Vidroplano
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Saiba mais sobre como especificar insulados

21/06/2021 - 10h30

A reportagem especial de O Vidroplano de maio comentou os motivos para os vidros insulados, produtos que oferecem diversos benefícios aos usuários, serem tão pouco usados no Brasil – representam apenas 0,5% de todo o material consumido por aqui, segundo o Panorama Abravidro 2021. Conforme prometido no mês passado, o material volta à pauta da revista para trazer um olhar mais técnico sobre suas propriedades. Como a especificação deve ser feita, considerando o clima do lugar em que serão instalados? Que tipos de perfil podem recebê-los? Quais os maquinários usados em sua fabricação? O manuseio e instalação dessas peças necessitam de cuidados especiais? Confira tudo isso e mais a seguir.

A relevância térmica
Como visto na edição de maio, o mito de que os insulados seriam indicados apenas para locais em que faz muito frio não se sustenta, já que eles conseguem tanto reter o calor no interior de uma edificação como impedir a entrada do calor nela – o que define sua função é exatamente a especificação.

 

O tipo de vidro usado em um edifício ajuda a determinar a intensidade do fluxo de calor que entrará no espaço Divulgação Crescêncio Consultoria

O tipo de vidro usado em um edifício ajuda a determinar a intensidade do fluxo de calor que entrará no espaço
Divulgação Crescêncio Consultoria

Um termo-chave para essa tarefa é “transmitância térmica”, um índice físico representado pela letra U. “Ele representa o quanto de calor um material conduz quando submetido a uma diferença de temperatura”, explica o engenheiro Fernando Westphal, consultor técnico da Abividro e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E o tipo de vidro usado em um edifício ajuda a determinar a intensidade do fluxo de calor que entrará no espaço. Como demonstra Giorgio Martorell, gerente de Vendas para a América do Sul da fabricante de maquinários para processamento Lisec, nosso material reage de diferentes formas:

– Um monolítico comum de 5 ou 6 mm de espessura tem U de 5,6 W/m².K. Para simplificar: ele transfere 5,6 W de calor para cada m² de área e para cada grau de diferença entre o ambiente externo e interno;

– Já em um insulado composto por duas peças separadas por câmara de ar de 12 mm, esse índice cai pela metade: 2,80 W/m².K, o que significa que o interior esquentará muito menos.

O cálculo para escolher o vidro não é simples e envolve diversas variáveis, afinal todos os elementos de um insulado (incluindo espaçadores, silicones para vedação etc.) devem oferecer desempenhos semelhantes. “É importante que o perfil da esquadria tenha transmitância térmica próxima ao do vidro utilizado”, alerta Westphal. Dessa forma, os materiais irão trabalhar em conjunto para se chegar ao objetivo definido no início do trabalho – barrar a entrada de calor ou impedi-lo de sair.

 

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A relevância acústica
Quanto maior a massa de um material, melhor seu desempenho acústico. É por isso que, por ser mais pesado, o vidro deixa passar menos som do que o plástico ou a madeira, por exemplo. Isso significa que quanto maior a espessura da chapa, maior o isolamento. Então, basta instalar peças grossas em qualquer projeto, certo? Errado.

Todo vidro vibra ao receber uma frequência específica de som, diminuindo sua capacidade como isolante. Vidros grossos são excelentes para barulhos pesados e graves (como o de um caminhão), mas, para barrar sons agudos (como uma buzina), seu desempenho cai. Os vidros finos, por outro lado, funcionam de forma inversa: bons contra agudos, ruins contra graves. A solução mais eficaz é combinar materiais para compensar essas perdas inevitáveis.

Nesse sentido, o insulado surge como excelente opção, pois a câmara entre as lâminas de vidro faz com que boa parte das ondas sonoras fique “presa” ali, perdendo poder de transmissão para dentro da edificação. “Quanto maior o distanciamento dos vidros, maior o desempenho térmico e acústico, sem precisar aumentar o peso e o custo final”, define Edison Claro de Moraes, diretor-proprietário da Atenua Som, empresa especializada em soluções envidraçadas para isolamento.

