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Usinas desenvolvem vidros para o Brasil

Novos produtos são pensados para as demandas e necessidades do mercado nacional
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Usinas desenvolvem vidros para o Brasil

“Valor agregado” é um termo bastante usado em algumas reportagens de O Vidroplano. Faz referência a um produto com características especiais, que leva mais benefícios aos clientes que itens considerados “padrões”, ao mesmo tempo em que garante maior lucro para quem o vende – afinal, é comercializado a um valor maior justamente por ser diferenciado.

Nos últimos tempos, as usinas nacionais apostam na criação de linhas assim, com a vantagem de serem pensadas para o mercado brasileiro. Mas por que nosso país precisa de produtos desse tipo? Como é a produção desses materiais? Para entender como tudo funciona, a equipe da revista conversou com as fabricantes que atuam no Brasil e já desenvolveram esses vidros – procurada, a Guardian não conseguiu atender o prazo para envio das respostas.

 

Por que fazer?
Incentivar a maior aplicação de nosso material é prioridade da indústria – afinal nossos números em relação ao consumo de vidro são bem inferiores aos de outras regiões do mundo, como América do Norte ou Europa. Lá fora, é normal a criação de produtos específicos para atender exigências de mercados, como permitir maior conforto térmico em regiões muito frias, por exemplo. E por aqui? Qual a necessidade de oferecer novas soluções aos clientes?

“A construção civil brasileira vem passando por algumas mudanças nos últimos anos, principalmente com o advento de normas técnicas que demandam maior desempenho e eficiência dos materiais e dos sistemas construtivos”, analisa Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix. Por isso mesmo, a criação de vidros mais tecnológicos tende a se tornar mais frequente.

Além dos quesitos técnicos mais refinados, os novos vidros também precisam atender as preferências estéticas dos arquitetos e engenheiros, segundo Mônica Caparroz, gerente de Marketing da Cebrace. “Isso garante maior versatilidade aos projetos, já que são oferecidos designs exclusivos aliados a tecnologias de ponta”, analisa. Todas as usinas contatadas afirmaram que a demanda por esses produtos cresceu nos últimos tempos, o que explica a opção por investir em seu desenvolvimento.

“Os vidros ‘especiais’ têm a responsabilidade de oferecer algo a mais, contribuindo para o conforto interno nas edificações”, reforça Ana De Lion, gerente de Desenvolvimento de Mercado e Construção Civil da AGC. “São produtos que contam com um espaço no mercado, e têm potencial de crescimento gigante quando comparado com o uso do vidro comum incolor.”

 

Temperatura na medida certa
No Hemisfério Norte, é muito comum a aplicação de vidros de controle solar para oferecer conforto térmico durante invernos rigorosos – eles mantêm o calor captado ao longo do dia dentro das construções. No entanto, dadas as características do clima brasileiro, o objetivo por aqui é impedir a entrada do calor. Isso explica por que as empresas nacionais focaram na criação de linhas pensadas para essa questão: a principal particularidade do Brasil está justamente em seu clima.

“Entregar produtos dedicados à região só é possível se entendermos hábitos e respeitarmos nossa cultura e nosso clima”, afirma Ana De Lion, da AGC. “Pelo fato de o Brasil ser privilegiado em termos de posição geográfica, apresentando 92% do território em uma zona tropical, faz-se necessária a adaptação de produtos que otimizem a incidência solar que permeia a vida da população”, explica Luiz Barbosa, da Vivix.

Mônica Caparroz, da Cebrace, aponta que diversos fatores são analisados: “O resultado final é uma somatória das peculiaridades levadas em conta, tais como fatores estéticos (tonalidade, brilho, neutralidade) e técnicos (absorção de calor, reflexão). As questões de aplicação também são discutidas e levadas em consideração”.

 

A aceitação do mercado
Não basta produzir esses produtos: tão importante quanto é saber divulgar seus diferenciais aos possíveis consumidores. “Entregar valor é muito mais desejado que entregar o convencional, em que o diferencial de maior peso acaba sendo somente o preço”, reflete Ana De Lion, da AGC. “É lógico que há limitações de recursos e do alcance de algumas ações, mas a comunicação dos benefícios e vantagens de itens especiais são melhor percebidas e, assim, diferenciadas daquilo considerado comum”.

