serviços da Glaston South America
“Estive pela primeira vez no GPD e o que chamou minha atenção foram as palestras sobre laminação, um mercado que tem crescido muito no Brasil e uma área em que atuo bastante. Destaco a ampliação dos usos de PVBs especiais.”
Fernando Ferreira
Projetista elétrico da Glaston South America
“Pela primeira vez no evento, achei-o muitíssimo organizado, com temas técnicos cujo conteúdo não chega ao Brasil. Essa é uma chance que tenho de levar o conhecimento técnico que aprendi para nosso país.”
Marcio Sato
Supervisor de Pesquisa e Desenvolvimento da Glaston South America
“O GPD está mais interativo, buscando maior compartilhamento das informações com os participantes. Percebo a renovação das lideranças internacionais do vidro. Estou muito satisfeito e feliz com o envolvimento desses jovens. Isso gera uma boa perspectiva para o futuro do mercado vidreiro.”
Moreno Magon
Vice-presidente da Glaston South America
“Essa foi a sexta vez que participo do GPD e essa diversificação dos participantes enriquece bastante — reflete o perfil do mercado, o qual também é bastante diverso. Em relação ao conteúdo, verifico uma sinalização de mudança nos projetos mundiais de arquitetura. As novas tecnologias estão influenciando o atendimento às exigências de sustentabilidade das edificações.”
Raimundo Calixto Melo
Responsável técnico pela RCM Engenharia de Estruturas, Fortaleza
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