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Saiba como trabalhar com os vidros temperado e laminado

22/04/2021 - 12h09

As reportagens de O Vidroplano constantemente chamam atenção para a importância do cumprimento das normas técnicas para o uso do vidro na construção civil. Nesse sentido, a NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações, principal norma para nosso setor, aponta que apenas os chamados vidros de segurança podem ser usados em determinadas situações.

Dois desses vidros, o temperado e o laminado, são amplamente conhecidos pelos vidraceiros. Ainda assim, é sempre válido repassar suas principais características, as diferenças entre os dois e os cuidados específicos para cada um deles, desde sua encomenda junto à processadora até a instalação na obra.

 

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Características e benefícios
O temperado é resultado de um tratamento térmico (têmpera) que modifica suas características, aumentando sua dureza e resistência mecânica. “Ele é mais rígido e, quando danificado, se estilhaça em pequenos fragmentos, trazendo menor risco ao usuário”, observa José Augusto de Oliveira, gerente-comercial da Vitral Vidros Planos.

O laminado, por sua vez, é composto por duas ou mais chapas de vidro unidas por um interlayer (camada intermediária), que pode ser um filme de polivinil butiral (PVB), etil vinil acetato (EVA) ou até uma resina específica para isso. “Dessa forma, caso o vidro venha a se quebrar, a peça ficará ali parada com os fragmentos presos nesse interlayer, mantendo o vão fechado e evitando risco de ferimentos”, comenta Andrea Oliveira, sócia-proprietária da vidraçaria Silvestre Vidros.

Em ambos os casos, a proteção do usuário final é apenas um dos diferenciais oferecidos pelos produtos. “O temperado permite maior interação com os ambientes porque pode ser instalado de maneira autoportante, isto é, sem o uso de caixilhos, além de ter resistência mecânica que pode ser até cinco vezes maior do que a de uma peça float”, afirma Jefferson Martins, engenheiro de Vendas da PKO do Brasil. Sobre o laminado, André Alves, sócio-diretor da vidraçaria Alto da Lapa Vidros, aponta: “Um benefício que essas peças trazem é a filtragem dos raios ultravioleta, responsáveis por danificar móveis e objetos expostos ao Sol por muito tempo. A redução de ruído também é um atributo buscado por aqueles que optam pelos laminados”.

Renato Santana, coordenador de Qualidade e Lean Manufacturing da GlassecViracon, alerta: “É preciso deixar claro que esses dois vidros só podem ser considerados de segurança se forem devidamente ensaiados de acordo com as respectivas normas técnicas”. Para os dois casos, é o teste de impacto que vai estabelecer a classificação de segurança do vidro. Esse ensaio, descrito para cada produto em sua respectiva norma técnica (NBR 14697 — Vidro laminado e NBR 14698 — Vidro temperado), verifica se eles conseguem suportar golpes sem quebrar e se quebram de maneira considerada segura, além de determinar qual a classificação de segurança para a peça testada.

Encomendando o produto
A primeira etapa do trabalho com temperados e laminados nas vidraçarias é o contato com uma processadora para a compra das peças. Parece um processo simples, e é, mas é preciso atenção para evitar certos problemas que terão consequências indesejáveis mais adiante. “A maior importância deve ser dada à fase de projeto, visando a oferecer um bom aproveitamento das chapas dos vidros que serão transformados em temperados ou laminados”, orienta Luiz Cláudio Rezende, consultor técnico da Viminas Vidros Especiais.

“Para que você consiga especificar de maneira correta o vidro na construção civil, não há outro jeito, a NBR 7199 torna-se indispensável. Para cada tipo de aplicação, é necessário consultar a norma para saber quais vidros são permitidos”, comenta André Alves, da Alto da Lapa. Nesse sentido, ele ressalta que há algumas restrições importantes para o temperado, as quais podem passar despercebidas — ele não pode ser usado em guarda-corpos e coberturas, por exemplo. Os casos em que cada um pode, ou não pode, ser utilizado estão na tabela Que vidro usar?, elaborada pela Abravidro para a campanha #TamoJuntoVidraceiro.

 

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Outro ponto a ser levado em conta na hora da encomenda são as particularidades no fornecimento de cada produto. “O temperado é vendido em peças que demandam um projeto feito pelo vidraceiro, ou pelo processador com anuência do vidraceiro. O laminado é vendido em chapas, com serviço de corte e lapidação. Nesse caso, o cliente, em posse das medidas das peças desejadas, precisa avaliar junto ao processador o melhor tamanho de chapa disponível e que tenha o melhor aproveitamento”, orienta Oliveira, da Vitral.

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Sobre o aproveitamento dos laminados, Rezende, da Viminas, complementa: “A primeira observação deve estar relacionada à melhor indicação do interlayer utilizado, seguida da capacidade do fornecedor com relação às dimensões máximas e mínimas de peças e chapas, o que está diretamente relacionado ao custo-benefício”.

