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Manuais para vidraceiros: Leitura indispensável

21/05/2019 - 11h17

Não é segredo para os vidraceiros que seu ofício exige conhecimento: é preciso saber quais são os tipos de vidro certos para diferentes aplicações e as determinações das normas técnicas (apenas para citar duas obrigações dessa profissão). Também é necessário estar bem-informado sobre as ferragens, kits e acessórios que serão usados nela.

Todos os detalhes sobre esses sistemas, como as dimensões e pesos máximos que eles suportam e as etapas para sua instalação, encontram-se nos manuais desses produtos, os quais os vidraceiros não só têm obrigação de ler, mas também o direito de receber ao comprar as ferragens de seus fornecedores. Nas próximas páginas, a importância desses materiais e de que eles tragam explicações claras e completas é abordada por especialistas e representantes de fabricantes de sistemas.

Fazendo valer seu direito
Fornecer essas publicações aos vidraceiros é importante — e também obrigatório. “O parágrafo único do Art. 50 do Código de proteção e defesa do consumidor estabelece que, quando o vendedor entrega o produto, este precisa ser acompanhado por um manual de instrução, instalação e uso”, informa Roberto Nascimento, professor de pós-graduação e membro do Núcleo de Estudos e Negócios do Varejo da Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP).

Esses guias têm função semelhante à de uma bula de remédio, pois é neles que devem estar presentes todas as informações pertinentes sobre o produto e as orientações para o seu uso. Nascimento prossegue em sua análise: “Enquanto as bulas evoluíram em termos de clareza nos últimos anos, os manuais de instalação ainda costumam ter linguagem inadequada, o que dificulta sua compreensão. Como consequência, os instaladores leem menos esses materiais do que deveriam”.

Apesar disso, as fabricantes que têm investido para apresentar explicações fáceis e completas percebem resultados positivos. Esse é o caso da Glasspeças: “Desde que passamos a fornecer os manuais de forma ilustrativa, com orientações segundo as normas técnicas, constatamos uma grande redução das ocorrências de problemas causados por aplicações feitas de forma errada”, conta o técnico de Aplicação de Produtos, Cirilo Paes.

Acessível para todos
Um ponto fundamental ao elaborar um guia de instalação é que ele deve ser fácil de entender: uma linguagem técnica demais ou uma explicação longa, que sofre desvios em vez de ir direto ao ponto, podem confundir o vidraceiro e levá-lo ao erro.

Uma das ações da VSM Componentes para Vidro Temperado para evitar esses problemas foi trabalhar diretamente com seu público-alvo: “Observamos que muitas vezes as orientações são descartadas juntamente com as embalagens”, comenta Laís Bressiani, gerente-comercial da empresa. “Dessa forma, desenvolvemos o tutorial do nosso kit com base no feedback da pesquisa que conduzimos nas próprias vidraçarias antes de começar a venda dele.”

Outra possibilidade, bastante interessante nos dias atuais, é levar as orientações ao instalador por meio de conteúdo multimídia. “Além dos manuais impressos, nosso departamento técnico também desenvolve vídeos com passo a passo de instalação, para que as normas técnicas e os processos de aplicação sejam orientados da melhor forma possível, garantindo o uso correto e maior vida útil dos produtos”, aponta Willmerson Ramos, diretor-comercial da WR Glass.

Vale destacar ainda que esses materiais informativos sempre podem — e devem — ser atualizados para alcançar esse objetivo. Érico Miguel, diretor de Planejamento da Ideia Glass, conta que a empresa sempre se preocupou em garantir que o vidraceiro não tivesse dificuldades para entender como a instalação de cada kit deve ser feita. “Ao longo do tempo, nós fomos aprimorando os manuais, adicionando ilustrações, detalhando mais o passo a passo, adicionando mais informações que nós entendemos que seriam importantes e, com isso, o contato sobre dúvidas técnicas foi reduzindo.”

