Vidroplano
Vidroplano

Fazendo o corte do vidro com qualidade

19/08/2019 - 14h04

Um dos momentos mais importantes no trabalho com o vidro é o corte. Na beneficiadora, é a primeira atividade do pré-processamento, antes de as chapas serem encaminhadas para a têmpera ou laminação. Na vidraçaria, é o início das atividades para se atender um pedido de cliente. Isso mostra que, se não for feito da forma correta, todos os processos seguintes sofrerão consequências graves.

O Vidroplano conversou com especialistas e empresas de maquinários e insumos para entender como se faz um corte preciso e eficaz.

Automático ou manual?
Segundo o instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva, é importante definir o nível de automatização do processo:

Automático: após a programação, a máquina executa a totalidade das operações — manuseio, limpeza, posicionamento, preparação, corte, etiquetagem, destaque e coleta de aparas e cacos, por exemplo;
Semiautomático: grande parte das operações é executada por máquinas;
Semimanual: grande parte das operações é executada por operadores;
Manual: a totalidade das operações é executada por operadores.

cutting a glass

Modernidade disponível no mercado
Como mostrado na reportagem Tecnologia aplicada ao vidro (em O Vidroplano nº 520; leia ela clicando aqui), existem linhas de pré-processamento totalmente integradas, as quais dispensam a interação humana graças à utilização de robôs e esteiras de movimentação. É possível ainda encontrar soluções mistas, com os operadores movimentando as peças da saída da mesa de corte até a área de lapidação. “O processo de corte deve ser adequado às necessidades de produtividade, compatibilizando a capacidade de produzir e o custo máximo operacional”, explica Cláudio Lúcio. Tudo depende do porte da empresa e do volume de vidro processado.

As mesas de corte são divididas em dois grupos — as que trabalham com vidro monolítico e as próprias para laminados. A tecnologia atual desses equipamentos ajuda a tornar a atividade mais veloz. Segundo a empresa italiana Macotec, um laminado pode ser cortado em apenas quinze segundos usando o modelo Strato Active. “As tecnologias mais inovadoras contemplam mesas com carregamento automático e destaque sem a necessidade da ação humana. E não podemos deixar de mencionar as que utilizam jato d’água, cada dia mais introduzidas no mercado”, analisa Yveraldo Gusmão, diretor da Gusmão-GR, representante da Macotec no Brasil.

Com a plataforma EVO, a também italiana Bottero oferece a possibilidade de equipar as máquinas com duas ferramentas adicionais além daquelas de corte. Com isso, podem realizar incisão a laser ou etiquetagem da peça. Cada vez mais, os processos se integram e se comunicam entre si, trocando informações para maior eficácia na produção, seguindo assim os conceitos da Indústria 4.0.

Existem ainda mesas que trabalham em vidros ultrafinos (de menos de 1 mm de espessura) e grossos (25 mm) sem necessidade de troca de ferramentas, como as fabricadas pela espanhola Turomas — elas utilizam a tecnologia patenteada 4tool. Cada maquinário possui quatro ferramentas com roletes, sistema de lubrificação e cilindro de pressão independentes.

A importância dos insumos

Não adianta comprar maquinários de qualidade se não usar insumos de qualidade. “O que se vê muito no Brasil e no mundo é a utilização de produtos destinados a outros fins apenas por serem baratos. Isso pode gerar manchas no vidro ou espelho, delaminação etc.”, revela Nilton Batista, diretor-geral da Support Glass, empresa que representa marcas estrangeiras de insumos. “A escolha correta é fundamental para se obter um bom desempenho, ajudando a máquina a ter atividade plena para a qual foi projetada”, comenta Ricardo Costa, diretor-comercial da Glassparts, que também comercializa insumos de companhias de fora do País.

Para essa atividade, o óleo e o rodízio de corte são os mais relevantes.

Óleo: usado para o destaque mais rápido ou quando o processo demanda mais tempo na mesa de destaque. Podem ser de vários tipos, como evaporativos e biodegradáveis, entre outros. Ele penetra no corte criando um filme muito fino nas laterais do vidro após a passagem do rodízio. Atenção: o excesso de óleo na linha de marcação significa que o produto é muito espesso e terá problemas de evaporação — ou, então, é a mesa que está malregulada.

óleo
Rodízio: é a peça que passa em cima da face do vidro para cortá-lo. Existe um ângulo correto de rodízio para cada espessura do nosso material, assim como tipos específicos para corte linear ou modelado.

rodízios

O uso de insumos não recomendados pode resultar em diversos problemas, incluindo:

– A marcação dos rodízios pode ficar serrilhada ou com ondulações, causando dificuldades na hora do destaque;
– Se o corte não ficar reto como deveria, mais rebolos serão usados no momento da lapidação, mais energia elétrica será consumida e mais partículas de vidro serão produzidas para serem floculadas na regeneração de água;
– Além de gerar mais gastos, o nível de retrabalho e perdas de produção também poderá aumentar.

