Vidroplano
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Escudo invisível

16/06/2015 - 15h30

Conheça mais sobre a composição, testes e novidades para vidros blindados

O crescimento da violência urbana tem levado a população a buscar cada vez mais formas de garantir a segurança. Uma delas é a blindagem. De acordo com levantamento divulgado em julho de 2014, pela Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin), 10.156 veículos foram blindados apenas no ano de 2013, crescimento de mais de 21% em relação a 2012. Vale ressaltar que vidros blindados também são bastante aplicados na construção civil — em guaritas, por exemplo —, como veremos a seguir.

No Brasil, a ABNT possui uma norma única para todos os tipos de blindagem: trata-se da NBR 15000 — Blindagens para impactos balísticos — Classificação e critérios de avaliação, que considera dois tipos de blindagem: a opaca e a transparente. Esta última diz respeito aos vidros resistentes a impactos balísticos, popularmente conhecidos como vidros blindados. Embora as aplicações veiculares ou arquitetônicas tenham aumentado no País, muito sobre esse material ainda é desconhecido.

Para esclarecer o leitor de O Vidroplano sobre o tema, nossa reportagem conversou com vários especialistas envolvidos nesse mercado a fim de apresentar um pouco mais sobre a fabricação, ciclo da cadeia produtiva, regulamentação e aplicações dos vidros blindados.

 

Um produto, múltiplas composições

O vidro blindado é um tipo de multilaminado. Isto é, um “sanduíche” reforçado composto por várias lâminas de vidro float intercaladas por películas plásticas como o polivinil butiral (PVB) ou por resinas. O diferencial é sua finalidade: “Os vidros blindados são aqueles que atendem à NBR 15000”, explica Carlos Henrique Mattar, gerente de Marketing da Cebrace. “Ou seja, devem ser testados segundo essa norma brasileira e oferecer proteção balística para os ocupantes de automóveis, construções residenciais ou comerciais.”

Além das lâminas de vidro e películas ou resinas intermediárias, que têm como finalidade a desaceleração dos projéteis, o blindado também costuma levar em sua composição materiais como lâminas de policarbonato (tipo de plástico composto por ligações de carbono com oxigênio) e o poliuretano, que promove a adesão entre as camadas de policarbonato. Também pode contar com uma película interna para evitar o desprendimento dos estilhaços do vidro.

No entanto, não há uma fórmula única para a composição do vidro blindado. A NBR 15000 não especifica sua espessura, o número de camadas ou o tipo de materiais a ser usado em sua montagem. Ela apenas aponta o desempenho que devem apresentar com relação à resistência balística. “Cada empresa desenvolve a composição do produto de acordo com a familiaridade e as estruturas de fábrica que possuem”, conta Jefferson Martins, engenheiro civil da processadora paulista PKO do Brasil.

 

Regulamentação militar

Antes de serem comercializados, os vidros blindados precisam ser registrados junto ao Exército Brasileiro, que então realiza os testes do material. O ensaio de resistência balística determinado pela norma considera:

  • A avaliação do impacto (compreendendo o ângulo de incidência, a velocidade do projétil, a munição e o impacto pela bala num determinado ponto do corpo de prova);
  • O posicionamento e a sequência dos disparos a serem feitos;
  • A preparação dos corpos de prova — ou seja, a amostra do vidro blindado a ser testado deve ser acondicionada em ambiente com temperatura e umidade do ar especificados pela norma;
  • A face do ataque;
  • A presença de umidade.

Segundo a NBR 15000, somente depois de passar pelas etapas citadas é que os corpos de prova são posicionados para receber os impactos. A resistência é determinada pelo tipo de munição e o corpo de prova é considerado aprovado se não houver perfuração na folha de alumínio que é colocada a uma distância de 15 cm sobre a face contrária à face do vidro alvejado.

Após a conclusão do procedimento, o Exército emite o Relatório Técnico Experimental (Retex) sobre o teste, informando se o produto foi aprovado ou não para o nível de proteção que ele se propõe conferir (veja quais são os níveis determinados pela NBR 15000 na tabela a seguir). Apenas com essa autorização, a empresa pode produzir e vender seu vidro blindado.

