Vidroplano
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As consequências do novo coronavírus para o setor vidreiro

19/03/2020 - 13h04

Faz quase três meses que ouvimos falar no novo coronavírus, agente causador da Covid-19. A doença surgiu na cidade de Wuhan, na China, se espalhou e agora, definitivamente, atinge o Brasil. Em um momento em que ainda é incerto o efeito da pandemia na vida e saúde das pessoas, mais difícil ainda é mensurar os impactos na economia e, claro, no setor vidreiro.

Para jogar luz sobre o assunto, nossa reportagem entrou em contato com players do mercado para ouvi-los. Além disso, a Abravidro elaborou uma pesquisa que pode ser respondida por qualquer empresa do segmento vidreiro pela Internet: em menos de dois minutos, é possível relatar dificuldades e contar como está reagindo — responda aqui.

A Abravidro, vale ressaltar, cumprindo recomendações oficiais, trabalha a partir desta semana em regime de home office. O atendimento via telefone e-mail segue normalmente, das 8h30 às 18h — abaixo, no decorrer da reportagem, veja medidas adotadas pelas entidades vidreiras regionais e outras associações setoriais.

“Nesse momento de tanta incerteza, o mercado deve estar atento. Vamos cuidar de nossas famílias e colaboradores, respeitando as determinações das autoridades para que possamos colaborar com o esforço nacional para diminuir o impacto destruidor dessa pandemia. É fundamental avaliarmos cenários e traçarmos planos de contingência para garantir a continuidade dos nossos negócios apesar das adversidades”, afirma José Domingos Seixas, presidente da Abravidro.

Usinas de base
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), que reúne as indústrias de base, as empresas têm uma missão, que é se adaptar à demanda e preservar os ativos industriais.

“Não vemos risco de desabastecimento e nem de parada de produção. Cada indústria adaptará sua produção ao mercado. Precisamos ter serenidade e responsabilidade neste momento. Entendo que hoje o mercado continua normal, mas as mudanças estão sendo muito rápidas. O que é verdade hoje, pode não ser amanhã”, afirma Lucien Belmonte, superintendente da Abividro.

Fornecedores de insumos e equipamentos
As informações abaixo foram colhidas entre a tarde de quarta-feira, 18 de março, e a manhã de quinta-feira, dia 19:

A Abrasipa afirma que seus estoques estão abastecidos e os itens de maior consumo são despachados em até 2 dias. Itens fabricados pela própria empresa não causam preocupação: produção e atendimento seguem atuando, com ajustes de horários e turnos. Itens importados podem sofrer algum tipo de impacto por conta das restrições de transporte ao redor do mundo.

“Como somos indústria, não temos nenhuma dificuldade em atender nossos clientes até o presente momento”, afirma José Pedro Ruiz, diretor comercial da Diamanfer. “O único ponto que merece atenção é que, com o aumento da demanda, elevamos o prazo de entrega em função da capacidade produtiva que temos”. A Diamanfer pede aos clientes que programem seus pedidos e, assim, receberão mercadorias em pronta-entrega (quando for o caso) ou com prazo pré-determinado. Uma preocupação da empresa é com o valor do dólar, que pode influenciar no valor final dos produtos. “Porém assumiremos o compromisso de, em caso de normalização do câmbio, ajustarmos os preços para baixo”, garante.

As fábricas e instalações da Eastman fora da China seguem operando. “Portanto, não vemos nenhum impacto em nossos negócios ou envios”, informa Daniel Domingos, gerente para a America Latina para o mercado de interleyrs. A empresa monitora a situação e repassa as informações aos clientes. “Identificamos áreas que consideramos críticas e desenvolvemos planos de continuidade operacional para garantir que tenhamos recursos suficientes para manter as plantas em operação e os produtos enviados aos nossos clientes”, reforça o executivo.

A Glaston afirma não encontrar dificuldades. “Temos fornecedores nacionais e bom estoque de importados. Nossos parceiros estrangeiros, incluindo chineses e italianos, têm ajudado mesmo no ápice do coronavírus”, explica Moreno Magon, diretor. Todos os produtos do portfólio estão disponíveis e serviços de assistência presencial ou remota permanecem: com tecnologia 4.0, os novos equipamentos podem receber reparos à distância.

“A GR Gusmão sempre tem a preocupação de, no final de cada ano, se programar para receber em janeiro produtos da linha de importados para atender nossos clientes nos quatro primeiros meses. Sendo assim, estamos tranquilos”, afirma Yveraldo Gusmão, diretor. A GR verifica diariamente com seus parceiros como deve ser a ordem de compra assim que a pandemia for controlada.  “Devemos estar atentos e manter a tranquilidade, não tomando decisões precipitadas”, sugere Gusmão.

