Vidroplano
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Entrevista completa com Davide Cappellino e Denis Ramboux, da AGC do Brasil

21/03/2012 - 00h00

“Vemos os clientes crescendo rapidamente. Queremos dar suporte a esse crescimento”


Davide Cappellino, CEO da AGC


Denis Ramboux, diretor de Vendas e Marketing da AGC


Após quase um ano do anúncio da construção da fábrica em Guaratinguetá (SP), como está a operação da AGC no Brasil?


Cappellino — Pretendemos começar a produzir vidro float, espelhos e vidros automotivos em 2013. Estamos avançando na construção da fábrica. Teremos o evento da pedra fundamental de nossa planta em 18 de abril, com a presença do presidente mundial do Grupo AGC, Ishimura-san. Vamos instalar a fábrica mais avançada da AGC em controle de qualidade, produção e controle de emissores. Por isso, o licenciamento ambiental foi muito ágil, o mais rápido na história do vidro aqui no Brasil. Em paralelo, temos agora um armazém em Guarulhos (SP) e já importamos bastante vidro de nossas outras unidades. Vamos começar a vender o produto neste mês de março. Como a atividade está iniciando, estaremos 100% operacionais no meio de abril.


Que tipo de vidro foram trazidos?


Ramboux — São 42 tipos de vidro: incolor, fumê, bronze, verde, laminado, pintado, refletivo e espelhos de todas as espessuras. Preocupamo-nos em oferecer os produtos embalados em colares, sem a caixa utilizada nos contêineres, diferente dos vidros importados no Brasil. A AGC vai oferecer o mesmo nível de serviço que a fábrica nacional.


E os vidros especiais desenvolvidos pela AGC no exterior?


Ramboux — Esperamos obter bastante sucesso com os vidros para decoração e refletivo. Destacamos o espelho, pois estão vindo da Bélgica e são reconhecidos em todo o mundo pela altíssima qualidade. Até o início das operações da fábrica em Guaratinguetá, vamos vender o espelho belga. Temos também o vidro refletivo, fácil para a laminação e têmpera — a resistência química deles é muito forte e podem ser utilizados em todo tipo de forno. O bom desempenho deles vai surpreender os clientes no Brasil — muitos não têm experiência com vidro refletivo.


Confirmando: a capacidade de produção da linha de float será de 600 toneladas por dia?


Cappellino — Correto, serão 600 t por dia.


Como observadores do mercado, como avaliam o desempenho do setor no Brasil em 2011?


Cappellino — Vemos os clientes transformadores de vidro crescendo rapidamente e muitos investimentos em novas máquinas e equipamentos. Queremos dar suporte a esse crescimento. Estamos observando o desempenho do vidro no Brasil para enfrentar a concorrência internacional.


Qual a expectativa em termos de crescimento de mercado para 2012?


Cappellino — Temos muita confiança em seu desenvolvimento, graças aos ventos favoráveis que estão soprando aqui no Brasil pelo crescimento da economia do País em geral. Como esse crescimento acompanha situações competitivas, todo o setor vidreiro tem de utilizar bem essa oportunidade para estruturar a cadeia.


Estima-se que a capacidade instalada para a produção de vidro em 2013 terá um aumento de 75% em relação a 2011. Para onde vai toda essa produção?


Cappellino — Todos temos o mesmo interesse: desenvolver a cadeia do vidro e as aplicações do material para acompanhar em quantidade e em qualidade o crescimento do mercado.


Mas essa grande capacidade instalada poderá ser absorvida apenas com o crescimento do mercado?


Cappellino — Sim. O correto é considerar 2014, pois os efeitos desses investimentos serão vistos apenas no ano seguinte. O setor precisa de uma capacidade instalada de boa qualidade, capaz de suportar de maneira eficaz o desenvolvimento em termos de serviço. O futuro terá mais serviços, mais logística, mais desenvolvimento de produtos. Por exemplo: uma janela usada há trinta anos é muito parecida com uma usada há dez. Temos de avançar rapidamente, mudar, trocar.


E os vidros importados? No ano passado, em alguns momentos pontuais, 30% do mercado foi abastecido com vidros produzidos fora do Brasil, entre outras razões pela grande diferença de preço. Para a produção local ser absorvida, o preço deverá cair?


Cappellino — Não acho que o problema seja o preço. Penso que, para acompanhar o desenvolvimento do setor, com melhor serviço e estabilidade, não se pode contar com o vidro importado. O setor precisa de capacidade local para fornecer rapidamente os produtos necessários para o trabalho de nossos clientes e o vidro importado não é um parceiro estrutural aqui no Brasil. Não é com ele que se vai construir um sistema mais eficaz e mais rápido para atender o consumidor final.


Então o vidro importado deve perder algum espaço?


Cappellino — Com certeza. Só assim dá para desenvolver a produção, transformação, atendimento e distribuição junto aos 200 milhões de consumidores brasileiros.


Diz-se que a AGC não viria ao Brasil com apenas uma unidade produtiva. Existe o interesse de construir a segunda linha na sequência?


Cappellino — Agora temos uma missão bem clara: começar as atividades da primeira unidade. Não estamos aqui para só uma linha, com certeza. Afinal, a AGC é líder mundial do vidro e queremos uma presença forte aqui como no resto do mundo. Mas agora temos de concentrar todos os esforços no grande investimento de E 400 milhões, mais de R$ 800 milhões, para essa primeira fase.


Houve um processo de investigação ‘antidumping’ (arquivado em dezembro de 2011) nas importações de vidro ‘float’ da China e do México. Qual a opinião de vocês sobre o assunto e qual a posição da AGC caso seja iniciado um novo processo?


Cappellino — A AGC vai participar ativamente de todas as ações de desenvolvimento do mercado vidreiro do Brasil. Se uma parte dessas ações for na direção de defender esse mercado de importações que não respeitam condições de competitividade, vamos também tomar parte disso.


Como vocês enxergam a entrada de vidro processado importado no Brasil?


Cappellino — O mercado brasileiro sofre pressão de importação em todos os níveis da cadeia. A AGC vai trabalhar em parceria com os clientes para mais uma vez defender e desenvolver o mercado. Eu diria que a missão da AGC no Brasil é dar suporte ao desenvolvimento estrutural do mercado para criar elementos de competitividade internacional. Não é só com medidas de defesa comercial que podemos defender o Brasil das importações. Queremos ser um ótimo fornecedor para os clientes — vamos vender vidro sem caixa, vamos entregar vidro de valor agregado. O nosso desafio é sermos confiáveis, não afoitos. Hoje, a fábrica nacional faz um bom trabalho de desenvolvimento de mercado, mas ainda temos problemas. Falaremos mais no evento de pedra fundamental, mas acho que um melhor sistema para o mercado brasileiro é que deve ajudar o cliente a ser mais competitivo.


Alguma mensagem final?


A mensagem-chave para nossos clientes e leitores de O Vidroplano é que a AGC está com a primeira planta no Brasil, mas não vai acabar por aqui. É um caminho de investimento importante, estratégico. Como vamos dar suporte a todas as ações do setor de vidro para defender o mercado, os clientes podem contar conosco. Estamos com uma estrutura sólida e o investimento é para trazer a melhor tecnologia, o melhor conhecimento mundial da AGC. Por isso, contamos com uma equipe internacional, mas temos também muitos brasileiros — a AGC do Brasil já é uma sociedade brasileira, com gerentes brasileiros, para atender clientes brasileiros.


 


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