Vidroplano
Vidroplano

O Vidroplano entrevista organizador do GPD

19/07/2019 - 14h25

Você trabalhou por quase três décadas na organização do GPD. Agora, após aposentar-se, já refletiu sobre o legado que deixa para o setor?
Jorma Vitkala — Espero que eu tenha sido capaz de construir um legado de melhor colaboração entre toda a cadeia da indústria, de um melhor entendimento dos desafios e expectativas de cada um. Outro de meus principais objetivos era gerar informação digna de confiança e torná-la disponível para todos.

O aspecto mais importante, no entanto, foi permitir o networking entre vários grupos diferentes do mercado, dar nomes aos rostos de cada um, abrindo espaço para a construção de melhores relações. A colaboração entre vários eventos ajudou a expandir o conhecimento da cadeia, especialmente quando se fala em melhorar a eficiência energética, sustentabilidade e reciclagem.

Quando você começou a trabalhar com vidro, chegou a imaginar o atual cenário tecnológico vidreiro?
Vitkala — Nos últimos 27 anos, um desenvolvimento incrível deu-se nos produtos da indústria, principalmente nos com coating, a maioria com a qual nem sonhávamos naquela época. Um exemplo disso é a rápida expansão dos vidros low-e depois de 1995, quando as novas regulações de economia de energia na Alemanha entraram em vigor, o que, na prática, forçou todos a usarem vidros com baixa emissividade. Mais tarde, esse desenvolvimento continuou com os low-e de controle solar. Recentemente, o “vidro inteligente” tornou-se o foco dos trabalhos de pesquisa. Vidros finos estão chegando à arquitetura, design de interiores e automóveis. E isso também vai aumentar as aplicações desses produtos.

E quais serão os desafios para o futuro do setor e também do GPD?
Vitkala — A indústria vidreira está atenta ao fato de que o mundo enfrenta diversas mudanças profundas, de questões ambientais e climáticas ao uso de tecnologia em cidades, edifícios, fábricas e materiais, assim como a globalização e fatores culturais. Essas mudanças vão, inevitavelmente, alterar a forma como a sociedade opera. Novas estruturas urbanas não deixarão a indústria descansar.

Por isso, inovações tecnológicas emergirão em combinações e formas surpreendentes. Novos conceitos em sensores e eletrônicos serão integrados ao vidro. Fachadas com desempenho ativo, voltadas para mídia ou com aplicações sensíveis ao toque, vão aparecer. Os produtos serão mais multifacetados e a fabricação vai requerer uma integração mais profunda e vasta, com soluções oriundas de vários fornecedores.

Essas coisas precisam de adaptações até mesmo na programação do GPD e na forma de o congresso evoluir para atingir as necessidades desses desafios. E foi assim que o GPD mudou ao longo dos anos. Mas agora as coisas acontecem mais rápido, e todas as mudanças precisam de compartilhamento de conhecimento. O evento também terá um importante papel no futuro ao coletar essa informação e ser o fornecedor de conteúdo confiável. O GPD tem o papel-chave de inspirar os players dentro e fora de nosso mercado com novas tecnologias. Isso é o que o GPD será no futuro também.

NOVA

Qual o significado do congresso para o mercado mundial atualmente?
Vitkala — O GPD é uma das mais admiradas conferências vidreiras do planeta. Mostra algumas das mais avançadas pesquisas e conceitos. Também tem sido o espaço em que inovações são reveladas ao público, como é o caso do Step Change, em que startups apresentam suas ideias ao mundo. Isso faz com que a indústria se desenvolva mais rápido.

No futuro, muitas inovações virão de fora de nosso setor. Isso, no entanto, exigirá uma cooperação muito maior e mais diversa em relação ao que estamos acostumados. Por exemplo, pegue a indústria de telefonia móvel como um bom modelo a ser seguido, pois desenvolvimento de produtos e produção são realizados por diferentes atores. Para manter essa dinâmica, os profissionais vão ter de trabalhar com vários tipos de organização. Licenciamento e troca de patentes também serão necessários. Esse é o único jeito de sermos capazes de garantir a vantagem competitiva do vidro em relação ao uso de outros materiais.

A troca de experiências entre participantes tem se transformado em uma das principais qualidades do GPD, principalmente nas últimas edições do congresso. Por quê?
Vitkala — O networking é a filosofia do GPD. O conhecimento só cresce quando compartilhado. E isso demanda contatos pessoais. Eu vivi tremendas mudanças no setor ao longo dos anos. Novos produtos que ninguém poderia fazer sozinho, ou dentro apenas de seu campo de pesquisa, foram criados. Isso tudo necessita de novas formas de pensar e de colaborações inéditas. Trocas de e-mail não suportam esse tipo de avanço.

Como foi a edição 2019 do congresso para você?
Vitkala — Este ano, o GPD foi um dos melhores de todos os tempos. Eu, sinceramente, gostaria de agradecer a toda a equipe, assim como aos palestrantes, patrocinadores e ao comitê de programação.

Quais seus planos agora que está aposentado do evento?
Vitkala — Continuarei por algum tempo como consultor-sênior do GPD. A princípio, pretendo trabalhar somente oito horas por dia e sair em férias sem ler e-mails (risos).

Um dos meus papéis mais importantes será o de fazer a rede de contatos do GPD manter-se e ajudar diferentes profissionais a encontrar parceiros. Atualmente, faço parte da diretoria de uma empresa. Planejo continuar com esse trabalho e fortalecer esse papel de ajudar os outros por meio de meus contatos.

Também estou ansioso por ter mais tempo para meus hobbies: jardinagem, cozinhar, fazer exercícios físicos e caminhada nórdica, um tipo de caminhada que utiliza dois bastões, parecidos com os do esqui.

Sinto que o mais importante é seguir em frente devagar. Parar todo o trabalho de forma rápida e brusca não é uma opção muito saudável.

Este texto foi originalmente publicado na edição 559 (julho de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



Newsletter

Cadastre-se aqui para receber nossas newsletters