Vidroplano
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Entrevista completa com Evandro Costa, da Guardian do Brasil

21/03/2012 - 00h00

“Tudo vai depender da capacidade da indústria brasileira de reagir ao assédio dos produtos importados”


Evandro Costa, diretor-geral da Guardian do Brasil


Qual a avaliação sobre o desempenho do mercado vidreiro, em geral, em 2011?


Evandro — Se formos comparar com 2010, em 2011 houve desaceleração. Recentemente, saiu o resultado do PIB nacional, abaixo do esperado, e, obviamente, isso diminuiu o ritmo do crescimento de toda a indústria. Mesmo assim, houve crescimento no vidro plano em 2011. Difícil colocar em números, mas estimaria em alguma coisa na ordem de mais do que o dobro do PIB, que ficou em 2,7%. Mas poderia ter sido melhor. A frase para 2011 é “não foi ruim, mas poderia ter sido muito melhor”.


O que impediu o setor de atingir esse melhor desempenho?


Evandro — Não só a de vidro plano, mas a indústria nacional está sendo muito assediada pela importação. Acho que isso comprometeu a capacidade instalada de nossa indústria. Outra coisa importante: o Brasil tem um consumo de vidro per capita baixo. Em 2010, ficamos em 7,2 kg — e no Nordeste é um pouco menor. A absorção dessa capacidade instalada vai depender da nossa habilidade em fazer crescer esse consumo. Ainda que se tenham elementos de recessão de economia local e mundial, há muita margem para trabalhar quando se compara ao México, com consumo acima de 10 kg, e Chile, cerca de 13 kg. Um trabalho que já está sendo feito é a regulamentação dos vidros especiais. As associações, de maneira geral, são muito ativas e o caminho para aumentar esse consumo per capita no Brasil passa por isso.


E qual é a expectativa da Guardian para 2012?


Evandro — É de continuar o crescimento. O valor desse crescimento é uma grande incógnita. Hoje, está mais fácil acertar a previsão do tempo do que enveredar pelos caminhos do que vai acontecer com a economia mundial e como isso vai afetar o Brasil. O fato é que o crescimento vai existir. Acho que temos potencial para manter o ritmo atual, que é o dobro do PIB nacional.


Com os investimentos já anunciados, esperamos que em 2013 nossa capacidade instalada para produção de ‘float’ aumente em 75% comparada a 2011. Para onde vai tanto vidro?


Evandro — Excelente pergunta. Confirmando essa capacidade instalada, de 2012 até 2016 tudo vai depender do ritmo de crescimento associado à capacidade da indústria brasileira de reagir ao assédio dos produtos importados. O impacto no mercado vai depender dessa relação universal de oferta e procura. A Guardian não descarta também a possibilidade de uma nova planta no Brasil para os próximos quatro anos. No momento em que a gente sentir que o crescimento dos nossos clientes exige um investimento nosso, vamos estar preparados.


O mercado brasileiro tem potencial para absorver tantos investimentos?


Evandro — Para os próximos dois anos existe espaço se compararmos a melhor perspectiva de crescimento com a capacidade instalada, mas depende muito do que acontecer com a entrada de vidro importado. A partir de 2014, acredito que a gente comece a cair na armadilha do excesso de capacidade instalada.


Como foi a resposta do mercado aos investimentos que a Guardian fez na planta paulista de Tatuí e na construção do ‘coater’ fluminense de Porto Real?


Evandro — Vamos dividir em partes. A planta de Tatuí atendeu nossas expectativas. Houve muita preparação em colocar essa planta: antes mesmo da construção, a gente já estava preparando o mercado. Diríamos que correu tudo dentro do planejado. Já com o coater, sabíamos que seria um desafio maior, porque traz uma linha de produtos pouco conhecida pelo público, inclusive em relação aos benefícios deles. Esse é um desafio não só da Guardian, mas da indústria de vidro, de forma que o consumidor final conheça, por exemplo, os vidros de controle solar. O coater, eu diria, ainda está em evolução, apesar do crescimento mais do que satisfatório nos últimos dois anos, desde quando a gente tirou a primeira folha processada até hoje.


