16º Simpovidro: Creomar de Souza mostra impactos da política nas empresas
02/11/2024 - 11h19
O historiador Creomar de Souza iniciou hoje (2) a programação do dia no 16º Simpovidro. Fundador da Dharma Political Risk and Strategy, hub de inteligência e estratégia em assuntos públicos e prevenção de risco, ele palestrou sobre o tema Panorama político: desafios e possibilidades.
Souza explicou que a política “faz preço”; isso ocorre porque as empresas e seus resultados são altamente vulneráveis a riscos políticos. Nesse cenário, os empreendedores que melhor manejam os riscos políticos adquirem vantagem competitiva mais robusta – por isso, entender como decisões, processos e contextos são formados ajuda a mitigar riscos, blindando o faturamento, protegendo empregos e mantendo a saúde financeira dos negócios. Como exemplo sobre o tema, o historiador abordou as eleições presidenciais que serão realizadas nos Estados Unidos na próxima semana, cujos resultados não podem ser ignorados, pois gerarão impactos pelo mundo.
Segundo Creomar, empresas que acreditam poder separar o ganho monetário de qualquer influência política podem ver seus lucros desabarem por não entenderem as mudanças que se processam nas sociedades em que estão inseridas. “Nenhum de nós somos uma ilha”, ele ressaltou.
Riscos atuais
Em seguida, o palestrante listou os acontecimentos recentes que podem ter impacto no desempenho das empresas:
- Tensões geopolíticas e militares na Europa, Oriente Médio e entorno geoestratégico na China
- Disfuncionalidade político-institucional nos EUA
- Instabilidade geopolítica e criminalidade transnacional na América do Sul
- Crescimento do extremismo político em democracias
- Preços de energia global
- Recessão em economias centrais
- Impactos das mudanças climáticas
- Risco de ressurgência de crises sanitárias
- Avanço de regulações de diligência devida em mercados estratégicos
Conjuntura atual
“Lula é o mesmo, mas o Brasil mudou: houve um foco no estímulo ao consumo no primeiro ano do mandato, um pensamento parecido com o realizado vinte anos atrás, e uma tentativa de estabelecer diálogos com o legislativo com estímulos parecidos dos de anos atrás – mas, hoje, o congresso tem mais apetites e interesses do que no passado”, alertou Souza. Ele acrescentou que, apesar da liberação pelo Poder Executivo de recursos financeiros em valores consideráveis, ao fim do dia, a relação entre o Planalto e o Congresso segue complexa.
O historiador também apontou que o Poder Judiciário também mudou: “A judicialização da política começou ainda no governo FHC, quando a oposição recorria ao STF quando perdia uma votação no Congresso. Isso seguiu nos governos do PT e, desde então, gerou-se a percepção de que o Judiciário tem exarcebado suas funções. Há, hoje, um presidencialismo jurisdicional, inclusive com o Executivo recorrendo ao Judiciário para ter suas agendas atendidas”, comentou.
Ao analisar os resultados das eleições municipais, avaliou que a população sinalizou que não quer mais um “Fla-Flu político”, com o Partido Liberal (PL) terminando em quinto lugar entre os partidos com mais prefeitos e o Partido dos Trabalhadores (PT) em nono. Ele observou que o campo da esquerda perdeu espaço, principalmente por conta do encolhimento de legendas como o Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Rede Sustentabilidade (Rede), Partido Verde (PV) e Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Há a dificuldade de calibrar discursos e propostas para um eleitorado que tem se afastado de ideários à esquerda e se aproximar do discurso da autossuficiência e prosperidade individual.
Para Creomar de Souza, se o grande vencedor em termos partidários é o Centrão, em termos ideológicos, a direita foi predominante. Entretanto, identifica-se um esvaziamento relativo da liderança de Jair Bolsonaro. Lula, por sua vez, ao perceber que seu campo sairia derrotado, não se expôs para fazer campanha nas eleições municipais.
Principais pontos de atenção
O palestrante chamou atenção para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e para a reoneração gradual da folha de pagamento: segundo ele, a primeira tem sido marcada pela conformação de um ambiente de pressão sobre as agências reguladoras a partir de lideranças do Executivo e do Legislativo, do nível local ao nacional; já a segunda diz respeito ao fato de que a construção civil brasileira e outros dezesseis setores retomarão gradualmente, a partir de 2025, a contribuição sobre a folha de pagamento.
O governo federal prometeu um novo Programa de Depreciação Acelerada (PAC), mas Souza avalia que não há dinheiro suficiente; há um “cobertor curto” financeiro para a realização de políticas públicas. “Os Estados que se destacaram no investimento local a empresas que fabricam vidros e fazem a reciclagem foram Bahia e Sergipe”, ele informou, apresentando em seguida uma série de projetos de lei, de políticos de diferentes campos, que versam sobre a indústria.
Prospectos para 2025
Creomar de Souza destacou que é necessário que o Executivo consolide uma aproximação e ajuste melhor sua relação com o Legislativo; por outro lado, considera que o Palácio do Planalto não descartará o “presidencialismo jurisdicional” como salvaguarda para reverter derrotas legislativas durante seu mandato. Já no que tange à relação entre os Poderes Legislativo e Judiciário, o palestrante apontou que dificuldades podem ser criadas ao Planalto e ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o Congresso Nacional veja suas prerrogativas orçamentárias ameaçadas. “É inegável a decepção da população com o fato de que os políticos tradicionais falam, falam, falam, mas entregam muito pouco; isso abre brechas para personagens ‘antissistema’”, ressaltou.
Segundo Souza, frente a esse cenário, Lula enfrentará o difícil desafio de equilibrar a pressão por corte de gastos com a parte do governo e do PT que exige maiores investimentos em um ambiente pré-eleitoral. Apesar de apontar que estamos longe de um cenário de “terra arrasada”, o historiador aconselhou que as empresas tenham cautela e parcimônia, considerando fundamental saber controlar, analisar e monitorar riscos nesse momento.
Foto: Marcos Santos e Andreia Naomi
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