Vidroplano
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Saiba mais sobre a laminação com EVA

21/07/2020 - 11h50

Se no mês passado, O Vidroplano falou sobre os segredos do PVB, chegou a hora de abordar outro tipo de interlayer usado nos vidros laminados, o EVA. Produto relativamente recente no mercado, por isso mesmo ainda causa dúvidas em relação aos benefícios que oferece a nosso material. Nesta reportagem, confira como o filme é feito, os cuidados a serem tomados durante o processamento dos vidros que o utilizam e para quais aplicações é indicado.

Estação do metrô em Valencia, Espanha, cujos laminados usam EVA da Evalam: interlayer oferece diversas possibilidades estéticas.

Estação do metrô em Valencia, Espanha, cujos laminados usam EVA da Evalam: interlayer oferece diversas possibilidades estéticas.

 

O que é
Feito de acetato de etileno-vinil, o EVA é usado há cerca de trinta anos — para comparação, o PVB existe há quase um século. Sua composição química faz com que suas moléculas internas gerem ligações muito fortes, garantindo excelente desempenho em condições especiais, incluindo umidade e alta temperatura. “O Brasil pode ser considerado pioneiro no seu uso em vidros de segurança, pois era um produto limitado ao uso decorativo em vários mercados, como o europeu e americano”, conta Teodoro Baldassare, diretor-comercial da Glasco, distribuidora de insumos para laminação.

Atsushi Narita, diretor-presidente da Corbon Blindagem Arquitetônica, comenta a respeito da “rivalidade” existente entre esses interlayers: “Não vejo os materiais como concorrentes diretos, mas como complementares. Acredito que a escolha entre eles está mais ligada à aplicação à qual o vidro se destina”.

Divulgação Gusmão-GR

Divulgação Gusmão-GR

 

Divulgação Pilar Glass

Divulgação Pilar Glass

Uso estrutural: alto nível de adesão do filme garante comportamento excelente em situação de carga estática

Uso estrutural: alto nível de adesão do filme garante comportamento excelente em situação de carga estática

 

Onde aplicar
Em artigo no Glastory, banco de dados técnicos da Glaston, fabricante finlandesa de maquinários para processamento, Riku Färm, gerente de Produto, explica que o alto nível de adesão desse interlayer aumenta a resistência do produto final à delaminação. Baldassare complementa: “Do ponto de vista mecânico, seu comportamento é excelente em situação de carga estática, o que o torna ideal para aplicações estruturais. Porém, a rigidez do material pode afetar a dissipação de energia em caso de impacto”. Sua baixa higroscopia (capacidade de absorver água) faz com que seja indicado para locais úmidos, como piscinas e aquários.

O EVA também é utilizado na fabricação de vidros blindados ou multilaminados (considerados antivandalismo). “Nos blindados, ele serve para absorver a energia do impacto da bala e impedir que o vidro se estilhace”, explica Kristina Wu, gerente-comercial da Indoor Glass, importadora de maquinários e insumos. “O calibre suportado pela peça dependerá do número de camadas da película, sua espessura e composição dos materiais.” Pelo fato de ser possível laminá-lo com outros materiais, como tecidos, papel de parede, filme de LCD, folhas de plantas, pedras, metais etc., pode ser explorado ainda no design de interiores e decoração, com diferentes padrões de imagens e cores. “Sua capacidade de encapsulamento e compatibilidade com tecnologias e matérias-primas permite criar vidros interativos, sendo uma ferramenta poderosa de imaginação e expressão criativa”, analisa Joaquín Pujol, diretor de Vendas do grupo espanhol Pujol, dono da Evalam, uma das líderes mundiais na produção de EVA.

Características
Os EVAs podem ser divididos em dois grupos:

- Para laminação de vidro usado na construção civil: disponíveis para aplicação em área externa ou interna. Os destinados aos ambientes externos possuem maior percentual de bloqueio dos raios UV (chegando a quase 100% em alguns tipos do interlayer) e maior resistência ao envelhecimento. Existem soluções coloridas, as que garantem maior transparência e conforto acústico (como o Evalam Visual, da Evalam, por exemplo) e voltadas para aplicações estruturais, entre outras;

máquina

 

- Para a produção de células fotovoltaicas: um dos principais elementos na construção dos módulos empregados na produção de energia por longos períodos de tempo e sob condições extremas de operação (exposição a intempéries, como chuva e granizo). “É um produto fotovoltaico por excelência, tendo sua origem na aplicação em satélites e posteriormente em painéis terrestres”, afirma Sergio Permanyer, gerente de Marketing e Comunicação da Pujol;

Outras características relevantes, de acordo com as empresas ouvidas pela reportagem:

– Por ser um polímero termorrígido, o produto final mantém as mesmas características mecânicas em situações de temperatura acima de 60 e 70 °C;

– Não usa plastificantes na composição, garantindo um descarte sustentável;

– Além disso, segundo Teodoro Baldassare, da Glasco, tem baixo coeficiente de absorção de umidade, o que permite a instalação de laminados sem necessidade de proteger a borda.

