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Saiba o que são guarda-corpos estruturais e como trabalhar com eles

15/12/2020 - 10h36

O uso de vidros em guarda-corpos já é bastante comum no Brasil. O mercado conta com diversas opções para a aplicação desses sistemas, de torres a perfis, de bottons a spiders. Com a tendência de valorização da transparência nas obras, os chamados guarda-corpos estruturais mostram-se bastante atrativos – mas a atenção com a segurança oferecida por eles precisa ser ainda maior em todas as etapas, desde o projeto e especificação dos componentes até seu ensaio e instalação.

Conheça um pouco mais sobre esses sistemas e a forma como o trabalho deve ser realizado.

 

Características dos guarda-corpos estruturais
Guilherme Valeriano, responsável pelo Departamento Técnico Comercial da Q-Railing no Brasil, explica: “O objetivo é priorizar o uso do vidro apropriado como principal elemento estrutural, descartando assim o uso de montantes estruturais verticais e horizontais”.

Segundo o engenheiro civil Crescêncio Petrucci Júnior, diretor técnico da Crescêncio Petrucci Consultoria, frequentemente é possível notar nos modelos de guarda-corpos estruturais a ausência de elementos como montantes e corrimão – e, quando presentes, são muito menores e minimalistas, contribuindo muito pouco ou quase nada com a responsabilidade estrutural do conjunto.

“Em geral, os guarda-corpos considerados tradicionais possuem esses elementos estruturais (montantes e o corrimão) de aço e/ou alumínio, sendo o fechamento do vidro ou outro material fixado e suportado por esses elementos”, observa Crescêncio. “Já nos guarda-corpos considerados estruturais, os elementos de fechamento, seja vidro ou outro material, passam a desempenhar também a função de suportar as cargas de vento e os esforços previstos na norma de guarda-corpos, a NBR 14718.” Nesse caso, o fechamento assume maior responsabilidade na segurança e desempenho do produto.

 

Onde podem ser usados
Douglas Alves, representante de Serviços Técnicos do setor de Interlayers-Arquitetura da Eastman, relata que o uso desse tipo de guarda-corpos tem crescido cada vez mais no Brasil e no mundo, “seja em edifícios corporativos, shopping centers e espaços de eventos, como estádios, ou até mesmo em aplicações residenciais, já que o vidro garante o aspecto estético do projeto, sem comprometer a segurança”. De acordo com Alves, não há qualquer restrição à aplicação de guarda-corpos de vidro estrutural, desde que as normas NBR 14718 — Guarda-corpos para edificação e NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações sejam sempre seguidas.

“Cada vez mais o arquiteto busca transparência total”, avalia Nelson Libonatti, diretor-geral da Glass Vetro. Valeriano, da Q-Railing, concorda: “Esses produtos estão mais presentes em projetos arquitetônicos que priorizam leveza. Na arquitetura minimalista, esse modelo estrutural é o que atende 100% dessa expectativa”. Segundo Valeriano, não há limitações técnicas ou arquitetônicas para esse tipo de aplicação, mas é importante, primeiro, avaliar se a superfície de instalação é suficiente.

Outro ponto a ser levado em conta é a viabilidade do produto. “Devido à engenharia envolvida nos projetos e aos materiais empregados na sua composição, esse tipo de guarda-corpos apresentava custo elevado”, conta Petrucci Júnior. “Com o passar do tempo, a utilização foi aumentando e os custos reduzindo, sendo que hoje em dia podemos encontrar muitos empreendimentos residenciais com essa instalação – claro que, por enquanto, essas construções são de alto padrão; mas, aos poucos, empreendimentos de médio padrão têm se aventurado no uso desses sistemas”, completa.

O engenheiro e arquiteto Alexandre Baccari, responsável pelas áreas de Arquitetura e Engenharia da Glass Vetro, recomenda o uso de tubo-corrimão superior ou lateral com proteção da borda: segundo ele, isso ajuda na estruturação do sistema e garante que, caso ocorra a quebra de algum dos vidros, o painel seja suportado pelos demais.

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Atenção ao projeto!
Otávio Akinaga, coordenador de Vendas Técnicas da Kuraray, ressalta que é importante projetar o vidro laminado com base na localização da obra. “Devem ser consideradas cargas como as do vento, sísmica e de detritos transportados pelo vento”, afirma.

Crescêncio, por sua vez, aponta que, para projetos de guarda-corpos estruturais, o dimensionamento das peças de fixação e o vidro são os pontos mais delicados, pois sempre exigem cálculos complexos e, muitas vezes, análises por meio de simulação computacional com métodos de elementos finitos. “É preciso tomar muito cuidado com a simplificação dos cálculos. Aquela história de que ‘eu já fiz um trabalho parecido e esse pode ser igual’ não se aplica a esse tipo de obra”, explica.

