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Qual o segredo para a produtividade?

25/02/2019 - 08h45

A produtividade é uma dificuldade crônica na indústria brasileira como um todo. Basta comparar os números nacionais com países desenvolvidos. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor industrial cresceu 8,8% de 2000 a 2016. No mesmo período, a Coreia do Sul, nação conhecida pelo investimento em tecnologia, alcançou incríveis 118,4% — mais de 13 vezes o nosso crescimento.

Vale lembrar que ser mais produtivo não necessariamente significa novos custos para a empresa. Mas, antes de entender isso, é preciso cultivar a “cultura da produtividade” em nossa indústria. Nas próximas páginas, saiba como a eficiência da produção afeta a empresa, confira números da indústria nacional e veja dicas para as companhias vidreiras.

O que é produtividade?
Ser produtivo significa estabelecer uma ligação sustentável entre o resultado da produção e os recursos usados. Ou seja, para produzir mais, nem sempre é necessário gastar mais insumos. O gerente-executivo de Pesquisas e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, aponta os três elementos que, combinados, influenciam diretamente a forma como as empresas atuam:

- Gestão de processos
Fator essencial em momentos de desenvolvimento e crise, é algo para o qual o empresário precisa estar sempre atento, pois permite otimizar processos e acabar com gargalos produtivos e administrativos sem grandes investimentos. É barata, eficaz e gera resultados em curto prazo. Algo muito visto no Brasil é a empresa não se adequar ao novo formato de produção a partir do momento em que cresce e muda de porte.

- Investimento em inovação
Equipamentos modernos fazem a diferença, assim como a busca por novas técnicas. Oferecer produtos diferenciados ou de valor agregado mostra ao mercado a vontade de a empresa estar entre as líderes em tecnologia.

- Qualificação da mão de obra
Sem isso, não é possível nem mesmo inserir formas de produção inovadoras, já que os funcionários não estarão aptos a operar maquinários ou contribuir para o desenvolvimento dos negócios.

Na lanterna mundial

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Um levantamento feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em parceria com o jornal O Globo, revela que um empregado brasileiro gera US$ 16,80 (cerca de R$ 62) por hora trabalhada, em média. Isso nos coloca na 50ª posição entre os 68 países estudados.

A Alemanha, 5ª do ranking, é quase quatro vezes mais produtiva — sua mão de obra produz US$ 64,40 por hora. “Trabalhadores de países com maior produtividade geralmente têm um padrão de vida melhor, são mais qualificados, têm maiores salários e, por isso, não veem necessidade de ter mais de um emprego ou uma jornada tão extensa”, comenta Tiago Barreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), em reportagem de O Globo.

A explicação para esses índices tão baixos está nestes elementos que teimam em continuar presentes em nossa indústria:

– Baixa qualificação da mão de obra;
– Baixo investimento em tecnologia;
– Concentração da maior parte da mão de obra em setores mais informais, como comércio e serviços, ao invés de no setor produtivo;
– Economia nacional pouco aberta à concorrência estrangeira.

Investimento durante a crise
Para Renato da Fonseca, da CNI, a produtividade cresce em períodos de baixa, como o que vivemos nos últimos anos, pois as empresas se veem obrigadas a investir em gestão e a mudar filosofias, principalmente pela queda na produção. “O desafio, no entanto, é manter esse espírito a todo momento, principalmente durante épocas de desenvolvimento”, analisa.

Para Samantha Cunha, economista da entidade, apesar da evolução em anos recentes, a competitividade segue sendo um importante desafio para nossa indústria. “Isso ainda depende da superação de dificuldades, como aumentar a qualidade da educação no País e o investimento em ciência e tecnologia.”

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No Panorama Abravidro 2018, pela primeira vez foram informados os números da produtividade em nossa indústria. De 2010 a 2012, ocorreu um salto grande na proporção de m² produzidos por funcionário mensalmente nas processadoras brasileiras. Com o agravamento da crise na construção civil em 2015, o nível começa a cair, mas ainda mantendo o patamar atingido nos últimos anos.

