Vidroplano
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Entrevista completa com Leopoldo Castiella e Renato Holzheim, da Cebrace

21/03/2012 - 00h00

“Para nós, 2012 está representado na figura da neblina”


Leopoldo Castiella e Renato Holzheim, diretores-executivos da Cebrace


Qual a avaliação sobre o desempenho do mercado vidreiro em 2011?


Renato — 2011 foi um ano muito particular, com dois semestres muito diferentes. O primeiro veio nos bons méritos de 2010, com a economia bastante aquecida. O impacto do processo de elevação da taxa de juros ocorrido em abril veio todo no segundo semestre. Organizamo-nos para um segundo semestre bom e fomos surpreendidos, tivemos muita dificuldade, o que ainda se mantém insistente neste primeiro trimestre de 2012.


Leopoldo — Isso acaba afetando, evidentemente, a indústria como um todo. Se analisarmos os últimos cinco meses do PIB industrial, todos tiveram queda.


Renato — E também fez uma série de projetos na construção civil serem adiados. O ritmo está claramente diferente.


Leopoldo — O crescimento anual foi, talvez, duas vezes o PIB nacional, próximo de 6%.


Renato — O que é muito abaixo do que imaginávamos.


E para 2012, qual é a expectativa?


Renato — Na nossa visão, usamos a figura da neblina. A neblina ainda não está totalmente dissipada e, em um momento como esse, com pouca visibilidade do longo prazo, nossa visão é de prudência, um pouco conservadora. Depende realmente do sucesso das ações que o governo vai implementar. Neste instante, não está definido o pé no acelerador por parte da Cebrace.


O que significa prudência quando falamos de expectativa para o mercado vidreiro?


Renato — Dentro da Cebrace, a primeira coisa é uma redução de custo importante, buscar a eficiência de custo em tudo que a gente faz: custos administrativos e industriais, entre outros. Revisitar uma série de coisas que na correria do dia a dia e no afã do crescimento você acaba adiando.


Leopoldo — Uma palavra que resume 2012 é austeridade. Uma das variáveis de que dependemos para ver como o mercado vai se comportar é a taxa de câmbio. A queda da taxa Selic é uma boa notícia. Porém, não sabemos se isso será o suficiente para parar o processo de desindustrialização que está claro no primeiro trimestre deste ano e nos últimos meses do ano passado. Isso tem consequências diretas no mercado do vidro, pois há produto que acaba sendo importado completo. Então, o Brasil como um todo acaba perdendo.


Renato — Não é, por exemplo, trazer apenas o vidro para uma geladeira, mas sim a geladeira inteira.


Em 2013, temos a expectativa de que a capacidade instalada para a produção de ‘float’ aumentará em 75% se comparada a 2011. O que esperar do mercado levando em conta a situação de ‘neblina’?


Leopoldo — Vai depender fundamentalmente de três variáveis. A primeira é o crescimento real do mercado brasileiro. A segunda, a capacidade ociosa da China — hoje, a China representa 50% da produção mundial de vidro e pode ser um complicador para a colocação dessas novas produções dentro do Brasil. E a terceira variável é a responsabilidade de cada uma das novas empresas no mercado. Nós sempre levamos em consideração o balanço de capacidade e a demanda do mercado para tratar dos descartados dos fornos, evitando afetar o mercado de forma negativa.


Responsabilidade é avaliar o mercado para não entrar em uma guerra de preço, evitando a depreciação do produto?


Renato — A responsabilidade que tinham, até então, duas empresas, passará a ser igualmente de quatro. O que menos se espera para os clientes é uma espiral de decréscimo de preço, porque aí perde a cadeia como um todo. É um conjunto bastante complexo: tamanho de mercado, capacidade existente, capacidade de exportação e o nível de equilíbrio de todos esses vetores. Em 2004, a produção do C4 foi 100% exportada; o C5 podia estar funcionando desde dezembro, mas nós atrasamos para poder adequar ao melhor momento, pois seria colocar mais capacidade em um mercado já deprimido, uma pressão adicional no sentido do preço.


