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O que esperar para o setor de energia em 2024

05/03/2024 - 15h41

Sem energia, nosso segmento simplesmente não tem como trabalhar: são inúmeros os processos, passando por usina, processador e vidraceiro, que necessitam desse insumo em grandes quantidades. Sabendo disso, O Vidroplano dá sequência à matéria especial de janeiro, sobre as expectativas de nossas empresas para 2024, e agora analisa o que esperar em relação aos valores do gás natural e da energia elétrica para o resto do ano e se podemos ter problemas referentes ao abastecimento.

 

Gás natural
Esse combustível, usado pelas usinas para aquecer os fornos, tem enorme influência na flutuação de preços do float. Segundo a Comerc Energia, empresa especializada em serviços de energia e soluções renováveis dentro desse segmento, o custo médio do gás natural no Brasil em 2024 será relativamente menor que o observado no ano passado. “Isso se deve ao início da vigência de novos contratos de suprimento energético para diversas distribuidoras no País, já sem o reflexo dos elevados preços de 2022, diversificando os portfólios após a entrada e crescimento da participação de outros supridores nesse mercado”, analisa Marcelo Ávila, vice-presidente de Soluções em Energia da companhia.

De fato, há várias movimentações nesse sentido. Em 1º de janeiro, por exemplo, entraram em vigor contratos assinados pela Petrobras com a Equinor Energy do Brasil, para que esta faça o escoamento de gás oriundo do campo de Roncador, na Bacia de Campos (RJ). Em artigo online da Epbr, agência de notícias focada em transição energética, João Carlos de Oliveira Mello, CEO da Thymos Energia, cita que a parceria deverá proporcionar uma capacidade diária adicional de 50 milhões de m³ de escoamento de gás nos próximos anos.

 

Foto: Photocreo Bednarek/stock.adobe.com

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A crise do insumo na Europa, por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, levou ao impulsionamento de investimentos privados e governamentais no ano passado. “Nesse sentido, vimos muitas discussões sobre a ampliação da oferta de gás e a criação de políticas de precificação, em um esforço para garantir segurança energética, competitividade e melhores condições para a indústria nacional e o mercado como um todo”, comenta Ávila. Apesar disso, explica, o gás nacional ainda carece de mais regulamentações e atenção de modo geral, para que seja possível buscar a autossuficiência no assunto.

Uma solução para alinhar produção, demanda e abastecimento, “democratizando” o combustível, seria o avanço da criação de um mercado livre de gás, como já existe em relação à energia elétrica. “Esse tema pouco evoluiu ao longo dos últimos anos, e assim deve seguir em 2024”, avisa Ávila. “Acredito que, com diversas conversas a respeito do tema caminhando lentamente, o cenário deva seguir similar, com avanços pontuais por meio dessas iniciativas governamentais e privadas.”

Sobre o custo do gás ao longo do ano, não são esperadas grandes volatilidades, a não ser que se tenha alguma guinada nas relações do Brasil com os países de quem importa – ou mesmo mudanças globais em torno dos principais produtores.

 

Energia elétrica
A cadeia de transformação de vidro usa energia elétrica para as diferentes etapas de processamento. O problema é que as atuais questões climáticas, incluindo o aquecimento global e os maiores períodos de estiagem, fazem os valores do insumo aumentar – e muito. “Não termos controle sobre a variável chuva é sempre um ponto de pressão. Atualmente, os reservatórios estão com níveis maiores e, salvo alguma mudança brusca, não veremos impactos no mercado de energia para 2024. Porém, tivemos pouca chuva em dezembro e janeiro, e isso já impactou o setor em anos passados”, explica Marcelo Ávila.

Para 2024, existem previsões preocupantes, como a da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), que espera um aumento médio de 6,58% nos valores, com potencial para chegar a 10,41%. “Essas estimativas estão alinhadas com as nossas expectativas e projeções; porém, é importante considerar que temos ainda discussões a respeito da renovação de concessões das distribuidoras, e esse fato pode mudar o panorama”, afirma o profissional da Comerc.

 

Foto: Артур Ничипоренко/stock.adobe.com

Foto: Артур Ничипоренко/stock.adobe.com

 

E o mercado livre?
Grande parte das processadoras vidreiras está presente no mercado livre de energia, ambiente em que os clientes podem negociar as condições comerciais da energia elétrica a ser contratada diretamente com o fornecedor. Essa, portanto, é uma boa solução para sofrer menos com a volatilidade de preços, sendo possível experimentar economias maiores.

Desde janeiro, a Portaria 50/2022, do Ministério de Minas e Energia, ampliou o direito de escolher o fornecedor de energia elétrica para os chamados “consumidores do Grupo A”, composto por aqueles que são atendidos em média e até alta tensão, incluindo, por exemplo, pequenas e médias empresas. Isso abre margem para mais empresas de nosso segmento ingressarem nesse modelo, mas surgem também desafios aos envolvidos. “As comercializadoras deverão demonstrar agilidade para incorporar a função de varejista entre suas funções, em uma escala bastante ampliada. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), por sua vez, terá de lidar com uma pulverização do mercado, ampliando o desafio de administrar e garantir a segurança das operações”, opina João Mello, da Thymos Energia, em seu artigo para a Epbr.

Para Marcelo Ávila, o mercado livre de energia é uma oportunidade valiosa não apenas para as indústrias terem controle sobre os gastos com energia, mas ainda para promover confiabilidade e incentivar o crescimento de fontes de energia limpas. “É preciso ter cuidado na escolha do agente responsável por definir a estratégia de contratação para garantir um parceiro com expertise, que conduza uma transição suave e eficaz, proporcionando solidez às empresas”, alerta Mello.

A busca por outras matrizes de energia também é uma tendência a ser analisada pelas companhias de nosso setor. Com o boom da energia solar fotovoltaica, e até da eólica, a dinâmica de mercado passa por mudanças, aumentando a oferta ao consumidor e impulsionando as geradoras e fornecedoras a buscar atrativos para manter os clientes.

Este texto foi originalmente publicado na edição 614 (fevereiro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: sergofan2015/stock.adobe.com



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