Peças perfeitas
O processo de destaque, como já visto, depende muito da forma como o vidro é cortado. “Elementos como a correta lubrificação e a regulagem da pressão dos equipamentos são fatores determinantes para se obter o entalhe adequado à espessura do vidro, proporcionando assim um destaque suave, sem quebras ou desvios de linha de produção”, alerta Ricardo Costa, da Glassparts.

A atividade tem um aspecto manual, com operadores para realizá-la. Alicates podem ser utilizados para auxiliar o trabalho em peças de maior espessura — alguns deles contam com regulagem para que o corte se abra de forma lenta e precisa. No entanto, existem no mercado mesas de pré-destaque automáticas, com sistemas pneumáticos.

Softwares para melhor aproveitamento
Programas para otimização do processo são capazes de oferecer a capacidade de planejamento semanais e até mensais dos planos de corte durante os turnos de trabalho. Eles contam com catálogos de formas, além de permitir que operadores entrem com dados específicos para peças de formatos únicos via AutoCAD. Com isso, diminui-se o tempo de ciclo da máquina. “Os softwares proporcionam ainda o gerenciamento de todas as áreas que envolvem estoque, recorte de ferragem e gestão dos retalhos. Isso tudo contribui para a melhora da eficiência”, afirma Moreno Magon, vice-presidente de Vendas e Serviços da Glaston para a América do Sul.

A solução também existe para os vidraceiros. Programas com mapas e planos de corte reduzem o desperdício de matéria-prima, além de gerar, consequentemente, aumento de produtividade.

E o corte manual?
Atenção, vidraceiros: os equipamentos usados devem ser escolhidos corretamente para o serviço ser bem-feito.

Cortadores: há modelos com especificações próprias para diferentes espessuras das chapas. Por isso, deve-se consultar os fabricantes das ferramentas para saber se funcionarão de acordo;

cortador
Lubrificante: deve ser usado um óleo apropriado, o que fará com que o cortador tenha maior durabilidade, além de resultar em corte mais suave e destaque preciso. Importante: nunca utilize querosene como lubrificante. Ele pode provocar manchas nos vidros e espelhos e também impede que o cortador entalhe as chapas corretamente, podendo ocasionar quebras no momento do destaque.

Não faça isso!
O instrutor técnico Cláudio Lúcio aponta os principais erros cometidos no processo de corte:

Layout da seção inadequado para as necessidades de custo operacional máximo ou em desacordo com as normas vigentes de segurança

– Especificação e utilização de EPIs incompatíveis para o nível dos riscos inerentes à operação de manuseio, corte e destaque de vidro

– Falta de adoção e implementação de um sistema de gestão adequado, eficaz e eficiente nos processos do sistema produtivo

– Utilização de mão de obra sem a devida capacitação

– Falta de manutenção preditiva (com foco na redução de custos de manutenção), preventiva e corretiva, sejam planejadas ou não, em

máquinas, equipamentos e utilidades

– Uso inadequado dos parâmetros técnicos de processo para o correto corte e destaque

– Desconhecimento dos limites técnicos para a confecção do plano de corte, tendo como resultado o aumento do custo do sistema produtivo, assim como reclamações de clientes e devoluções de produtos

– Utilização de óleo diesel, querosene ou fórmulas caseiras no lugar de óleo de corte

– Emprego de técnicas de destaque e manuseio equivocadas, que resultam em perdas, retrabalhos e quebras

– Falta de ferramentas e insumos próprios para essas atividades

– Aquisição de máquina de corte sem a prévia análise e conhecimento da variação dimensional e capacidade dos maquinários em atender clientes, produtos e mercados

Uma boa forma de aprender a maneira correta de cortar o vidro está na Especialização Técnica Abravidro. O curso, ministrado pelo próprio Cláudio Lúcio, ajuda as empresas a evitar o desperdício de materiais e insumos. Para mais informações, entre em contato pelo e-mail abravidro@abravidro.org.br ou telefone (11) 3873-9908.

 

Corte com jato d’água

boxe jato dagua
Vidros para decoração, com formas únicas e diferenciadas, podem ser cortados com equipamentos que utilizam jato d’água. O sistema funciona da seguinte maneira: a água é pressurizada e, em seguida, forçada através de um orifício minúsculo (com cerca de 0,3 mm de diâmetro), atingindo de três a quatro vezes a velocidade do som (800 a 1.000 m/s). “O jato corta por abrasão e desgaste. No caso do vidro, o corte é resultado da erosão/remoção de pequenas porções do material devido ao impacto das partículas abrasivas acrescentadas à água. O corte é perfeito e preciso, não sendo necessário acabamento adicional”, explica Nilton Batista, da Support Glass. A aparência do vidro cortado dessa forma difere da resultante do processo comum com lapidação: possui um aspecto jateado nas bordas.

Este texto foi originalmente publicado na edição 560 (agosto de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



Newsletter

Cadastre-se aqui para receber nossas newsletters