A Kuraray segue operando normalmente, informa Pepe Alcon, consultor técnico e gerente de Desenvolvimento de Mercado. A companhia tem, em estoque, produtos de linha e continua recebendo pedidos . A empresa deixa claro, no entanto, que a situação pode mudar com o desdobrar das consequências da pandemia.

Até o momento, a Lisec não enfrenta grandes dificuldades para atender ao mercado. De acordo com o diretor Luiz Garcia, os processadores conseguem fazer pedidos normalmente. “Em alguns casos com prazo um pouco maior que o normal, mas não registramos problema nenhum para fornecer alguma peça sobressalente ou insumo”, explica. Exceto nos casos em que a presença de um técnico especialista da matriz, na Áustria, for necessária, e empresa tem condições de oferecer assistência por meio dos técnicos que atuam na América Latina. Há também o suporte remoto da matriz.

Por ter antecipado a compra dos produtos que importa e comercializa, a Support Glass tem estoque para abastecer o mercado com tranquilidade por até 4 meses.  “Estocamos bastante na virada do ano e temos importações confirmadas vindo da Europa e China”, explicou o diretor Nilton Batista. Em contato permanente com suas representadas, ele afirma que as empresas continuam produzindo e enviando suas mercadorias.

Importante: é fundamental que processadores e vidraceiros não excedam, sem necessidade aparente, a média de compra de materiais em um momento de maior incerteza. Desta forma, o abastecimento a todos fica preservado.

Vidraçarias
O vidraceiro já sofre com os impactos da pandemia. Gisele Muniz, proprietária da vidraçaria paulistana Everart, disse à nossa reportagem que os condomínios já falam em proibir as instalações por tempo indeterminado e fornecedores também ameaçam parar. “Já notamos uma baixa no fechamento de pedidos”, revela.

A Everart tem feito revezamento em sua equipe administrativa (quem não está na empresa, trabalha de casa), cede carros para que funcionários não se exponham no transporte público e procura finalizar todas as instalações pendentes. O fluxo de caixa para o período de crise preocupa.

Medidas como as da Prefeitura de São Paulo, que impedirá a abertura do comércio a partir de sexta-feira, e do Governo de Santa Catarina, que estabeleceu regime de quarentena no Estado, dificultam a atividade — apesar de imensamente justificáveis e compreensíveis para a preservação da saúde pública.

Associações
Diversos cursos e eventos promovidos pelas entidades regionais vidreiras foram adiados — confira a reportagem.

Em Santa Catarina, a Ascevi-SC afirma que o impacto nas empresas já é imenso, com as associadas fechadas pelo menos nos próximos sete dias por determinação do governo. A entidade acompanha o posicionamento da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc) e que mantém contato direto com os vidreiros para divulgar e atualizar as informações recebidas, tirando dúvidas e prestando apoio.

No Rio de Janeiro, o Sincavidro-RJ está conversando com a Light, distribuidora de energia elétrica, para convencê-la de suspender a cobrança para as empresas que têm energia contratada.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) — veja aqui — e a Confederação Nacional da Indústria ( CNI)  — leia neste link — anunciaram medidas que implementaram em seus quadros — e que podem ajudar na tomada de decisão das  empresas.

A CNI também propôs uma série de medidas para a preservação da economia e indústria (confira a íntegra aqui), deste momento, dentre elas:

  • Adiamento do pagamento de todos os tributos federais;
  • Redução temporária de tarifas de energia elétrica;
  • Prorrogação automática de licenças obrigatórias e certidões:
  • Diminuição de jornada e salário de forma proporcional diretamente pelas empresas

A Fiesp e a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) lançaram propostas que podem estimular ou ajudar o serviço industrial (leia aqui e aqui, respectivamente)

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por sua vez, preparou um guia bem completo de orientações para os próximos dias — leia.

Onde tudo começou e a economia brasileira
O governo chinês informou que a indústria local despencou 13,5% em janeiro e fevereiro na comparação com o mesmo período do ano anterior. Foi o resultado mais fraco desde janeiro de 1990.

Por aqui, previsões do PIB estão sendo revistas — seja no Boletim Focus, emitido semanalmente pelo Banco Central, ou por instituições privadas. O Governo Federal tem anunciado medidas, tais quais:

  • Decreto de calamidade pública: o projeto permite que o governo gaste mais em socorro à sociedade, dispensando-o de cumprir metas fiscais
  • Adiamento por seis meses dos tributos do Simples Nacional de abril, maio e junho
  • Propõe que empresas cortem em até 50% a jornada e os salários de trabalhadores
  • Liberação de crédito especial via BNDES para o socorro de empresas

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou que as instituições estão  comprometidas em atender pedidos de prorrogação, por 60 dias, dos vencimentos de micro e pequenas empresa. Leia o comunicado.

 

 

 



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