Como a fabricação de ´float´ exige produção contínua, é possível diminuir o volume produzido para abaixo da capacidade nominal de cada linha?


Leopoldo — É possível ser feito e é um recurso que todo fabricante tem para administrar esse equilíbrio entre capacidade e demanda. Obviamente, não é a situação ideal. É preferível trabalhar a carga máxima com melhor rendimento para ter o retorno do investimento. Porém, é um recurso que muitas vezes temos aplicado.


E qual o percentual de redução de volume admitido?


Leopoldo — É difícil dizer, pois depende de muitos fatores, como o tipo de vidro produzido e características da linha de produção, entre outros.


Nesse panorama, de certa forma um pouco pessimista, qual a probabilidade de o forno C6 iniciar as operações no prazo anunciado?


Leopoldo — Continuamos trabalhando em cima do C6. Protocolamos a apresentação de impacto ambiental em dezembro e estamos trabalhando junto ao governo da Bahia para ter a licença ambiental, mas não podemos fazer nada sem a licença aprovada. Quando isso ocorrer, podemos começar a criar um cronograma e analisar se 2013 continua sendo realidade ou não. 2012 vai ser um ano definidor para acelerar ou desacelerar.


Renato — Não precisamos decidir exatamente a data em que ele vai ser iniciado, se em 2013 ou 2014. Passa pelo fine tuning o começo de 2013: se vamos antecipar ou postergar um pouquinho em função do mercado e da economia brasileira é o que mais nos preocupa.


Leopoldo — Olhamos a região como um todo. Não podemos esquecer que estamos entrando com a produção do Vidro Andino, na Colômbia, no final deste ano, e com um novo forno argentino em dezoito meses. Na hora de fazer esse balanço brasileiro, faremos o balanço de toda a América do Sul também.


Além do C5 e do C6, existem outros investimentos em vista?


Leopoldo — Em Caçapava (SP), estamos começando a obra civil para a nova linha de espelhos jumbo, cujo início de operação deve se dar no primeiro trimestre de 2013. Na sequência, alguns meses depois, virá a linha de coating em Jacareí (SP), também jumbo. Vamos ter uma linha completa de produtos de valor agregado. Esse é um ponto em que a Cebrace, apesar da “neblina”, continua avançando com velocidade e firmeza.


A Cebrace foi uma das solicitantes da investigação ‘antidumping’ arquivada em 2011. Qual a avaliação desse processo?


Leopoldo — Essa primeira experiência foi um grande aprendizado para nós. Ficou evidente que os prazos internos do governo são muito diferentes dos prazos da indústria. Estamos avaliando os números para definirmos o melhor caminho.


Renato — Se no primeiro momento, a ação encaminhada pela Abividro [Associação Técnica Brasileira das Indústrias de Vidro] tinha uma petição embasada na Cebrace, o que temos hoje é uma unicidade do mercado. Não existe nenhuma dúvida entre os quatro fabricantes — os dois atuais e os dois que entram — sobre o aspecto lícito desse pleito. Agora qualquer nova ação da Abividro será de toda a indústria brasileira.


A Abravidro está preocupada com o aumento da importação de vidros processados no Brasil. Qual a opinião de vocês?


Leopoldo — Estamos com a mesma preocupação da Abravidro. Identificamos uma migração, ou uma expansão, das importações do float básico para o processado. De novo, o vidro acaba perdendo várias vezes. Importação de commodities é ruim; importação de processado é pior; e importação de produto acabado, pior ainda. Por isso, a preocupação com o processo de desindustrialização e por isso a importância das medidas que o governo está votando para tentar estancar esse processo. No momento em que o produto processado é importado, não apenas o processador deixa de processar, mas também o fabricante de matéria-prima deixa de vender. Acho que isso precisa ser acompanhado e deve requerer uma ação também.


 


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