Mas a certificação não acaba aí. “É obrigatório que o fabricante tenha o Título de Registro (TR) emitido pelo Exército e reporte mapas trimestrais de movimentação — fabricação e vendas — para a Polícia Civil”, observa Edson Akio Michida, diretor da área de blindados da Terra de Santa Cruz Vidros. “Além disso, os produtos só podem ser comercializados diretamente com blindadoras e instaladoras homologadas pelo Exército por meio do Certificado de Registro”, complementa.

Nível de proteção do sistema de blindagem quanto ao impacto balístico

A tabela abaixo apresenta os critérios necessários para que um material blindado seja aprovado para cada nível de proteção considerado pela NBR 15000. A munição empregada (tipo e calibre), a massa do projétil (em g, com margens de tolerância), sua velocidade (em m/s, com margens de tolerância) e o número de impactos são considerados para essa verificação.

Nível Tipo de munição Massa do projétil(g) Velocidade do projétil(m/s) Número de impactos
I .22 LRHV Chumbo 2,6 ± 0,1 320 ± 10 5
.38 Special RN Chumbo 10,2 ± 0,1 254 ± 15 5
II-A 9 FMJ 8,0 ± 0,1 332 ± 12 5
.357 Magnum JSP 10,2 ± 0,1 381 ± 12 5
II 9 FMJ 8,0 ± 0,1 358 ± 15 5
.357 Magnum JSP 10,2 ± 0,1 425 ± 15 5
III-A 9 FMJ 8,0 ± 0,1 426 ± 15 5
.44 Magnum SWC GC 15,6 ± 0,1 426 ± 15 5
III 7.62 x 51 FMJ(.308 – Winchester) 9,7 ± 0,1 838 ± 15 5
IV .30 – 06 AP 10,8 ± 0,1 868 ± 15 1

 

Novidades à prova de balas

Mesmo com o uso de vidros blindados crescendo no Brasil, as empresas permanecem enfrentando uma série de desafios. Um deles é o preço, pouco convidativo. “Como quase todos os materiais aplicados para essa produção são importados, a alta do dólar é um grande desafio para a manutenção do setor hoje”, explica Edson Akio, da Terra de Santa Cruz.

Na área automotiva, Gerson Branco, da Gepco, lembra da busca pela produção de vidros blindados que sejam cada vez mais leves e, simultaneamente, cada vez mais resistentes. Na construção civil, Cláudio Passi, diretor-geral da Conlumi, destaca que o setor exige produtos com maior resistência, pois nunca se sabe o calibre que será usado em uma ocorrência. Por sua vez, Laudenir Bracciali, da Glasshield, aponta a existência de empresas mal-informadas ou mal-intencionadas que colocam produtos de baixo desempenho no mercado, denegrindo o trabalho do setor como um todo.

Para superar esses obstáculos, companhias no mundo todo têm investido no desenvolvimento de novas tecnologias. No Brasil, a Fanavid trabalha com o Fanavid Premier. “Trata-se de um vidro menos espesso e mais leve. Com a aplicação de um polímero de ponta, temos como garantir a mesma proteção com lâminas mais finas de vidro”, afirma Roberto Holzheim, gestor-comercial da Fanavid. Segundo ele, o produto está atualmente em etapa de validação e aprovação junto ao Exército.

A busca por vidros blindados mais leves e mais resistentes é uma das maiores tendências no setor. Um dos procedimentos pesquisados, de acordo com Akio, é o endurecimento de algumas lâminas de vidro pelo processo de têmpera química, usado em vidros aplicados em smartphones. Nele, o vidro é imerso em um tanque com sais de potássio a altas temperaturas: assim, os íons de sódio na superfície do material são substituídos por íons de potássio, maiores, formando nela uma fina camada compressiva. Com essa técnica, é possível aumentar a resistência do material à penetração do projétil sem a deformação da lâmina.

Outra tecnologia recente é a dos sensores de para-brisas, capazes de detectar presença de chuva e queda de luminosidade em um ambiente, entre outras características. “A Glasshield desenvolveu um recorte no bloco balístico para um encaixe perfeito desses sensores, o que proporciona acabamento perfeito entre eles e o vidro”, relata Bracciali.