E o consumidor final, como fica?
Nem todas as empresas produzem materiais informativos para o usuário do sistema instalado sobre a necessidade de revisões periódicas e os cuidados para garantir seu bom funcionamento. Na contramão dessa postura, encontra-se a Blindex. “Desde 1983, oferecemos nosso próprio manual de conservação e limpeza para boxes de banheiro com a nossa marca”, informa Jairo Martins, coordenador nacional do Sistema de Franquias da Blindex. “Ele informa o comprador sobre como deve ser feita a limpeza e alerta para a necessidade da manutenção preventiva, que deve ocorrer uma vez ao ano, de acordo com a norma [NBR 14207 — Boxes de banheiro fabricados com vidro de segurança], além de trazer informações sobre os fabricantes e contatos do nosso serviço de atendimento ao consumidor.”

Buscando levar essas orientações tanto aos vidraceiros como aos usuários finais, a Abravidro lançou, em 2016, o programa De Olho no Boxe. Embora seu Manual de utilização, limpeza e manutenção dos boxes de banheiro não tenha como falar das particularidades de cada kit disponível no mercado, ele traz todas as informações necessárias para manter o consumidor informado sobre os cuidados básicos para manutenção, sabendo identificar problemas e a hora certa de chamar um técnico a fim de evitar acidentes. O texto conta ainda com dicas para limpeza e conservação do produto.

Essa iniciativa da Abravidro foi vista com bons olhos pelo setor. “Em nossos treinamentos, sempre mostramos o site do De Olho no Boxe e indicamos que os vidraceiros o usem para orientar seus clientes como utilizar, limpar e manter seus boxes sempre de acordo com a norma”, afirma Vinicius Braga, gerente-comercial da Tec-Vidro.

Os manuais são indispensáveis não só para levar conhecimento ao comprador do produto, mas também para combater a desinformação no setor: “Hoje há muitos materiais ‘fake’ na Internet, ou seja, feitos por quem não está devidamente capacitado sobre o que fala — e, na falta de um conteúdo oficial simples de entender, podem acabar sendo usados pelo instalador e levar a problemas”, alerta o professor Roberto Nascimento, da ESPM-SP. “Por isso, minha sugestão é que os fabricantes se dediquem sempre a fornecer explicações fáceis e detalhadas, incluindo o preparo de vídeos e imagens demonstrando como aplicar seus sistemas. E, no caso dos vidraceiros, que eles sempre busquem informações diretamente na fonte, isto é, nos guias de serviços oficiais da empresa que forneceu o produto.”

 

Itens indispensáveis

Electrician Reads the Manual
Alguns pontos na elaboração do documento são essenciais para garantir uma instalação correta, segura e funcional. Vinícius Braga, da Tec-Vidro, destaca que todos os materiais de orientação para o instalador precisam ter:

– Observações importantes para qualquer aplicação;
– Lista de ferramentas necessárias;
– Informações específicas do modelo adquirido, listando todos os seus componentes (incluindo quantidades e identificação);
– Folgas necessárias para confecção do projeto dos vidros;
– Desenho esquemático com a localização de cada componente previamente identificado;
– Passo a passo de montagem com figuras ilustrativas.

“Os manuais são de extrema importância, principalmente para produtos que não são padrão de mercado”, explica Braga.

 

Segurança para quem compra — e para quem vende também
Além de reduzir casos de instalações malfeitas, os manuais também protegem as fabricantes quando as orientações não forem seguidas. “Tivemos uma grande queda nas reclamações com a elaboração dos textos, mas com certeza eles são fundamentais para resguardar a empresa no caso de possíveis questionamentos jurídicos”, observa Jair Bráulio Júnior, gerente de Relacionamento da Alclean.

Nascimento, da ESPM, concorda e acrescenta: “Contribuem não só para a proteção por lei do vendedor em caso de inconformidades com o que foi orientado no material fornecido, mas ainda incentivam o vidraceiro a entender que precisa dedicar um tempo para sua leitura — ou, se o produto foi adquirido por um intermediário como o arquiteto da obra, por exemplo, a reforçar que quem fará a instalação o leia”. Em outras palavras, eles têm um impacto positivo para todos os elos da cadeia.

Este texto foi originalmente publicado na edição 557 (maio de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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