É fundamental ter em mente que as peças de vidro temperado não podem passar por furação e recorte depois do processo de têmpera. Por isso, sempre é preciso verificar se a peça exige furos ou recortes – e, em caso positivo, a localização em que devem estar e as medidas exatas que devem ter, para que sejam feitos antes de as peças serem temperadas. “Quanto maior for a quantidade de informações na formulação do pedido, melhor”, considera Jefferson Martins, da PKO.

 

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Já em relação aos laminados e ao aproveitamento das chapas desse produto, Rezende, da Viminas, aconselha: “A primeira observação deve estar relacionada à melhor indicação do interlayer utilizado, seguida da capacidade do fornecedor com relação às dimensões máximas e mínimas de peças e chapas, o que está diretamente relacionado ao custo-benefício”.

Medição e folgas
Para que o orçamento e a encomenda dos produtos corram como o esperado, a medição do vão a ser preenchido na obra é importante. “É a partir desse ponto que o projeto sai do papel e se torna realidade, sendo o primeiro passo para garantir que a instalação será bem-sucedida”, afirma Andrea Oliveira, da Silvestre Vidros.

Com relação ao dimensionamento das peças, Santana, da GlassecViracon, recomenda que o responsável pelo projeto escolha um processador que tenha equipe técnica que possa analisar tais medidas. Esses profissionais poderão verificar se é preciso fazer mudanças simples e sem impactos nos projetos, resultando em economia financeira significativa.

André, da Alto da Lapa, acrescenta que a medição total do vão acabado – incluindo nível, prumo e suas subdivisões – também é fundamental para o cálculo e aplicação das folgas, considerando os esforços solicitantes e os materiais utilizados para fixação.

“Qualquer falha ou esquecimento com relação a folgas, furos, recortes, definição de qual é o lado externo e interno, entre outras especificações, pode levar a prejuízo”, alerta Luiz Rezende. Felizmente, já existem softwares que facilitam a vida dos vidraceiros na confecção dos projetos, como o disponibilizado no portal da Viminas: basta colocar as dimensões do vão e o tipo de desenho desejado para que sejam informados folgas, furos e ferragens necessárias, entre outros detalhes.

Diferenças no transporte
Engana-se quem pensa que o carregamento e fixação das peças nos veículos de transporte podem ser feitos da mesma forma para os dois tipos de vidro. Andrea, da Silvestre Vidros, explica: “O laminado sempre requer mais cuidado se feito com peças de float, mais frágeis e que podem quebrar se sofrerem muito esforço, o que não acontece com o temperado, material que suporta amarração mais firme”.

 

Transporte dos vidros: sempre coloque todas as peças do mesmo tipo juntas e faça a fixação de cada grupo de acordo com os cuidados que ele exige

Transporte dos vidros: sempre coloque todas as peças do mesmo tipo juntas e faça a fixação de cada grupo de acordo com os cuidados que ele exige

 

A NBR 7199 recomenda que a espessura máxima da pilha com chapas de vidro para armazenamento seja de 600 mm para laminados e 800 mm para temperados. Já a inclinação das peças deve ser de 4 a 6 graus em relação à vertical. No caso dos laminados, a base do cavalete deve ser inclinada em relação à horizontal de modo a formar um ângulo de 90 graus com a superfície de apoio ao longo da altura do vidro.

Dessa forma, o ideal é não misturar os vidros, mas sim colocar todas as peças do mesmo tipo juntas e fazer a fixação delas de acordo.

Hora de instalar o vidro!
Quando o temperado for instalado de forma autoportante, nunca aperte as ferragens além do necessário — isso pode levar à quebra do painel. O respeito às folgas mínimas entre as bordas e a colocação de um material intercalário (como borracha, silicone ou cortiça) que impeça o contato direto entre o vidro e as ferragens também são cuidados essenciais.

No caso do laminado, é preciso lembrar que ele não pode ter contato direto e permanente com água ou umidade – como, por exemplo, infiltrações em caixilhos ou piscinas com borda infinita –, pois isso pode causar a delaminação da peça. “Os cuidados na instalação de um laminado também passam pela atenção no uso de calços e selantes na hora de encaixilhá-los – esses produtos devem ser neutros em relação ao interlayer para não agredi-lo e levar a problemas no vidro”, orienta André, da Alto da Lapa.

Por fim, Oliveira, da Vitral, aconselha: “É sempre importante que os profissionais estejam atentos às normas NBR 14697 — Vidro laminado e NBR 14698 — Vidro temperado, ambas atualmente em processo de revisão, além de buscar o aperfeiçoamento contínuo em cursos oferecidos pelas associações regionais, para que apresentem a solução mais bonita, moderna e segura a seus clientes”.

Este texto foi originalmente publicado na edição 580 (abril de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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