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Dessa forma, deve-se sempre identificar e adotar o método de engenharia adequado para cada caso. Por isso, além dos cálculos, a apresentação de detalhes em 3D do projeto pode ser de grande ajuda para que não haja dúvidas na hora da fabricação e montagem do sistema – afinal, muitas dessas soluções são customizadas e exclusivas para determinados empreendimentos.

 

Que vidro usar?
A NBR 7199 determina que apenas laminados ou aramados podem ser usados em guarda-corpos. Embora a norma não fale de versões estruturais desses sistemas, os especialistas indicam produtos especiais. “O vidro deve ser sempre laminado de temperados. Um laminado comum facilmente iria apresentar trincas nos testes de esforços estáticos horizontais previstos na NBR 14718”, comenta Valeriano, da Q-Railing. Ele acrescenta ainda que um guarda-corpos estrutural é feito de um vidro autoportante que sempre estará suscetível a impacto humano ou animal e a pressões de vento, entre outros fatores. Assim, a escolha de um interlayer estrutural também é essencial.

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A opção mais resistente no mercado é o SentryGlas, da Kuraray, um ionoplástico desenvolvido especificamente para aplicações externas na construção civil, sendo cinco vezes mais forte e cem vezes mais resistente a rasgos do que outros interlayers estruturais. “O SentryGlas também tem estabilidade de borda superior em comparação com outros interlayers, sendo resistente quando exposto às intempéries. Já temos peças com esse produto com quase 25 anos de exposição natural em Miami, nos EUA”, conta Akinaga.

Por sua vez, a Eastman desenvolveu o PVB estrutural DG41XC. Segundo Douglas Alves, trata-se de um produto de alta rigidez e resiliência e também de maior adesão ao vidro e resistência ao impacto, bem como estabilidade de borda superior e neutralidade de cor para uso na laminação de peças extra clear. “Seu processamento é similar ao do PVB convencional, além de ser compatível com todos os nossos outros tipos de produto, como a linha de interlayers coloridos Vanceva”, acrescenta.

Mas, além da laminação do vidro com um interlayer estrutural, Akinaga aconselha: “Quando as bordas do laminado estão expostas e visíveis, é importante que elas tenham um processamento que garanta bom alinhamento e suavidade”.

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Como fixar o guarda-corpo estrutural?
“Os instaladores devem avaliar, em primeiro lugar, a segurança, pois trabalhamos com vidas e temos a obrigação de zelar por elas”, adverte Libonatti, da Glass Vetro. Para isso, ele explica que o vidraceiro deve estar atento aos seguintes itens:

– Qual o substrato em que será fixado o guarda-corpos (e ele é seguro e resistente para esse tipo de instalação)?

– Qual a carga que o guarda-corpos terá de suportar?

– O guarda-corpos será instalado em espaço com alto tráfego de pessoas?

– O ambiente em que o sistema será instalado estará em área externa ou interna? Se externa, será próximo a local sujeito à maresia?

Crescêncio reforça que, no trabalho com guarda-corpos estruturais, é sempre importante entender com clareza o projeto, pois esse tipo de sistema costuma envolver soluções customizadas muito diferentes das utilizadas em guarda-corpos convencional. Ele também alerta para a integridade das peças a serem instaladas: “Como o vidro tem papel de maior relevância na rigidez do conjunto no caso de aplicações estruturais, é sempre importante ter muito cuidado ao manusear essas peças, considerando que pequenos danos na sua borda podem reduzir significativamente sua capacidade de resistência e comprometer a segurança esperada para o sistema”. Portanto, o cuidado na montagem deve ser redobrado.

Outro ponto importante na fabricação e instalação desse tipo de aplicação é a tolerância, ou seja, o desvio que pode ocorrer nas medidas das peças e posição das furações quando presentes em determinados modelos de guarda-corpos. “Falhas devido a erros de medidas das peças de vidro e/ou furações podem comprometer significativamente a montagem dos vidros e, sobretudo, o desempenho e a segurança do sistema”, orienta o diretor técnico da Crescêncio.

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Douglas Alves, da Eastman, aponta que, na instalação, as bordas do laminado não devem permanecer em contato permanente com água acumulada. O sistema de fixação, por sua vez, não deve exercer pressão demasiada sobre o vidro. Além disso, caso outros produtos, como silicones, sejam colocados em contato direto com o interlayer, a compatibilidade entre esses materiais precisa ser avaliada antes da aplicação. Akinaga, da Kuraray, ressalta que já existem diversos sistemas de envidraçamento a seco disponíveis no mercado que possibilitam eliminar a necessidade de selantes químicos.

Por fim, Valeriano, da Q-Railing Brasil, recomenda: “Procure sempre fabricantes que apresentem a solução completa para sua instalação, começando já na ancoragem do produto e indo até um elemento opcional de acabamento. Apesar de o vidro ser o destaque principal desse tipo de aplicação, os outros elementos devem compor de forma harmônica e segura para o sucesso da instalação de todo o conjunto”.

Este texto foi originalmente publicado na edição 576 (dezembro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.



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