Passo a passo do beneficiamento
– O vidro pré-processado (ou seja, cortado, lapidado e lavado) é encaminhado para uma sala limpa. “Ali, passa por um processo de limpeza manual e mais minucioso, no qual é utilizado álcool isopropílico, de forma a não deixar resíduos”, conta Atsushi Narita, da Corbon. São usados também rolos antiestáticos que capturam qualquer resquício de poeira;

– As chapas, então, vão para a montagem dos conjuntos vidro/EVA/vidro. “Devem ser aplicadas fitas de borda, para evitar o posterior transbordamento do EVA quando em seu estado pastoso, durante o aquecimento”, recomenda Leonardo Ramalho, gerente da Bend Glass. O uso da fita vai depender do tipo de EVA;

– Esses conjuntos são selados dentro de bolsas de silicone com fecho hermético, conectadas a uma bomba a vácuo. A sucção do ar dentro da bolsa comprime as lâminas de nosso material;

– Após se averiguar que não há vazamento de ar, as peças vão para o forno, onde passarão por um ciclo de aquecimento. Por volta de 135 °C, tem-se o processo de reticulação polimérica, em que o EVA se torna transparente, aumenta a aderência com o vidro e endurece (veja mais no quadro “Atenção aos detalhes!”, abaixo);

– Depois disso, o vidro é retirado do forno para ser resfriado. “Procede-se a uma nova limpeza e inspeção em relação à transparência e verificação de possível deslocamento das peças”, comenta Roberto Motta, diretor da Pilar Glass.

Atenção aos detalhes!
As peculiaridades da laminação com EVA precisam ser levadas em conta pelas empresas. Confira as mais importantes:

Divulgação Glasco

Divulgação Glasco

 

Indicações dos fabricantes: é essencial respeitar os padrões de tempo no forno e temperatura estabelecidos pelo fabricante do interlayer. Não se deve tentar encurtar o processo por conta própria;

Características ópticas: isso também vale para a transparência do filme. Os fabricantes são responsáveis por indicar os resultados a que se podem atingir. Se, por exemplo, determinado EVA é caracterizado por índices de transparência inferiores aos de um PVB, o processo não mudará o resultado final;

Equipamentos em bom estado: para Osmar Zimmer Júnior, diretor da Pilar Glass, a manutenção preventiva de bolsas, sistemas de sucção e demais maquinários é essencial para uma boa laminação. “Isso sem falar no treinamento constante dos colaboradores e uso de cavaletes para o armazenamento”;

Estoque: o vidro com EVA não tem problemas de absorção de umidade. “Deve ser armazenado em local arejado, mas sem muitas observações. Não há registros de problemas com o armazenamento, comporta-se bem em qualquer ambiente”, explica Leonardo Ramalho, da Bend Glass.

De olho nos maquinários
Os fornos para laminação com EVA são exclusivos para esse tipo de interlayer. “Cada fabricante desses equipamentos utiliza sua própria técnica de aquecimento e resfriamento conforme sua tecnologia. Por isso, também precisam informar sua ‘receita’ para o processador alcançar o melhor desempenho”, destaca Yveraldo Gusmão, diretor-comercial da Gusmão-GR.

A temperatura precisa ser homogênea ao longo de toda a câmara, evitando variações, principalmente em suas extremidades. “Tecnicamente, a melhor forma utilizada para isso é a de convecção”, afirma Gusmão.

E as atividades anteriores no beneficiamento também precisam de maquinários em bom estado. Uma têmpera malfeita, por exemplo, vai causar empenamento nas peças — assim, o EVA não conseguirá unir as lâminas adequadamente.

O que dizem as normas
Esse tipo de laminado, bem como qualquer outro, é regido pela norma NBR 14697 — Vidro laminado. Para ser considerado um vidro de segurança, precisa atender os requisitos desse documento e ser aprovado em todos os ensaios, incluindo o de impacto de classificação de segurança (saiba mais a respeito na seção “Por dentro das normas” da edição de junho de O Vidroplano). Kristina Wu, da Indoor Glass, explica: “Sua classificação dentro dos níveis previstos na norma dependerá da composição do conjunto a ser submetido ao teste, levando em consideração a espessura dos vidros e a quantidade de películas”.

Este texto foi originalmente publicado na edição 571 (julho de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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