Mas isso já era esperado?


Evandro — Foi esperado. Temos uma linha que é bastante versátil. Além do vidro de controle solar, produzimos também o DiamondGuard, a linha dez vezes mais resistente a riscos, e o mix desses produtos mantém uma taxa de ocupação bastante satisfatória.


Quais os próximos investimentos a serem feitos pela Guardian no País?


Evandro — Até o final do ano, estaremos com uma linha de espelhos com capacidade para processar jumbo em Tatuí. Com relação à nossa capacidade de produção de espelhos hoje, vamos praticamente triplicar.


O volume de entrada de espelhos importados é altíssimo no Brasil…


Evandro — Acreditamos muito na qualidade do nosso produto. O espelho Guardian preza por qualidade, é reconhecido e esse é o posicionamento que vamos manter. Nossa corrida é para produzir as primeiras chapas de teste no final de 2012. Agora em junho, também estamos dobrando a capacidade de produção de float jumbo em Tatuí. As duas plantas já produzem esse tamanho de chapa e existe uma tendência no mercado de maior consumo desse tipo de produto. Além disso, dobraremos a capacidade de expedição de Fortaleza no armazém inaugurado em agosto e que está indo muito bem no Nordeste.


A Guardian não constou como solicitante no processo de investigação de antidumping (arquivado em dezembro passado) nas importações de vidro ‘float’. Caso a Abividro solicite a abertura de um novo processo, qual será o posicionamento da Guardian?


Evandro — É importante ressaltar que a solicitação da investigação antidumping é uma decisão da associação [Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro] e a Guardian apoia as decisões dela. Para montar a nova estratégia, a gente discutiu muito, pois existem outras maneiras de se impor barreiras comerciais que sejam justas. A gente sabe que a decisão que tomarmos não vai ficar apenas no Brasil, é levada aos fóruns da Organização Mundial do Comércio (OMC). É um trabalho de muita responsabilidade. O que podemos esperar é um novo alinhamento de estratégia com 100% de apoio da Guardian.


Ou seja, a Guardian é a favor de medidas que equilibrem a entrada de ‘float’ importado no Brasil?


Evandro — Correto. Só deve ficar bem claro que ninguém se põe contra a importação. É importante que as condições sejam justas para o fabricante nacional, que está fazendo investimentos massivos no País. O oportunismo do importador e muitas vezes a desigualdade de competição, sim, são o problema, porque todo mundo conhece e vive o que a gente chama de “custo Brasil”. Nem é necessário entrar nos fatos que temos contra a produção nacional: o custo de energia, sobretaxas, questão tributária. Tudo isso faz com que o Brasil, hoje, em vários segmentos, não só no vidro, não seja um país competitivo. Para usar um exemplo do que acontece com a indústria, há poucos anos, uma em cada dez peças de máquinas era importada; hoje esse número é de uma para quatro. Saímos de 10% para 25% de peças de máquinas importadas.


O vidro processado também precisa de medidas de defesa comercial?


Evandro — No período da discussão da primeira estratégia em relação ao problema com os importados, nós alertamos para isso. Imagina o trabalho de alinhar uma estratégia para o float comparado ao trabalho de alinhar uma estratégia para um mercado muito mais pulverizado como o dos processadores? Mas alguma coisa precisa ser feita, sem dúvida nenhuma.


Alguma mensagem final?


Evandro — É importante que o público conheça nosso esforço em aumentar o portifólio dentro da linha de controle solar. Produzimos o vidro de baixa emissão desde que inauguramos o coater em Porto Real e já estamos em estágio avançado de desenvolvimento do split silver, de dupla camada, com mais capacidade de seletividade e menos reflexão. Isso vai aumentar a gama de consumidores finais.


 


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