Vidroplano
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Entrevista completa com Paulo Drummond, da CBVP

21/03/2012 - 00h00

“Teremos a oportunidade de reduzir a importação e capturar o mercado interno”


Paulo Drummond, presidente da Companhia Brasileira de Vidros Planos (CBVP)


Como está a operação da CBVP?


Drummond — 2011 foi pouco representativo. Iniciamos a operação por volta de outubro, com o centro de distribuição em Pernambuco construído especificamente para essa finalidade. O CD fica próximo do Porto de Suape, local estratégico para receber o produto e para a distribuição do vidro plano. Fomos incipientes porque estamos no início, mas já estamos operando com regularidade. Em março, iniciamos a distribuição em São Paulo.


Como a fábrica de vocês ainda não foi inaugurada, com quais produtos vocês trabalham atualmente?


Drummond — Por enquanto, vidro float em todas as cores e espessuras. Na sequência, estaremos com outros produtos, como espelhos e laminados. Estamos trazendo vidro de três ou quatro países distintos, incluindo Estados Unidos e Europa. Nada da Ásia.


Vocês acompanharam o mercado de perto no ano passado. Como avaliam o desempenho do setor em 2011?


Drummond — Pela nossa avaliação, estimamos que o mercado vidreiro cresceu 8% em relação a 2010. Embora nossa operação tenha se dado no final do ano, tivemos uma receptividade acima do que esperávamos. Estamos sendo recebidos com muito entusiasmo, o que nos incentiva a seguir no trabalho que desenvolvemos.


Qual a expectativa de desempenho do mercado para 2012?


Drummond — Estamos trabalhando com um número mais baixo do que em 2011, na faixa de 6,5% de crescimento. Existe um descolamento histórico entre o PIB nacional e o mercado vidreiro – este último cresce quase duas vezes o PIB, graças ao desenvolvimento do setor automotivo e da construção civil. Em nosso plano de negócios, contudo, consideramos, além do PIB, mais 70% de crescimento anual de mercado, já levando em consideração os novos fornos da Cebrace, da AGC e o nosso. Estamos falando não só do crescimento de mercado, mas também de um aumento de importação muito grande, mas é óbvio que acreditamos que a indústria nacional vai ocupar um bom pedaço desse mercado. Devemos levar em conta também que não existem apenas novos fornos produzindo – temos paradas, reformas. Em 2012, a CBVP vai ter uma operação mais aquecida.


Qual a expectativa de início de operação da planta de Goiana em Pernambuco?


Drummond — Julho de 2013. Esse prazo, inicialmente, era para o final de 2012. Por que tiveram de estendê-lo? Drummond — Isso é muito comum em um empreendimento dessa natureza, principalmente em um negócio que não é tradicional em nossa história. Temos experiência com vidro para embalagens. Agora, estamos nos tornando um “vidreiro plano”.


No final do ano passado, vocês anunciaram a intenção de construir a segunda planta na Região Sudeste. Como está esse projeto?


Drummond — Contratamos uma consultoria internacional que possui uma modelagem muito inteligente; são ponderados diversos fatores: insumos, proximidade de pontos de distribuição, incentivos fiscais, enfim, todas as variáveis dentro de um modelo econômico. A partir desse conjunto, determina-se a localização ideal para a planta. Sabemos que a região é o Sudeste. O que falta saber é em qual Estado e cidade, mas a previsão é iniciarmos essa operação no segundo semestre de 2015. Veja que não estamos falando de intenção, mas sim de decisão: a necessidade de mercado existe e os recursos estão devidamente alocados. Seremos um player nacional e para isso vamos trabalhar próximos aos nossos clientes e tentar contribuir para o crescimento do mercado. Esse é o foco.


Qual a opinião da CBVP sobre o processo de investigação de ‘antidumping’ — arquivado em dezembro do ano passado — nas importações de vidro ‘float’? Vocês apoiariam a abertura de um novo processo?


Drummond — Não acompanhamos profundamente essa solicitação, pois nem éramos associados à Abividro àquela altura. Agora, não só em relação à importação, como em relação a tudo que diz respeito à deslealdade e ilegalidade, a CBVP sempre será contra, indistintamente da origem. Toda vez que acontecer qualquer atividade contra a política do livre mercado, nós faremos a nossa parte.


Além de uma investigação ‘antidumping’, são necessárias outras medidas de defesa comercial em relação ao ‘float’?


Drummond — Entendo que não só a indústria como as autoridades constituídas do País estão atentas e alertas com a defesa do mercado brasileiro. Veja que existe um movimento das autoridades brasileiras para a proteção desses segmentos. O Brasil vive uma situação especial. Portanto, não podemos ser destino de sobras, de excedentes de produção por crises externas. Não falo de protecionismo, mas de legalidade.


Você acredita que, com o aumento da capacidade produtiva de vidro ‘float’ no Brasil, o preço do material irá diminuir?


Drummond — Deverão ter pequenos ajustes para baixo, mas nada de extraordinário. Nós apostamos muito em uma estratégia de relação a longo prazo com o mercado e não da forma especulativa como predominantemente tem sido feita nessa relação com os importadores. Mesmo quando estivermos com toda nossa capacidade operando, serviços e operações de marketing que ajudarão a intensificar o consumo, não vamos anular a importação, mas teremos a oportunidade de reduzi-la e capturar o mercado interno.


Percebe-se que a entrada de vidro processado importado no Brasil cresce em alta velocidade, podendo gerar um processo de desindustrialização. Como vocês veem essa ameaça?


Drummond — Quando falamos sobre vidro plano, opinamos a partir da nossa prática, da nossa rotina. Vou contar uma história para simbolizar o que quero dizer. Um rapaz tinha sido atropelado por um carro, mas não morreu e ficou com trauma. Um dia, viu uns carrinhos de controle remoto na rua, foi lá e quebrou todos. Perguntaram por que ele tinha feito aquilo e respondeu: “O mal tem de ser cortado pela raiz antes que cresça”. Assim funciona com a cadeia do vidro como um todo. Acho que devemos estar unidos, olhando para frente, instigando as pessoas com poderes para tomar medidas corretas. Se pensarmos só na indústria, em médio prazo estaremos mortos. Existem causas comuns à indústria e ao transformador e essa é uma delas.


 


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