Nesse sentido, os departamentos de Marketing das usinas trabalham para abordar clientes e mercado com o objetivo de ajudá-los a compreender os benefícios de cada material. No caso dos atributos do vidro de controle solar, por serem mensuráveis (já que dá pra medir quanto de calor e radiação são “barrados” pelas chapas), a aceitação do público acaba sendo maior. Segundo as fabricantes, toda a cadeia precisa saber dessas qualidades:

– a construtora, para entender o valor do material no seu produto final;

– o instalador, para perceber os benefícios em sua atividade;

– o arquiteto, para ter noção de que o vidro vai além da função de fechar vãos;

– e o consumidor final, que é quem efetivamente viverá sob a influência dos vidros.

Obras de grande porte com essas linhas já podem ser encontradas pelo País, como os aeroportos de Porto Alegre e Fortaleza, e o Edifício One Sixty, em São Paulo, que usam a Linha BR, da Cebrace. Essa é uma prova de que os clientes já começam a preferir esses produtos, que trazem benefícios palpáveis aos ocupantes das edificações.

 

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As linhas de controle solar brasileiras
Esses são os vidros feitos especialmente para nosso clima. Vale lembrar que cada um oferece redução de calor específica:

– Linha BR
Fabricante: Cebrace
Data de lançamento: fevereiro de 2018
Produtos: BRN 148 (neutro); BRS 131 (prata); BRN 130 (neutro); BRB 127 (azul); e BRZ 130 (semirrefletivo, bronze)

– Sunlux Shadow
Fabricante: AGC
Data de lançamento: maio de 2018
Produtos: Sunlux Shadow 14, Sunlux Shadow 20 e Sunlux Shadow 32

– Vivix Performa
Fabricante: Vivix
Data de lançamento: maio de 2018
Produtos: a linha se divide em duas famílias – a de monolíticos (nas cores bronze, cinza e verde) e a Duo, de laminados (bronze, cinza, verde e verde intenso)

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Como esses vidros são desenvolvidos?
Segundo as usinas contatadas, o processo se dá da seguinte forma (ele é bem semelhante em todas as empresas):

– É identificada uma necessidade do mercado vidreiro;

– Realizam-se pesquisas para saber o potencial de consumo de um possível novo produto. Os estudos devem apontar as oportunidades oferecidas por esse item para o atendimento das demandas da construção nacional;

– Na sequência, após o entendimento de que é válida a criação do produto, se define a tecnologia mais adequada para sua fabricação. É levada em consideração também sua “processabilidade”, ou seja, se poderá ser beneficiado por qualquer processadora, mesmo aquelas com parques fabris mais simples;

– Com o vidro pronto, são feitos testes para compreender se tecnicamente ele está adequado às condições locais;

– Após tudo estar aprovado, é hora de finalmente lançá-lo no mercado.

 

Quem participa?
“O desenvolvimento sempre irá priorizar a compreensão de todos os envolvidos na especificação, venda e uso do vidro”, comenta Mônica Caparroz, da Cebrace. “Foram realizadas pesquisas com arquitetos e consultores de fachadas, mas estamos sempre atentos às demandas dos processadores e distribuidores”.

A Vivix, segundo Luiz Barbosa, contratou consultorias especializadas para o mapeamento das informações necessárias para a estruturação do projeto – foram essas informações que apoiaram a empresa na tomada de decisão da tecnologia adotada. “Além disso, contamos com o apoio de clientes e profissionais da construção para a avaliação”, explica.

 

Novos lançamentos em primeira mão
Enquanto fechávamos esta edição de O Vidroplano, Cebrace e Vivix anunciaram novos produtos dentro de suas linhas exclusivas para o clima brasileiro. A Cebrace lançou na feira Expo revestir, realizada de 10 a 13 de março em São Paulo, o BRZ 130, feito para atender as demandas de arquitetos brasileiros por um vidro de controle solar com tonalidade bronze. Já a Vivix divulgou suas duas novas cores para laminados: Duo Azul (que bloqueia em 62% a entrada de calor no ambiente) e Duo Bronze Intenso (63%). Ambos possuem baixa reflexão luminosa interna e externa, o que se traduz em um vidro menos espelhado.

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Este texto foi originalmente publicado na edição 567 (março de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.