Vidroplano
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Leonardo Barreto discute perspectivas políticas no 15º Simpovidro

19/11/2022 - 18h17

A última palestra do 15º Simpovidro teve como tema Perspectivas políticas para o novo governo. O assunto, extremamente pertinente em um ano de grandes tensões políticas pelo Brasil, ficou a cargo de Leonardo Barreto, sócio da Vector Research (empresa de consultoria em risco político localizada em Brasília), que já coordenou mais de 40 estudos junto a autoridades governamentais, jornalistas e formadores de opinião.

Cenário de incertezas
Barreto começou sua apresentação alertando que a sensação de analisar as perspectivas para o próximo governo no Brasil é semelhante à de pisar em areia movediça devido a mudanças constantes – ele exemplificou contando que precisou alterar parte do conteúdo da palestra um dia antes, devido a notícias que haviam acabado de sair.

Esse cenário de incertezas, segundo o palestrante, tem como causa as eleições muito dramáticas pelas quais o País passou este ano, as quais expuseram uma ferida que vai demorar para cicatrizar no Brasil devido às grandes rachaduras políticas. Além disso, ainda há dúvidas sobre os planos do novo governo – e o fato de que ele pode encontrar muitas dificuldades para conseguir executá-los.

Tendências mundiais
Barreto observou que uma série de reportagens da The Economist aponta que o mundo viverá nos próximos anos uma era de “Big Government” (“Grande Governo”), em que a tendência é que os governos gastarão mais dinheiro para investir nas sociedades e se endividarão mais com isso. Como exemplo, comentou o caso da triplicação dos auxílios sociais no Brasil em 2022 em comparação a 2019 (primeiro ano do governo Bolsonaro).

Segundo o palestrante, há cinco fatores levando a esse cenário: o acirramento de tensões geopolíticas; a necessidade de subsidiar a transição energética em cada país para lidar com as mudanças climáticas; as mudanças demográficas com o envelhecimento das sociedades; o rescaldo da pandemia, em que os governos precisam fornecer um volume maior de ajuda para empresas e pessoas; e a transformação digital, que levará a um grande número de desempregos estruturais e à necessidade de políticas públicas para ajudar as pessoas a passar por esse processo e se adaptar a ele.

Condições para o próximo governo
Em janeiro de 2023, terá início o novo governo Lula, o qual Barreto considera que nasce em uma condição institucional difícil. O primeiro obstáculo diz respeito à própria população, pois como mostrou o resultado apertado da eleição presidencial, o País está muito dividido, com um grande número de pessoas protestando contra esse resultado: essa parcela da sociedade deve se manter insatisfeita e mobilizada em oposição ao governo nos próximos anos.

Para o palestrante, essa cisão popular explica o fato de vários partidos de centro ainda não terem aderido ao futuro governo apesar da vontade de integrá-lo, pelo senso de intimidação devido à massa de pessoas mobilizadas.

Tanto na Câmara como no Senado, Leonardo Barreto observa que o número de deputados e senadores de centro-esquerda é menor que o mínimo necessário para que o presidente consiga aprovar Propostas de Emendas à Constituição (PECs). Tornando a situação mais incerta, há uma grande divisão interna nos partidos políticos – tanto de apoio como de oposição –, então o resultado nas decisões do Poder Legislativo deverá variar de acordo com cada tema ou agenda em votação.

Relação entre os poderes
Durante o governo Bolsonaro, houve uma grande transferência de poder do Executivo para o Legislativo, traduzida principalmente pelo controle do Orçamento. Enquanto o governo que se encerra preferiu deixar que o Congresso resolvesse as responsabilidades no Brasil, o próximo governo quer retomar o poder de decisão, sinalizando a intenção de aprovar ainda este ano uma “PEC da Transição”, mas é incerto se terá êxito.

Ainda nas relações com o Legislativo e com o mercado, a situação desfavorável apontada indicaria que Lula precisaria fazer um governo moderado e reformista. Mas, de acordo com Barreto, o Partido dos Trabalhadores (PT) não demonstra intenção de seguir essa linha, tendo colocado um grande número de representantes do partido nas equipes de transição e restringindo figuras mais conservadoras ou ligadas ao setor privado a poucas áreas, uma delas sendo a de indústria, comércio e serviços. Esse segmento da equipe, por sinal, sugere que haverá uma atuação do governo próxima ao setor industrial e a manutenção e fortalecimento de estratégias tradicionais de fomento, além de políticas de reindustrialização.

Que Lula venceu as eleições?
Essa foi a pergunta que Leonardo Barreto indagou ao público do 15º Simpovidro. Ele enfatizou que quem venceu a eleição foi a figura de Lula, e não se sabe se o novo presidente governará guiado por um espírito de revanche ou de reconciliação. Devido à idade avançada do presidente, Barreto avaliou que Lula possivelmente terá menos paciência para conduzir negociações e coalizões, e focará seus esforços em deixar um legado na área social – e talvez seu governo venha a ter atritos com o mercado financeiro por não compreender a importância deste último para o bom funcionamento do País.

O palestrante encerrou sua apresentação apontando dois possíveis cenários para os próximos quatro anos: um desenvolvimentista, em que o governo decide acreditar que o problema fiscal será resolvido pela arrecadação oriunda do crescimento promovido pelo consumo (com a inserção do pobre no Orçamento); e outro moderado, em que o PT opte por adotar políticas contracionistas do ponto de vista monetário, como feito em 2002 – em ambos os cenários, uma revisão de impostos está prevista.

Crédito da foto de abertura: Marcos Santos e Andreia Naomi



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