Vidroplano
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“Existe confiança de que o caminho será de crescimento”

21/09/2018 - 10h51

O C6 foi anunciado pela primeira vez em 2010. Agora, com o posicionamento oficial da Cebrace sobre o projeto (veja mais clicando aqui), é possível apontar uma data para o forno ficar pronto?
Leopoldo Castiella — É cedo para colocar um prazo nesse projeto. Primeiro é preciso ver qual será o cenário político e macroeconômico por conta das eleições. Agora, uma vez que essas variáveis estejam organizadas, nós queremos ter a casa preparada.

Duas coisas mudaram substancialmente desde aquele anúncio na Bahia, em 2010. Naquele momento, entendíamos que o forno da Vivix seria menor. Então, poderia ter espaço para duas empresas no Nordeste. Mas vieram a crise e uma planta gigantesca da Vivix. Ou seja, a região estava atendida, não precisava de mais.

Além disso, nosso grupo tem foco no valor agregado. E toda nossa operação desses produtos está em São Paulo. O custo de transportar esse vidro seria muito grande.

caçapava_okQual mix de produtos o C6 vai gerar?
Castiella — Será destinado para o automotivo. Estamos olhando bastante para o futuro, pois os requerimentos de qualidade desse mercado daqui uns cinco anos serão completamente diferentes dos de hoje. Você vai ter para-brisa com toda a eletrônica embutida no vidro e isso vai requerer uma discrepância óptica muito baixa, um esforço que depende do desenho do próprio forno para atender. Nossa visão é ter uma linha nova especializada para isso e dedicar o C2 para fabricar a linha de espelho. Teríamos uma redução de custo de logística extremamente significativa.

Qual será a tonelagem do C6?
Castiella — Isso está sendo discutido porque a especificação do forno é um tanto complexa. Gostaríamos de ir para algo criativo e diferente do que o grupo tem feito até agora, mas existem desafios no nível de engenharia que precisam ser equacionados. Algo para se levar em consideração é que fornos automotivos geralmente são de tonelagem menor, porque requerem uma extração mais baixa para conseguir uma qualidade diferenciada.

O que vocês podem falar em relação à reforma do C2, em Caçapava (SP)?
Castiella — Está prevista para 2020. Pode ser um pouco antes ou um pouco depois. Isso vai depender do acompanhamento que a engenharia faz. Hoje, o forno está dedicado à indústria automotiva, mas, como já citado, passará a produzir para a construção civil. A princípio, será um reparo tradicional durando noventa dias.

Reinaldo Valu — É importante enfatizar que é um tema para 2020, ninguém precisa ficar preocupado agora (risos).

O mercado ainda está traumatizado com os problemas de abastecimento que se seguiram a uma parada de forno para manutenção no ano passado. Como a Cebrace vai se preparar para os problemas não se repetirem?
valu_okValu — Na verdade, não reconhecemos uma situação de falta do produto. Por conta de um acerto de contingências, não temos disponibilidade de carregamento de um dia para o outro, por exemplo. Se nossos clientes fazem pedidos, serão atendidos com prazo de uma semana a dez dias. Não está no nível just in time que todos gostaríamos, mas ainda está dentro do razoável. No que se refere à disponibilidade, vemos um mercado que está abastecido. E isso é argumento suficiente para explicar que não existe desabastecimento, pois a grande questão que poderia motivar algo assim seria a falta efetiva do produto. Em relação a 2020, são momentos diferentes, porque se fala dessa reforma, se fala de um cenário em que existirão dois novos fornos na região: o da Vasa, na Argentina, e o da AGC, previsto para 2019. De toda maneira, como precisamos estar preparados a partir de nossos recursos, partiremos com o da Vasa e geraremos um “excesso de vidro” que pode ser consumido durante o reparo do C2, sem gerar estresse para o mercado.

Castiella — Quando se faz uma reforma de forno, programa-se antecipadamente, pois há um custo e é preciso gerar estoque. A Cebrace tem feito reparos nos últimos anos, a Vasa também fez em situação pior, sendo a única produtora nacional — e nem por isso deixamos de atender o mercado. É uma questão de planejamento e compromisso com o mercado. Ou você gasta um pouco mais para oferecer serviço ou maximiza o seu resultado — e, com isso, o cliente que se vire como puder. Cada um faz as escolhas que são adequadas para cada empresa. Historicamente, sempre temos trabalhado na região tentando ter máxima responsabilidade com os clientes.

Em relação ao forno da Vasa, que será construído pela NSG/Pilkington, qual o andamento do projeto?
Castiella — Hoje, estamos mandando de 80 mil a 100 mil t de vidro para a Argentina. A ideia com essa planta é fazer com que se volte a produzir tudo que se consome. Tínhamos começado a construção da fábrica em 2011. Nesse local, usado pela Vasa para fazer estocagem, já havia sido feita até mesmo a terraplenagem do terreno e a parte de engenharia da obra. No entanto, pela crise que ocorreu naquele momento no país, decidimos parar. Agora, quando retomamos, a ideia é que esse projeto esteja pronto no começo de 2020, para dar tempo para que nós nos preparemos em relação à parada do C2.