Assim como na questão térmica, os demais elementos do conjunto também são fundamentais para os resultados obtidos, principalmente a vedação das esquadrias. “Para melhorar o desempenho acústico, é recomendável incorporar um ou dois vidros laminados ao sistema insulado, a fim de atenuar as tais vibrações produzidas na superfície dos vidros ao receber ondas sonoras”, indica Martorell, da Lisec.

De olho nas esquadrias
A matéria-prima dos perfis tem influência direta no desempenho térmico do insulado. “Nesse caso, o PVC leva vantagem. O alumínio, para ter o mesmo desempenho, precisa utilizar o thermal-break — ‘ponte térmica’ —, um isolamento térmico interno”, explica Moraes. De fato, o alumínio tem transmitância térmica em torno de 6 W/m².K – somente com o thermal-break chega ao redor de 3 W/m².K, mesmo valor do PVC.

Outra solução são os perfis chamados warm edge. “São de uma tecnologia cada vez mais utilizada na América Latina e podem ser de aço inoxidável e/ou plástico e, ao contrário dos de alumínio, ajudam a reduzir o coeficiente de transferência de calor, tornando as janelas mais eficientes”, comenta Sebastian Iachini, agente de Vendas e Suporte Técnico da fabricante de insumos para insulados Fenzi. Esses perfis mantêm a borda do vidro mais quente em até 65%, reduzindo o risco de condensação do ar dentro do conjunto.

 

A matéria-prima dos perfis tem influência direta no desempenho térmico do insulado

A matéria-prima dos perfis tem influência direta no desempenho térmico do insulado

 

O diretor-comercial da processadora GlassecViracon, Marcelo Martins, relembra outra questão importante a ser levada em conta: “Como no Brasil a aplicação do insulado é mais comum em fachada unitizada, alertamos para o correto cálculo do ‘bite’ de silicone, o espaço para sua aplicação, de forma a garantir estabilidade e segurança dos conjuntos após instalados”.

Persianas: aliadas para o desempenho
Um dos grandes diferenciais do insulado é a possibilidade de se instalar persianas de lâminas ou de tecido (em rolo ou plissada, com dobras) dentro da câmara, de forma a se ter controle de entrada de luminosidade e também aumentar a eficiência térmica.

“A diferença na qualidade desse produto está na particularidade dos componentes utilizados e dos sistemas de movimentação, o que vai garantir sua durabilidade”, afirma Roberto Papaiz, diretor da fabricante de persianas Screenline. Matérias-primas com característica no fogging (que não permitem embaçamento) e movimentação magnética estão entre o que de mais moderno existe para essa solução.

 

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As persianas podem oferecer:

– Proteção solar de até 90% quando usadas com vidros de controle solar neutros;

– Assepsia total, pois dispensam a limpeza;

– Manutenção zero, pelo fato de serem automatizadas;

O controle da luminosidade é outro ponto favorável. “As lâminas se comportam como ‘prateleira de luz’, refletindo a luz para o teto dos ambientes e ajudando a distribuí-la de forma difusa, sem gerar ofuscamento”, explica Papaiz.

 

Linhas automáticas integradas ajudam a diminuir o tempo de fabricação dos conjuntos insulados

Linhas automáticas integradas ajudam a diminuir o tempo de fabricação dos conjuntos insulados

 

Tecnologias em maquinários
A evolução do setor vidreiro mundial se reflete especialmente na fabricação dos insulados. “As máquinas estão mais automatizadas e mais rápidas, disponíveis para tamanhos de chapas maiores, e incluem equipamentos como scanners para a verificação da qualidade final”, aponta Yveraldo Gusmão, diretor da GR Gusmão. Os espaçadores flexíveis são exemplos desse desenvolvimento. O trabalho com eles garante ciclos de produção mais rápidos, devido à eliminação dos processos de serragem e dobra do perfil.