Proteção em casa

Automóveis, guaritas e carros-fortes não são os únicos espaços em que vidros blindados podem ser aplicados. Branco, da Gepco, lista o uso recente do material em tratores florestais, máquinas operatrizes, quadros de distribuição de energia em alta voltagem e trens de alta velocidade. Holzheim, da Fanavid, lembra que mais de 70% das casas lotéricas no Brasil já empregam esses produtos.

O vidro blindado também vem sendo cada vez mais aplicado em projetos de arquitetura e construção civil, como fachadas de edifícios e janelas de grandes residências. “Para isso, estuda-se a aplicação do nível exigido de proteção desejado pelo cliente, o que envolve paredes, teto, portas, caixilhos e os próprios vidros”, indica Passi, da Conlumi.

“Vários projetos de arquitetura vêm observando os benefícios que os vidros blindados podem conferir às edificações”, comenta Holzheim. “Além da proteção conferida contra impactos de projéteis, eles também proporcionam conforto térmico e solar ao ambiente interno.”

Automotivo x construção civil

Vidro blindado automotivo

  • Busca pela leveza da peça final, a fim de não prejudicar a estrutura e desempenho do automóvel;
  • Curvado em forno a altas temperaturas;
  • Destinado a blindadoras ou montadoras automotivas;
  • Não pode apresentar distorção óptica superior a 0,04 dioptria para as áreas do para-brisa e do vidro traseiro em que o ângulo de visão do motorista é mais direto (dioptria é a unidade de medida que afere a capacidade de algo transparente modificar o trajeto da luz)*;
  • Deve ter transmissão luminosa mínima de 60%*.

Vidro blindado para construção civil

  • Não há exigência de ser mais leve
  • Geralmente é plano (dispensa etapa de curvação);
  • Destinado a instaladoras;
  • Não há normas que especifiquem limites para distorção óptica ou transmissão luminosa em vidros blindados para a construção civil.

*Conforme determinado pela NBR 16218 — Vidros de segurança resistentes a impactos balísticos para veículos rodoviários blindados — Aspectos visuais e ópticos — Requisitos e métodos de ensaio

O caminho do vidro blindado

1) A jornada do vidro blindado tem início com a fabricação das chapas float;

2) Da usina de base, essas chapas chegam às processadoras: são beneficiadas, seguem para a montagem do “sanduíche” e a peça é submetida ao processo de aumento de temperatura e pressão;

3) Após produzido e inspecionado, o vidro blindado automotivo pode ser encaminhado diretamente às montadoras automotivas ou para blindadoras, empresas especializadas na blindagem de veículos. Já o blindado para construção civil segue para as instaladoras.

É permitido blindar os vidros do automóvel sem blindar o restante do veículo?

Segundo a Abrablin, não. “O Exército já se manifestou claramente proibindo tal procedimento”, afirma Laudenir Bracciali, presidente da associação e diretor da Glasshield. “Quem assim age não está apenas descumprindo a recomendação do órgão fiscalizador, ficando sujeito às sanções regulamentares, mas também está colocando a vida do consumidor em risco, pois este, ao usar um veículo parcialmente blindado, pode se sentir protegido.”

Proteção alternativa

Como alternativa à aquisição e instalação de vidros blindados, cujos custos ainda são altos, algumas empresas oferecem a aplicação de películas de segurança sobre o vidro automotivo já instalado, não blindado, por um preço mais acessível. No entanto, Branco, da Gepco, alerta: “Não há no mercado mundial nenhum tipo de película protetora que confira resistência balística a um vidro normal”. Bracciali, da Abrablin e Glasshield, acrescenta: “Não pode ser assegurado de modo algum para os consumidores que a aplicação dessa película conferirá proteção contra agressões de armas de fogo. Se alguma empresa proceder assim, fará uma falsa publicidade de seu produto e poderá colocar em risco a integridade de seus clientes”.

Fale com eles!

ABNT — www.abnt.org.br

Abrablin — www.abrablin.com.br

Abravidro — www.abravidro.org.br

Cebrace — www.cebrace.com.br

Conlumi — www.conlumi.com.br

Fanavid — www.fanavid.com

Gepco — www.gepco.com.br

Glasshield — www.glasshield.com.br

PKO do Brasil — www.pkodobrasil.com.br

Terra de Santa Cruz Vidros — www.terradesantacruzvidros.com.br



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