Esses investimentos sinalizam que, apesar de ainda existirem grandes dificuldades, há uma luz no fim do túnel?
Valu — Nossa visão é de retomada e de confiança nos mercados da região. Quando falamos de um investimento desse nível, há muita confiança por trás disso. Sabemos que nossas economias passam por ciclos, mas, em médio e longo prazos, o caminho será de crescimento. Esse é o aspecto a ser destacado, assim como nossa busca para atender bem esses mercados. É fundamental para os clientes ter o vidro adequado no momento em que eles precisam.

castiella_okCastiella — É importante lembrar que os custos para a indústria, infelizmente, continuam aumentando. A desvalorização cambial pega na veia das importações. Já foi comunicado que terá outro aumento de gás no final do ano. Existe uma preocupação em relação aos custos, por isso a sustentabilidade dos preços é superimportante no momento atual. E a questão da greve dos caminhoneiros ainda é uma preocupação que não se resolveu. Não está claro quais tabelas de frete estão sendo usadas, a situação é um tanto confusa. Na visão da indústria vidreira, a aplicação de uma tabela é anticonstitucional. Se todos os mercados quiserem tabelas mínimas para seus produtos, ocorrerá uma distorção absoluta.

No Simpovidro 2015, a Cebrace comentou que iria aumentar a capacidade do C4. Isso ainda está nos planos?
Castiella — Essa é uma discussão mais para o futuro. Um aumento de capacidade pode não ser necessariamente a melhor solução. Temos de avaliar ainda, depende do mix de produto. Um exemplo: o vidro extra clear, produzido no C4, é um produto de carga baixa. Então, para que aumentar a capacidade se o produto feito ali tem carga baixa? Um investimento nesse caso seria para reforçar o solado do forno, com o objetivo de não desgastá-lo.

Com o C6 ativo, atendendo o automotivo, e o C2 complementando a produção para construção civil, a produção da Cebrace está sendo pensada para atender a América do Sul como um todo?
Castiella — Depende desses ciclos econômicos, do balanço dessas regiões. Nós também sempre olhamos a Colômbia com carinho, temos projetos de expansão lá. Sem dúvidas, o Brasil tem sido a plataforma de suporte para o continente. Mas isso muda com o tempo: quando entrei no grupo, o mercado chileno era atendido pela Argentina — algo impossível de se imaginar hoje. Por outro lado, nossa operação no Chile está chegando a um nível de saturação máximo. É necessário olhar para os próximos quinze, vinte anos. Sabendo que é muito difícil prever esses ciclos, mas sempre acompanhando as mudanças.

Para reduzir o volume de exportação, sabemos que a Cebrace deixou de cumprir alguns contratos. Isso pode deixar algum resquício caso a empresa sinta necessidade de voltar a exportar?
Valu — À medida que você não honra pedidos, gera um desgaste natural. Mas é um pouco do custo para deixar o mercado brasileiro abastecido. Olhando a longo prazo, se entendermos que haverá necessidade de se voltar para o mercado externo, vamos pegar nossa malinha e bater às portas dos clientes sem problemas.

Vamos falar agora do outro lado do comércio exterior, a importação. Qual a opinião da Cebrace em relação a rumores de que seria feito um pleito junto ao governo federal para a derrubada do direito antidumping?
Castiella — Toda a indústria está 100% alinhada com a ideia de que é absolutamente prioritário defender o que foi construído. Já começamos a trabalhar para a renovação do antidumping para float incolor, cujo prazo termina no fim do próximo ano. O aprendizado para todos durante um período de excesso de oferta praticado em condições de dumping foi extremamente danoso. Infelizmente, existe um grupo pequeno, porém barulhento, que quer ver o circo pegar fogo. Na maioria dos casos, são empresas que não têm investimento ou compromisso nenhum com o mercado. Toda a grande cadeia processadora não quer ver mais uma situação dessa. Sabemos o que acontece quando o produto de base é degradado: atinge também os produtos processados.

Qual a expectativa para as eleições? Um novo governo pode deixar o ambiente empresarial mais seguro?
Valu — Qualquer que seja o governo a assumir, terá de trabalhar de forma muito séria o tema das reformas. Vai ter de endereçar esses temas, restabelecer uma agenda positiva.

Não dá pra visualizar um cenário de crescimento sem um momento de ajuste de contas, arrumação da casa. Quando o mercado brasileiro vê mínimos sinais de progresso econômico, ao menos para nossa indústria as taxas de crescimento são impressionantes. Mais uma vez, a questão é confiança.

Este texto foi originalmente publicado na edição 549 (setembro de 2018) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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