 

Mas, então, como ser produtivo sem gastar dinheiro?
O instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva, é direto: “Depende do nível de degradação do sistema produtivo”. Quando a empresa aumenta a produtividade, tem como consequência direta a redução dos custos industriais. “Portanto, esse tema, que nem sempre requer recursos financeiros, deve ser tratado como investimento.” Ou seja, o segredo está em reduzir as perdas.

É importante ter em mente que “ser produtivo” pode incluir duas definições:

– A empresa pode produzir mais com os atuais recursos;
– Ou produzir o mesmo volume com menor ativação de recursos.

Em artigo escrito para a Endeavor Brasil, organização mundial voltada para políticas de empreendedorismo, a produtora de conteúdo Laís Grilletti comenta o caso da Alphenz, empresa de tratamento de afluentes, que aplicou conceitos a serem seguidos por qualquer indústria — incluindo a vidreira.

– Até 2014, a Alphenz tinha um nível de retrabalho de cerca de 40% por turno;
– A fábrica não era organizada por processos, mas sim pelo conhecimento pontual dos funcionários. Quando esse profissional saía, mudava todo o método de produção;
– Existiam ruídos na comunicação entre as áreas de Vendas e Engenharia, que geravam discussões a respeito de prazos e custos.

Para resolver isso tudo, foram implementados processos internos com indicadores de desempenho, cada um deles monitorado por responsáveis.

Quando a qualidade dos processos já era algo assegurado, criou-se uma pesquisa para medir a percepção dos operadores com relação aos avanços e ao ambiente de trabalho.

Esse exemplo demonstra que, a partir de mudanças simples na filosofia de trabalho, é possível obter maior resultado produtivo.

“Lição de casa” para o empresário

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“A empresa vidreira deve abraçar uma gestão totalmente profissional”, alerta Cláudio Lúcio. Para isso, ele indica alguns pontos principais a serem realizados:

- Definição do plano de negócio, planejamento estratégico e diferenciais competitivos
Estabelecer estratégias para as operações de atuação em vendas, logística, manutenções prediais e industriais, tecnologias a serem utilizadas e capacidades de atendimento, além de nas relações com fornecedores e mercado consumidor;

- Planejamento fiscal, tributário e financeiro
Identificar fontes de recursos, calcular características do seu ciclo financeiro, estabelecer políticas para aportes e desencaixes, capital de giro necessário e investimentos;

- Planejamento da infraestrutura adequada
Implantar tecnologias adequadas a cada necessidade técnica da operação, de sistemas de tratamento de água industrial a sistemas pneumáticos eficazes, por exemplo;

- Layout adequado ao planejamento estratégico
Implantar uma disposição ajustada e adequada que atenda as necessidades da empresa;

- Modelagem de todos os processos administrativos e produtivos
Estabelecer os objetivos por processos, criando fluxogramas das tarefas;

- Adoção de sistemas de gestão de processos
Implantar sistemas ERP efetivos, aplicando conceitos como inteligência de negócios e indicadores chave de performance;

- Adoção de sistema de gestão de custos
Estabelecendo controle de despesas e perdas, promovendo ações eficazes de direcionamento, correções, redução e otimização dos custos operacionais.

 

PCP: aposta garantida para maior produtividade
O Planejamento e Controle da Produção (PCP) é um conceito moderno em gestão: representa um sistema de gerenciamento dos recursos operacionais da empresa. Com ele, é possível obter o máximo aproveitamento de todo o fluxo produtivo. Por isso, uma boa dica para os interessados em aumentar a produtividade é o módulo de Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoques (PPCPE), parte da Especialização Técnica Abravidro. O próximo curso, ministrado por Cláudio Lúcio, será realizado em 21 e 22 de março, na sede da Abravidro, em São Paulo. Para informações sobre inscrições, entre em contato pelo e-mail abravidro@abravidro.org.br ou telefone (11) 3873-9908.

Este texto foi originalmente publicado na edição 554 (fevereiro de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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