Outro fator que diminuiu o tempo da montagem dos conjuntos insulados é a criação de linhas automáticas integradas. Alguns modelos, como a Fastlane, da Lisec, permitem o trabalho em dois conjuntos ao mesmo tempo. “Com conceitos de sistemas de controle centralizado, esses equipamentos só precisam de um operador para supervisionar o processo”, explica Giorgio Martorell. A velocidade é tamanha que as máquinas podem concluir um insulado em até 16 segundos (como se vê na linha Velocity Plus).

Manuseio e instalação
Cuidados especiais são necessários na hora de manusear e instalar insulados. Conforme reforça Petrucci, durante o transporte, as peças devem sempre estar na posição vertical ou levemente inclinada. “Nunca se deve mantê-las na horizontal por longo período, pois isso pode acarretar flexão no vidro de forma permanente, impedindo-o de voltar para o estado plano.” Uma chapa assim, quando instalada nessas condições, poderá ocasionar distorção óptica, comprometendo a qualidade do empreendimento.

Luiz Jaison Lessa, gerente-geral da processadora Rohden Vidros, também chama atenção para o manuseio: “É preciso evitar posicionar as chapas em superfícies rígidas ou com faces pontiagudas, já que podem causar riscos ou mesmo quebras”. O armazenamento também conta com segredos: deve-se manter o produto em local abrigado, seco e bem ventilado. “É fundamental protegê-lo da umidade e da poeira, sempre usando intercalários entre as peças”, indica Lessa.

Mais um cuidado a se tomar: a equalização de pressão da câmara interna, procedimento necessário quando nosso material for produzido em uma região de determinada altitude e, depois, instalado em local de outra altitude. A diferença entre as pressões atmosféricas e a pressão interna do vidro também pode levar a distorções.

Gusmão aponta mais boas práticas:

– No momento do transporte, o selante secundário (que “fecha” o conjunto insulado como um todo) precisa ter alcançado dureza suficiente para não sofrer com a movimentação do veículo. Em geral, essa dureza chega após 24 e 48 horas, dependendo do selante utilizado;

– Deve-se verificar a compatibilidade entre os selantes utilizados;

– Sempre utilizar calços de apoio para a montagem correta.

Com os ensinamentos técnicos deste mês, e mais as percepções de mercado vistas no mês passado, ficamos com a esperança de, num futuro próximo, celebrar o aumento da utilização dos insulados em nosso país.

Câmaras: preenchê-las com o quê?
As câmaras dos insulados podem ser preenchidas com gases, cuja função está associada à melhoria no valor de isolamento térmico, contribuindo para reduzir ainda mais a taxa de transferência de calor. “Em países com clima mais quente ou moderado, a maior parcela da carga térmica nas edificações ocorre por radiação e não por condução; portanto, o uso desse tipo de recurso não é muito efetivo”, explica o engenheiro Crescêncio Petrucci, sócio-fundador da Crescêncio Consultoria. Assim, para a maioria dos empreendimentos nacionais, basta preencher o conjunto com ar.

Edificações em regiões mais frias podem usar três gases, conforme indica Crescêncio:

- Argônio: mais comum e acessível economicamente, pode melhorar a condução térmica do vidro em torno de 15%;

- Criptônio: oferece um nível acima de desempenho do vidro, entretanto seu custo é muito superior ao do argônio;

- Xenônio: é o mais eficiente de todos e também o mais caro. Sua utilização é recomendada para climas severos, preferencialmente em vidros triplos.

Para trabalhar com o produto com gás, o processador precisa ter os equipamentos corretos para o preenchimento da câmara, alerta Renato Santana, coordenador de Qualidade da GlassecViracon. “É importante exigir isso das beneficiadoras, pois, como os gases são invisíveis, não há como comprovar a concentração dele sem a medição correta. Mundialmente, é exigida uma concentração acima de 85%.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 582 (junho de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.




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