Números do Panorama Abravidro são assunto no VidroCast
19/07/2024 - 12h08

No último mês de maio, a Abravidro publicou a edição de 2024 do Panorama Abravidro, o principal estudo econômico e produtivo do setor vidreiro nacional. E durante a Glass South America, os dados revelados pelo Panorama 2024 foram tema de um bate-papo entre Alexandre Pestana, ex-presidente e diretor da Abravidro, e Sergio Goldbaum, economista da GPM Consultoria (empresa responsável pelo estudo). A conversa, um dos episódios do VidroCast, o podcast da entidade, rendeu ótimas reflexões sobre o desempenho do mercado em 2023. Por isso, retomamos o assunto para complementar a análise da atual situação de nosso segmento. Confira a seguir os principais pontos dessa entrevista.
Boom desperdiçado?
Com a queda de 1,8% da produção em 2023, o acumulado dos últimos três anos nesse indicador soma 12% de redução – o que leva nosso mercado de volta ao patamar da crise de 2016, momento que encerrou o ciclo de crescimento local do segmento de vidros planos. O faturamento das empresas também teve baixa (-9,7%), somando 20% de queda em dois anos, resultado do processo de deflação e acomodação do setor no pós-pandemia.
É importante recordar que, em 2020, primeiro ano de pandemia, o setor marcou alta de dois dígitos em ambos os quesitos: 14,4% na produção e 12% no faturamento. O que aconteceu para não aproveitarmos o bom momento vivido pouco tempo atrás? Para Pestana, a explicação é simples. “O vidro tem dois momentos muito específicos na construção civil: as obras novas, que vão bem desde o período da pandemia, e as reformas. E aí está a diferença, pois esse consumo ‘formiguinha’ não seguiu com a mesma tração.”
Goldbaum concorda: “É possível que, na pandemia, os consumidores de forma geral tenham antecipado as decisões de reforma. E, após um período de alta, é normal ocorrer uma ressaca. Mas em pouco tempo isso deve se recuperar”.

Alta nas importações de vidro float – e
também do processado – dificulta ainda
mais o balanço da cadeia vidreira nacional (foto: Kalyakan/stock.adobe.com)
Aumento nas importações
Outro assunto delicado é o aumento das importações de vidro – cresceram mais de três vezes em relação a 2022. No caso do float, a matéria-prima básica do setor de transformação, voltou-se ao volume encontrado em 2014, ano que marcou o início da vigência do direito antidumping no Brasil. E o problema se dá também nos vidros processados: o volume de laminado importado, por exemplo, foi o maior desde o ano 2000.
Este ano, os números referentes à importação seguem altos – no entanto, a alta recente nos custos do frete internacional e do dólar pode mudar o cenário. “Para um setor com capacidade doméstica plena, como o nosso, a importação é algo indesejável, uma vez que temos capacidade produtiva, tecnologia e produtos de qualidade sendo feitos pela indústria de base e de transformação”, alerta Pestana. “A importação vem para dificultar mais ainda o balanço da cadeia.”
Mercado internacional
Existe ainda uma preocupação extra: o excedente da produção da Ásia, em especial o da China. Mais de 50% do vidro fabricado no mundo vem desse país, e esse montante tem como consumidor o próprio mercado doméstico da construção civil, que apresenta sinais de forte desaceleração. Isso pode trazer ainda mais instabilidade na questão da balança comercial do vidro brasileira – e de várias outras nações.
“Muitos países estão adotando saídas protecionistas em vários segmentos. À medida que grandes consumidores desses produtos aprovam tais ações, sobram produtos no mercado internacional, fazendo com que o preço deles caia. Então, o setor deve olhar com muita atenção para esse ambiente externo”, comenta Goldbaum.
Números como ferramenta de gestão
Uma dúvida comum que pode surgir nos empresários vidreiros é como aproveitar os dados tanto do Panorama como do Termômetro Abravidro no dia a dia das empresas. De acordo com Pestana, a primeira dica é comparar o seu resultado com o do mercado: “Faça isso mensalmente, pois assim você consegue avaliar o desempenho de sua empresa. Depois vem o segundo passo, talvez o mais importante: toda indústria precisa pensar a médio e longo prazos. Você ter disponíveis para análise indicadores de tanta qualidade, com uma série histórica tão longa, contribui de forma decisiva para a tomada de decisões, de investimentos e de rumos que você pode dar ao seu negócio”. Vale lembrar que não apenas as processadoras usam essas informações para se planejar: outros players do setor, como fabricantes de insumos e maquinários, também procuram os estudos da Abravidro de olho em como anda o mercado.
Para Goldbaum, um setor industrial como o vidreiro sempre fica à mercê das questões macroeconômicas nacionais. “Por isso, o que podemos fazer é analisar as informações e se preparar não só para os momentos ruins, mas também para os bons.”
Combatendo a baixa produtividade
De acordo com o Panorama 2024, a produtividade das processadoras foi de 149,3 m² de vidro processados por funcionário ao mês. O número é o pior desempenho da série histórica: desde 2021, o indicador apresenta viés de queda. Nos últimos dez anos, só houve crescimento nesse quesito em 2015 e 2020.
Esse dado vai na contramão do visto na indústria nacional como um todo, que está em processo de avanço na digitalização das operações, deixando seus processos mais produtivos. De acordo com o Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) da Manufatura, estudo realizado pela empresa de tecnologia TOTVS em parceria com a companhia de pesquisa h2r insights e trends, as empresas de manufatura brasileiras evoluíram no ganho de produtividade tecnológica nos últimos cinco anos: subindo da média de 0,52 ponto, registrada em 2019, para 0,71 ponto.
O IPT tem como objetivo avaliar o uso, internalização e ganho de performance a partir da adoção de sistemas de gestão e tecnologias complementares. O comparativo de cinco anos mostra que, embora a indústria seja tradicionalmente vista como menos suscetível à disrupção digital rápida, a transformação digital está em curso e impactando várias áreas desse setor, da produção à logística e interação com o cliente.
Mas há esperança de melhora nos números vidreiros: 19% das empresas respondentes do Panorama afirmam que desejam realizar grandes investimentos em 2024, contra 15,5% no ano passado, o que pode contribuir para a modernização e ganho de produtividade das indústrias de transformação vidreiras.
Foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte
Voltar
Itens relacionados ................................................................................................
- Termômetro Abravidro: responda à pesquisa sobre janeiro
- Pesquisa para o Panorama Abravidro 2025 está aberta. Participe!
- Termômetro Abravidro: responda à pesquisa sobre dezembro
- Venda de vidros subiu 2,7% em novembro
- Termômetro Abravidro: responda à pesquisa sobre novembro
- Abravidro anuncia primeira turma de PPCPE para 2025